Me chamo Leonardo Mariano, nascido e criado na ilha de Mirage. Estava com 18 anos. Minha mãe, Denise, foi casada com meu pai por mais de 20 anos. Até que um caso dela com outra mulher obrigou meu pai a pedir o divórcio. Rapidamente a notícia da traição de minha mãe se espalhou por toda ilha. Isso foi algo que deixou meu pai atordoado. Minha mãe foi embora da ilha para viver com a moça que era bem mais nova que ela. Além disso, como resolução do divórcio, meu pai ainda foi obrigado a pagar uma pensão bem gorda a minha mãe, todos os meses. Depois disso nunca mais falei com minha mãe. Continuei na casa de meu pai, apenas eu e ele. Era filho único.
Meu pai Otávio Mariano era o homem mais rico de Mirage, de longe a pessoa mais influente da ilha. A fortuna do meu pai, boa parte vinha dos poços de petróleo ainda ativos que foram descobertos pelo meu avô em Mirage há mais de 40 anos. Além disso meu pai era proprietário de mais da metade das posses de terra da ilha. Quase todos os estabelecimentos ou meu pai era dono, ou era sócio. Se alguém abrisse um comércio em Mirage, e tivesse algum lucro significativo, meu pai fazia uma oferta de sociedade ou de compra. Os pequenos comerciantes não resistiam com medo de retaliações. Era assim que ele conseguia manter o seu monopólio na ilha. Em Mirage meu pai tinha mercado, posto de gasolina, restaurantes, lojas de roupa, cosméticos, e entre outros tipos de estabelecimentos. Meu pai era dono de praticamente tudo que havia lá. Só havia uma outra família de influência na ilha, os nossos sócios, os Bethencourt. Os Bethencourt ficava com vinte e cinco por cento dos lucros obtidos com o petróleo e com os estabelecimentos da minha família. Para que meu pai pudesse cuidar da ilha os Bethencourt ajudavam principalmente com a parte administrativa. Os Bethencourt eram uma família de quatro pessoas, o Casal Marcos e Consuelo, e seus dois filhos, Miguel de 16 anos e Lethicia de 15.
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Mirage fica a 150 quilômetros de distância da costa de Guarujá, litoral de São Paulo. Não era uma simples ilha. Pertencia em teoria ao Brasil, mas funcionava de maneira oposta a República Brasileira. Tínhamos a nossa própria política. O Brasil não interferia nos assuntos da ilha, desde que pagássemos todos os impostos requeridos pela união. A política de Mirage era algo como um império de meu pai. A ilha pertencia a minha família desde dos tempos de Brasil colônia. O poder e o controle da ilha passavam de mãos em mãos, de geração em geração aos homens da minha família. Meu pai, era o que chamavamos de Patrono, função herdada que lhe dava poder de governador da ilha. Haviam pouco mais de 6 mil pessoas morando lá, os que não trabalhavam no comércio ou nos poços de petróleo, viviam da pesca ou eram pequenos agricultores. Meu pai ficava a cargo de recolher os impostos. Parte ficava com o Brasil. O restante em teoria seria utilizado para as necessidades da população. Isso em teoria, porque na prática não era o que acontecia. Às poucas obras feitas para o povo eram super faturadas, desvios de dinheiro era comum na administração do meu pai. Assim foi com o pronto socorro, e às obras da escola de Pompeu. Isso era o que sustentava as luxuosas festas que fazia constantemente em São Paulo. Festas regadas a champanhe, uísque e mulheres. Mesmo quando era casado com minha mãe, meu pai não deixava de curtir suas noitadas em São Paulo. Em contra partida grande parte da população de Mirage vivia em situação de muita pobreza. Alguns ainda não tinha água encanada. Em Pompeu ainda tinham famílias sem acesso a coleta de esgoto.
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Não havia muitas opções de lazer em Mirage. No setor comercial, na região central da ilha, era onde ficava a única Igreja Católica, havia também um cinema, alguns poucos bares e a danceteria chamada Corintos, onde havia baile aos sábados. Ah, e é claro Mirage era conhecida por suas praias. Principalmente a praia do ponto verde que ficava no norte da ilha, chamávamos assim por causa de um pequeno rochedo coberto por uma mata verde que de longe olhando da praia parecia um pontinho verde no horizonte. Às águas eram azuis cristalinas e batiam nas costas do morro danoso, cardumes de pequeninos peixes rodeiam às nossas pernas quando nos banhamos no mar, tinha também tartarugas, a praia do ponto verde era de fato muito bela. Havia outras duas praias na ilha, ao leste tinha a praia do vento que ficava em frente ao Morro Danoso e perto do Setor Bueno, um condomínio construído por comerciantes, era bonita também, mas não tanto quanto às praias do norte. A oeste tinha a Praia Vermelha, era uma praia suja, devido a constante trabalho dos pescadores, havia restos de peixes e frutos do mar na areia. A água era escura por conta dos rejeitos dos barcos que circulavam. Não era uma praia para banhistas, apesar dos moradores de Pompeu que era próximo dali, não se importarem. Pompeu era um vilarejo pobre onde morava a maioria da população de Mirage. Ao sul da ilha, não havia nada além da Penitenciária de Miragem. Construída à 10 anos. A Penitenciária abrigava até 200 presos. Mirage era bem rígida com os infratores. Um simples roubo podia ser punidos com muitos anos de prisão. Mirage tinha a sua própria lei. Não havia pena de morte, mas a polícia de Mirage tinha liberdade para usar da violência. Quando um bandido era pego pela polícia, era levado para a única delegacia da ilha, que ficava no mesmo prédio da penitenciária. Era lá também que aconteciam os julgamentos, que eram feitos por uma junta jurídica formada por juízes, promotores... todos contratados pelo meu pai. Se condenado, o bandido la mesmo ficava. Os casos de crimes em Mirage eram bem pequenos.
Próximo da praia mais bela da ilha, a Praia do Ponto Verde ficava também a mansão da minha família.
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Sentado em uma cadeira, na varanda do meu quarto, olhando as águas azuis da Praia. Refletia sobre meu futuro quando me lembrei de uma cena, digamos, estranha, mas que para mim foi marcante.
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Era uma quinta feira, estava em casa, quando meu pai veio até mim dizendo que iria a casa dos Bethencourt, que ficava no Setor Bueno, ao leste da ilha. Disse que precisava resolver alguns assuntos com o Marcos, o patriarca dos Bethencourt. Me perguntou se eu não gostaria de ir com ele. Não estava fazendo nada em casa, então fui. Chegando na casa dos Bethencourt, fomos recebidos por Consuelo, esposa de Marcos que acompanhou meu pai ao escritório, onde Marcos estava. Consuelo me disse:
— Se você quiser pode ir lá pra sala assistir tv, Miguel está no quarto, vou pedir pra ele descer e ficar com você, a Lethicia já deve estar voltando, foi buscar um caderno na casa da Talita.
Talita era uma amiga insuportável da Lethicia, a caçula dos Bethencourt, estudava com ela, elas viviam juntas. Eu nunca conversava com Miguel, muito menos com Lethicia. Os dois eram mais novos, não tínhamos papo, mas qualquer coisa era melhor que ouvir meu Pai e Marcos falarem. Então fui, cheguei na sala de estar, ainda não havia ninguém. Sentei em um sofá bem grande que ficava no canto da sala escorado na parede, peguei o controle da tv que estava em uma mesa de madeira em frente ao sofá, coloquei em um canal de esportes e fiquei assistindo. Miguel logo depois desceu de seu quarto, nos demos as mãos para se cumprimentar, e ele sentou no sofá ao meu lado. Ficamos sem falar, voltei a atenção a tv, passou-se uns 10 minutos, a porta da sala se abre, era Lethicia. Lethicia vestia uma blusinha vermelha, shorts brancos e nos pés calçava havaianas, carregava consigo dois cadernos e umas folhas de sulfite com algo impresso, era um trabalho de escola. Assim que me viu na sala com Miguel disse entusiasmada:
— Oi Leonardo, como você tá? Nunca mais apareceu.
— Estou bem Lethicia. Respondi friamente.
Lethicia sempre quis chamar minha atenção, gostava de falar comigo, contar sobre suas coisas, mas eu detestava seus papos, a única coisa que me interessava em Lethicia, eram, seus pés.
— Miguel levanta do sofá e vem aqui na minha frente. Disse Lethicia.
Me assustei com tom de voz da Lethicia. Miguel rapidamente levantou e foi em direção a Lethicia, naquele momento achei aquilo engraçado, cheguei a dar uma risada discreta, mas as coisas ficariam mais sérias. Lethicia deu as folhas impressas para o Miguel e falou:
— Eu não disse que queria tirar pelo ou menos 8 nesse trabalho, você não faz o que eu quero, vou ter que contar pro pai.
— Não, por favor Lethicia, não precisa disso, desculpe. Disse Miguel.
Letícia olhou pra mim rapidamente, era como se ela quisesse que eu visse, e eu sentado no sofá, olhava aquilo já um tanto quanto assustado, então ela falou para o Miguel:
— Tá, eu posso até desculpar, mas você já sabe o que tem que fazer.
— Por favor Lethicia, aqui não, não estamos sozinhos, Leonardo está aqui. Implorou Miguel.
— Ou você pedi desculpa para mim de joelhos e beija meu pé ou eu conto agora seu segredinho pro meu pai.
Mas que segredo era esse. Tinha que ser algo bem sério para o Miguel aceitar aquilo. Isso foi algo que eu nunca soube. Miguel olhou pra mim, extremamente envergonhado, vermelho, mas devagar, ficou de joelhos e beijou os pés de Lethicia, que estava no chão, calçados pelas as havaianas, e disse:
— Desculpe Lethicia.
— Beija meu pé de novo. Disse Lethicia ainda não satisfeita.
Miguel beijou o seu pé novamente, depois se levantou permanecendo de frente para Lethicia. Naquele momento senti meu pau endurecer, me imaginei sendo eu beijando os pés da Lethicia no lugar do Miguel. Fiquei excitado. Lethicia entregou os dois cadernos que segurava e falou:
— Tenho um questionário de geografia para entregar amanhã, é individual. Faz pra mim, aproveita e faz o da Talita também. Sobe pro seu quarto e só desce quando você terminar.
Miguel subiu no mesmo instante para o seu quarto, de cabeça baixa, levando os cadernos. Lethicia veio e se sentou no sofá, do meu lado, onde o Miguel estava, descalçou os chinelos e esticou as pernas na mesa de madeira a frente do sofá. Com as pernas cruzadas ela balançava um dos pés de um lado para o outro, freneticamente. Estava com muito tesão. Eu sempre fui apaixonado por pés, desde muito cedo, procurava entender o motivo, mas pés femininos me atraíam. Um pézinho bonito balançando era algo que me deixava louco, e os pés da Letícia eram perfeitos. Seus dedinhos simétricos, em tamanhos perfeitos, nem muito grande nem muito pequeno, rosados em formato de escadinha. Naquele dia suas unhas pareciam estar pintadas com aqueles branquinhos de apagar caneta, tava um pouco borrada, mas não mudava em nada a perfeição que era seus pés. Lethicia também era uma garota muito bonita. Tinha cabelos pretos lisos escorridos que vinham até o final das costas, seus olhos eram pequenos um pouco puxado, azuis. Ela não parava de balançar seus pés. Pronto, não havia nada mais para mim, apenas seus pés. Pensei em pedir para beijar seus pés também. Pensei que talvez ela poderia querer uma massagem, e eu estava pronto para fazer. Mas não tinha tempo para falar mais nada com ela. Meu pai já voltava com Consuelo. Nos despedimos e fomos embora.
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Depois que revivi toda aquela cena, saí da varanda. Deitei em minha cama excitado, e me masturbei me imaginando estar no lugar de Miguel, mas fui além, em minha mente, imaginei que Lethicia não apenas deixava eu beijar os seus pés, deixava eu cheirar, chupar os seus dedos, lamber a suas solas. Meu deus deveria ser maravilhoso poder fazer tudo aquilo. Gozei! Fui ao meu banheiro e me limpei, voltei e deitei na minha cama novamente. As coisas não estavam boas para mim em casa. Meu pai estava cada vez mais decidido a me mandar para fazer um cursinho em São Paulo. Para ele eu deveria me formar em Direito e deveria ajudar ele com os negócios, mas não levava a menor aptidão para os negócios. Naquela altura eu não sabia o que queria para meu futuro. Não sabia em qual profissão queria me formar, mas tinha certeza que não queria trabalhar com os negócios da minha família. Tudo que meu pai fazia para mim era uma grandíssima chatice. Estava decidido. Eu não iria trabalhar com meu pai. Iria seguir minha vida, talvez pudesse sair de casa, arrumar um emprego. Naquele dia resolvi falar com meu pai. Dizer que não pretendia estudar direito e não queria cuidar dos negócios da família. Mesmo sem saber o queria. Sentia o desejo de me desprender do meu pai e das obrigações impostas pela minha família, pelo meu sobrenome, assim fui.
Nosso mordomo veio ao meu quarto dizer que o jantar estava pronto. Enxerguei que ali era o momento. Aquela era hora de falar com o meu pai.
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Levantei da minha cama e desci até a copa, meu pai já estava lá sentado à mesa servindo-se de um belo assado de abadejo. Sentei-me a mesa, e então iniciei a conversa, fui direto ao ponto:
— Pai, estive pensando e não vou fazer direito. Também não quero trabalhar nos seus negócios.
— Ficou louco! eu não admito isso. Isso já estava decidido, vou te matricular em um cursinho. Você vai para São Paulo.
— Isso nunca esteve decidido, não por mim, nunca quis estudar direito.
— Quem vai cuidar dos negócios da nossa família quando eu não estiver aqui? Quem vai cuidar de Mirage? Você é meu único filho.
Nem passava pela a cabeça do meu pai escolher outro caminho que não fosse os negócios da família.
— Você ainda tá novo, pai, até lá você pode preparar outra pessoa pra isso, quem sabe o Miguel Bethencourt.
Meu pai era um homem de quase 50 anos, haveria tempo o suficiente para ele preparar outra pessoa.
— Você vai fazer o que eu falei e ponto final. Disse meu pai enfurecido. Mas estava convicto do que queria naquele momento, respondi:
— Você não vai me impedir de fazer o que eu quero. Já sou de maior, já posso tomar conta de mim. Vou embora daqui, vou arrumar um emprego, ter minha casa e minhas coisas, sem precisar de você.
Meu pai deu um tapa na mesa furioso e saiu em direção ao seu escritório, mas antes olhou pra mim e disse:
— Às vezes eu duvido que você seja meu filho.
Também me levantei sem nem começar o jantar e fui ao meu quarto, fiquei em minha cama, pensativo, mas decidido a sair de casa.
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No final da noite meu pai abriu a porta do meu quarto sem bater. Estava deitado, me ergui e sentei na cama. Meu pai em pé mesmo falou:
— Já que quer seguir sua vida, não vou te impedir, mas não quero você aqui dormindo na minha casa que foi do meu pai, seu avô. Não quero você usufruindo do patrimônio que rejeita, o que você está fazendo é idiotice.
— Eu vou arrumar um emprego, não vou precisar do seu dinheiro, você vai ver. Respondi
— Já tem dezoito né, vou pedir para o mordomo juntar as suas coisas. Amanhã cedo pegue o que for seu, e saia.
Permaneci em silêncio, meu pai continuou:
— É o que você quer, não é? Você não terá mais nenhum um centavo meu, não terá mais mesada. Arrume um trabalho então, e se vire. Esqueça que você tem família, esqueça do meu sobrenome.
Permanecemos alguns segundos em silêncio e meu pai terminou:
— Você vai pedir implorando pra voltar, filho, você é um Mariano, já está acostumado com os nossos luxos.
Assim que terminou, meu pai saiu do quarto sem dizer nada mais.
Eu estava decidido a sair de casa e estava indo sem nenhum recurso, completamente à mercê do mundo.
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Na manhã seguinte, acordei, tomei um banho que durou uma eternidade, apenas deixei a água jorrar sobre a minha cabeça. Ainda estava perdido, mil pensamentos na cabeça. Sem dúvidas aquela foi a decisão mais importante que tomei na minha vida. O mordomo, seu Otacílio, trabalhava para meu pai desde antes de eu nascer. Me olhava com uma cara triste, de quem me viu crescer e agora estava me vendo ir. Otacílio entregou minhas poucas coisas. Duas malas, uma dessas malas, a preta de couro, estava algumas peças de roupas, um álbum de fotos, e um relógio que ganhei da minha mãe. O último presente que ela me deu antes de partir de Mirage. Em uma outra mala azul havia revistas de games, revistas de futebol, algumas outras coisas fúteis que não levei comigo, pois não precisava. Coloquei meu relógio no pulso, peguei a mala preta com as coisas úteis, me despedi discretamente do Seu Otacílio, desci as escadarias, abri a porta da sala, e saí. 1
Continua...