Júlio, meu sócio, deu algumas batidinhas no batente da porta do meu escritório, só colocou a cabeça para dentro da sala e disse:
- Bom dia, Luiz! Fiquei sabendo que você vai sair mais cedo hoje. Estou precisando daquele relatório do cliente das quatorze horas. Está com você?
Entreguei a ele o relatório e dei algumas instruções. Ele ainda disse:
- Espero que tudo dê certo.
Hoje era o dia do meu aniversário de casamento. Três anos, que para mim, foram bons. Apesar de que nesse último, estávamos vivendo em conflito.
Minha esposa sempre reclamou da minha falta de atenção aos detalhes: Datas, elogios após o cabeleireiro, o cuidado com as minhas roupas que viviam espalhadas, a toalha molhada sobre a cama… no último ano, estávamos realmente em crise. Tudo era motivo para brigas e discussões. Às vezes, passávamos dias sem nos falar.
Fiz tudo o que precisava fazer e antes das onze da manhã, já estava a caminho de casa. Minha intenção era preparar um jantar especial para a minha esposa e ver se ainda teria uma forma de voltar aos bons tempos.
Ah! Quase esqueci de me apresentar. Meu nome é Luiz Mário, mas ninguém usa o nome composto, só Luiz, assim está bom. Sou um cara normal, nem bonito e nem feio. Mas de boa aparência e em forma, sem nenhuma grande característica física marcante.
Minha esposa se chama Angelina, mas todos a chamam de Angel. Morena clara, cabelos castanhos escuros, seios médios, cintura fina, uma linda bunda malhada e coxas bem torneadas.
Nós dois somos engenheiros, eu de software e ela de produção. O que talvez mais me destaque entre as outras pessoas, é o fato de que, aos 27 anos, eu já sou um milionário.
Eu e meu sócio participamos de um concurso internacional para o desenvolvimento de programas voltados para a estabilidade de conexões e apesar de não sairmos como vencedores, nosso programa de estabilização para chamadas de vídeos pela internet, foi comprado por uma grande empresa mundial de mídias sociais.
Eu e a Angel já éramos namorados quando eu enriqueci e esse fato, acelerou o seu desejo de se casar. Eu tentei protelar a decisão na época, mas ela me deu um ultimato, dizendo que não era mulher para ser enrolada por anos e depois trocada por uma mais nova. Eu entendi as suas inseguranças, afinal, eu a amava. O medo dela, era o dinheiro mudar a minha personalidade.
Eu sempre fui um sujeito pacato, bonachão até. Até na nossa relação, Angel teve que dar o primeiro passo e me chamar para sair. Nos conhecemos na faculdade e após o primeiro encontro, nunca mais nos desgrudamos.
Angel, após ficarmos ricos, começou a trabalhar só meio expediente em uma ong fabricante de purificadores de água, que eu financiava a pedido dela. Todos os aparelhos eram doados sem custos para comunidades carentes da Ásia e da África. Às vezes ela ia durante a manhã, outros dias durante a tarde. Hoje, ela disse que trabalharia o dia todo, o que estava começando a virar rotina.
Eu achava que essa era uma forma dela ocupar a mente e se distrair das brigas constantes que estávamos tendo.
Antes de tomar o rumo de casa, passei em uma joalheria e escolhi um presente que deixaria qualquer mulher deslumbrada: um conjunto de brincos e colar de ouro branco com safiras azuis para combinar com seus olhos. O jantar, eu mesmo faria, pois queria impressioná-la.
Minha intenção era das melhores, apesar da ideia brega: Comprei dois sacos grandes de pétalas de rosas vermelhas e iria espalhar pela casa formando um caminho para ela pisar, da porta de entrada até a nossa cama, onde eu deixaria o presente e um cartão pedindo desculpas pelo péssimo ano e prometendo me esforçar para melhorar a nossa relação.
Passei pela portaria do condomínio residencial de casas onde moramos e logo que virei na esquina da nossa rua, percebi um carro da ong dela estacionado na rua em frente a nossa casa. Até aí, tudo bem! Talvez o carro dela tenha dado problema e ela precisou pegar esse emprestado. Quando me preparava para entrar na garagem, vi o carro dela estacionado normalmente do seu lado de costume. Ainda sem problemas, talvez alguma amiga ou funcionário tenha vindo junto com ela.
Estacionei, abri a porta de casa e não havia nada de anormal. Coloquei minha pasta executiva, meu celular e as minhas chaves no aparador da entrada e já ia subindo as escadas quando comecei a ouvir sons de gemido. Meu coração gelou. No topo da escada, uma blusa da Angel jogada no chão e um tênis masculino. Um pouco mais à frente, a saia dela e uma calça jeans masculina.
Os sons de gemidos eram dela, disso eu tinha certeza. Quanto mais eu me aproximava, melhor eu os ouvia. Comecei a ouvir também batidas de corpos durante o ato sexual.
Nesse momento eu congelei de vez. Eu não conseguia dar nem mais um passo. Parecia que um ferro em brasa atravessava o meu coração. Juntei todas as minhas forças e tentei dar mais alguns passos. Estava a menos de dois metros da porta do nosso quarto. Por mais doloroso que fosse, eu precisava ter a certeza. Dei os cinco passos finais com o coração acelerado, quase infartando e sentindo que as minhas pernas pesavam cem quilos cada uma. O que eu vi, me destruiu completamente:
Angel de quatro com a cabeça virada para mim, e o meu melhor amigo, o Flávio, estocando sua buceta sem dó. Angel gemia e pedia para ele meter mais rápido. Ele dava tapas fortes em sua bunda e foi só quando ele entrelaçou as mãos em seu cabelo e a puxou de encontro a ele, fazendo sua cabeça levantar, que ela me viu.
Nesse momento, Angel de olhos arregalados, pálida igual a um fantasma, tentou sair da posição em que estava. Flávio ainda não tinha se dado conta de que eu estava ali. Ela se desvencilhou dele e lhe mostrou o que estava acontecendo. Agora eram os dois me olhando desesperados. Virei as costas e sai.
Angel tentou correr atrás de mim e se explicar, mas o meu estado emocional me impedia de ouvir qualquer palavra. O choque brutal não me deixava processar as informações, eu só sabia que precisava sair daquela casa. Flávio me alcançou um pouco antes da porta. Quando ele me puxou pelo ombro, eu já virei lhe desferindo um soco potente, de raiva acumulada, que acertou em cheio a sua face. Flávio caiu, eu peguei as minhas chaves, entrei no carro rapidamente e acelerei. Pelo retrovisor, pude ver que ninguém me seguia. Com certeza por estarem nus.
Rodei por quase duas horas sem rumo. Por sorte, esqueci o celular, não precisaria falar com ninguém. Saí tão desesperado que só me lembrei das chaves. Por sorte, minha carteira ainda estava no meu bolso. Pensei em pegar a estrada direto para minha casa de praia em Ubatuba. Mas lá, seria o primeiro lugar que iriam me procurar. Estacionei em um posto bem movimentado na via Dutra e pelo navegador multimídia do carro consegui reservar um hotel na cidade vizinha para passar a noite e pensar na vida e nos próximos passos.
Rodei mais uns trinta minutos e cheguei ao meu destino. Confirmei a reserva no saguão do hotel usando um cartão que guardava para necessidades e que não fazia parte da conta conjunta com a vadia da Angel. Subi para o quarto e a primeira coisa que fiz foi pedir que enviassem uma garrafa de whisky. Fui até grosseiro com o rapaz do serviço de quarto, só peguei a garrafa e o copo e bati a porta na sua cara.
Aquela noite foi a pior de toda a minha vida, dinheiro nenhum no mundo poderia comprar a cura para o que eu estava sentindo.
Eu sei que não fui o marido mais maravilhoso do mundo. Mas qual o motivo de tamanha traição? Ainda mais, uma dupla traição, meu melhor amigo e minha esposa. Quanto mais eu bebia, menos sentido eu conseguia encontrar. Apaguei no chão do quarto mesmo, na metade da segunda garrafa. O dia seguinte seria ainda pior.
Continua…