Continuando…
Angel continua o seu tratamento à espera das primeiras visitas no hospital. Júlio foi ajudar Tina a buscar os pais dela e da Angel no aeroporto. Natália trouxe para Luiz a prova de que Angel não só traiu, como também se entregou de corpo e alma à traição.
Luiz ficou arrasado com tudo o que assistiu. Angel já tinha jogado aquilo tudo na cara dele no dia da conversa na casa do Júlio. Mas ver com os próprios olhos, foi devastador. Luiz se entregou de vez a bebida e as goladas de vodka não conseguiam tirar o gosto amargo da sua garganta. Um copo após o outro não era suficiente para apagar o sentimento de revolta. Luiz sentia que fora usado por todos. E isso, provocava nele muita tristeza e ao mesmo tempo, uma grande frustração. Sua autoestima, que havia melhorado, desde que decidira voltar, estava novamente esfrangalhada. Luiz tomou a garrafa de vodka inteira e em muito pouco tempo, o excesso de álcool em seu corpo, o entorpeceu e ele apagou ali mesmo, debruçado sobre a mesa em sua sala na empresa.
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Um pouco mais cedo e após deixar Luiz na empresa, Júlio encontrou Tina ansiosa e sorridente à espera dele já do lado de fora da casa. Ela estava linda com o seu vestido florido e os cabelos soltos. Júlio esperava há três dias para reencontrá-la. Estava ansioso também.
Júlio saiu do carro, caminhou ao encontro dela e matou a saudade que sentia com um beijo. Tina retribuiu com a mesma saudade. Os dois abraçados, não conseguiam se soltar ou parar aquele beijo tão gostoso. Julio sentia que não conseguiria mais ficar longe daquela ninfeta que passou a dominar os seus pensamentos.
Os dois enfim, se desgrudaram e partiram para o aeroporto. No carro, Júlio não conseguia tirar as mãos dela. Um carinho no ombro, uma passada de mão em suas coxas macias… Tina não é uma mulher fácil, de se entregar a qualquer um. Mas vê em Júlio, o homem dos seus sonhos: bem sucedido, lindo, carinhoso, ótimo amante…
Tina se sente em um conto de fadas. Júlio tem um enorme poder de atração sobre ela. Aqueles olhos azuis profundos, deixam Tina em estado de excitação constante.
Ela pegou a mão dele e colocou entre as suas pernas. Júlio a encarou e sorriu. Tina sentiu o contato prazeroso e fechou os olhos. Júlio foi lentamente alisando a sua bucetinha por cima da calcinha. Tina abriu um pouco mais as pernas e Júlio aproveitou para puxar a calcinha de lado e sentir o quanto ela já estava excitada. Ele disse:
- Pensei muito em você nesses últimos três dias. Estava com saudade.
Tina, concentrada na sensação das carícias que recebia e com a voz entrecortada pelo tesão, respondeu:
- Eu cheguei a sonhar com você nesses três dias. Isso está ficando complicado para mim.
Julio estranhou a fala dela. Achou que estavam curtindo, se gostando. Ele retirou a mão e disse:
- Por que está complicado? Achei que estávamos nos entendendo.
Tina sentiu que ele não entendeu direito e explicou:
- Eu estou pensando demais em você. O tempo todo. Eu tenho medo de ser somente um passatempo seu.
Júlio estacionou na entrada de um posto de gasolina, se virou e olhou fundo nos olhos da Tina. Ele disse:
- Você também não sai do meu pensamento. Eu quero muito estar com você. No meio de todo esse caos que tomou conta da vida dos meus amigos e me arrastou junto, você tem sido o meu único motivo para sorrir.
Os dois se beijaram. Um beijo forte, molhado, de entrega. Nada mais precisava ser dito, aquele acordo velado foi selado com olhares de admiração entre eles. Tina já sabia que pertencia ao Júlio desde a primeira vez que se reencontraram naquela porta de hospital. E o experiente e leal Júlio, também sabia que aquela ninfeta linda, que o encantava profundamente, não sairia mais dos seus pensamentos.
Júlio arrancou novamente com o carro e em pouco mais de uma hora, chegou ao estacionamento do aeroporto. Tina olhou o relógio e viu que estavam muito adiantados. Ela olhou para o Júlio com cara de safada e deitou o banco enquanto puxava Júlio para cima dela.
Tina sabia que aquela SUV era completamente escura e blindada. Ninguém poderia enxergar nada pelo lado de fora. Ela disse:
- Ainda falta mais de uma hora para o voo aterrissar. Eu quero muito você, aqui e agora.
Júlio também queria. Precisava possuí-la. Se deitou por cima dela e começou a beijá-la e apalpar todo aquele corpo firme, no auge da juventude. Tina rebolava buscando o contato com a ereção dele. Júlio se apertava contra ela também.
Ele abaixou as alças do vestido e admirou os lindos seios de biquinhos empinados dela. Tina gostava de ver o quanto ele olhava admirado para as suas formas. Ela mesmo puxou a cabeça dele em direção aos seios, precisava urgentemente daquele contato. Júlio beijava com carinho, uma quase devoção. Tina gemia baixinho e acariciava os cabelos rebeldes do seu homem.
Júlio puxou uma alavanca na parte lateral e o banco deslizou para trás, dando espaço para que ele ficasse com a boca bem próxima da xoxota dela, sem ficar desconfortável pela falta de espaço. Tina, após o susto, entendeu as pretensões dele.
Júlio começou a beijar a sua barriga e brincar com a língua por seu umbigo. Tina involuntariamente, ia empurrando sua cabeça para baixo. Júlio se deixou levar pelas mão dela e roçou o rosto por sua boceta. Cheirou, esfregou a barba… Tina continuava gemendo baixinho, manhosa. Júlio passou a língua bem devagar por seu grelo e sentiu Tina tremer e se agarrar aos seus cabelos. Sem conseguir mais segurar o seu desejo, ele começou a chupá-la com intensidade. Enfiando a língua fundo dentro dela e depois explorando toda a sua xoxota com movimentos circulares da língua. Tina estremecia e tinha pequenos espasmos a cada contato daquela língua em seu clitóris. Júlio a chupou com toda a sua habilidade e desejo, se deliciando com cada gota daquele mel que lhe impregnava a barba. Tina gemia, ofegava e tentava controlar a respiração. Enquanto Júlio continuava a extrair dela toda a tensão acumulada pela falta dele nos últimos três dias. Ela dizia entre gemidos:
- Ah, meu Deus! Como eu estava com saudade de você. Aaahhhhh… meu gostoso… Assimmm.. isso….que delícia, meu amor!
Júlio penetrou e começou a fodê-la com dois dedos e manteve a língua em seu grelo. Tina se rendeu de vez a ele. Percebendo o quanto a sua bocetinha apertava seus dedos e o aumento da lubrificação dela, Júlio aumentou ainda mais a intensidade das chupadas e Tina gozou apertando a cabeça dele com as coxas.
Júlio subiu e voltou a beijá-la enquanto ela se recuperava do intenso orgasmo. Tina olhava para ele com adoração. Ela estava mesmo completamente apaixonada. Júlio nunca foi homem de acreditar em amor. Para ele, as relações, mesmo as românticas, eram baseadas em afinidade, oferta e demanda, desejo e entrega. Júlio era um homem de mercado e lidava assim com tudo em sua vida. Mas Tina estava mudando tudo o que ele acreditava. Deixar de trabalhar para estar com uma mulher era uma coisa completamente nova para o sempre responsável Júlio. A verdade é que ele estava adorando esses novos sentimentos. Se sentia rejuvenescido e livre das pressões constantes. Só queria estar ali com ela, mesmo que só para fazer o favor de ser o seu motorista. Faria o que ela quisesse.
Os dois namoraram mais um pouco dentro do carro e também no saguão do aeroporto. Não conseguiam se desgrudar. Logo, o avião trazendo os pais de Tina e Angel aterrissou e os dois foram recebidos por eles.
A mãe da Tina, assistente social aposentada, com um enorme conhecimento do ser humano, já percebeu de cara que havia alguma coisa entre ela e Júlio e ficou muito feliz. Júlio é o tipo de homem admirado por todos e o genro que toda a mãe sonha. Almoçaram no restaurante do aeroporto e Júlio precisou contar tudo o que estava acontecendo para o casal. A aflição de todos ao ouvir o relato dele era crescente. Mas Júlio era esperto e apesar de não mentir, deixou as partes mais pesadas de fora. Estavam todos muito preocupados e ansiosos pelo dia seguinte, que seria o dia da primeira visita a Angel.
Após o almoço, Júlio levou todos para a casa do Luiz e da Angel e ainda teve que responder a muitas perguntas do casal. Inclusive, sobre como o Luiz estava lidando com tudo isso. Os sogros gostavam muito dele e também demonstraram uma grande preocupação por tudo o que ele estava passando.
Fizeram uma despedida demorada e com direito a amassos bem gostosos no carro entre Júlio e Tina, já passava das dezoito horas. Júlio se despediu dela, não sem antes marcarem um novo encontro, pois naquele momento, Tina precisava dar atenção para os seus pais. Júlio partiu.
Ainda no carro, ligou para o celular de Luiz para saber como foi o dia. Fez três tentativas e não obteve respostas em nenhuma delas. Ligou então para Bia, que logo o atendeu. Ele disse:
- Como foi o seu dia? Luiz se comportou direito?
Bia estava muito alegre por tudo o que encontrou na empresa e com o novo cargo. Ela respondeu:
- Luiz foi ótimo comigo. Mas ele não está bem. Eu até queria ter uma conversa com ele.
Júlio tentou tranquilizá-la:
- Ele teve uma semana bem difícil. Está sendo tudo muito complicado para ele. Mas não podemos passar a vida o protegendo de tudo. Está na hora dele aprender a lutar as próprias batalhas.
Bia concordava com a fala de Júlio. Ele ainda pediu:
- Se você já está em casa, dá uma descida lá e vê se ele está bem. Só para eu poder ficar mais despreocupado. Ainda preciso dar uma passada rápida na empresa.
Bia desceu para atender ao pedido de Júlio e os dois continuaram conversando durante o trajeto dela. Ela chegou e bateu na porta, chamou, gritou e nada do Luiz atender. Ela disse:
- Em casa ele não está. Ou ainda está na empresa ou em outro canto. Após a apresentação, eu não o vi mais.
Júlio agradeceu e desligou. Ligou mais uma vez no telefone do amigo e nada. Meia hora depois, Júlio estacionava em sua vaga na empresa. Já passava das vinte horas e ao sair do carro, Júlio viu a luz do escritório de Luiz acesa e se acalmou. Sabendo que o amigo estava ali, ele ficou bem mais tranquilo e seguiu direto para a sua sala. Júlio precisava levar alguns documentos para analisar em casa. Ele passou pela recepção despreocupado e subiu as escadas. Ao entrar em sua sala, Júlio percebeu que seu bar estava aberto. Ele foi até lá e deu falta da sua vodka cara. "Porra, Luiz! Era para você vir trabalhar. Não para encher a cara em horário de serviço" Júlio pensou e saiu bravo em direção a sala do sócio, pronto para lhe dar um esporro.
Ele atravessou a empresa pisando duro e ao tentar abrir a porta com tudo, quase se chocou contra ela. A porta estava trancada. Júlio chamou, bateu, chamou mais alto, bateu mais forte… Neste momento, Júlio começou a ficar muito preocupado, se lembrando de como encontrou com Luiz naquele hotel na cidade vizinha há quase um mês atrás. Júlio se lembrou, que por segurança, cada um tinha uma chave da porta da sala do outro.
Júlio atravessou outra vez o imenso corredor que separa as duas salas, pegou a chave do Luiz em uma gaveta da sua mesa e voltou andando mais rápido dessa vez. Júlio abriu a porta e encontrou Luiz debruçado sobre a sua mesa. Um passo à frente, o tapete do seu banheiro jogado no chão. "O que aconteceu aqui?" Júlio se perguntou. Rapidamente ele alcançou Luiz e conferiu a sua pulsação. Júlio respirou aliviado ao ver que ele apenas dormia. No chão aos seus pés, a garrafa de vodka vazia. E a sua frente, um vídeo pausado na tela do computador do Luiz.
Júlio, curioso, deu play no teclado e assistiu admirado aquele vídeo, que ele não sabia de onde veio e como chegou às mãos do Luiz. Júlio se deu conta do tamanho do estrago que aquele vídeo causou no já atormentado Luiz. Não apenas para uma reconciliação entre Angel e ele, pois isso, é uma decisão que só os dois poderiam tomar. Júlio temeu pela recuperação da Angel. Aquele vídeo foi um golpe duro em Luiz. Júlio não acreditava mais que ele teria forças para deixar a traição de lado e ajudar na recuperação dela. Júlio achou que iria precisar intervir outra vez. Só não sabia como fazer isso de novo.
Esse vídeo foi uma bomba que Júlio não esperava. Ele se sentiu muito decepcionado com a Angel também. Até ele se sentia sem forças para ajudá-la agora. Jamais imaginaria que ela pudesse ceder de forma tão intensa. Até entendia as consequências da falta do sexo em um casamento, mas Angel não foi honesta. Traiu o Luiz e manipulou a verdade ao conversar com ele. Não mentiu, é verdade, mas omitiu muita coisa.
O que restava a Júlio agora, era tentar levar o amigo para casa. Com muito esforço conseguiu acordá-lo e mesmo com o amigo ainda grogue, fez com que ele andasse até o carro. Antes de entrar, Luiz agarrou Júlio pelos colarinhos e com lágrimas escorrendo pelo rosto, disse:
- Ela acabou comigo, acabou com a nossa vida! E eu ainda pensava em perdoar!
Júlio não teve como discordar. Mas qualquer conversa mais séria naquele momento seria perda de tempo. Júlio ajeitou o amigo no banco do carona, deu a volta e também entrou no carro. Pegou o celular e ligou para Bia. Ao ser atendido, ele disse:
- Encontrei o Luiz, mas vou precisar da sua ajuda. Estou indo para casa.
Bia disse que ia aguardá-los e desligou.
No carro a caminho de casa, Júlio começou a pensar em como ajudaria Luiz dessa vez. Assim como Angel, Luiz precisaria de um especialista. Ficou com aquela ideia na cabeça e começou a pensar nas opções que tinha.
Chegou em casa e Bia já o aguardava no estacionamento mesmo. Com a ajuda dela, os dois conseguiram carregar Luiz até o banheiro no quarto que ele estava ocupando e o colocaram no chuveiro.
Temendo pela atitude intempestiva do Luiz no dia seguinte, que poderia prejudicar seriamente a recuperação da Angel, Bia se lembrou do terapeuta que a ajudou muito no seu processo de divórcio. Ele era o principal responsável por Bia ter entendido tudo o que aconteceu com ela e principalmente, os motivos que a levaram a se recuperar plenamente e voltar a ser feliz. Passou a informação para o Júlio e disse que pelo preço certo, ele atenderia a qualquer momento.
Júlio resolveu pedir a sua ajuda. Ligou e foi muito bem recebido pelo profissional. Júlio contou por alto, tudo o que se passava e disse que dinheiro não era problema. O médico aceitou e disse que estava a caminho. Talvez, medicando o Luiz, ele conseguisse ter uma primeira conversa.
Bia colocou Luiz sentado no chão do box e primeiro abriu a torneira de água quente, deixando que Luiz relaxasse e para completar, finalizou o processo com uma ducha bem fria. Luiz começou a se recuperar e a ganhar consciência. Ele ainda vomitou muito antes que pudesse entender tudo o que acontecia à sua volta.
Ao ver que estava seguro e na companhia das pessoas que ele mais confiava, Luiz se permitiu sentir a dor da qual tanto tentou fugir. Seu estado de depressão era muito grande e ele chorava bastante. Bia ficou por mais de meia hora cuidando dele, até que ele se acalmasse um pouco. Ele agradeceu o carinho e a atenção dela.
Depois do banho, de roupão, sentado na cama, Luiz estava com o olhar perdido no vazio. Surpreendendo Júlio e Bia, Luiz começou a falar abertamente sobre tudo o que viu nos vídeos. Sua fúria com as atitudes da Angel, chegavam a assustar os amigos. Ele disse:
- Eu sou otário mesmo. Pensava que ela tinha sido seduzida, chantageada, forçada… mas não, era ela que estava lá se jogando para cima dele. A filha da puta até pergunta se ele tinha desistido, o que aconteceu…
Júlio aproveitou o momento:
- Quem te deu esse vídeo?
Luiz abaixou a cabeça e respondeu:
- Natália! Ela ainda disse que era para o meu bem, que eu precisava saber de tudo. Ela tem razão.
Luiz volta a chorar. Um pranto de dor, de lágrimas grossas. Bia o abraçou e tentou acalmá-lo mais uma vez. Luiz voltou a falar:
- Ela me destruiu completamente. Oito anos juntos que terminam dessa maneira, vendo a mulher que você amou pedindo para outro dar a ela o que o marido nunca teve competência para dar.
Luiz abaixou novamente a cabeça e procurou apoio no colo de Bia. Luiz pediu ao amigo:
- Júlio, me promete uma coisa?
Júlio, solícito, disse:
- O que você quiser, irmão!
Luiz levantou a cabeça, olhou no fundo dos olhos de Júlio e pediu:
- Nunca mais deixe essa mulher chegar perto de mim. Eu não sei a loucura que eu poderia fazer. Por favor, irmão!
Bia olhou para Júlio e faz um sinal negativo com a cabeça, pedindo para que ele não fizesse essa promessa. Ela sabia o custo que decisões impensadas tinham na vida das pessoas.
Luiz insistiu:
- Não tenho mais nada a perder! Ou melhor, tudo está perdido. Por Favor!
Bia diz:
- Angel só quer conversar. Você não tem a obrigação de voltar com ela. Escute o que ela tem a dizer, mesmo que você não acredite. Faça isso por você. Imagine o remorso que você irá sentir se ela não se recuperar. Pense bem.
Luiz não sabia se conseguiria estar frente a frente com Angel Outra vez. Mas disse:
“Muito bem! Foda-se, não serei eu o motivo dela se matar. Mesmo que não queira mais nada com ela, se quiser se matar, será por motivos dela. Eu aceito falar com ela. É a última coisa que farei com ela”.
Os amigos não contestam. Sabem que Luiz está ainda cheio de raiva. É ela que guia seus pensamentos e suas falas.
Nesse momento o interfone toca e Júlio vai atender. Bia havia pedido pizza e eles nem se lembravam mais. Júlio recebeu e pagou o pedido.
Com muito carinho e jeito, Bia conseguiu fazer Luiz comer dois pedaços, que somados ao café extra forte que ela passou, reanimaram ainda mais o combalido Luiz.
Minutos depois, um novo toque do interfone. Dessa vez, a portaria anunciou a chegada do médico contactado pelo Júlio com a indicação da Bia. Júlio preferiu recebê-lo ainda no hall do andar. Os dois se sentam em um pequeno sofá e Júlio explica em detalhes ao médico tudo o que aconteceu. Do dia do flagrante até àquela data. De como ele encontrou o Luiz entregue à bebida pela segunda vez. Da forma que ocorreram as traições e omissões da Angel. Conta também das chantagens de Flávio e concluiu com o tempo que Luiz passou com Natália e Bia. Foram quase quarenta minutos de conversa, até que o médico é levado até Luiz no quarto. O médico sorriu para Bia que foi até ele e o abraçou.
Júlio disse:
- Luiz, aqui está o Dr. Rubens Brandone, psiquiatra e psicanalista, especialista nestes traumas de traição, como o que você e a Angel se envolveram. Gostaria que você o ouvisse falar um pouco, em particular. Talvez ajude, pois é um grande conhecedor, e poderá servir para aclarar suas ideias diante do drama que está vivendo.
Luiz está tão fodido, tão arrebentado emocionalmente, que aceita sem contestar. Como se tanto fizesse. Parece que está sem forças para lutar e decidido a tocar o “foda-se” para tudo.
O médico, um homem maduro, sereno, sério, se sentou numa poltrona, Bia e Júlio saíram do quarto e ele começou a falar:
- Sei por alto o que aconteceu. Independente do motivo que tenha ocasionado a traição, uma coisa é certa: é um momento crucial de ponderar tudo que possa estar envolvido no seu relacionamento e se ele realmente faz sentido de continuar existindo. Mas, no momento de sofrimento, geralmente falta clareza, é importante buscar, sob a orientação de um especialista em saúde mental, fazer um balanço para que você possa definir suas atitudes e buscar soluções saudáveis e felizes. Você quer me ouvir? E me contar?
Luiz balançou a cabeça desolado. Ele disse:
- Só quem já foi traído sabe o que isso pode gerar, emocionalmente falando. Eu estou destroçado. Tenho um misto de sentimentos que são experimentados de forma diferente em cada momento. Tenho sentido, decepção, tristeza, mágoa, culpa, raiva, e também desespero. No momento, perdi totalmente a vontade de tudo. Não sei mais o que fazer.
O Médico resolveu esclarecer mais o assunto e perguntou:
- Traição tem perdão?
Sem esperar a resposta ele falou:
- Quando nos unimos a alguém, temos a mania de acreditar que os relacionamentos duram para sempre, mas, mesmo entre pessoas que se gostam, a infidelidade conjugal pode ocorrer e ser um ponto final para muitos casais. Este é um dos principais motivos que levam os indivíduos e casais a buscarem meu consultório por terapia. Descobrir uma traição é sim muito doloroso, pois ninguém espera ser traído justamente pelo seu parceiro, a pessoa de quem gostamos e que em princípio também gosta de nós. Construímos nossos relacionamentos pautados na lealdade, na confiança e no respeito. Então, quando uma traição é descoberta é comum surgirem esses sentimentos como decepção, tristeza, mágoa, culpa e raiva. Além da quebra da confiança, a decepção pode surgir em virtude da atitude do parceiro que traiu, que geralmente aparece de forma inesperada. É comum a pessoa que foi traída ficar se questionando “onde foi que eu errei?" ou "Qual é o problema comigo?”. Isso não adianta de nada. Evite trazer toda a responsabilidade da traição para cima de você, e também não encare a traição como algo feito contra você. É preciso entender a traição como uma escolha momentânea feita pelo outro, que por fraqueza de caráter, necessidade ou carência optou por trair, ou se deixou envolver numa traição. Saiba, mesmo amando alguém é possível sentir desejo e atração por outras pessoas. Nós não temos controle absoluto sobre os nossos sentimentos, mas é possível controlar as nossas escolhas.
- Outros sentimentos que costumam surgir após uma traição são a raiva e o desejo de vingança. Tenha muito cuidado com isso, pois geralmente eles nos “cegam” e não pensamos nas consequências das nossas ações, o que pode trazer algum prejuízo para si, ou às demais pessoas envolvidas. Portanto, evite tomar qualquer atitude precipitada, não se exponha, não exponha a sua família, amigos, ou mesmo a pessoa que traiu. Os nossos sentimentos passam, mas as consequências das nossas atitudes permanecem.
Após a descoberta de uma traição você deve evitar dar relevância a opiniões alheias. É muito comum que neste momento familiares e amigos tomem partido de um dos envolvidos, defendendo um e culpando o outro. Mas esse é um momento delicado onde você pode estar confuso, seus sentimentos podem não estar claros para você, dar ouvidos à opinião alheia pode gerar ainda mais sofrimento e dúvidas. Tenha em mente que quem conhece a pessoa que o traiu, quem convive com ela diariamente é você, então ninguém melhor do que você para decidir sobre o futuro do seu relacionamento. Lembrando, quando se trata de traição não existe escolha certa ou escolha errada. A escolha certa é aquela que lhe faz bem, é aquela que o faz feliz.
E tem a questão do perdão. Muito importante. Independentemente da sua escolha, ou seja, manter ou não o seu relacionamento, é importante que você perdoe verdadeiramente a pessoa que traiu você. Porque à medida que você perdoa alguém, essa situação vai perdendo o foco, e com isso os sentimentos que estão atrelados a ela vão perdendo força e você vai retomando a sua vida, com ou sem essa pessoa ao seu lado. Perdoar não significa minimizar a atitude do outro, fingir que nada aconteceu e que está tudo bem, que o relacionamento voltará a ser como era antes ou obrigatoriamente dar uma nova oportunidade para o parceiro. Perdoar significa virar a página, tirar o foco desse episódio e dar uma chance a você de estar em paz com você mesmo para retomar a sua vida. Esse não é um processo fácil, já que há muitos sentimentos envolvidos. Mas é libertador. Quando você perdoa alguém verdadeiramente é possível lembrar do episódio sem que isso lhe cause dor ou sofrimento.
Luiz, pela primeira vez, ouviu atentamente. Parecia até que era Bia que estava falando com ele. O médico continuou:
- A decisão de manter ou não o relacionamento após uma traição é somente sua. Mesmo que você opte pela separação, é importante perdoar para que você possa deixar essa situação no passado e retomar a sua vida sem ressentimentos. Encare o perdão como algo benéfico para você, e não somente para a pessoa que traiu. Quando a pessoa que traiu está realmente arrependida, o perdão pode proporcionar a renovação da relação e fortalecer ainda mais o relacionamento, e este fato passa a ser apenas uma crise na vida do casal. Nesse caso, ambos precisam estar dispostos a investir no relacionamento e a passar por todas as dificuldades juntos. Invistam no diálogo, na intimidade, conversem sobre o que não ia bem no relacionamento, o que precisa ser mudado e façam novos contratos. Alguns casais conseguem sair com o relacionamento mais fortalecido após uma traição. Embora o sofrimento seja grande e pareça que nunca vai passar, ele passa. Não vai ser de uma hora para outra, mas vai passar. Respeite o seu tempo, conecte-se e reconheça quais sentimentos estão presentes. Por que você está com raiva? Por que você está se sentindo culpado? Por que você está triste? Isso fará com que você entenda melhor o que sente e pondere se esses sentimentos são condizentes com a situação que você está vivendo. Mas se o seu sofrimento for muito intenso e você não estiver conseguindo lidar sozinho com essa dor, procure ajuda, eu estou disponível para poder ajudá-lo com isso! Superar uma traição e continuar o relacionamento pode ser um desafio e tanto, mas certamente não é algo impossível. De fato, um relacionamento não é feito somente de coisas boas, nem só de coisas ruins. Assim, é ilusório pensar que um casal viverá sem conflitos, sem dilemas, sem dificuldades. No entanto, ao focar na parte negativa, não se pode dar vazão àquilo que verdadeiramente edifica, que realmente constrói: o amor. Por isso, perdoar uma relação e continuar o relacionamento envolve levar em conta tudo aquilo de bom que se construiu juntos.
Luiz estava pasmo com tudo o que ouvia. Conseguiu sentir nas palavras do médico, o tão desejado alívio que precisava. Ele continuou ouvindo com atenção e o médico continuou a fala:
- Mas tem que ter cuidado. Evite estar perto de pessoas que julgam. Não há nada pior que estar perto das pessoas que não querem ouvir, somente julgar. Além de poderem confundir nosso pensar e agir, as pessoas que julgam desconsideram o fato de que cada um possui as próprias circunstâncias e as próprias vivências que os levam a determinadas decisões. A vida é sua, do casal, não é de mais ninguém. Não é benéfico ao casal simplesmente esquecer daquilo que aconteceu. Isso é chamado de efeito amnésia. Quando se usa o acontecimento da traição e, além do perdão, soma-se a isso o progresso do relacionamento, pode-se viver uma relação bem mais saudável e estável. Afinal, a traição pode sinalizar pontos que podem ser melhorados dentro de um relacionamento e, se todas as partes estiverem dispostas, pode valer a pena usar esse acontecimento ruim para tirar disso algo bom
O médico abriu a sua valise e retirou uma folha de papel. Entregou para Luiz e disse:
- Antes de decidir se a traição tem perdão ou não, no seu caso, experimente responder a essas oito perguntas com calma e sinceridade.
Luiz olhou para a folha e leu o seu conteúdo:
"1. Por que você está perdoando?
2. É possível voltar o relacionamento sem escancarar o erro de quem traiu o tempo todo?
3. Vocês conseguiram entender o que gerou a traição?
4. O relacionamento anterior à traição era saudável?
5. É factível retomar o relacionamento sem estar em constante estado de medo em relação a sofrer a traição novamente?
6. Você consegue se blindar em relação aos julgamentos dos outros sobre a sua decisão?
7. Seria possível enfrentar um momento de ajuste na relação?
8. Vocês aceitariam procurar ajuda profissional?"
Vendo que Luiz tinha acabado de ler e olhava para ele procurando entender o sentido das perguntas, o médico explicou:
- Entenda: Separar e acabar uma relação, é a coisa mais fácil e corriqueira, exige coragem, mas é mais fácil em muitos casos. O difícil é ter a coragem de rever tudo, estabelecer um diálogo franco, sem subterfúgios, e procurando ouvir e entender o outro. O medo de magoar ou causar uma discussão indesejável acaba instalando o silêncio, que com o tempo só prejudica o casal. Não se fala do que não está bom, acumulam-se insatisfações e frustrações, o que pode dar margem à vontade de estar com alguém que não o frustre tanto. Entender os motivos que levaram uma pessoa a trair provocará a auto avaliação de cada um na relação, e fará com que ambos assumam sua responsabilidade na manutenção do amor. É preciso alimentá-lo sempre. Só cabe o perdão onde ainda existe amor e o arrependimento sincero de quem traiu. É possível reconstruir uma relação pautada em novos moldes de funcionamento, e em especial, num diálogo franco e atitudes transparentes. Quem disse que é fácil manter um casamento feliz sem momentos de crise? O importante é saber superá-las e tirar o maior proveito para nosso crescimento.
Quando o Dr Brandone parou de falar, o Luiz estava profundamente pensativo. As palavras do médico haviam realmente trazido mais serenidade. Ele agradeceu a atenção do médico e disse que estava se sentindo melhor. E que pretendia sim, procurá-lo para uma terapia que o ajudasse a superar o trauma.
O Médico se despediu e saiu do quarto. E Luiz acabou adormecendo de exaustão.
Continua…
