Continuando…
Angel estava ansiosa pela visita dos pais e da irmã, mas também apreensiva, imaginando que eles já soubessem de tudo o que aconteceu. O medo do julgamento das pessoas que amava, era o pior tipo de sentimento. Luiz teve uma conversa com um profissional que foi muito importante para clarear o seu entendimento e os seus sentimentos sobre toda a situação.
Júlio, após se despedir do médico, lembrou do vídeo no escritório de Luiz.
Bia tinha ido ver se Luiz estava bem, mas encontrou o amigo já adormecido. Voltou para a sala e sentou ao lado do Júlio. Estranhou quando o amigo levantou de repente.
Júlio foi até uma estante e pegou o seu notebook. Voltou para perto da Bia e enquanto ligava o aparelho, disse:
- Quero te mostrar uma coisa. Preciso não só da sua opinião feminina, como a de quem já passou por tal situação.
Bia acenou positivamente e Júlio acessou remotamente o servidor da empresa e com sua senha de administrador, conseguiu se conectar ao computador do Luiz em seu escritório na sede da empresa. Fez o download do conteúdo do pendrive para o seu dispositivo e assistiu com Bia até a parte em que Luiz pausou, o momento em que o celular caiu e quem estava gravando foi descoberto. Júlio também pausou. Se virou para Bia e disse:
- A informação que eu tinha e que foi confirmada por outros vídeos, é que Angel foi seduzida e não resistiu. Esse vídeo mostra uma situação completamente oposta. Angel que toma a iniciativa.
Bia pensou um pouco e disse:
- O difícil é trair a primeira vez. Depois, mesmo com o sentimento de culpa e o remorso, o ato em si já foi praticado e a pessoa não tem mais os mesmos receios. Infelizmente, se torna uma situação normal.
Júlio entendeu o argumento da Bia, mas continuou chateado com Angel. Júlio sempre achou que tinha a habilidade de ser um ótimo leitor de pessoas e caracteres. Como pôde se deixar enganar por duas pessoas tão próximas.
Júlio estava realmente preocupado com Luiz. Não sabia como o amigo iria se levantar depois desse golpe tão brutal. Recorreu a Bia novamente:
- O que nós vamos fazer para ajudá-lo?
Bia tinha a resposta, mas muito receio em compartilhá-la. Não sabia se Júlio iria entender da forma correta. Mesmo assim, ela resolveu arriscar. Ela disse:
- Luiz sempre foi muito protegido. Principalmente por você. O que ele está passando no momento, é o que milhões de pessoas já passaram e sobreviveram. Está na hora do Luiz sair dessa bolha e aprender a lidar com o mundo. Para o próprio bem dele.
Júlio foi atingido em cheio pelas palavras da Bia. Sua expressão não era de contrariedade, e sim de quem estava pensando e analisando tudo o que ouviu. Bia, para não deixar dúvidas em sua intenção, explicou:
- Enquanto o Luiz não precisar lidar diretamente com os seus problemas, ele não vai aprender a resolvê-los. Dê apoio, esteja presente, deixe ele saber que existem pessoas dispostas a ajudá-lo a se levantar. Mas quem precisa tomar a iniciativa é ele. Ele tem que conversar com a Angel e resolver com ela o que os dois farão.
Júlio sabia que tinha mais coisas a serem assistidas naquele arquivo, mas não estava com cabeça para aquilo. Tinha combinado de se encontrar com Tina e já estava atrasado.
Bia disse que ia ficar por ali mesmo para o caso de Luiz precisar de alguém. Apesar de gostar muito do tempo que os dois passaram juntos, um sentimento maternal por ele acabou se criando dentro dela. Por ter passado por uma situação parecida, sabia que talvez, Luiz precisasse de alguém para desabafar.
Júlio tomou um banho rápido, se arrumou de forma mais casual - calça jeans, sapatos e camisa pólo - e saiu para encontrar Tina. Em menos de quarenta minutos, ele estacionou no evento de arrecadação de fundos para a formatura dela.
Ao entrar no imenso salão de festas decorado com um tema praiano, se sentiu muito deslocado. Por todo canto que olhava, só haviam jovens bebendo, fumando maconha e fazendo algazarra.
Sentiu um abraço carinhoso em suas costas e ao se virar, Tina sorria para ele, feliz por sua presença. Após um beijo apaixonado, Júlio se sentia constrangido por tantos olhares direcionados a ele. As amigas de Tina o encaravam com inveja.
Tina transbordava alegria e fazia questão de esfregar o acompanhante mais velho, lindo e rico na cara de todas. O engraçado, na verdade, era a diferença de postura entre Júlio e os demais homens presentes, pois Júlio só tinha vinte e sete anos, não era tão mais velho assim.
Júlio realmente não estava no seu ambiente. A toda hora um moleque atrevido chegava, abraçava Tina e a cumprimentava com beijos no rosto. Tina era uma das líderes de turma e por ser muito extrovertida e atenciosa, todos gostavam muito dela. Pela primeira vez na vida, Júlio estava enciumado. Sua vontade era pegar aqueles moleques pelo pescoço e chutá-los para longe dali.
Tina, em nenhum momento, deixou de dar atenção a ele. Dançaram juntos, trocaram beijos e carinhos na pista de dança, deram alguns amassos encostados em uma pilastra… O que Júlio não sabia, era que Tina também estava muito incomodada com as meninas que praticamente comiam Júlio com os olhos. O ciúme batia dos dois lados.
Júlio ficou feliz quando Tina disse que precisava ir embora mais cedo. Pensou até em convidá-la para passar a noite com ele, mas lembrou dos pais dela e da visita a Angel no dia seguinte.
Júlio a levou para casa e como retribuição da manhã no estacionamento do aeroporto, além dos amassos, ganhou um boquete maravilhoso de Tina. Antes de partir, Júlio ainda disse a ela, que mandaria um motorista no dia seguinte para ficar à disposição dela e da família para o que precisassem. Os dois se despediram com mais um beijo quente.
Júlio chegou rapidamente em casa, já passava de uma hora da manhã e o trânsito era praticamente inexistente naquela madrugada de quinta-feira. Ao entrar, viu Bia apagada em seu sofá. Foi até o quarto e pegou uma manta mais fresca e a cobriu. Apagou as luzes e também foi se deitar.
Luiz acordou bem disposto pela primeira vez em muitos dias. Sentiu o cheiro de café fresco que tomava conta do ambiente. Rapidamente fez a sua higiene matinal e deixou o quarto. Encontrou Júlio e Bia conversando animadamente na cozinha. Cumprimentou Bia com um beijo na testa e Júlio com um tapinha nas costas. Se serviu de uma xícara de café e perguntou ao Júlio:
- As chaves do meu carro estão na portaria?
Júlio e Bia estranharam aquela calma que Luiz aparentava. Júlio respondeu:
- Não! Estão na gaveta do aparador na entrada. Vai sair?
Luiz, com aquela estranha calma, disse:
- Sim! Vou resolver algumas coisas.
Luiz se sentou ao lado de Bia na pequena mesa da cozinha e enquanto escolhia uma maçã, disse para os dois amigos:
- Eu quero conversar com os dois mais tarde. Tenho uma proposta a fazer. Estou pensando em algumas mudanças. Pode ser às quatro da tarde na empresa?
Os dois, surpresos, concordaram. Bia não entendeu o porquê de ser incluída naquela estranha reunião e para ter certeza que ouviu direito, perguntou:
- Eu também? Não entendi.
Luiz, que já estava deixando os amigos assustados, pegou uma das maçãs e disse:
- Sim! Os dois. Relaxem! Não é nada grave. Vocês saberão em breve. Só preciso resolver umas coisas antes e encontro vocês mais tarde.
Luiz voltou ao quarto tranquilo e se arrumou. Júlio e Bia continuavam estranhando muito a atitude dele. Júlio até disse para Bia:
- Você falou que o psicanalista era bom, só não disse que fazia milagres.
Luiz voltou, pegou a chave do seu carro e deixando os dois amigos ainda mais surpresos, perguntou para o Júlio:
- É hoje que você vai se encontrar com a Angel?
Júlio, sem acreditar, respondeu:
- Eu, não! Tina e os pais.
Luiz abriu a porta e saiu.
Júlio virou para Bia e perguntou:
- O que foi isso? O que aconteceu com o Luiz?
Bia torcendo para que estivesse certa, respondeu:
- Acho que o nosso garoto, enfim, está crescendo. - E sorriu para Júlio.
Luiz rodou um pouco pela cidade. A conversa com o médico na noite anterior, abriu os seus olhos. A dor não havia passado, longe disso. Mas ele entendeu que já havia passado o tempo do luto. O sofrimento ainda seria seu companheiro por um tempo, mas se entregar a ele e deixar a vida de lado, era uma escolha. Estava na hora de parar de depender dos outros. Entendia agora, que se não tomasse as rédeas da sua vida, as decepções seriam constantes.
Luiz estacionou no escritório de advocacia que cuidava da sua empresa e que também era o responsável por seu divórcio. Foi uma reunião breve. Em menos de vinte minutos, já estava de volta ao seu carro. Antes de voltar a rodar, pegou o celular e ligou para Natália. Ela atendeu muito feliz, não esperava aquela chamada tão cedo. Ela disse:
- Achei que você estava chateado comigo. Pensei até que seria demitida hoje.
Luiz não queria prolongar a conversa. A hora de falar com Natália ainda não havia chegado. Ele disse:
- Você sabe em qual hospital Angel está internada?
Aquela pergunta foi como uma punhalada no coração da jovem Natália. Depois de todo o seu esforço, Luiz continuava na mesma. Não tinha porquê mentir ou enrolar, preferiu ser honesta:
- Na unidade de tratamento psicológico da Santa Casa.
Antes de desligar, Luiz disse:
- Podemos nos encontrar à noite? Precisamos conversar.
Natália não conseguia distinguir nenhum sentimento na voz dele. Nem raiva. Ela só concordou e Luiz, antes de desligar, ainda disse:
- Te pego na saída da faculdade.
Luiz acelerou e em menos de dez minutos estava parado em frente ao hospital. Não sabia em que estado encontraria Angel. Estacionou e se identificou como marido de uma paciente. Deu o nome da esposa e pediu para falar com o médico responsável.
Luiz esperou sentado em uma cadeira na recepção, junto a outros familiares de internos. Em menos de quinze minutos, uma figura alta, de barba semi grisalha e com os óculos pendurados na ponta do nariz, quase caindo, chamou o seu nome. Luiz levantou e caminhou em direção a ele. O médico lhe estendeu a mão e disse:
- Sr. Luiz. Muito prazer! Eu sou o Dr. Jânio, médico da sua esposa. Eu não esperava o senhor por aqui. Pelo menos, não hoje.
Luiz retribuiu ao cumprimento e disse:
- Me desculpe! Eu não posso mais adiar o inevitável. Eu também tive ajuda especializada e acho que está na hora da Angel e eu conversarmos. Se o senhor concordar, lógico!
O médico avaliou as palavras dele e sentiu muita honestidade. Se lembrou que ele também era uma vítima da situação. Angel era sua paciente, mas Luiz também precisava ser parte do tratamento. Ele tinha as suas próprias feridas para cicatrizar.
O médico, curioso, perguntou:
- Com quem o senhor conversou? Teria algum problema em me dizer?
Luiz não achou que era grande coisa e respondeu:
- Com o Dr. Rubens Brandone.
Os médicos eram conhecidos e o Dr. Jânio pediu que Luiz o acompanhasse. Luiz teve a mesma sensação de tristeza do Júlio ao ver aquela ala cheia de grades e o pesado portão, que parecia mais com o de um presídio do que o de um hospital. Se sentiu muito mal por Angel ser obrigada a estar presa naquele lugar. Ele sofreu muito também, mas na paradisíaca Cancún, o grande sonho dela. E ao lado de uma linda mulher, Bia. Mesmo que a raiva estivesse controlada em seu coração, aquele local o fez sentir muito incômodo.
Os dois passaram pelo portão e logo entraram na sala do Dr. Jânio, que lhe fez sinal para que sentasse. O médico pegou o telefone e Luiz pôde notar que ele falava com o Dr. Brandone. Ele falava baixo e Luiz não conseguia ouvir quase nada. Após o término da chamada, ele se virou para Luiz e disse:
- Eu deixo o Senhor conversar com a sua esposa com a condição de que eu esteja presente. Sei que não será confortável para os dois, mas ela ainda está em tratamento e é necessária essa mediação. Pode ser?
Luiz não tinha porque recusar. Só queria resolver a sua vida de uma vez por todas. Ele aceitou as condições do médico e foi levado a uma outra sala onde aguardou com paciência.
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Angel estava tendo outra ótima manhã. Acordou ansiosa pela visita da família, comeu todo o seu café da manhã e já estava de banho tomado. Percebeu os olhares diferentes da enfermeira Carmen para ela, mas não disse nada. Saber que teria novamente contato com as pessoas que mais amava, fora o marido, já era motivo suficiente para a sua alegria. Estranhou quando viu o Dr. Jânio caminhando em sua direção com cara de preocupação. Começou a pensar que a visita seria cancelada. O médico pediu que ela o acompanhasse até um banco no canto da sala comum dos internos. Ele disse:
- Temos uma mudança hoje. Eu vou precisar que você esteja calma e relaxada.
Angel estranhou ainda mais. Agora já tinha a certeza que essa mudança, era que os parentes não viriam. Imaginava que eles descobriram o motivo da sua separação com o Luiz e estavam com vergonha dela. Angel, triste, abaixou a cabeça com os olhos marejados.
O Dr. Jânio com a mão em seu queixo, levantou a sua cabeça e olhou com um sorriso nos olhos dela. Ele disse:
- Luiz está aqui.
O rosto de Angel se iluminou. Um sorriso belo e radiante nascia nos seus lábios. O médico continuou:
- Tem certeza que está pronta para isso?
Angel não encontrava palavras. Começou a chorar, mas de alegria. O médico puxou um lenço do bolso do jaleco e entregou a ela. Após algum tempo, Angel se recuperou e não conseguiu esconder a felicidade. Disparou a falar:
- Ele veio para me ver? Está mesmo preocupado comigo? O senhor conversou com ele? Ele está sozinho…
- Calma! Calma! Eu já disse que você precisa estar calma e relaxada ou eu não irei autorizar esse encontro.
Angel fechou a cara. Queria socá-lo nesse momento. Mas entendeu e se acalmou. Ela disse:
- Me desculpe, Doutor! É que eu não imaginava que isso iria acontecer. Achei que Luiz não queria mais saber de mim.
O médico a advertiu:
- Você precisa estar preparada para tudo. Pode ser uma ótima conversa ou…
Angel era inteligente. E sua intenção não era forçar Luiz a reatar o casamento. Ela queria se explicar, pedir desculpas. Sabia o mal que tinha causado ao amado. Ela disse:
- O senhor está certo. Eu preciso me desculpar, quero que ele saiba o quanto eu me arrependo. Eu só quero que ele seja feliz, Doutor!
Não havia mais porque esperar. O médico pediu que Angel o acompanhasse. Os dois caminharam juntos por alguns corredores, passaram por mais dois portões que eram mantidos trancados e pararam em frente a porta de uma sala grande. Na placa acima da porta, estava escrito sala de reuniões.
Luiz estava ali sentado sozinho na grande mesa rodeada por cadeiras confortáveis. Estava acostumado a esse ambiente corporativo. Não sabia que os hospitais tinham sua própria sala de reuniões. Viu a porta abrir e primeiro um enfermeiro grande, muito musculoso entrar e logo atrás dele, o Dr. Jânio. Angel logo atrás do médico. Luiz não conseguiu esconder sua admiração. Nunca havia passado quase um mês inteiro sem ver a esposa.
E aos olhos dele, ela estava linda. Um pouco mais magra é verdade, o que a deixava ainda mais esbelta na silhueta e realçava a bunda e o rosto mais corado, do sol de todas as manhãs da última semana no hospital. Uma maquiagem muito leve no rosto. Luiz já estava acostumado a vê-la carregada de maquiagem nos últimos anos. Angel era muito mais bonita ao natural. Os cabelos, sem o tingimento que ele detestava, de volta ao castanho natural, a rejuvenesciam.
De repente, todo aquele encanto de revê-la tão linda, foi quebrado pela imagem dela nos braços do Flávio. Novamente, aquela dor lancinante, voltava com tudo. Luiz disfarçou o sentimento amargo, dúbio e tentou se concentrar no que veio fazer.
Angel não conseguiu segurar o choro novamente ao revê-lo. Precisou ser amparada pelo médico, que já começava a reconsiderar o encontro. Angel sabia que se não controlasse as emoções, o reencontro com Luiz seria breve. Engoliu o choro e olhou de maneira firme para o médico, impondo a ele, a sua vontade de permanecer ali.
Caminhou em direção a Luiz e até esboçou um sorriso. Não sabia como seria recebida. O Doutor Jânio sentou mais afastado, mas permaneceu na sala, assim como o enfermeiro musculoso.
Luiz retribuiu o sorriso de Angel e ela se sentiu um pouco mais confiante. Ele não estava ali para brigar. Angel sentou e os dois, após a terrível noite na casa do Júlio, estavam frente a frente outra vez.
Depois de um momento de constrangimento, Luiz decidiu começar:
- Como você está? Precisava fazer a gente passar por isso? Eu só precisava de um tempo para colocar a cabeça em ordem. Você praticamente me obrigou a estar aqui.
Angel não gostou daquele início de conversa. Mas não podia reclamar de nada. Além de traidora, ainda era uma suicida. Ela disse:
- Me desculpe! Foi um momento de desespero. Eu não queria causar mais dor do que já havia causado.
Luiz queria explicações. Mas também precisava se desculpar. Ele respirou fundo e falou:
- Eu também lhe devo desculpas…
Angel não entendeu, foi ela que o traiu. Ela olhou pela primeira vez, diretamente nos olhos de Luiz. Ele continuou:
- Se eu tivesse sido um marido mais atencioso, dado o meu melhor e me preocupasse mais com as suas necessidades, tudo isso poderia ter sido evitado…
Angel interrompeu:
- Não! Foi minha culpa. Eu fui fraca. Você não merecia.
Luiz voltou a falar:
- Não, Angel! Nem homem para você eu fui. Você não precisava só de um marido. Precisava de um macho também. Esse erro é nosso. Nós dois o cometemos.
Angel voltou a chorar. Não acreditava que até nesse ponto, Luiz era tão bom. Dividir com ela uma culpa, que na cabeça dela, ele não teve. Ela só falou tudo aquilo na casa do Júlio, por defesa, tentando se justificar.
Luiz continuou:
- Não vou mentir para você. Eu vi vários vídeos seus com o Flávio. Feitos por ele, feitos pela Natália… no começo, ele realmente tentou te seduzir, mas com o tempo você se entregou.
Angel não tinha como negar. Ela disse:
- Eu também não vou mentir. Você tem razão. Em minha defesa, só vou dizer que eu tentei muito resistir. Tentei sim. Mas, no fim, Flávio venceu. E eu nem posso dizer que ele conseguiu nos destruir. Essa foi uma escolha minha ao ceder.
Luiz começou a sentir os efeitos daquela conversa tão dolorosa. Ouvir da boca da mulher que ainda amava a confissão, estava sendo muito difícil. Luiz voltou a falar:
- Por que você tentou se matar? Eu nunca imaginei que você fosse uma desistente. Essa não é a mulher por quem eu me apaixonei.
Angel, com lágrimas escorrendo pelo rosto, disse:
- Quando eu me entreguei ao Flávio, e depois de sentir tudo o que eu senti e principalmente quando você nos flagrou, o sentimento de acabar com tudo veio forte. Cada mensagem não respondida, saber que eu não o veria mais, o mal que eu tinha lhe causado, a dor, a vergonha… tudo isso foi crescendo negativamente em mim. Eu desisti.
Luiz ouvia tudo aquilo com muita tristeza. Ainda amava aquela mulher à sua frente. Ele disse:
- Você gostou de estar com o Flávio, não é? Ele te deu o prazer que eu nunca pude dar.
Angel não queria mais enganar Luiz. Precisava colocar tudo para fora de uma vez. Ela, mais uma vez, foi honesta:
- Me desculpa, mas sim! Não posso negar. Eu nunca tinha sentido nada daquilo…
Angel não era burra, já que ia falar a verdade, ia falar completamente. Ela continuou:
- Mas, nunca foi amor. Era apenas sexo. Eu jamais deixei de amar você. Nem um minuto sequer.
Luiz sabia que ela falava a verdade. Ouviu tudo aquilo nos vídeos. Só estava testando se o arrependimento dela era honesto. Ele disse:
- Eu vi isso tudo também. Não duvido de você. Obrigado por ser honesta.
Luiz olhou nos olhos de Angel e sabia que não poderia continuar ali por muito tempo ou corria o risco de fraquejar em sua decisão. Ele disse:
- Eu prometo que vou achar uma forma de te perdoar. Mas agora, eu preciso me afastar de tudo e de todos. Preciso repensar a minha vida e tentar me reencontrar. Eu sempre te amei e acho que nunca mais vou amar alguém como eu amei você. Divido com você essa culpa. Tudo o que aconteceu, destruiu essa parte em mim.
Angel, de cabeça baixa, sabia que uma reconciliação era realmente muito difícil. Mas, todo o carinho e respeito que Luiz demonstrava por ela, naquele momento, era muito mais do que ela merecia. Luiz continuou:
- Eu não vou te deixar desamparada. No nosso acordo de divórcio, você receberá a sua parte. Apesar desse último ano, tivemos ótimos sete anos juntos. Você é responsável por muito do meu sucesso profissional.
Luiz se levantou, deu um último beijo na testa da Angel e saiu da sala com os olhos também marejados. Apesar da dor devastadora que sentia, Angel achou consolo em todo o carinho e bondade do Luiz com ela naquele momento.
Ainda tinha esperança, quem sabe no futuro...
O Dr. Jânio olhava satisfeito para a sua paciente.
Continua…