"If there's lessons to be learned I'd rather get my jamming words in first, so..."
Eduardo desconfiava que ela não estivesse mais ali. Era seu único receio, pois aquilo indicava claramente que ela não mais desejava o seu serviço e, puta merda, ela era alguém tão viciante quanto heróina, "merda" ele pensou, lembrando-se como ela era diabolicamente criativa.
Com cuidado, ele se aproximou lentamente da casa. O carro em ponto morto fazia um som baixo enquanto seu motor esfriava. A Lua já era visível no céu através das folhas da árvore que sombreava a casa; o jardim estava impecável, exceto por uma única folha pousada sobre a mesa de metal, marrom e retorcida. A grama estava úmida e ele imaginou se ela mesma cuidava do jardim.
Eduardo puxou o molho de chaves e sequer hesitou ao escolher a correta, porque já havia se tornado um movimento natural. Com a outra mão ele limpou a testa, cravejada por gotas de suor. Será que ela suspeitava de algo? Entrou na casa antes que faltasse coragem.
Babalon não estava em nenhum lugar à vista e não houve som algum, mas ele entrou na pequena sala de estar e cumpriu os mesmos passos que sempre fazia: despiu-se, dobrando suas roupas com cuidado sobre a bancada do banheiro. Em seguida, banhou-se com cuidado. Atrás da porta do banheiro ele imaginou que encontraria o de sempre, uma toalha para se secar, mas não havia nada. Ele entendeu então, que deveria estar com o corpo úmido. Não voltou a questionar.
Eduardo parou de frente à porta do quarto usual por bons 20 minutos, sentindo o frio da noite secando seu corpo da cabeça aos pés. Uma pequena poça de água se formou no chão ao seu redor, mas ele não hesitou em momento algum, pois imaginou que ela poderia farejar a sua dúvida.
No fim, ele não estava errado.
Findado o tempo, ele se surpreendeu quando a porta às suas costas se abriu. Não houve cumprimento nem qualquer tipo de recepção, pois quando a surpresa passou e ele se virou, ela já não estava à porta. Ao invés disso, estava sentada na bela poltrona de tecido dourado, com uma mesinha de madeira escura à sua esquerda.
Ela estava particularmente linda, usando um robe de seda. Por baixo, ele pôde vislumbrar um mamilo rijo. Seu pau deu os primeiros sinais de excitação com isso e ele entrou no quarto, fechando a porta atrás de si.
- Achei que tivéssemos um acordo, Eduardo.
Ela nunca havia pronunciado seu nome e a voz aveludada o surpreendeu. Soava bem, como alguém que foi treinado para não carregar sotaque de lugar algum. Seria um privilégio ouvir tal coisa?
- Sim, sim. Infelizmente eu tive um imprevisto que atrapalhou a minha agenda hoje pela manhã.
- Sei.
Ele desviou o olhar do rosto dela para a pequena pilha de livros aos pés dela. Eram três pesados livros, sem nome, encadernação de couro trabalhado e aplicação de folhas de bronze, prata e ouro. "Coisa fina", ele pensou. Se perguntou o que ela devia ler nas horas vagas.
Enquanto olhava para os livros, ela o observava. Eduardo sentiu o seu olhar como um laser percorrendo seus membros e avaliando o seu corpo, até o momento em que ela levantou-se e foi em sua direção.
"Tell you something that I've found; that the world's a better place when it's upside down, boy."
Babalon passou por ele e, de uma escrivaninha às suas costas, puxou uma foto. Jogou-lhe a foto aos pés. Érika. Ele sentiu um calafrio percorrer sua espinha e um peso gigantesco se alojar em seu estômago. Ela sabia.
- Espero que pelo menos tenha usado esse pintinho nojento para fazê-la gozar, inútil.
Ele sentiu suas bolas encolherem quando ela as tocou. Babalon tinha as unhas longas em forma de stiletto e não poupou força ao apertá-las, cravando-as e arranhando a pele sensível do escroto com as unhas. Eduardo abafou um grito, mas gemeu com o movimento inesperado. Babalon era mais baixa que ele, mas não muito. Ela em momento algum olhou para seus olhos, mas sim para seu queixo, que estava à altura do olhar, com o rosto retorcido de desprezo, os olhos cintilando à luz indireta que vinha do teto.
- Perdão, Senhora de mim. Eu errei.
- Sim, você errou. Aprenda a nunca falhar com a sua palavra, verme. É a única coisa digna em você e, agora, nem isso.
Ele ouviu calado. Seus olhos percorreram as paredes cor de sangue que eram forradas de acessórios. Havia chicotes, chibatas, talas, canes e toda sorte de objetos de tortura que ele conhecia, suspensos, servindo como decoração e também como um lembrete delicioso de quem era sua dona. Seus olhos foram atraídos para um objeto particular, a que ele ainda não fora apresentado.
O aço reluzia, virgem. O cabo era igualmente de aço, mas era recoberto com couro preto. A longa fileira de elos da corrente parecia excitada em antecipação, esticada na transversal da maior parede, mas não reta. Fazia curvas como se fosse realmente uma cobra, os elos estavam relaxados e eram suspensos por pregos reforçados, pintados de preto. Uma pequena etiqueta colada à parede, perto do cabo, trazia a palavra "Mimi". O monstro tinha nome. Eduardo engoliu em seco, sentindo o suor brotar na cabeça calva.
- Você fede a medo, Eduardo.
Agora o som de seu nome não foi nem um pouco agradável e ele tremeu. A voz soava seca como o aço daquela corrente, irritante aos seus ouvidos. Ele balançou a cabeça. Érika era estagiária no escritório de advocacia onde ele era sócio. Era bonita, simpática e tesuda e ele não havia conseguido se controlar quando ela insinuou interesse sexual. Ele sabia que não era nada bom e só tinha dois prognósticos: ou ela desejava usar sexo para ser contratada, ou desejava lhe ferrar num processo por assédio sexual. Ele sabia, e ainda assim, fora fraco...
- Sou fraco, Senhora - seus lábios sussurraram, secos. - Sou fraco e tenho medo.
- Tenho orgulho de ouvir isso, significa que você merece ao menos ser punido - os olhos dele estavam secos, pois ele não havia piscado ainda, e quando o fez, sentiu as lágrimas turvando sua visão. Ele ainda olhava para o chicote de aço.
Babalon soltou suas bolas e ele gemeu com o súbito alívio da pressão. Sentiu o ar frio encher seus pulmões. Ela foi em direção a uma das prateleiras à cima da escrivaninha e pegou uma caixa de sapatos. Dentro, ele veria, havia um par de saltos altíssimos, de couro branco, que pareciam aquelas gladiadoras pavorosas que foram moda no passado. Os saltos facilmente chegavam aos 20 centímetros e Eduardo sabia que iriam caber em seus pés. A essa altura ele já não se surpreendia com qualquer medida proposta por Babalon, pois ela conhecia todos os seus segredos e os expurgava a cada encontro.
Ela jogou a caixa de sapatos aos seus pés e não foi sequer necessário ordem para calçá-los. Obviamente eles serviram como uma luva. Ele lutou alguns segundos para conseguir se equilibrar, mas quando conseguiu, olhou para Babalon e ficou aguardando novas instruções, que nunca chegaram. Ela estava de óculos, sentada em sua poltrona com ambas as pernas dobradas sobre si.
Seu seio esquerdo estava totalmente exposto pela abertura do robe e o bico estava rijo. Eduardo estava absolutamente certo em apostar que aquela situação era excitante para ela. O pesado livro com capa decorada com dourado estava sobre seu colo e ela o lia, seus olhos percorrendo as palavras de modo ritmado. Quando ele respirou profundamente para questionar, a pergunta morreu em sua garganta, pois ela ergueu o dedo indicador e falou suavemente:
- Você não tem palavra, sua voz é imprestável.
E dessa forma, ele ficou ali parado, imóvel, pelo programado para a sessão: 3 longas e maravilhosas horas.
O incômodo começou com a perna esquerda, que formigava. As tiras da sandália estavam bem presas, sem apertar a circulação, mas faziam cócegas e ele reprimiu os risos quando eles vieram, sob um relance de olhar de Babalon.
Depois, o incômodo evoluiu para coceira onde o couro tocava sua pele e estava ficando úmido com suor. Ele buscou afastar de sua mente, e teve sucesso por um bom tempo. Mas o incômodo evoluiu para dor, principalmente nos dedos dos pés. Ele sentia todo o peso de seus 100 quilos apoiado em cima das unhas dos dedões e imaginou que suas unhas estavam se quebrando e jorrando sangue, mas não teve coragem de olhar. Próximo do fim da terceira hora, ele já estava chorando, sentindo uma dor que o fazia perder as forças na perna esquerda e, com isso, ele apoiava o peso inteiramente na outra perna, a sobrecarregando. Passado algum tempo, ele não aguentou.
Novamente ele inspirou profundamente e sua voz saiu embargada, repetindo as palavras que haviam sido usadas por ele de chacota entre os amigos: - Piedade, Senhora de mim. Imploro, por- por favor.
Dessa vez, ela o olhava fixamente nos olhos e ele desviou o olhar. Ergueu a cabeça e sentiu o suor correr por suas costas. Viu apenas ela maneando a cabeça de forma positiva, pois não houve palavra sequer vindo dela. Ela havia ganhado, novamente.
"... When you're playing with desire don't come running to my place when it burns like fire, boy."
Saindo da casa, Eduardo estava fora de si. Xingou a si mesmo ao entrar no carro, pois seu pau estava duro como nunca antes, pois enquanto ainda lembrava-se da dor, sentia um misto de orgulho e tesão pelo feito alcançado.
A música é Sweet About Me, da Gabriela Cilmi.