Apaixonado pelo tio rebelde
Era para ser um domingo tranquilo em família e de comemoração, por eu ter acabado de entrar na faculdade de medicina, com um daqueles famosos churrascos que meu avô protagonizava em sua espaçosa casa num condomínio fechado em Indaiatuba no interior de São Paulo. Eu digo era porque, de repente, meu pai e minha mãe estavam se exaltando ao defender seus pontos de vista quanto ao local onde eu iria morar durante os anos de faculdade, uma vez que eu teria que me mudar para Curitiba.
- Eu já conversei com o Theo e ele aceitou receber o Caio numa boa, afinal o apartamento dele é espaçoso o suficiente para os dois. Além do que, eu me sinto mais confortável sabendo que o Caio não está sozinho numa cidade desconhecida. – argumentou minha mãe.
- Tenha santa paciência mãe! Eu tenho dezoito anos e não oito! Curitiba é uma província comparada a São Paulo. Haja saco quando você me trata como se eu ainda precisasse de uma babá! – protestei indignado.
- Aí está a sua resposta! E, não é só isso! O Theo não é flor que se cheire. Não gosto da ideia do Caio conviver com ele. Peço que me desculpem a sinceridade. – retrucou meu pai, dirigindo-se aos meus avós quando da última frase.
- Eu também não vejo com bons olhos essa sua ideia filha! Tenho que concordar com seu marido. O Theo pode ser uma péssima influência, assim como tem demonstrado ser um péssimo filho e irmão. – ponderou meu avô. Embora eu soubesse que ele dizia isso por conta de suas inúmeras desavenças com o filho caçula.
- Não seja tão crítico com o Theo! É por isso que vocês não conseguem viver em harmonia. – sentenciou minha avó.
- Gente, vocês estão viajando! Estão discutindo onde eu vou morar sem, ao menos, me perguntarem onde eu quero morar. Não é meio esquisito isso? – questionei.
- Vamos encontrar um apartamento para você onde poderá ficar tranquilo e focar naquilo o que interessa, seus estudos. – disse meu pai.
- Caio, seu tio não é esse crápula que estão pintando. Tenho certeza de que você vai se dar muito bem com ele. – afirmou minha mãe, decidida a não abrir mão de seu plano de não me deixar sem tutor.
- Vou pensar! Veja bem, eu disse vou pensar! Não quer dizer que vou fazer o que você quer, entendido? – respondi, pois eu não estava convencido a morar com um tio com o qual quase não tivera contato, senão uma meia dúzia de vezes, se muito, na minha infância.
O tio Theo é um filho temporão. Têm exatos dez anos mais do que eu e, dois dos meus primos têm a mesma idade dele. Meus avós tinham criado e encaminhado os outros quatro filhos, incluindo minha mãe, quando se descobriram grávidos. Eu era pequeno, mas me lembro do reboliço que a notícia causou. Levaram adiante a gravidez, embora pouco convictos de que tinham feito a opção certa. Acho que a raiz de todo conflito que experimentaram com meu tio reside nessa questão. O Theo, por sua vez, pouco colaborou em se comportar como queriam os pais e os irmãos mais velhos. Seu gênio rebelde e ansiando por liberdade o colocava na berlinda, além das encrencas em que era capaz de se meter para desafiar os pais. Ao sair de casa aos vinte e um anos, sem ter cursado uma faculdade até o fim, selou de vez sua inimizade com o pai que, a partir daí, só o recriminava abertamente. Nenhum cunhado, ou cunhada se afinara com ele, gerando um clima distante e até hostil, uma vez que o Theo não tinha papas na língua ao se referir às escolhas dos irmãos e irmãs. Minha mãe era a única que tomava seu partido. Não sei bem o porquê. Mas, certamente não porque compreendesse a personalidade do irmão caçula. Eu, pelas poucas lembranças que tinha dele, não tinha opinião formada. Quando chegou a véspera da minha partida para Curitiba, ainda prevalência a posição da minha mãe. Eu estava indo para o apartamento do tio Theo.
- Você não precisa morar com seu tio. Se não se sentir a vontade me ligue que providenciamos um apartamento para você, combinado? – disse meu pai, como para deixar claro que essa seria a melhor opção.
- Tá bom, pai! – retruquei bufando. Eu continuava a ser um completo bebezão na visão deles, e isso me irritava.
Cheguei ao endereço que minha mãe tinha me dado no meio da tarde, depois de dirigir meu carro novinho em folha, ganho do meu avô naquele churrasco comemorativo, por mais de seis horas pela rodovia repleta de caminhões e dois acidentes graves que interromperam completamente o fluxo de veículos me fazendo perder um tempão nos congestionamentos que se formaram no meio do nada. O porteiro disse que não tinha sido avisado da minha chegada e que não podia me deixar subir. Liguei para o celular da minha mãe para ver se ela tinha o endereço da oficina de motos do tio Theo. A voz de preocupação dela sinalizava que começava a ter dúvidas se tinha tomado a decisão correta de me confiar ao irmão.
- Vou ligar para ele e já te retorno! – balbuciou indecisa. Quinze minutos depois, ela retornava dizendo que não tinha conseguido falar com ele, que a ligação só caía na caixa postal.
- Me passa o número dele, tento por aqui. – pedi. As inúmeras tentativas resultavam na mesma queda na caixa postal.
Decidi dar uma volta num shopping e ficar tentando. Por volta das oito horas da noite ele finalmente atendeu a ligação.
- Cara! Eu tinha me esquecido completamente que você viria hoje. Na minha cabeça era amanhã que você chegava. Vai para o apartamento que eu chego lá daqui há pouco. – afirmou antes de desligar.
- Beleza, estou indo! – respondi. Fiquei até as dez na frente do porteiro sem graça esperando até ele chegar.
Quando cheguei ao apartamento tive a certeza de me sentir um estorvo na vida dele. Uma recepção fingidamente calorosa e a baderna que imperava na sala do apartamento eram a prova de que ele não estava preparado para conviver com um intruso. Depois de meia hora estávamos sem assunto e o clima ficou ainda mais desconfortável. Embora não quisesse dar uma de moleque mimado, eu já começava a cogitar a possibilidade de ligar para o meu pai e aceitar a sugestão dele. Morar sozinho talvez fosse mais acertado.
- Vou te mostrar seu quarto. – disse o Theo, uma vez que não sabia mais o que dizer. – Você deve estar cansado da viagem e querendo dormir. – completou. Dormir? Não são nem onze horas, em que mundo esse cara vive? Pensei comigo mesmo, enquanto o seguia até o quarto.
Notei que ele ficou constrangido quando entramos no quarto amplo e quase sem mobília, onde uma cama de solteiro, encostada numa das paredes, mais parecia um depósito de tralhas. Ele se apressou a tirá-las de cima da cama e as foi enfiando no quarto ao lado que ficava entre o meu e o dele. Aquele sim era um depósito. Havia peças de motocicleta espalhadas por todo canto.
- Preciso dar um jeito nesse lugar. Isso devia estar na oficina e não aqui, mas eu acabo trazendo para cá e vai acumulando tudo. – disse, se explicando.
- Onde fica sua oficina? – perguntei para descontrair.
- Não é longe daqui, uma hora dessas levo você lá para conhecer. Você curte motos? – respondeu mais aliviado.
- Não manjo nada de motos! – exclamei. Na verdade nunca me interessei por elas, mas não queria dizer isso logo de cara. Também não fingi saber de alguma coisa a respeito delas, pois não queria dar um fora.
Confesso que fiquei aliviado quando ele deixou o quarto. Nunca imaginei que um encontro pudesse ser tão estressante. Apesar da cama horrível, o quarto amplo com uma sacada cercada pelas copas das árvores da calçada e um banheiro claro e moderno compensavam e amenizavam aquela recepção bizarra. Dormi pouco naquela noite. Sentia falta do meu quarto na casa dos meus pais, mas entre um cochilo e outro, decidi que iria morar com meu tio. Para a cama eu sairia na manhã seguinte e compraria algo mais condizente e, faria o mesmo para deixar tudo como eu queria.
Em uma semana o quarto era outro. Como as coisas haviam chegado quando o Theo estava na oficina, ele só no sábado se deu conta da transformação. A cara que fez ao ver tudo mudado foi indecifrável. Não sei se aprovou ou detestou aquela intromissão em sua própria casa.
- Coloquei a outra cama nesse quarto e, dei uma ajeitada no que estava espalhado pelo chão. – disse, abrindo a porta do quarto que servia de depósito.
- Não mexa em nada disso! Eu agora vou perder um tempão tentando encontrar o que preciso! – revidou com certa aspereza na voz. Eu tinha dado minha primeira pisada na bola, era evidente.
- Me desculpe! Não quis atrapalhar. – retruquei.
- Mas atrapalhou! – exclamou, deixando-me parado ali.
Tentei amenizar as coisas preparando uma massa com cogumelos para o jantar, algo que eu sabia fazer e que todos elogiavam lá em casa. O Theo comeu bem, mas não fez nenhum comentário a respeito. Nem sei se ele percebeu que aquilo era um pedido de desculpas pelo que eu tinha feito. Por meu lado, resolvi não dar importância àquela cara amarrada. Eu tinha feito o que achava certo.
A faculdade ocupava boa parte do meu tempo. O entrosamento com os colegas, a quantidade de assuntos das disciplinas e os trabalhos que tínhamos que apresentar me fizeram esquecer, por uns tempos, a vida dentro daquele apartamento. Eu cruzava com o Theo alguns dias à noite e trocávamos meia dúzia de palavras. Os finais de semana eram um pouco mais tensos, mas eu procurava sair com os novos amigos para ajudar a desanuviar a cabeça. Mesmo assim, me incomodava chegar em casa e encontrar toda aquela bagunça espalhada pela sala, eram camisetas usadas do tio Theo, jaquetas de couro, tênis, uma sacola cheia de roupas suadas que ele trazia da academia e deixava por lá até sua próxima ida e, isso sem falar nos pratos deixados sobre a mobília com restos de comida ou mesmo as embalagens aonde elas vinham acondicionadas, garrafas vazias e latinhas de cerveja. A geladeira então era algo bizarro, restos de comida mofados dividiam o espaço com um arsenal de latinhas de cerveja. O cara era um relapso total. Pouco afeito aquele tipo de ambiente, isso me deixava puto assim que cruzava a porta de entrada. Eu estava estudando um jeito de falar com ele sobre isso, sem ter que ouvir novas grosserias, quando num belo dia resolvi dar um rapa em tudo aquilo. Horas depois de terminar, o apartamento estava irreconhecível. Limpo, arrumado, livre daquele fedor impregnado nos cantos, parecia outro lugar. Pensei comigo mesmo, ele vai adorar encontrar tudo zelosamente arrumado e limpo, inclusive suas roupas sujas lavadas e penduradas na lavanderia. Eu estava no banho quando ele irrompeu pela porta do banheiro berrando feito um maluco.
- Que porra é essa? Você tirou tudo do lugar! Não encontro uma porra de camiseta no meu armário e já estou atrasado para um compromisso! – gritou enfurecido. A gente já não tinha ficado combinado de você não mexer nas minhas coisas? – completou, enquanto eu procurava encontrar uma maneira de esconder minha nudez.
- Vai ver que não encontra nenhuma camiseta no seu armário por que todas estão imundas e fedidas! – devolvi peitando-o.
- Tá tudo revirado! Não encontro nada! Caralho! – continuou desabafando.
- É só você abrir o armário e vai encontrar o que precisa, está tudo lá, arrumado numa ordem lógica e fácil de encontrar. – argumentei.
- Eu tenho a minha lógica e a minha ordem, não preciso de você querendo mudar minha vida! – bradou zangado.
- Não sei que lógica é essa. Só pode ser a de um maluco! – revidei.
- Não fica me respondendo seu moleque! Não sou seu pai para você ficar medindo forças comigo. – ele estava perdendo a cabeça e a razão. Ao ver meu risinho sarcástico ficou ainda mais possesso.
- Agora dá para adivinhar por que todos têm um pé atrás com você. Mesmo errado, acha que é o dono da verdade! – acrescentei, mas logo me arrependendo das minhas palavras.
- Caralho! Não responde ou eu sou capaz de te tirar daí e mostrar quem é que está errado. – berrou com os punhos cerrados.
- Qualquer pessoa em seu juízo perfeito não consegue viver nessa pocilga! Eu só fiz o que precisava ser feito. – eu não conseguia ficar calado. Não era meu costume entrar em discussões dessa maneira, mas havia algo nele que me instigava a provoca-lo.
- Se o apartamento não serve para o senhor limpinho e cheirosinho, a porta é serventia da casa! É um favor que você me faz! – gritou, ao mesmo tempo em que interrompia seu instinto de vir me agredir. Ele saiu pisando firme e bateu a porta do banheiro com tanta força que pensei que fosse arrancá-la do batente.
Encontrei-o na sala, com a televisão ligada sem que estivesse prestando atenção na tela e com uma lata de cerveja na mão. O interfone estava se esgoelando na cozinha sem que ele arredasse pé do sofá.
- Não, está tudo em ordem Olegário. – garanti, à voz do porteiro que tinha sido acionado pelos vizinhos por conta dos berros do Theo.
- Era o Olegário. Os vizinhos reclamaram do escândalo que você fez. – disse ao voltar à sala.
- Quero que se fodam! A puta que os pariu a todos eles! – grunhiu, antes de tomar mais gole de cerveja.
- Dá para você tirar essa bunda do sofá e vir aqui comigo? – questionei, numa voz branda e carinhosa. Ele me encarou para ver se eu não estava tirando uma com a cara dele. Levou uns minutos antes de levantar e me olhar desconfiado.
- Me diz por que é que não dá para encontrar nada nesse armário? Camisas penduradas e acessíveis, camisetas dobradas nessas prateleiras, calças partindo das mais escuras para as mais claras no calceiro, sabia que isso aqui serve para isso e não para colocar sapatos em cima? E, observe, tudo está limpo. Costuma-se guardar a roupa limpa no armário. – eu ia apontando e deixando claro que tudo estava lá, apenas arrumado e não na zorra de antes.
- Você me deixa puto, cara! Está tirando uma comigo? – questionou.
- Claro que não! Não está muito melhor agora? Negue e vou achar que você é doido! – exclamei. Estava na cara dele que não queria dar o braço a torcer.
- Você não cumpriu nosso trato! Continua se metendo onde não deve. – argumentou, sem saber o que dizer.
- Não precisa ficar com essa cara só porque se deu conta de que tenho razão! – retruquei, deixando-o com seu constrangimento.
- É a única que tenho! – respondeu.
- Azar o seu! – isso era pura provocação, eu sabia e estava me deliciando com isso.
- Merdinha! – revidou, sem nenhum rancor na voz.
Eu já estava morando com o Theo há quase dois meses quando numa tarde, ao voltar da faculdade, encontrei uma senhora na cozinha dando uma geral em tudo.
- Ah! Você deve ser o Caio, eu sou a Joana, prazer! Trabalho para o ‘seu’ Theo e ele me disse que você viria morar aqui. Entrou na faculdade de medicina, não é? Meus parabéns! Mas você é tão novinho, quantos anos você tem? – perguntou curiosa.
- Dezoito. Eu não sabia que o Theo tinha uma ajudante. – observei, também curioso por não tê-la visto até então.
- É que eu precisei cuidar da minha mãe doente que mora em Irati no interior e pedi uma dispensa. – afirmou.
- E sua mãe melhorou? – questionei.
- Sim, graças a Deus!
- Que bom!
- Está tudo tão limpinho e arrumado que eu pensei que tinha entrado no apartamento errado. O ‘seu’ Theo não gosta que a gente tire nada do lugar. Fica difícil limpar alguma coisa nessa bagunça. – disse ela.
- Pois agora isso mudou! Não se acanhe em tirar as roupas que ele deixa espalhadas e nem a bagunça que está atrapalhando seu trabalho. Eu já levei umas broncas dele, mas não vou viver num chiqueiro. – afirmei.
- Ele fica furioso, não fica? – perguntou assustada. Eu ri e concordei. A Joana vinha apenas uma vez por semana, mas já era uma ajuda.
Eu não me iludia, sabia que levaria um bom tempo para o Theo se acostumar a deixar as coisas em ordem. Suas zangas já não me incomodavam, e isso o irritava.
Como o Theo nunca chegou a cumprir a promessa de me levar até a oficina, num dia em que eu só tinha meio período de aulas resolvi ir até lá por conta própria. Na verdade não se tratava de uma oficina e, sim, de um galpão muito bem estruturado onde ele customizava motocicletas de alta cilindrada para clientes com uma recheada conta bancária. Havia uns doze funcionários no galpão quando me apresentei como sobrinho dele. Notei o espanto na cara deles e logo percebi que ele não comentava nada sobre a família com aquelas pessoas.
- Sobrinho? Eu não sabia que aquele maluco tinha sobrinhos desse tamanho! – exclamou um deles, que veio me cumprimentar fazendo questão de me dar um aperto de mão. – Pessoal, olha o que o Theo esconde da gente. O cara tem um sobrinho quase da idade dele. – os olhares se viraram na nossa direção e alguns risinhos apareceram naquelas caras que pareciam ter a mesma rebeldia que o Theo tinha, entranhada nelas.
Como o Theo não estava, resolvi fazer um pequeno interrogatório com dois funcionários que se mostraram mais abertos e até um pouco ousados em relação aos demais. Não havia dúvida de que minha bunda tenha despertado a atenção deles. O que carregava uma tatuagem que se estendia do pescoço até o braço, onde um tríceps muito proeminente dava vida à imagem de um dragão, e que, provavelmente, devia ir até seu peitoral, se mostrou o mais interessado no meu sorriso e na minha timidez, embora tenha sido a visão das minhas nádegas avantajadas que o levavam a ajeitar constantemente o volume indomado entre suas coxas grossas sob seu macacão aberto até quase o umbigo e, de onde se avistava um abdómen sarado e peludo.
- Meu nome é Henrique, prazer! E, esse aqui é o Jaques. Quem desenha as motos é o Theo, nós fazemos as transformações e o Murilo aqui é quem cria as pinturas customizadas baseado nas orientações do seu tio. – disse ele, inclinando-se para bem próximo de mim como se estivesse me confiando algum segredo. Puro pretexto para estar mais próximo de mim.
- Oi, o prazer em conhecê-los é meu, sou o Caio. E tem alguma moto que eu possa ver? Estou curioso. – devolvi, parecendo interessado.
- No momento há cinco na linha de transformação. Vem dar uma olhada. – apressou-se a responder. Levando-me até os fundos do galpão onde havia alguns esqueletos que lembravam um dia terem sido motocicletas e que estavam sendo completamente transformadas. – Elas vão ficar com essa cara depois de prontas. – acrescentou, apontando-me uns croquis que estavam fixados à parede, próximos aos esqueletos de metal.
- Incrível! Não se parecem em nada como saíram da fábrica! – exclamei, observando a fotografia original da máquina com o projeto de customização.
- É isso que os clientes querem. Uma moto exclusiva. Não importa a que preço. – devolveu, disfarçando a secada que acabava dar nos meus glúteos enquanto eu estava de costas para ele.
- Então é um negócio lucrativo! – exclamei.
- Sem dúvida! O Theo que o diga. Eu o conheço desde que veio para Curitiba, como se diz, quase com uma mão na frente e outra atrás e, agora o cara está rachando de ganhar dinheiro. Por tabela nós também. Pode conversar com qualquer um desses caras aqui dentro, o Theo os fez ganhar grana como nunca tinham imaginado ganhar. – emendou.
- Ele é mesmo um cara boa gente. – observei, descobrindo um lado do meu tio que não transparecia em suas atitudes um tanto grosseiras.
- Não quero parecer puxa-saco de patrão, mas o Theo é muito legal. – respondeu o sujeito. – Você está só de passagem ou pretende trabalhar com seu tio? – acrescentou.
- Não. Eu comecei o curso de medicina na federal do Paraná há uns meses e estou morando no apartamento dele. – esclareci.
- Ah! Isso quer dizer que você vai aparecer por aqui mais vezes. – havia um tom de sugestão em sua voz, e não pude deixar de fazer um esforço para não transparecer o riso que contive.
Fiquei perambulando pela oficina por umas três horas, entabulando uma conversa aqui outra ali e descobrindo mais sobre meu tio nesse pouco tempo do que tudo que sabia dele nesses meses em que estávamos morando sob o mesmo teto. Como o Theo não voltava resolvi ir embora, mesmo porque, não sabia como ele reagiria ao surpreender-me ali sem ter sido convidado. Pouco antes de entrar no carro que tinha deixado estacionado na calçada diante do galpão, virei-me na direção do Henrique e do Jaques que me acompanharam até a porta e, surpreendi o Jaques com os dois punhos fechados puxando os braços contra a cintura e movendo a pelve para frente e para trás, como se estivesse enrabando alguém. Ele disfarçou quando o flagrei, mas não consegui controlar um calor que tomou conta do meu corpo e me fez corar.
- O que você foi fazer na oficina esta tarde? – a cara do Theo não era das mais amistosas.
- Tive o período da tarde livre e resolvi dar uma volta para não ficar entediado. – respondi, sem encará-lo.
- Ah! Eu não tinha dito que levaria você lá quando desse um tempinho? – retrucou. Eu estava pressentindo que uma nova discussão entre nós estava prestes a explodir.
- Eu liguei no seu celular, mas você não atendeu, então achei que não tinha problema eu aparecer por lá para conhecer seu trabalho. Respondi.
- Se não atendi o celular é por que estava ocupado com um cliente. Você podia ter esperado eu te levar. – ele ruminava as palavras, tentando se controlar.
- Prometo que vou fazer isso da próxima vez. Eu adorei o seu trabalho. Promete que me leva mais vezes? – devolvi, colocando uma cara de quase súplica no semblante onde um sorriso tímido e um olhar doce o encararam até deixa-lo desarmado.
- Ok, quando der levo você lá outra vez. – respondeu. Não pude deixar de notar que meu elogio tinha alcançado seu objetivo. Amoleci aquele turrão.
Seguiu-se a isso um período de harmonia em nosso convívio que, no entanto, não durou mais do que algumas semanas. Eu já tinha me acostumado com umas reuniõezinhas que o Theo promovia quase semanalmente com uns amigos bastante esquisitos. Eu ficava no meu quarto tentando estudar, enquanto na sala e na cozinha rolava um papo sem nexo, muitas risadas num tom bem acima do recomendável para o avançado da noite, além de muita cerveja, charutos, bebidas alcoólicas mais potentes e uns amassos nas garotas espalhafatosas que acompanhavam a trupe. Nas manhãs que se seguiam, o apartamento estava uma zorra, o Theo perdia a hora de ir ao trabalho esparramado na cama completamente vestido como na noite anterior ou, ao contrário, quase nu, às vezes sozinho, outras vezes com uma vadiazinha também nua ou trajando apenas uma calcinha. Não sei bem quando comecei a sentir que aquilo me incomodava e, invariavelmente, eu ia para a faculdade com o dia já perdido, pois ficava puto ao extremo. Por mais que eu tentasse me convencer de que não tinha nada haver com aquilo, que o Theo era dono de sua vida, no fundo eu remoía uma vontade de jogar tudo na cara dele.
A explosão veio num início de noite quando eu tinha trazido um colega da faculdade para revermos o conteúdo da disciplina de fisiologia antes da prova dali a dois dias. Tínhamos estudado a tarde toda e, pouco antes de ele partir, resolvi fazer uns sanduíches e fomos assistir um trecho de uma série que ambos acompanhávamos e da qual eu tinha perdido uns episódios. A porta do meu quarto estava entreaberta e ambos estávamos sentados no chão ao pé da cama concentrados nas aventuras dos personagens que rolavam na tela, rindo do exagero de peripécias e explosões, quando o Theo escancarou a porta abruptamente e se postou autoritário sob o batente da porta.
- Que porra é essa? – inquiriu ríspido um Theo de cara amarrada. Meu colega me encarou abismado sem entender nada, antes de eu explicar o que estávamos fazendo.
- Você quer alguma coisa? – perguntei desafiador.
- Há quanto tempo vocês estão aqui fazendo sabe-se lá o que? – continuou ele, sem arredar o pé.
- Vá encher o saco de outro se não tiver coisa melhor para fazer! – revidei, enquanto meu colega se levantava para ir embora, diante da situação embaraçosa que estava se formando, de nada adiantando meu pedido para que ficasse.
- Valeu! Vemos-nos amanhã na facu! – apressou-se a dizer, procurando uma brecha entre o Theo e a porta para se escafeder dali.
- Qual é a sua? Quem você pensa que é? – eu estava furioso e, por pouco, não parti para cima do Theo que mantinha aquela cara incriminadora e autoritária sobre mim, mesmo sabendo que jamais conseguiria vencer uma luta com aquele corpanzil musculoso e sólido como uma rocha.
- O dono desse apartamento. Quem é esse folgado que fica todo refestelado ao seu lado nessa intimidade toda? Tá rolando alguma putaria aqui dentro? – rosnou ele.
- Vá se foder! Você não é meu pai, não manda em mim e no que eu faço, nem paga minhas contas, portanto, vá à merda! – berrei inconformado. – Quem promove putarias aqui dentro é você e não eu. – emendei, pouco antes de sentir uma de suas mãos se fechando em torno do meu braço e me puxando até ficarmos cara a cara.
- Como é que é?
- Isso mesmo que você ouviu. Não sou eu quem acorda com uma puta na cama e perco o horário dos meus compromissos. – afirmei, encarando os olhos injetados dele.
- Isso não é da sua conta! Eu estou a um passo de te dar um pé na bunda e te botar por aquela porta afora. – grunhiu furioso.
- Faça isso! Vai ser um prazer me ver livre desse seu mau humor e dessa cafajestice. Você é um porre, não é de estranhar que ninguém te aguenta.
Ficamos três semanas sem trocar uma única palavra. Passada a raiva inicial, eu me questionava qual a razão de ele ter se zangado tanto com o simples fato de eu ter trazido um colega para estudar comigo. Eu teria essa liberdade se estivesse na minha casa, portanto, não podia ser esse o motivo de tanta bronca. Eu comecei a vislumbrar uma resposta para essa dúvida algum tempo depois, embora não quisesse admitir para mim mesmo a minha descoberta.
O Theo costumava acordar de manhã e se juntar a mim na mesa do café, que sempre já estava posta, outro costume que eu havia introduzido no cotidiano dele, usando apenas a cueca boxer com a qual tinha dormido. Era desconcertante vê-lo caminhar com o enorme caralhão moldado contra o tecido da cueca, ainda duro, como costumava acordar todas as manhãs. No princípio eu fingia não ver aquela jeba, embora ficasse com o rosto abrasado e vermelho tentando não olhar para aquilo. Depois, fui me habituando e, o calor, que antes só atingia meu rosto, começou a se apoderar de todo meu corpo. Ele agia com naturalidade, mas algo me dizia que ele sabia que eu me impressionava com aquela visão sensual. Não era meu costume andar pelo apartamento em trajes sumários. Não que eu fosse pudico ou recatado a esse ponto, mas me reservava a ficar assim apenas no meu quarto. Poucas vezes eu saí para beber uma água na cozinha e, na preguiça de vestir algo, acabava saindo só de cueca. Só uso as do tipo slip com a cava generosa, uma vez de detesto sentir o tecido se embolando debaixo das calças, mesmo sabendo que a dobra entre as minhas nádegas e as coxas fica bem visível se não estiver usando outra coisa.
- Cacete! – foi o que ouvi o Theo pronunciar, nas poucas vezes em que ele me viu andando pelo apartamento só de cueca. No entanto, só agora, ao ouvi-lo novamente e, ao mesmo tempo em que dava disfarçadamente uma ajeitada no cacetão, é que a ficha caiu. Meu tio sentia tesão quando via aquela dobrinha das minhas coxas grossas se juntando aos glúteos carnudos e, mais ainda, ele só podia ter ficado com ciúmes quando encontrou meu colega no meu quarto. Não, não podia ser. Eu podia estar impressionado com o caralhão dele, já não restava dúvida, mas ele jamais ir ia sentir qualquer coisa só por eu estar seminu.
Desde que essa ideia começou a encher minha cabeça de caraminholas, eu procurava identificar qualquer indício de que o Theo se interessava por mim. É impossível, ele só me enxerga como um estorvo que veio tumultuar sua vida liberal e sem compromissos, pensei comigo. Além do que, ele vive me dando broncas por qualquer atitude ou coisa que eu faça. Se ele gostasse de mim, um pouco que fosse, não me trataria desse jeito. O único nessa história que estava incomodado com o fato de ele levar aquelas garotas para a cama era eu. Isso é ciúme ou eu estou viajando? Claro que um cara como o Theo é o sonho de consumo de qualquer mulher, por que elas não se mostrariam dispostas a conquista-lo ou, ao menos, aproveitar um pouco daquele dote com que a maioria só pode ficar sonhando?
Eu estava me acostumando aquele frio de Curitiba em pleno mês de julho e, usufruía os últimos dias das três semanas de férias na faculdade. Meus pais acharam que eu voltaria para São Paulo, mas eu havia decidido ficar em Curitiba para conhecer melhor a cidade, uma vez que dispunha de todo tempo livre.
- Você tem algum programa para hoje? – perguntou o Theo, enfiando a cara pela porta do meu quarto enquanto eu ainda me revolvia debaixo do edredom, na minha última sexta-feira antes do reinicio das aulas.
- Preciso acordar primeiro. Mas, não tenho planos para hoje. – respondi sonolento e me espreguiçando.
- Quer ir comigo até a oficina? Fiquei de leva-lo até lá, mas nunca calhou de dar certo. – convidou. Eu me perguntei se ele já havia se esquecido da bronca que me deu por eu ter ido lá sem ter sido convidado.
- Pode ser. – devolvi, saindo da cama para tomar uma ducha. Embora estivesse usando uma das ceroulas que precisei comprar para ir à faculdade a fim de aguentar o vento gelado que fazia nas manhãs e, que confesso estar bastante justa encobrindo minha bundona, e nada estar exposto, podia jurar que aquele resmungo que ouvi enquanto caminhava até o banheiro era a palavra cacete sendo exclamada pelos lábios do Theo. – O que você disse?
- Nada, nada! Estou te esperando, não vá demorar!
- Rapinho estarei pronto.
Era a primeira vez que eu me sentava na garupa da moto dele. Fiquei meio sem jeito quando ele disse para eu me segurar firme, pois a alça do banco não me pareceu a coisa mais segura para me agarrar. Assim que chegamos à oficina o Jaques veio ao meu encontro cumprimentando-me num entusiasmo como se fossemos velhos amigos. Enquanto seus braços me envolviam num abraço despudorado que me deixou constrangido, lembrei-me dele gesticulando atrás de mim quando estive na oficina da primeira vez. Ele tinha um cheiro de graxa ou algo parecido, nem um pouco desagradável, pelo contrário, tão logo o senti em minhas narinas, voltei a sentir meu corpo esquentando. O safado cheirou meu cangote sem a menor cerimonia.
- Você não tem o que fazer? Aquela Kawasaky Vulcan já ficou pronta? O cliente a quer até o meio da próxima semana. – interveio o Theo, visivelmente contrariado com aquela intimidade exagerada.
- Só faltam uns retoques, chefe! Em duas horas está prontinha. – respondeu o Jaques, dando uma ajeitada no saco através do macacão folgado, o que me fez corar e deixou o Theo de mau humor.
- Cara folgado! Depois que o cliente reclama eles sempre têm uma desculpa na ponta da língua. – confidenciou-me o Theo, enquanto íamos em direção ao escritório dele num mezanino nos fundos do galpão.
- Pelo que entendi o serviço está adiantado alguns dias e não atrasado. – devolvi, sabendo que a observação dele era um jeito de dizer ao Jaques que não tinha gostado daquele agarra-agarra. Encarei-o para tentar descobrir se aquilo era mesmo ciúme.
Passamos a manhã juntos na oficina e pude sentir o entusiasmo com o qual ele trabalhava. Parecia outra pessoa naquele ambiente. Era descontraído, fazia piadas, tratava os clientes como amigos e eles pareciam ter uma confiança incrível nas sugestões dele, muito diferente daquele Theo mal humorado e sempre disposto a me criticar. Percebi que me levar até lá tinha algo parecido com o pavonear de um macho fazendo a corte e, isso me deixou hiper- lisonjeado. Afinal ele tinha sentimentos por mim.
Dois dias depois, no domingo gelado de céu muito azul e limpo onde um sol frio enchia o apartamento de luz, o Theo veio se juntar a mim na mesa do café da manhã que eu havia terminado de fazer. Ele usava um jeans e meias, o cabelo como sempre estava desalinhado, a barba não tinha sido feita desde a última quinta-feira, os pelos do peito se estreitavam sobre o abdômen e mergulhavam para dentro do cós da calça e, ao longo da coxa direita via-se nítida e despudoradamente o contorno do caralhão dele.
- Achei que você fosse dormir até mais tarde. Quer que eu te prepare aquela omelete com ervas que você gosta? – perguntei, pois precisava me concentrar em outra coisa que não aquele caralhão.
- Quero sim, se você não se incomodar! – devolveu ele, com um sorriso raro.
- Faço num instante.
- Estou pensando em te levar até Morretes e Antonina, o dia está lindo lá fora. Em pouco mais de uma hora estamos lá, o que acha? – perguntou. Eu podia sentir seu olhar fixo nas minhas costas, e isso me arrepiou.
- Vou adorar, nunca desci a serra da Graciosa. – devolvi, com um sorriso tímido quando nossos olhares se cruzaram.
- Então partimos assim que eu devorar essa omelete. Estou varado de fome! É a melhor omelete que já comi. Quem te ensinou a fazer?
- Acho que foi a necessidade. Como você sabe meus pais não são de parar muito em casa, acabei me virando na cozinha.
- Isso é bom demais!
- Deve ser por causa da sua fome. – retruquei, satisfeito por agradá-lo.
O vento gelado daquela manhã batia no meu rosto como um alento para aquele braseiro que parecia estar ardendo dentro do meu corpo. A Harley Davidson Breakout prata toda customizada roncava mansinha pela estrada da serra da Graciosa, descendo por entre o arvoredo denso da mata atlântica entremeado de arbustos de hortênsias floridas. Vez ou outra, mergulhávamos numa nuvem de neblina baixa que ainda não havia se dissipado. O banco do garupa não era nada confortável e eu me via inclinado perigosamente próximo ao asfalto quando o Theo contornava as curvas fechadas. O tronco largo dele coberto pela jaqueta de couro tão próximo de mim me embaralhava os pensamentos. Em dado momento, soltei aquela alça do banco e coloquei ambas as mãos nos flancos musculosos dele. Achei que ele ia protestar, mas me pareceu que aquela ousadia tinha colocado um sorriso safado em seu rosto. Tive vontade de deslizar minhas mãos pelo torso quente dele, mas só tomei coragem depois de mais de meia hora avaliando a conveniência ou não de uma atitude como aquela. Foi a mais deliciosa sensação que já havia experimentado, um tesão enorme se apossou de mim e me senti como que flutuando nas nuvens.
- Você tem mãos muito macias! – exclamou ele, observando minhas mãos com cuidado, quando já estávamos sentados num restaurante em Antonina à espera do almoço. Meu rosto ficou quente como o fogo que ardia na lareira de pedras no centro do restaurante. Eu sabia que estava tão vermelho quanto um tomate maduro.
- Não me senti seguro com aquela alça e você fazendo as curvas tão fechadas. – gaguejei envergonhado.
- Não se preocupe! Confesso que gostei do potencial delas. – retrucou ele, dando um gole no suco de laranja dele.
- Potencial? Não entendi. – questionei.
- Nada, não. Ou melhor, são mãos de cirurgião. – desconversou. – Por falar nisso, você já se decidiu por uma área da medicina?
- Não, ainda não. Foi meu primeiro semestre, ainda não me identifiquei com nada. – respondi, feliz pelo rumo da conversa ter saído de um assunto embaraçoso.
Passamos o restante da tarde circulando por Morretes antes de subirmos a serra já no início do anoitecer. A estrada estava mais vazia do que pela manhã e eu me senti menos constrangido em abraçar aquele tronco musculoso e quente. Passamos numa pizzaria no bairro da Felicidade antes de voltar para o apartamento onde encontramos dois casais de amigos do Theo. Faltavam alguns minutos para a meia noite quando chegamos em casa, eu estava moído com aquele gingado nas curvas e semipendurado na garupa fazendo força para manter meu corpo sobre o banco minúsculo da moto.
- Obrigado pelo passeio. Foi um dia maravilhoso. – agradeci, antes de me enfiar no meu quarto e, me lembrando de que tinha que acordar cedo na manhã seguinte para a volta das aulas. Num impulso quase cheguei a beijar o rosto do Theo, mas me contive a tempo de não dar bandeira.
- Não por isso. E concordo, foi um dia maravilhoso ao seu lado. – retrucou ele, dando um tapa na minha bunda com um sorriso no rosto.
Três quartos de hora depois escutei vozes na sala, mas eu já havia tomado banho e me enfiado na cama e, embora meu peito estivesse palpitando de euforia, eu sabia que ia capotar assim que me ajeitasse no travesseiro. Por isso, não me animei a ver o que rolava. Acordei uma única vez durante a madrugada e podia jurar que havia alguém junto com o Theo no quarto. Tive vontade de interromper o que quer que estivesse rolando naquele quarto, pois já o imaginava se divertindo com uma daquelas tais amigas que ele trazia para o apartamento. Ao mesmo tempo, senti vontade de esgana-lo. Depois de um dia maravilhoso como o que tivemos, como ele tinha coragem de fazer isso comigo? Mas, sendo mais racional, eu me questionei, fazendo o que comigo? Que direito eu tinha de cobrar alguma coisa dele? Que direito eu tinha de questionar com qual e com quantas garotas ele ia para a cama? Afinal, ele era um cara solteiro, cheio de testosterona, másculo e com a virilidade transbordando pelos poros. E quem era eu? Um garoto recém-entrado nos dezoito anos, dependente dos pais, inseguro com meu corpo que começava a ser cobiçado pelas garotas e também pelos carinhas, sentindo algo estranho se apossando de mim toda vez que olhava para o peito peludo dele sem que eu soubesse lidar claramente com essa situação. Indispensável dizer que não consegui pregar o olho remoendo minhas frustrações e ansiedades.
Eu estava na cozinha na manhã seguinte tomando um chocolate e comendo umas torradas antes de ir para a faculdade, quando uma garota pouco mais velha do que eu surgiu no corredor vindo do quarto do Theo. Ela abriu um sorriso profissional e murmurou um oi enquanto levava as mãos até os cabelos falsamente loiros. Um par de seios seguramente siliconados parecia querer transbordar do decote da blusa justa. Ela usava um jeans apertado que deixava exposto um culote ao lado de cada uma das coxas. Ela tentava disfarçar as pernas curtas e musculosas com um par de sapatos de salto alto. Eu já a tinha visto umas vezes quando o Theo reunia uns amigos no apartamento. Caminhou diretamente para a carteira do Theo que ele tinha o costume de deixar num vão da estante próximo à porta de entrada do apartamento, junto com as chaves da moto e seus documentos. Ignorando minha presença, ela abriu a carteira e foi sacando as notas numa intimidade que fez meu sangue ferver.
- O que você está fazendo? – perguntei ríspido de onde estava.
- Pegando o que me pertence, benzinho! – respondeu ela, piscando na minha direção. Levantei-me tão abruptamente que a cadeira caiu para trás, e fui em direção a ela.
- Isso aqui é mais do que o suficiente para os seus serviços! – exclamei irritado, arrancando mais de dez cédulas de cem Reais de suas mãos e devolvendo-lhe apenas três.
- Qual é a sua garoto? Me devolve isso aí ou faço um escândalo. – ameaçou ela, elevando a voz.
- Faça! Estou chamando a polícia e você aproveita para explicar como estava roubando o conteúdo da carteira que achou aqui dentro desse apartamento. – devolvi, tirando o celular do bolso e começando a teclar aleatoriamente a tela.
- O que é que está acontecendo aqui, porra? Não dá para dormir com vocês dois cacarejando a esta hora da manhã. – questionou o Theo, que veio caminhando pelo corredor completamente nu e com o cacetão a meia bomba.
- Esse seu amiguinho está regulando a minha grana. – disse ela.
- Regulando não, sua vagabunda! Estou apenas evitando um roubo. – protestei.
- Você está se metendo na minha vida de novo? – inquiriu o Theo.
- Não estou me metendo em nada. Não é a primeira vez que pego uma dessas vadias que você traz aqui para dentro limpando a sua carteira. Deixa de ser imbecil! – revidei, furioso por ele estar se virando contra mim.
- Eu decido como gastar a grana que eu ganho, está me entendendo? Não preciso de alguém controlando meus gastos. – devolveu ele.
- Não é isso que estou questionando, seu trouxa! O que essa piranha fez com você por conta dessa grana eu faria com muito mais carinho e por amor sem cobrar um centavo. Você é o maior cretino que já conheci. – berrei.
- Que dinheiro é esse em suas mãos? – perguntou o Theo enquanto me encarava sonolento e coçando os olhos.
- Foi o que tirei dela depois que ela esvaziou sua carteira. – respondi.
- Você estava tentando sair daqui com tudo isso, sua pilantra? – questionou encarando-a.
- Posso ter pegado um pouco a mais, mas isso aqui não paga meus serviços. Se quiser algo mais em conta, por que não aceita os oferecimentos desse viadinho aí? Está na cara que ele está caidinho por você, é puro ciúme! – retrucou ela.
- Cai fora daqui! – disse o Theo, agarrando-a pelo braço e enxotando-a porta afora.
- Qual é a sua moleque? – perguntou, me prensando contra a porta que acabara de fechar na cara da outra.
- Você é um babaca idiota! – respondi quase aos prantos, empurrando-o e saindo correndo porta afora em direção as escadas, pois não queria lhe dar tempo de me alcançar no elevador.
O Theo me esperava sentado na sala no final daquela tarde quando voltei da faculdade. Era raro ele estar em casa naquela hora e, eu sabia que ele estava lá para me cobrar explicações, que estava lá para me dar mais uma de suas broncas. Por algum motivo eu tinha me cansado daquilo tudo. Desde que vim morar com ele nós só discutíamos. Depois do que deixei escapar naquele momento de raiva e ciúme daquela manhã não sabia como encara-lo. Ele se levantou da poltrona onde fingia estar vendo televisão e, bloqueando minha passagem, disse que precisávamos ter uma conversa.
- Olha Theo, eu tomei uma decisão. Conversei com um colega da faculdade e vou me mudar amanhã para a casa dele enquanto meu pai não aluga um lugar para eu morar. Estou cheio dessas discussões. Você precisou me tolerar por insistência da minha mãe, mas eu garanto que isso acabou. Você está livre de mim e pode levar sua vida como bem entende. Não serei mais um estorvo. Até perdi a conta do número de vezes que você me apontou aquela porta como serventia da casa, pois bem, eu resolvi aceitar sua sugestão. – desviando dele e, do seu olhar estupefato, fui em direção ao quarto e fechei a porta.
Algumas horas depois, ele abriu a porta e entrou no quarto. Eu estava terminando de fazer a terceira mala onde havia juntado meus livros e o grosso das minhas roupas. O Theo fechou a porta atrás de si e encostou-se a ela, não disse uma única palavra. Ficou me observando em silêncio, apenas tamborilando a porta com os dedos.
- Quer dizer que é assim que você resolve seus problemas, fugindo? – questionou, depois de um longo silêncio.
- Não estou fugindo de nada, apenas resolvi acatar sua ordem. Não foi você quem me mandou sair por aquela porta? – devolvi, no tom mais calmo que consegui imprimir a minha voz.
- O que foi aquilo que você disse essa manhã? – perguntou ele.
- Falei tanta bobagem que já me arrependi. – retorqui, fingindo não saber a que ele se referia.
- Você falou com tanta convicção que não me pareceu estar falando uma bobagem. – devolveu ele, forçando-me a assumir o que tinha dito.
- Se você puder me fazer um último favor, sair daqui agora e me deixar dormir, tenho aula no primeiro horário. – afirmei, procurando por um ponto final naquilo. Ele assentiu com a cabeça e saiu do quarto. Eu desabei num choro que sacudiu meu peito.
Num arroubo o Theo invadiu o quarto cerca de meia hora depois, quando eu já havia me deitado e apagado as luzes. O choro havia cessado, mas eu continuava a sentir meu peito oprimido por uma dor que não dava trégua. Mesmo na penumbra vi que ele estava nu e, caminhava em direção à cama tomado de uma resolução que me deixou apavorado. Eu quis acender a luz do abajur que estava na mesinha de cabeceira, mas ele me impediu. Antes que eu pudesse me aprumar contra a cabeceira da cama, senti o Theo pincelando a jeba na minha cara.
- Como foi mesmo que você disse que faria o que a piranha fez, com carinho e amor, foi isso? Então faça! – ordenou ele, embora sua voz soasse mais doce e carinhosa do que nunca.
- Sai daqui seu estupido! – balbuciei confuso e atordoado com aquela verga grossa e reta que deslizava pelo meu rosto.
- Se você pensa que vou deixar você sair daqui está muito enganado. Confesso que a princípio me incomodou ver você se metendo em tudo por aqui, tentando mudar o que demorei anos para conseguir, ser dono do meu nariz e levar a vida como eu queria. Acontece que acabei constatando que você estava se preocupando comigo, tentando arrumar a minha vida bagunçada. Você foi a primeira pessoa que realmente se importou comigo e com o meu jeito de ser. Afora que desde aquele dia em que fui reclamar de você ter remexido todo meu armário, enquanto você estava no chuveiro, não consegui mais esquecer as curvas rechonchudas dessa bundinha gostosa. Esse rabinho empinado faz meu cacete latejar de tesão. Você indo de cá para lá com essas cuequinhas minúsculas me deixam maluco. Você faz ideia de quantas punhetas bati pensando nessa bundinha? Sabe quanto me controlei para não te pegar de jeito? Sabe que esforço fiz para não dar mais munição para o restante da família me acusar de ser um irresponsável, um cara que só apronta? Imagina se descobrem que estou louco para te enrabar. – confessou, controlando a respiração para fazer o desabafo que provavelmente estava entalado em sua garganta há muito tempo.
- Posso imaginar sim! Não deve ter sido muito mais difícil do que tirar dos meus pensamentos a imagem desse cacetão duro quando você acordava e vinha tomar café comigo. – respondi ousado.
- Pois agora ele é seu! – rugiu ele, voltando a pincelar a pica melada na minha cara.
Coloquei uma das mãos sobre a dele que segurava o cacete e guiei-o de encontro aos meus lábios. Imediatamente senti o cheiro másculo dele me invadindo. Abri a boca e desajeitado por nunca ter feito aquilo, engoli o que coube do pauzão. Eu salivava como se estivesse diante da minha iguaria predileta. O pré-gozo dele se mesclava a minha saliva e eu sorvia aquele néctar. A jeba latejava e ele retirou sua mão deixando-me controlar a situação. A verga consistente e pesada estava tão rígida que eu mal conseguia movê-la. Mesmo assim, comecei a chupar, lamber e cobrir toda sua extensão com beijos suaves e demorados. O Theo se contorcia e deixava o ar escapar num sibilo rouco entre os dentes. Ele acendeu a luz do abajur e me encarou cheio de tesão. Eu corei, um pouco pela vergonha de estar fazendo aquilo e, um outro tanto, por estar diante de um caralhão grosso e enorme como aquele, enquanto meu pau estava longe daquelas medidas avantajadas. No entanto, o prazer que vi estampado no rosto dele me animou a continuar, chupei, mordisquei e movia minha boca num vaivém rítmico que fazia o Theo gemer.
- Ah garoto! Você está aprendendo rapidinho. Isso é que é um boquete bem feito! – grunhiu
Não é difícil aprender quando se tem um estímulo como esse para praticar, pensei comigo mesmo, pois nunca tinha imaginado que uma pica quente e suculenta como aquela pudesse ser tão saborosa. Achei que se eu fosse ficando ousado ele acabaria por me censurar, mas o sacão peludo balançando bem diante do meu olhar me deu coragem para tocá-lo com delicadeza usando apenas as pontas dos dedos. Os culhões consistentes e enormes se moviam conforme eu os massageava. O Theo segurou minha cabeça com ambas as mãos e meteu o caralhão goela abaixo, quase me sufoquei. Enquanto ele rugia feito um leão, a porra descia pela minha garganta e eu me esforçava para engolir aqueles jatos tépidos e densos. Eles tinham um sabor maravilhoso e eu os devorava numa avidez intrépida. Aquele sumo era a gala do meu macho, era a essência dele, e ele era tudo o que eu mais amava nesse mundo.
Depois de eu ter lambido até a última gota daquela porra pegajosa do caralho dele, ele segurou meu rosto entre as mãos e ficou me olhando num misto de maravilhado e surpreso. Foi como se, de repente, ele se desse conta de que a relação tio-sobrinho tivesse deixado de existir e que, diante dele só estava um ser pelo qual ele se apaixonara apesar da luta interna que precisou travar para aceitar esse sentimento. Eu estava encantado por finalmente poder tocar naquele peito largo e peludo sem nenhuma restrição ou receio. Espalmei minhas mãos sobre ele e deslizei os dedos através dos pelos densos e grossos, só parando de vez em quando para dar uns beijos aqui e acolá. Ele se divertia me vendo explorar seu corpo e sentia o tesão que isso lhe provocava. Suas mãos deslizavam pelas minhas costas e ele me puxou para junto de si. Parecia que minha pele estava queimando onde suas mãos me tocavam. A cobiça que eu via estampada em seu olhar mexia com todo meu corpo e eu desejava ardentemente que ele se apossasse de mim. Esfreguei minha perna entre as dele, roçando minha pele lisa contra os pelos grossos dele. Ele devia estar vendo no meu olhar o desejo de me entregar a ele, por isso deu um sorriso safado e sedutor. Aos poucos fui sentindo sua mão entrar na minha cueca e apalpar com força minha nádega. Dei um discreto gemido movido pela lascívia que aquele toque fez espalhar pelo meu corpo. Ele baixou minha cueca e, pegou minha bunda com as duas mãos, amassou-a repetidas vezes num desejo crescente e voluptuoso. Meu reguinho se abria e não demorei a sentir um dedo roçando minhas pregas anais. Minha respiração se acelerava à medida que aquele dedo se tornava cada vez mais presente e ousado. Eu estava apoiado no peito dele e nossos rostos estavam tão próximos que eu podia sentir o hálito morno e sensual dele. Fixando seu olhar no meu, ele enfiou o dedo no meu cu. Soltei um gritinho de surpresa e tesão. Aquele lugar tão íntimo e sensível estava sendo maculado por seu dedo hábil e sua cobiça devassa. Eu sentia um prazer imenso.
- Ai Theo! – deixei escapar num sussurro de puro tesão.
- Vai deixar eu comer esse cuzinho apertado? – ronronou ele.
- Vou. – gemi lânguido, porém seguro.
Ele abriu um sorriso, girou meu corpo até eu ficar de bruços e deitou-se sobre mim para que eu sentisse seu tesão roçando minhas coxas, enquanto sussurrava sacanagens no meu ouvido, lambendo minha orelha e minha nuca. Era um pouco assustador sentir que um macho enorme como o Theo estava prestes a me descabaçar. Naquele momento mil e um pensamentos me vieram à cabeça. Será que eu vou dar conta de aguentar aquela pica descomunal? O que é que eu tenho que fazer, apenas ficar parado ou tenho que fazer ou falar alguma coisa? Que coisa seria essa? Como vou saber se estou agindo corretamente? Será que ele vai gostar de transar comigo? E, se eu fizer alguma coisa errada e ele perder o tesão? Caralho! Deixa eu lembrar como é que as pessoas fazem nos filmes. Não me recordava de nenhum deles que pudesse me servir de inspiração. Caio, você é um ridículo dum babaca ingênuo! Além de virgem você nem se deu ao trabalho de saber como é que se sai dessa condição! Apesar de estar me autocensurando, não deixava de sentir o tesão dominando meu corpo com aquelas mãos do tio Theo deslizando sobre a minha pele com uma sensualidade avassaladora. Ora elas estavam apertando meus mamilos, segundos depois desciam pelas minhas costas e rumavam em direção às nádegas que eram igualmente apalpadas e amassadas com uma pegada forte e decidida, depois agarravam minhas coxas lisas e as apartavam, com isso eu sentia uma preocupante sensação de vulnerabilidade, o que só piorava quando ele abria meus glúteos e o reguinho se mostrava acessível. Enquanto isso acontecia minha respiração se tornava cada vez mais acelerada e um tanto ofegante. Para o Theo aquilo sinalizava que eu estava cada vez mais próximo de me deixar penetrar por seu cacetão sedento, sem opor qualquer resistência ou condição. Ele começou a colocar um beijo atrás do outro sobre a minha pele, descendo pela minha coluna e chegando ao início do rego, minha respiração parava sem que eu pudesse ter qualquer controle sobre ela. Era uma tortura agonizante e deliciosa. Ele repetiu esse trajeto uma meia dúzia de vezes e, em todas, chegava a me faltar o ar. Ao se aproximar do reguinho mais uma vez com aqueles lábios úmidos e provocantes, eu já me preparava para retomar minha respiração, esperando que ele voltasse ao início, mas ao invés disso, dessa vez ele entrou no meu rego com aquela boca libidinosa e, com a ponta da língua tocou as pregas do meu cuzinho. Meu ganido ecoou pelo quarto e eu achei que fosse desmaiar de tesão. Não contente em me ouvir agonizar de desejo, ele meteu um dedo dentro do meu cu. Era impossível controlar os espasmos que tomaram conta do meu corpo.
- Ai, Theo!
- Fala para mim, alguma coisa já passou por esse buraquinho apertado? – sussurrou ele, antes de chupar meu cangote.
- Não. – nem mesmo eu ouvi minha voz saindo junto com o gemido.
- Jura que vou ser o primeiro?
- Juro. E, quero que seja o único. – consegui balbuciar com esforço.
- Ah tesudo! Não faz assim que você não faz ideia do que está fazendo comigo. – murmurou ele.
Aquele dedo passou a entrar e sair do meu cuzinho quase me matando de tanto tesão. Ele se movia em círculos dentro do meu ânus sondando cada milímetro do meu introito e provocando contrações nos meus esfíncteres. Eu comecei a empinar a bundinha na direção dele, subjugado e pronto para receber aquele falo empinado que balançava babado a centímetros do meu cu. O braço esquerdo do Theo enlaçou meu tronco prendendo-me firmemente junto ao seu peito, enquanto ele deslizava a pica molhada ao longo do meu reguinho. A iminência de ser penetrado estava me deixando quase louco. A cabeçorra estava roçando minhas pregas e eu sentia o Theo forçando-a contra meu cu. Os esfíncteres se fechavam e a pica deslizava. Eu estava quase implorando, mas de minha boca só saia um leve ronronar pronunciando uma única palavra, Theo, Theo, Theo. Isso fez meu tio perder o controle, e a pica entrou em mim num golpe abrupto e profundo que me fez gritar. Os meus esfíncteres se contraíram nova e violentamente, só que desta vez agasalharam aquela jeba rígida que pulsava dentro de mim. O Theo e eu éramos finalmente um único ser. Minha felicidade era tamanha que não consegui controlar as duas lágrimas que afloraram nos cantos dos meus olhos.
- Estou te machucando? – sussurrou ele, gemendo de tesão.
- Não, Theo! – menti, pois eu estava disposto a tudo. Aquele prazer de sentir meu tio macho dentro de mim superava aquela dor aguda e lancinante que parecia estar rasgando a minha carne com a mesma precisão cirúrgica de um bisturi.
Diante da minha resposta ele continuou a meter aquela verga na maciez úmida do meu cuzinho, empolgado como um jogador prestes a enfiar uma bola na trave e, sedento como um garanhão na presença do cio de uma égua. Eu gania enquanto ele me enrabava num vaivém compassado e torturante. A rola abria caminho por entre meus esfíncteres e ia socando minha próstata. Minhas entranhas se dilaceravam e a dor e o prazer se esparravam por toda minha pelve. Eu só saí daquele estado de torpor quando a cabeçorra passou novamente pelas pregas. O Theo tinha sacado a rola do meu cu e me puxava para a beirada da cama, enquanto abria minhas pernas. Uma ele apoiou sobre seu ombro a outra ele dobrou sobre o colchão, minha bunda estava devassamente arreganhada e ele tornou a enfiar o caralhão no cuzinho circundado por rutilantes gotículas de sangue. Outro grito ecoou pelo quarto quando a pica se alojou em mim, seguido por gemidos que entraram na mesma cadência do vaivém que ele imprimia à jeba. Eu agora podia ver seu rosto, seu tesão desenfreado e animalesco, sua satisfação ao me enrabar, seu prazer começando a tomar consistência. Era a mais bela e incrível visão que já tive. Ele movia a pelve com muita desenvoltura e força socando a pica tão profundamente em mim que eu achei que a qualquer momento seria empalado de vez. Mas, mais emocionante do que tudo que eu havia experimentado até então, foi ver uma transformação tomando conta de todo aquele corpanzil do Theo. Ele começava a se retesar, a expressão do rosto ia adquirindo uma brutalidade primal, a pelve dele ia perdendo aquele gingado e seus movimentos se tornavam mais abruptos. É certo que a dor no meu cu estava chegando ao limite do insuportável e eu gemia feito uma cadela, procurando, em vão, com minhas mãos afastar aquelas coxas musculosas e peludas, mas a impetuosidade continuava. Eu podia jurar que a rola havia dobrado de espessura, estava tão intumescida e rija que esfolava minha mucosa anal. Aquela respiração acelerada e sibilante, passando pelos dentes cerrados do Theo, começou a se transformar num urro gutural que parecia brotar do fundo de seu peito. Um leve estremecimento e, eu comecei a sentir a umidade pegajosa e morna dele invadindo minhas entranhas, eu não conseguia desviar meu olhar do rosto prazeroso do Theo e, nem segurar o choro de felicidade que sacudiu meu peito. De repente, me dei conta de que não precisei fazer nada, ou se fiz, foi a coisa certa, pois todo o prazer que eu queria proporcionar ao Theo eu tinha conseguido. A prova era aquele esperma entrando em jatos abundantes em mim. Ao mesmo tempo, percebi que eu estava experimentando um prazer como jamais havia sentido e, que também havia esporrado sobre o meu ventre sem ter percebido.
- O que foi isso, moleque? Por todos os santos, o que foi isso? Caralho, como você faz isso comigo? Que esporrada do caralho! – grunhiu ele, inclinando-se sobre mim e procurando minha boca numa avidez insana.
- Adoro você, Theo! – balbuciei, antes de colarmos nossos lábios e eu começar a chupar a língua que ele enfiava em mim como que para ocupar cada espaço do meu corpo.
Enlacei o tronco quente e suado dele quando ele se deitou sobre mim. A rola dele teimava em se manter rija e presente nas minhas entranhas. Eu deslizava a pontas dos dedos pelas costas dele e chegava até a nuca, onde as fazia entrar nos cabelos dele. O tempo deixou de existir e, nossos corpos não queriam se separar. Dava para ouvir nossos corações pulsando na mesma cadência.
- Acabei te machucando, seu safadinho! Faz tanto tempo que eu estava a fim de comer essa bundinha que acabei perdendo os freios. – disse ele, assim que tirou a pirocona do meu cuzinho ferido.
- Você me proporcionou muito mais prazer do que dor, seu ogro! – respondi, com um sorriso cheio de encantamento e carinho.
- Humm! O que você quer dizer com isso, que estou liberado para repetir a dose? – ronronou, antes de voltar a colar seus lábios nos meus.
- Vou pensar no seu caso! – devolvi, assim que o longo e amoroso beijo terminou.
Desde então o Theo começou a se transformar num cara muito mais compreensivo, menos ranzinza, mais bem humorado e, muito menos implicante comigo. Parecia que minhas atitudes já não o incomodavam como antes, se é que um dia elas o incomodavam, talvez fosse apenas a vontade de me provocar, de chamar minha atenção. Agora eu estava precisando lidar com outra mania dele. No mesmo ritmo em que nosso envolvimento se consolidava e nossas transas se tornavam mais constantes, ele vinha se mostrando mais possessivo. A simples menção de um nome de um colega da faculdade já o fazia me encher de perguntas, como se eu estivesse sob interrogatório policial. Como deixa-lo mais confiante e seguro em relação a mim estava sendo meu maior desafio. Às vezes a conversa descambava para uma discussão. Percebendo que tinha extrapolado, ele vinha cheio de artimanhas, presentinhos, mimos e, o que mais sua criatividade era capaz de fazer para ganhar meu perdão e a volta das carícias com as quais eu o mimava. Por outro lado, eu descobri que também era muito ciumento. Estava sendo difícil lidar com o assédio que o Theo sofria. A mulherada não dava trégua. Bastava sairmos para almoçar num final de semana, circularmos pelo shopping, frequentarmos um barzinho com amigos que elas davam um jeito de chamar a atenção dele, de flertarem, de se oferecerem atraídas pelo corpo musculoso e másculo. Eu me via sem chances de competir com seios à mostra em decotes generosos, aquela feminilidade com falsos ares de desprotegida, aquela possibilidade promissora de gerar filhos. Como reivindicar para si um macho daqueles na condição de homossexual? Eu não podia nem sequer recrimina-lo, pois não tinha o direito de reclamar aquele homem como meu, sem que todos descobrissem nossa relação. Cabia-me sofrer calado, quando muito expor minha frustração entre quatro paredes. Quando eram outros carinhas que ficavam espichando o olho para o Theo eu me sinta mais confiante para deixar claro que ele tinha dono, mas com as garotas tudo mudava de figura.
- Bobinho! Não sei por que você se incomoda com isso. Você sabe o que sinto por você. – respondia ele, quando me via chateado diante de alguma nova investida.
- Quando eu digo a mesma coisa para você, você não tem essa paciência toda, sai logo dando bronca. – argumentei, diante da reação dele quando via um cara dando em cima de mim.
- É diferente! Você já viu como esses caras agem? Parece que só estão esperando a ocasião propícia para meter o caralho na sua bunda. E, só de pensar num cara enfiando o bagulho dele em você eu perco a cabeça. Sou capaz de matar o desgraçado. – retorquiu.
- Não é diferente não! Elas querem o quê? Se deliciar com sua pica no meio das pernas delas, engravidar para que você fique preso a elas, ou você acha que o objetivo é outro? – retruquei.
- Eu estou preso a você, seu mimadinho ciumento! Preso por aqui. – afirmou, colocando a mão no coração e me puxando para junto dele. Aquilo me acalmava, mas estava longe de me deixar tão seguro quanto eu gostaria.
Também consegui trazê-lo de volta ao seio familiar. Ele relutou muito ao final do ano, findo o ano letivo, quando voltei para São Paulo para as festas de final de ano, em me acompanhar. Fazia uns seis anos que ele não visitava os pais e mal falava com eles por telefone. As constantes discussões com meu avô, os outros irmãos e, a pouca empatia com os cunhados e cunhadas tinham-no afastado de todos. Eu o trouxe inicialmente para a casa dos meus pais. Minha mãe ficou eufórica com a visita, meu pai cético, porém disposto a manter um relacionamento ao menos civilizado com o cunhado de reputação questionável.
Viu como tudo foi tranquilo? Eu disse que todos vão te aceitar, se você não começar com provocações e questionamentos. – afirmei, quando ao final do primeiro dia tínhamos ficado a sós por uns instantes.
- Deixe-os saberem o que está rolando entre a gente! Aí você me diz se vão me tratar com as mesmas amabilidades. – revidou, ciente de que seria execrado pela família.
- Não temos que abrir nosso relacionamento para ninguém! Ou você acha que eu serei poupado nessa história toda? – respondi.
- Mas vão dizer que fui eu quem te corrompeu, quem se aproveitou da sua inocência uma vez que sou o malandro que sou. – retrucou.
- E, não foi isso o que aconteceu? – indaguei provocando-o.
- Ah é, seu putinho safado? Quem é que não pode ver a minha rola que já cai de boca? E pode ir preparando esse cuzinho que não é porque estamos fora de casa que vou te dar uma trégua. – sussurrou próximo à minha nuca me fazendo sentir um arrepio de desejo percorrer minha espinha.
- Tarado! – respondi com o olhar cheio de desejo e carinho.
Apesar das férias se estenderem até o final de janeiro, não fiquei em São Paulo e nem acompanhei meus pais à casa de praia no verão. Voltei com o Theo para Curitiba, pois ele tinha uns projetos que precisa entregar aos clientes. Apenas uma semana antes do reinicio das aulas é que ele apareceu um final de tarde com duas passagens e reservas num resort em Itacaré no litoral da Bahia. Havia um olhar maroto no rosto dele quando deixou as passagens e as reservas na estante de sala onde eu as encontraria com facilidade.
- O que é que você está aprontando? – perguntei, pois já conhecia aquela cara.
- Lembrei-me de que nunca tivemos uma lua-de-mel. – respondeu, me acompanhando com o olhar quando fui ver o que eram aqueles papéis.
- Não casamos para termos uma lua-de-mel! – exclamei.
- Mas eu quero ter um tempo só com você, longe de todos e da rotina. Quero namorar com você 24 horas seguidas. – devolveu ele, vindo me enlaçar a cintura.
- Amo você, sabia?
- É, já deu para perceber! – exclamou, aproveitando para encoxar minha bunda.
E assim, entre os problemas e alegrias do cotidiano, entre pequenas rusgas e tórridas e sensuais reconciliações, entre visitas cada vez mais constantes aos familiares e, no arranjo que o próprio destino acaba dando as nossas vidas, os seis anos de faculdade se passaram. Quando comuniquei a data da minha formatura, o Theo não só expressou a alegria que eu esperava como uma expressão preocupada e taciturna. Ele permaneceu assim por semanas. Meus pais, vovô e vovó, meus irmãos e uma batelada de amigos que eu havia deixado em São Paulo vieram para a formatura. Meu pai fazia planos para me encaixar na clínica de um amigo de infância dele, cuja fama havia formado uma das mais conceituadas equipes de cardiologistas de São Paulo. Com a mesma exaltação que ele via esta perspectiva se concretizar ele encarou a minha negativa de voltar para São Paulo.
- Como assim permanecer em Curitiba? O Reinaldo abriu a vaga da residência na equipe dele. Onde você vai encontrar outra porta aberta como essa? Você não tem nada em vista aqui em Curitiba. O que vai fazer, bater de porta em porta implorando para ser aceito numa residência qualquer? – questionou meu pai.
- Se preciso for. Eu me adaptei a vida daqui, gosto de morar aqui, não quero voltar para São Paulo. – argumentei, sem revelar o verdadeiro motivo da minha recusa em aceitar a proposta do amigo dele.
- Você está maluco! Desperdiçar uma chance dessas. Você sabe que todos os integrantes da equipe dele passaram uma temporada nos Estados Unidos devido aos contatos que ele tem por lá. Onde vai conseguir isso ficando aqui? – meu pai estava desapontado comigo.
- Quero evoluir por mim mesmo.
- Você está ficando igual ao seu tio maluco, jogando fora todas chances de uma vida de sucesso. Eu soube desde o inicio que era uma ideia equivocada deixar você convivendo com ele. Está aí o resultado! – desabafou furioso.
- O Theo não tem nada haver com a minha decisão. Deixe de implicar com ele. Tive os anos mais felizes da minha vida morando com ele. – defendi com afinco.
- A quem você quer enganar? Eu tenho plena certeza da influência dele sobre essa maluquice que você está cometendo. – embora talvez não tivesse consciência da real situação entre o Theo e eu, meu pai tinha uma perspicácia com a qual eu tinha que começar a me preocupar a partir de agora, pois qualquer ato falho o levaria a descobrir nossa relação.
Eu nada tinha comentado com o Theo sobre minha conversa com meu pai no dia seguinte à formatura e, nem da minha decisão de ficar morando com ele. Mas, a tristeza que havia dado lugar àquela apreensão que ele vinha demonstrando há semanas me levou a abrir o jogo.
- Que cara é essa? – perguntei, quando chegamos ao apartamento na madrugada após o baile de formatura.
- É a minha, a que você está cansado de conhecer. – respondeu, enquanto nos despíamos para dormir.
- Isso é jeito de responder? Que bicho te mordeu? Vai me dizer que foi por que aquele meu amigo de São Paulo deu umas beliscadas na minha bunda e você viu? Ele enche o meu saco pelo fato da minha bunda ser grande e arrebitada desde o colégio, é o jeito que tem para me provocar. – expliquei, embora parecesse que aquilo não tinha a menor importância àquela altura do campeonato.
- Eu devia ter dado um soco naquela cara de babaca que ele tem. – revidou carrancudo. – Quando é que você volta para São Paulo? – estava ali o verdadeiro motivo daquele azedume.
- Por que está me perguntando isso?
- Ora, você terminou a faculdade, não foi para isso que veio morar aqui. – resmungou.
- Por que acha que vou embora?
- Acabei de dizer o porquê!
- Quer que eu vá embora?
- Claro que não!
- Você me apontou aquela porta uma porção de vezes dizendo que era serventia da casa, lembra?
- Fui uma besta! Me arrependo de ter feito isso com você! Mas, agora que sei que vou te perder, não sei o que fazer. Eu não quero que você saia daqui. Eu não quero que você saia da minha vida. Não sei viver sem você. Eu sabia que esse dia ia chegar mais cedo ou mais tarde, mas diante da iminência da sua partida perdi o chão. – declarou macambuzio.
- Eu não vou a lugar algum! Não saí por aquela porta quando você me mandou cheio de raiva e, não vou sair agora que te amo mais do que tudo nessa vida. – revelei. Ele me encarou e começou a colocar um sorriso naquela cara tristonha.
- Sério? Como assim, seu pai me disse que você ia trabalhar com um amigo dele. Você vai ficar mesmo? – descambou a falar.
- Eu recusei a oferta. Vou ficar com você. Eu amo você Theo! Pode ser a coisa mais errada desse mundo um sobrinho se apaixonar pelo próprio tio, mas eu te amo e não sei viver sem esse amor. Certamente a sociedade vai me crucificar, dizer que isso é uma aberração, que sou um pervertido, mas é o que eu sinto aqui dentro, não sei como mudar isso. Então, resolvi que vou viver esse amor enquanto você me quiser. – respondi, abrindo meu coração e minha verdade como nunca antes.
- E eu quero você! Por que te amo. Por que você me deu uma razão para viver. Por que você me fez descobrir um amor que jamais pensei existir. – afirmou, tomando-me em seus braços e me inclinando sobre a cama.
Um beijo apaixonado e demorado pôs fim aquela conversa. Minutos depois, eu erguia minha pelve para receber a rola em riste e sedenta dele no meu cuzinho. A penetração foi tão intensa e profunda que gani antes de ele voltar a juntar sua boca úmida à minha. Começava a se formar uma tempestade no breu da noite, com os raios se espalhando iluminados bem diante da janela como as raízes de uma planta, seguidos pelo troar cada vez mais intenso dos trovões que se seguiam. Pouco depois, a chuva caiu torrencialmente. Eu havia gozado sobre o lençol, bem próximo das gotas de sangue que afloravam do meu cuzinho encharcado com a porra quente do Theo, que ia escorrendo lenta e continuamente para as profundezas das minhas entranhas. Não tínhamos como saber como seria o nosso futuro juntos, nem por quanto tempo esse futuro se prolongaria. No momento, vivíamos aquele presente, um presente que se estenderia dia após dia, mantendo aceso aquele amor que nos unia. Para mim, se a vida ao lado do Theo se prolongasse tanto quanto aquela ereção que latejava dentro de mim, pulsando firme e forte, mexendo com todo o meu ser, tudo teria valido a pena e seria como viver uma eternidade de sonhos.