"Doppelganger"
Eram quase 18:00 quando consegui terminar meus afazeres naquele dia. Estava extremamente exausto mentalmente com o trabalho realizado, tudo graças a um cliente que insistia em achar que conhecia as leis mais que eu, tentando me ensinar a fazer o meu trabalho. Após sair de meu escritório, decidi passar numa floricultura e comprar três pequenos ramalhetes de flores para as mulheres de minha vida. O maior para a Nanda, é claro, mas seria legal ver a expressão de felicidade nos rostos de minhas filhas também.
Passei no açougue de um cliente e comprei quinhentos gramas de chouriço de porco (sim, aquela linguiça feita com miúdos, gordura, tempero e sangue do animal), além de uma farta porção de torresmo. Aproveitei também para passar num mercado para comprar batatinhas fritas para as meninas, além de um fardo de cerveja e um refrigerante. “Pronto, a noitada já está garantida!”, pensei.
Cheguei em casa e Nanda veio me cumprimentar, toda sorridente, ajudando-me a levar as compras para cima da ilha de nossa cozinha. Depois se voltou para mim e me beijou profundamente. Perguntei das meninas e ela me disse que estavam uma no quarto e a outra no banho:
- Precisamos conversar uma coisa agora. - Falou, me encarando e com feição séria.
- Que foi? Aconteceu alguma coisa? - Perguntei, assustado com a inesperada formalidade.
- Sim e não. Senta aqui. - Me puxou para acompanhá-la e nos sentamos ao redor da ilha: - O Davi me mandou um buquê de rosas vermelhas hoje de manhã na casa da dona Débora e a Marieva viu e ficou brava.
- Mas que filho da puta, Nanda! - Falei e, depois de pensar um pouco, perguntei: - E como ela reagiu? Aliás, como ele sabia que você estava na casa da dona Débora?
- Deve ter deduzido quando nos viu na pizzaria. E a Marieva, igualzinha a você, ficou uma onça, querendo saber quem era, porque tinha mandado o buquê e falando que iria te contar tudo.
- E está certíssima em reagir assim! - Falei.
- A questão é que… - Disse e puxou a garrafa de café para nos servir uma xícara: - Olha, não fica bravo com a Bia, tá? A Bia falou para ela não te contar nada, dizendo que como está crescendo, virando uma mulher, deveria guardar certos segredos de seus homens para não chateá-los…
- Pô, Nanda! E você não disse nada? Você sabe que isso é errado! - A interrompi.
- A Bia é meio doidinha mesmo, você sabe. Não é má, só doidinha. - Falou e tomou um gole do café: - E eu não disse nada porque não queria causar um mal estar naquela hora e também porque quero ver como nossa cria está crescendo.
- Como assim?
- Quero ver qual será a decisão dela: omitir o fato de você, seguindo a orientação da Bia, ou falar a verdade para você, como sempre ensinamos elas a fazerem.
- E se ela não contar?
- Se ela não contar, a gente senta com ela depois e explica a importância de sempre falar a verdade para nós dois, doa a quem doer. - Concluiu.
- Ok, então. Vamos aguardar. - Falei e tomei um gole de café: - Aposto que ela vai me falar a verdade, inclusive na sua frente.
- Eu não vou apostar porque vou perder. Também acredito nisso. - Falou e começou a rir, depois falando: - Você tinha que ver a cara que ela fez quando leu o bilhete e viu que outro tinha me mandado o buquê: igualzinha à você de cara amarrada.
Rimos do comentário e logo a caçula, Mirian, chegou me dando um abraço para depois sentar no sofá para assistir um pouco de televisão. Coloquei a cerveja e o refrigerante para gelar. Dei uma pré-cozida no torresmo em panela de pressão e o coloquei para “fritar” no airfryer, indo tomar um banho. Quando retornei, as meninas estavam sentadas no sofá e a Nanda foi para o banho. Fiquei preparando as porções para nós e logo a Marieva veio me rodear:
- O que você tá fazendo, pai? - Perguntou.
- Umas porçõezinhas, “Morzinho”. - Respondi, lhe dando um abraço: - Que tal arrumar a mesa pra gente?
Ela foi pegar pratos e talheres e os posicionou na ilha. Depois voltou para perto de mim:
- Que foi? - Perguntei, enquanto a encarava, mas ao mesmo tempo despistei: - Quer aprender a cozinhar?
- Pode ser. Porque não? - Respondeu.
- Então, vou tirar o torresmo do airfryer, você coloca as batatinhas e regula o tempo e temperatura. As instruções estão no pacotinho.
Fizemos isso e nos sentamos. Ela começou a mexer no celular e não falava nada, mas eu senti que ela estava incomodada, talvez indecisa em falar ou não, mas não insisti no momento. Depois das batatinhas prontas, sentamo-nos todos ao redor da ilha e comemos, enquanto ainda fritava uns pedaços do chouriço no airfryer, já que a Nanda não consegue comê-los simplesmente cozidos. Conversamos, brincamos, me contaram as novidades experimentadas naquele dia longe de mim. A caçula principalmente queria falar todos os detalhes de todos os brinquedos em que passou.
Depois de um tempo, a caçula se levantou, voltou para o sofá e ficamos somente nós três na ilha. Eu olhei para Nanda e ela somente me fez um meneio com a cabeça, como que dizendo “acho que nós dois perdemos a aposta”. Lembrei-me então das flores no carro. Fui até a garagem e voltei com os três buquês, dando um para cada uma. Depois, peguei outra lata de cerveja e voltei para a ilha:
- Pai! Eu quero falar uma coisa. - Me pediu Marieva com o buquê nas mãos.
- Uai! Fale. - Respondi.
- Um tal de Davi mandou um buquê de rosas vermelhas para a mamãe lá na casa da mãe da Bia e a Bia me disse para não te contar para não te chatear. - Falou, ela própria claramente chateada: - Eu não acho certo isso.
- O que exatamente você não acha certo? - Perguntei.
- Um cara mandar flores para a mamãe e a Bia me mandar esconder isso de você. - Insistiu.
A encarei por um momento, depois lhe dei um abraço e um beijo na testa:
- E você está correta nas duas conclusões. - Falei, enquanto a olhava: - Sua mãe já havia me contado do buquê enquanto vocês estavam no banho. Nós só não falamos nada porque eu estava esperando para ver qual seria sua decisão: contar ou esconder. E você fez justamente o que eu esperava que fizesse. Meus parabéns!
Ela abriu um lindo sorriso e Nanda complementou:
- A gente nunca duvidou que você faria o que é certo. Mas a gente queria ver como você iria lidar com essa decisão meio conflitante.
- Mas quem é esse Davi? - Perguntou, curiosa.
- É só um bobo que invocou comigo, mas não se preocupe com nada: amo seu pai, amo vocês, amo nossa família e nada nem ninguém vai mudar isso. - Insistiu Nanda.
- Mas e a Bia? Não foi errado o que ela falou? - Insistiu.
- Foi! - Falou Nanda, sempre a encarando: - E muito errado! Mas a Bia não é má, só meio louquinha. O importante é que você entenda que deve filtrar sempre os conselhos que vierem de fora da família e usar somente os que estejam de acordo com o que a gente te ensina.
- Isso! - Comecei a falar: - Outra coisa: você realmente está crescendo, para minha tristeza…
- Ah, para, pai! - Me interrompeu, rindo.
- Mas é! Daqui a pouco, aparecerão os namoradinhos e eu ainda nem comprei uma garrucha para espantá-los. - Falei rindo, mas depois completei: - Não. Agora sério! Você já está virando uma mocinha, mas os valores que a gente te ensina não mudam com o tempo. Honestidade, brio, honra, nunca mudam. Além disso, a partir de agora e cada vez mais, você irá se deparar com decisões que terá que tomar muitas vezes sem a gente estar por perto. Só espero que faça uma boa escolha e, se ainda assim tiver dúvidas, estaremos aqui para te ajudar no que for possível. Sempre.
Nessa hora, uma lágrima escorreu pelo canto do olho dela, não de tristeza, mas acho que de orgulho próprio por ter feito a coisa certa e ter nos deixado orgulhosos com isso, e eu, confesso, também fiquei com os olhos marejados. A abracei, mais para esconder minha condição que exatamente para ampará-la. A Nanda, assistindo a cena, apenas me fez um afago no braço e também a acariciou. Bem brevemente nos recompusemos e ela, agora feliz novamente, aliás radiante, nos deu um beijo na face e foi se sentar no sofá. Ficamos ali olhando para elas e Nanda com a mão sobre a minha disse:
- Acho que estamos fazendo um bom trabalho.
- Nunca tive dúvidas. - Retruquei.
E assim ficamos os dois ali, como bobos, e não sei por quanto tempo, admirando nossas crias no sofá da sala:
- Tenho que te contar outra coisa! - Falou Nanda.
- O que foi que o Davi fez dessa vez? - Perguntei, já bravo.
- Não tem nada a ver com o Davi. Esquece dele.
- Já que tocamos no nome dele, eu já queria te perguntar uma coisa faz tempo: alguma vez você deu bola pra ele estar te cercando dessa maneira, Nanda? - Perguntei, a encarando.
- Não. Nunca. Nunca mesmo! Não sei o que se passa na cabeça dele, mas nunca me insinuei de forma alguma, mesmo porque ele é filho de uma pessoa que agora é mais que um terapeuta, é nosso amigo. Inclusive, não quero nada com ele justamente porque ele parece possessivo. Se sem nada, nem uma paquera, já está causando esse problema todo, imagina que inferno seria se eu ficasse com ele um dia. Realmente eu não quero. - Frisou.
- Tudo bem, então. Eu já imaginava que era coisa só do lado dele. Mas se ele continuar te cercando vou ter que tomar alguma providência, ou com os pais dele, ou com a justiça mesmo.
- Não vai precisar de nada disso! Quando eu tiver chance vou dar um fora nele como ele nunca tomou na vida. Talvez sirva para ele entender e amadurecer de vez.
- Então o que você queria me contar? - Perguntei: - Espero que seja boa desta vez…
- Ainda não sei. Talvez seja. - Falou e saiu para buscar seu celular, voltando em breve: - Quando estávamos no shopping, deixei as meninas na praça de recreação com a mãe da Bia, porque ela já não estava mais aguentando andar conosco, e nós duas saímos para passear.
- Tá…
- E numa hora nós sentamos numa mesa para tomar um suco e fomos paqueradas por dois caras…
- Paquerada em que sentido? - A interrompi.
- Nada demais. Eles nos pagaram um drink e ficaram com a gente em nossa mesa, só conversando. - Disse e então me encarou com olhos maliciosos: - E eles conheciam o significado da tornozeleira de pimentinha.
- Safadinha! Se exibindo longe de mim, não é? - Falei, rindo.
- Então… Daí, eles se apresentaram, papo vai, papo vem, contaram que um era juiz de direito e o outro promotor de justiça…
- Nanda!... - A interrompi novamente: - Pode parar por aí! De forma alguma você pode flertar com alguém do meu meio profissional. Você vai me enrolar se fizer isso!
- Fica tranquilo! Eles são da capital.
- Tá. - Falei um pouco mais tranquilo: - E daí?
- Daí ficamos conversando em casal e o tal Marcos, que estava conversando comigo, o tal juiz, ficou jogando o maior charme pra cima de mim. Queria me levar para jantar e dançar, e tudo…
- E você, pelo jeito, ficou interessada…
- Não sei. Talvez… De alguma forma, ele me lembrava você. Acho que tenho fetiche em advogado, sei lá. - Falou e deu uma gostosa risada: - Só sei que durante a conversa eu falei que só sairia com ele se ele pedisse para você e o maluco pegou mesmo o celular para te ligar!
- Mas como ele tinha meu número? - Perguntei, incomodado.
- Ele não tinha, bobo. Ele pegou o celular e me pediu o seu número. Mas lógico que não dei, nem iria rolar nada, porque eu estava com as meninas lá no shopping. - Disse e tomou um gole de minha cerveja, me encarando logo depois: - Mas…
- “Mas…”, o quê?
- Eu dei o meu número para ele e ele já me mandou uma mensagem. Óóóó! - Disse e abriu seu WhatsApp, exibindo uma conversa em que existia apenas dois “Ois” por parte dele e ainda sem resposta por parte dela: - Você acha que eu fiz errado? Eu saí das nossas regras?
Parei por um minuto pensando em tudo o que ela havia me contado e comecei a pensar nas regras que havíamos combinado. Eu já a olhava por um tempinho e ela então falou parecendo chateada:
- Eu pisei na bola de novo, não foi?
- Não. Na verdade, acho que não. Eu diria que você extrapolou um pouquinho só a nossa SEGUNDA REGRA, porque você não estava comigo ou autorizada por mim, além dele ser um completo desconhecido ainda. - Falei e tomei um gole de cerveja: - Mas como vocês estavam num ambiente público, cheio de gente, só conversando, não vejo isso como uma ofensa exatamente à regra.
- Ufa! Às vezes, eu fico em dúvidas com essas regras, mas na hora também não vi mal algum.
- Mas você errou em duas coisinhas, sim. - Falei, agora a encarando seriamente.
- Que foi que eu fiz?
- Não devia ter dado o seu número para ele, mas sim pegado o número dele. Nós, que trabalhamos na área jurídica, temos instrumentos para saber quase tudo de uma pessoa com poucas informações: um número de CPF, RG, telefone é suficiente para muita coisa. Te aconselho a nunca mais fazer isso. - Falei e, depois de vê-la meio chateada, continuei, frisando bem a última parte: - Além disso, ainda aceitou bebida de um estranho novamente…
- Tá. O número, eu posso ter errado, mas foi na inocência, não sabia que vocês podia fazer essa devassa na vida da gente. Nunca tinha pensado nisso. Mas, quanto ao drink, não foi bem assim, não!
- Porque não?
- Eu não encostei a boca no drink até ele chegar na mesa e só o experimentei depois que dei uma analisada no perfil dele e dele próprio o experimentar.
- Como assim “ele próprio experimentar”?
- Eles mandaram os drinks na nossa mesa. Depois é que se aproximaram e pediram se podiam se sentar. Daí jogou um charme e disse que tinha escolhido aquele de café por combinar com meu sotaque: sou mineira, meu “R” puxado grita de longe. - Disse e riu: - Daí deu uma bicadinha e só aí é que eu bebi.
- Entendi: se tivesse alguma coisa, ele também teria se ferrado. Não sei se concordo muito bem com sua técnica, mas enfim… - Falei e continuei após tomar um gole na minha cerveja: - Mas e aí? Ficou interessada? Vai dar seguimento na conversa?
- Você acha que eu posso?
- Poder e dever são coisas parecidas, mas diferentes. Você pode sempre, mas tem que analisar se deve.
- Não entendi.
- Você se interessou nele, tá na cara! O que foi que te chamou a atenção?
- Ah, sei lá. Talvez, a forma como ele se portava, a imponência, a inteligência, a cultura, aquele jogo de sedução… Não sei. Eu te falei, ele se parece com você… - Respondeu na maior naturalidade.
- Exatamente! E esse é meu medo, que você possa confundir sexo com sentimento pelo fato dele ser tão “parecido” comigo.
- Ah… Qual é, “Mor”!? Claro que não! Não vou deixar de amar o meu carequinha pra ficar com um cabeludo, peludo, cheiroso, charmoso, juiz da capital. - Falou, rindo.
- Nossa! Que bom que você sabe levantar minha autoestima. - Retruquei, rindo também.
- Então, não. Pronto! Já descartei. Não quero que você fique incomodado. - Disse, já pegando seu celular e indo para a seção de bloqueio do contato.
- Relaxa, Nanda. Não precisa bloqueá-lo. Deixa ele em banho maria: se ele insistir, se tiver que acontecer um dia, vai acontecer. Só segue as nossas regras que acredito que ficará tudo bem. - Falei: - Além do mais, ele é da capital. Qual a chance de vocês se cruzarem novamente?
Nesse momento, chegou outro “Oi!?” do Marcos, acompanhado de um “O drink estava tão ruim assim?” e ela me mostrou, com expressão de quem diz “ou eu o bloqueio, ou ele não vai parar”:
- Quer conversar com ele? Converse. Estou aqui do seu lado. Vamos ver onde isso vai dar. - Propus.
- Acho que um “Oizinho” só não mata.
Passou então a teclar com ele no aplicativo:
Ela - “Oi, doutor chato.”
Ele - “Chato? Eu!? Porque?”
Ela - “É brincadeira. Vou mudar: Oi, doutor insistente.”
Ele - “Ah, agora eu concordo. Sou mesmo! Principalmente se tenho um bom motivo.”
Ela - “E que seria?”
Ele - “Você, minha cara. Você.”
- Olha! Tá vendo!? Ele se parece com você até no jeito sério, todo certinho para escrever. - Me mostrou a conversa e riu baixinho para não chamar a atenção das meninas.
- Só tenha juízo, hein!? - Retruquei.
- Ah, “Mor”... Você não está curtindo essa brincadeira. Vou parar. Chega de problemas pra gente, não concorda? - Falou, me encarando, mas aparentemente chateada com minha reação.
- Fica tranquila, Nanda. Acho que só estou cansado e também agora, com as meninas aqui, fica difícil aproveitar a brincadeira, não acha? - Falei.
Ela então parou, pegou o celular que havia colocado sobre a ilha e teclou:
Ela - “Marcos, minhas filhas estão aqui agora e não vou poder teclar. Podemos continuar depois?”
Ele - “Claro, Fernanda. Quando estiver liberada, é só me chamar.”
Organizamos toda louça e talheres no lava louças e fomos nos aconchegar no sofá da sala com as meninas. Ficamos até por volta das 21:30 e as mandei dormir. Como de costume resmungaram, mas obedeceram. Fizeram sua higiene oral noturna, vieram nos pedir a “benção” e foram dormir. Continuamos assistindo a um filme qualquer na televisão até as 22:30. Nanda parecia meio distante, inquieta talvez:
- Você está querendo continuar a conversa com ele, não está? - Perguntei.
- Sabe que eu nem estava mais pensando nisso. Acho que estou cansada também…
- Então, tá.
Passei a navegar pelos canais e logo no primeiro canal de filmes, aparece o clássico “Instinto Selvagem”, bem na parte daquela cruzada de pernas que todos conhecem bem. Ela me olhou e abriu um sorriso malicioso. Voltei a navegar e no próximo canal aparece “40 Tons de Cinza”, com a protagonista tomando uma sonora cintada no lombo. Ela já ria da situação, naveguei mais um pouco e acabei encontrando um canal com programação nacional e qual não foi minha surpresa ao ver a transmissão do clássico da pornochanchada “A Dama do Lotação”. Daí também não aguentei e caímos os dois na risada:
- Puta que pariu! Parece que tudo conspira a favor. - Ela me falou, enxugando uma lágrima de tanto rir.
- Não fui eu. É a programação. Você viu! - Falei, também rindo.
- Agora me animei. Vou paquerar de novo. - Disse e se levantou para buscar o celular sobre a bancada da ilha e se sentou ao meu lado:
Ela - “Oiiii! Ainda está aí?”
Após uma espera que não demorou mais que um minuto, vem a resposta:
Ele - “Oi. Estou sim, Fernanda. Tá tudo tranquilo agora?”
Ela - “Está sim.”
Ele - “Filhas na cama e maridão babando num jogo de futebol qualquer?”
Ela - “Filhas na cama. O maridão não gosta de futebol…”
Ele - “Mas algum problema pra você se a gente teclar?”
Ela - “Não, fica tranquilo.. Ele está ocupado com outros afazeres.” - Me encarou ao terminar de teclar, sorrindo.
Ele - “Joia! Sabe que não consegui parar de pensar em você?”
Ela - “Sem essa! Nada de cantadas baratas. Não sou isso tudo, não. Aposto que você diz isso para todas as mulheres.”
Ele - “Digo nada. Não sei o porquê, mas você me chamou a atenção naquele dia e não consigo mais te tirar do pensamento.”
Ela - “Tá bom. Acredito.”
- Conversinha mais água com açúcar, hein!? - Falei para a Nanda.
- Você quer o quê? Que eu mande uma foto da xereca pra ele logo de cara? - Ela me respondeu, rindo e voltamos a acompanhar a conversa:
Ele - “Sério! Seu marido é um homem de muita sorte.”
Ela, rindo do comentário - “Nisso você está certo! Ele é mesmo um homem de muiiiiiita sorte! Deus foi muito bom com ele, já comigo. kkkkkkkkkk”
Ele - “Porque? Ele não te trata bem?”
Ela - “Só estou brincando. A gente se dá super bem, senão você nem teria me visto com a tornozeleira naquele dia.”
Ele - “A tornozeleira foi só um detalhe e eu poderia estar errado realmente. Quem me chamou a atenção foi você. Somente você.”
Ela - “Ahammm. Sei. Cê é muito abusado, Marcos!”
Ele - “Sou nada, coração. kkkkkkk O que você está fazendo agora?”
Ela - “Teclando com você, uai! Me confessa uma coisa, e a senhora Dr. Marcos não se incomoda em você ser tão atiradinho?”
Ele - “Teclando comigo, eu já sei. E não tem nenhuma senhora Dr. Marcos. Já houve, mas estou divorciado. Minha ex não era tão legal como você.”
Ela - “Tá bom. Me engana que eu gosto.”
Ele - “Sério! Eu estava querendo sair para jantar, talvez dançar. Você não se anima em me acompanhar, não?”
Ela - “Agora! Hoje!! Eu já jantei, Marcos. Eu não seria uma boa companhia. Então, você ainda não voltou pra capital?”
Ele - “Não, eu estou de férias e voltarei somente daqui uns quinze dias. Quanto à companhia, tenho certeza de que você seria ótima, em qualquer situação. Mas então que tal amanhã?”
Ela - “Marcos, é bastante difícil. Eu não moro aí e só estava em trânsito. Além disso, tem minha família, marido, filhas, não é uma logística tão fácil assim de equilibrar.”
Ele - “Você fala de um jeito diferente… Desculpa perguntar, mas você é formada em que?”
Ela - “Sou administradora. Porque?”
Ele - “Por nada, querida. É sempre bom estar perto de gente com cultura, mesmo que seja diferente da nossa.”
Ela - “Isso é verdade.”
Ele - “Você mora muito longe daqui?”
Ela - “Uma hora, mais ou menos.”
Ele - “Bem, o convite está feito. Se você quiser, eu posso ir te buscar, sem problema algum. E para você ficar mais tranquila e ver que estou falando sério, posso te mandar cópia de meus documentos para você verificar.”
Ela - “É!? Corajoso você, hein?”
Ele - “Porque corajoso?”
Ela - “E se eu for uma estelionatária, uma infratora, Dr. Marcos? Posso acabar usando seus documentos para te dar um golpe. Já pensou?”
Ele - “Se tem algo que nós aprendemos no direito é avaliar uma pessoa já no primeiro contato, Fernanda. Você não tem esse perfil. Mas se eu desconfiar que você está abusando de minha confiança, posso te dar um corretivo debaixo de minha vara. kkkkkkkkk”
Ela, rindo - “Ah, pronto. Já tá virando baixaria!”
Ele - “É só brincadeira, querida.”
Ele - “FOTOGRAFIA - carteira funcional dele.”
- Esse cara é mais descuidado que você, Nanda. Como é que ele te manda uma cópia da carteira funcional? - Falei e ela concordou comigo.
Ela - “O que é isso, Marcos?”
Ele - “Só para você ver que não estou brincando. Você pode entrar no site do TJ e verificar todo o meu histórico funcional. Além disso, tenho perfil no Facebook e no Instagram também. Estou confiando em você. Pode me analisar à vontade, inclusive pessoalmente se quiser.”
- O que eu falo pra ele? O negócio está ficando mais sério do que eu esperava. - Me perguntou Nanda.
- Uai. Fala pra ele que você vai pensar sobre o convite e depois retorna. Só isso. - Respondi.
Ela - “Marcos, eu agradeço sua confiança, mas acho que estamos indo rápido demais.”
Ele - “Fernanda, vou embora daqui alguns dias. Ou a gente aproveita agora, ou não aproveita nada. E se você é mesmo liberada por seu marido, não temos porque perder mais tempo.”
Ela - “Calma, menino. Calma! Posso te responder amanhã? Realmente fui pega de surpresa com a intensidade do contato.”
Ele - “O contato pode ficar muito mais intenso, basta você querer.”
Ela - “Eu te respondo até amanhã. Prometo.”
Ele - “Posso te pedir uma coisa?”
Ela - “Claro!”
Ele - “Eu queria uma foto sua. Não de um documento, nada disso! Só para embalar meu sono ou me fazer ficar acordado de vez.”
Nanda então me encarou e vi que estava confusa quanto ao pedido, mas preferi não me manifestar, pois queria ver qual seria sua decisão:
Ela - “Desculpa, Marcos, mas ainda é cedo para essas intimidades. Por mais que você pareça ser um cara legal de se conhecer, eu ainda sei muito pouco a seu respeito. Então, vamos deixar isso para outra hora, está bem?”
Ele - “Ótima resposta, Fernanda! Muito boa mesmo. Serviu para me deixar com mais vontade ainda de te encontrar pessoalmente. Aguardo ansiosamente seu contato amanhã, então. Boa noite, coração. Beijo.”
Ela - “Beijo, Marcos. Durma bem.”
Ela olhou ainda mais um pouco para o aplicativo e como não recebeu mais mensagem, o encerrou. Fechou a capa carteira de seu celular e o colocou sobre o braço do sofá. Então se voltou para mim e perguntou:
- Que foi isso?
- Isso, minha cara, é o típico comedor profissional. Aquele que sabe enrolar uma mulher com jeitinho, envolvendo-a até que ela não consiga mais escapar.
- Nossa, “Mor”. Dá até medo? - Insistiu.
- Medo de quê? - Perguntei.
- Medo de me apaixonar mesmo.
Estranhamente, seu semblante demonstrava um acúmulo de sensações diversas. Parecia ter medo, dúvida, angústia, desejo, curiosidade, tudo junto e misturado, numa verdadeira maionese emocional. Precisei tomar a frente:
- Se você está em dúvida, se acha que não conseguirá separar sexo do sentimento, ou pior, se apaixonar por ele, não faça. Corte logo o contato e o esqueça. - Falei.
- Olha. Nunca tive medo de homem. Só receio, porque você, melhor que ninguém, conhece a criação que eu tive. Mas esse cara me assustou de um jeito que não sei dizer se foi bom ou mau. - Falou realmente confusa.
- Então, esquece. Nega o convite e acabou. Numa boa. Sem estresse para nenhum dos lados. - Falei.
- Tá. Acho que é o melhor. - Decidiu, mas ao mesmo tempo contemporizou: - Mas assim… se… se… se eventualmente eu topasse jantar com ele, você vem comigo, não é?
- Juntos?
- Claro! Segunda regra, tá lembrado!?
Ela estava certa. Eu não podia negar, porque as regras serviam para nós dois. Além disso, eu poderia controlar a situação e avaliar melhor “in loco” os eventuais riscos de algo mais. Então, respondi:
- Para jantar, eu topo. Mas daí para acontecer algo mais, só analisando no momento. Afinal, eu não cheguei a conhecê-lo.
- Tá. Então, vou pesquisar sobre o Dr. Marcos, pensar a respeito e depois decidimos juntos. Mas só vou se você vier também, senão nada feito! - Falou, objetivamente.
- Quero deixar bem claro que ir jantar, dançar, beber, não significa que concordarei com nada mais, entendeu? Se um de nós não se sentir bem, ficamos só nisso e voltamos pra casa, ok? - Insisti.
- Claro. Ok. Tudo bem.
- Eu vou dormir. Você vem? - Perguntei.
- Vou dar uma pesquisada no Dr. Marcos, se você não se importa. Quero ter mais elementos para poder gerir melhor essa questão. - Respondeu, profissionalmente, e depois me encarou: - Se você não se importar de ir sem mim, é claro?
- Tá tudo bem. - Respondi e me despedi dela com um beijo.
Fui para nossa suíte e após toda a rotina noturna, deitei e apaguei. Acordei na alta madrugada e nada da Nanda ao meu lado. Olhei no meu celular sobre o meu criado mudo e marcava quase 4:00 da madrugada. Me levantei e fui até a sala. Lá a encontrei dormindo no sofá, encolhida num canto em meio às almofadas. Usava agora uma camisola preta, de cetim, decotada e curta. Seu celular estava ao seu lado, desligado, provavelmente sem bateria, como de costume:
- Nanda… Nanda, acorda… Vem pra cama. - Falei, sussurrando.
- Não, não, Marcos… Sem meu marido, não... Não vou e ponto final! - Balbuciou.
“Isso, menina! Seja forte. Já passou da hora de você se afirmar como mulher decidida e que sabe o que quer.”, pensei, sorrindo:
- Nanda. Nanda! Vem pra cama. - Falei, agora em um tom mais audível.
- Não, não, Marcos… Marcos… Mark. Mark!?! - Terminou quase gritando meu nome, quando me viu.
- Calma! Sou eu, caramba. Vem pra cama. - Falei.
Ela se deixou conduzir e foi para nossa suíte. Parecia até meio sonâmbula. Se jogou na cama e apagou novamente. Coloquei seu celular para carregar e também me deitei, apagando logo em seguida. No dia seguinte, ela parecia perdida na cozinha, até mesmo incomodada com alguma coisa:
- Que foi, criatura? - Perguntei, rindo: - Descobriu que ele é um “serial killer” ou algo do tipo?
Ela deu uma “pescoçada” para se certificar que as meninas não estavam por perto e falou:
- Que nada. O danado é mais limpo que bunda de bebê. Tem até menção honrosa no site do TJ para ele. - Se sentou ao meu lado, pegou minha xícara de café e ainda falou, rindo no final: - Facebook e Instagram também limpo: só tem viagens, palestras, cursos e fotos com um filho. O Marcos é você de toga, “Mor”.
- Você não tá simpatizando demais com ele, não, Nanda? - Perguntei.
- Você está desconfiando de mim?
- Não, Nanda. Nada disso. Acho que dessa vez eu fiquei inseguro, porque o cara é, como você mesmo disse, uma versão de mim melhorada. Os outros não eram nada para mim, me garantia fácil, mas esse, não sei o porquê, me baqueou. - Falei, até meio envergonhado para ela.
Ela parou por um momento, me encarando feliz por ver ciúmes e medo de perdê-la em minhas palavras, se sentou em meu colo e falou:
- Você sabe que se eu não simpatizar, nem abro as pernas, né!? - Falou, pondo sua mão em meu rosto e concluiu: - Mas fica tranquilo, você tem algo que ele nunca vai ter: meu coração e meu amor. Eu nunca trocaria tudo o que a gente viveu e ainda viverá, construiu e ainda vai construir, por uma aventura.
- Da forma como você está falando, parece que já decidiu aceitar o convite dele, não foi? - Perguntei.
- Depois que você foi deitar, eu fiquei pesquisando a vida dele. Altas horas da madrugada, ele voltou a teclar comigo. Deve ter visto que eu estava online e… Eu quero ser honesta com você em tudo. Quero que você veja a conversa e diga se não tenho razão em ficar curiosa.
Ela se esticou então para pegar seu celular e abriu o aplicativo do WhatsApp, me mostrando a sequência da conversa que teve com ele na madrugada:
Ele - “Ainda acordada, Fernanda? O que a senhora está fazendo por aí?”
Ela - “Oi. Nada não. Só fiquei sem sono.”
Ele - “Mentira! Tava me investigando, não estava? kkkkkkk”
Ela - “Um pouquinho…”
Ele - “E o que achou?”
Ela - “Nada. Não achei nada. Você é tão certinho quanto meu marido.”
Ele - “Seu marido é juiz?”
Ela - “Não. Ele é advogado.”
Ele - “Então, sou ele usando toga. Posso até usá-la para você e tirar só na cama, se quiser.”
Ela - “Para, menino!”
Ele - “Mas, e aí? Te convenci a aceitar meu convite?”
Ela - “Você tá ciente de que, se eu aceitar, ele irá comigo, não tá?”
Ele - “Ah. Ele curte assistir você em ação?”
Ela - “MENSAGEM APAGADA.” - Então, me explicou que acabou colocando que eu curtia assistir, que começamos assim, mas se arrependeu e apagou logo após.
Ela - “Essa não é a questão. Se concordarmos com um jantar, isso não garante que acontecerá qualquer outra coisa. Entendeu?”
Ele - “Claro! Seremos só amigos se conhecendo melhor e curtindo um momento agradável. Estou totalmente de acordo.”
Ela - “Ótimo! Assim fica tudo esclarecido.”
Ele - “Então, você aceita, digo, vocês aceitam meu convite?”
Ela - “Eu não disse isso. Ainda estou pensando…”
Ele - “O que eu preciso fazer para te convencer?”
Ela - “Ora, ora, ora... Cadê aquele homem todo imponente, convencido e cheiro de si? kkkkkkkkkk”
Ela - “* cheio de si? - porcaria de corretor”
Ele - "VÍDEO CHAMADA RECUSADA”
Ela - “O que você está fazendo?”
Ele - “Eu quero te ver.”
Ela - “De jeito algum! Na-na-ni-na-NÃO! Muito cedo para isso. Nem estou arrumada.”
Ele - “Você é linda de qualquer maneira e aposto que deve estar usando uma camisola super sensual. Estou errado?”
Ela - “Camisola, sim. Super sensual, não.”
Ele - “Coloca seu dedo na sua câmera que eu vou abrir a minha para você me ver e entender de uma vez que não estou brincando com você.”
Ela - “Você é louco!”
Ele - “Estou louco por você! Será que não entendeu ainda!?”
Ele - “FOTOGRAFIA - Deitado num sofá, sem camisa, mostrando um torso bem trabalhado e peludo”.
Ele - “FOTOGRAFIA - Aproximando de seu rosto, para ela visualizar bem sua face.”
Ele - “FOTOGRAFIA - Sorrindo para ela.”
Ele - “FOTOGRAFIA - Mostrando a língua para ela.”
Ele - “FOTOGRAFIA - Mostrando as pernas musculosas e que ele estava somente de cueca samba-canção.”
Ele - “FOTOGRAFIA APAGADA.” - Ela me explicou que ele mandou uma foto do pênis duro, ainda dentro da cueca, mas com a cabeça e boa parte saindo para fora, tanto que ela o repreendeu na mensagem seguinte.
Ela - “Olha, Marcos, melhor a gente parar por aqui! Essa brincadeira já está passando dos limites. Se você quer se apresentar, faça, mas não precisa apelar!”
Ele - “Desculpa, Fernanda. Exagerei mesmo. Mil desculpas.”
Ela - “Tudo bem.”
Ele - “Vamos conversar, vai. Vídeo chamada, rapidinha. Você nem precisa aparecer, mas eu ia adorar se aparecesse.”
Ela - “Tô toda descabelada. Deixa disso, vai…”
Ele - “Só um pouquinho. Por favor, Fernanda. Me expus para você como há muito tempo não fazia e você não me dá nada em troca.”
Ela - "VÍDEO CHAMADA." - Me explicou então que ela decidiu realizar o pedido dele e fizeram uma vídeo chamada. Ela tampou sua câmera para somente ele aparecer e ficaram conversando, ele dizendo como estava ansioso para conhecê-la melhor e ela dizendo que estava curiosa do porquê de seu interesse por ela. Então, num momento, liberou sua câmera e passou a conversar com ele, mas sempre evitando exibir seu rosto que fez uma ou duas vezes e de maneira rápida. Depois de uns trinta minutos, vendo que ele estava ficando excitado novamente pelas imagens que ele exibia, decidiu terminar a chamada.
Ele - “Poxa. Pensa direitinho e convence o maridão a nos encontrarmos. Só uma jantinha, talvez dançar juntinhos… Estou louco de vontade de conhecer você, vocês. Desculpa.”
- Quando eu ia responder, puff, meu celular morreu. A bateria acabou. - Falou, dando um sorrisinho nervoso e me perguntou: - Pisei na bola, de novo?
Eu a encarei por um momento e então disse:
- Deixa eu falar um negócio pra você. De acordo com o que combinamos na SEGUNDA REGRA, contatos isolados com parceiros somente mediante prévia aprovação do outro. Quando você estava teclando com ele e eu aqui, tudo bem, mas fazer isso depois que fui dormir, não está de acordo. - Falei, tranquilamente.
- Eu fui lá na suíte para te falar que ele queria teclar novamente. Foi bem quando fui colocar minha camisola, mas você estava dormindo tão bonitinho que não quis te incomodar. Juro de coração que é verdade. Juro por nossas filhas. - Falou, solene.
- Não usa o nome de nossas filhas, Nanda. É chato isso! - Pedi e continuei: - Eu não duvido de você e só o fato de me mostrar tudo aqui, já prova que está falando a verdade. Eu só acho que você exagerou em fazer uma vídeo chamada hoje. Muito recente para meu gosto.
- Ah, Mark. Juro que não mostrei nada para ele. Palavra de escoteira. - Frisou: - E meu rosto, foi rapidinho. Nem deu tempo dele ver direito.
Ela ficou chateada com minha conclusão e ficamos nos olhando por um momento em silêncio. Então perguntei:
- Você quer ir, não quer?
- Já nem sei mais. Eu até acho que queria. Nunca fiquei com “outro Mark” na minha vida. Deve ser uma experiência única. - Falou, meio consternada.
- Ouça suas palavras: você já está considerando ficar com ele, e não foi isso o que a gente combinou. Se um dos dois não estiver à vontade, e esse um pode ser eu, não iria rolar nada, nada mesmo, lembra? - Falei.
- Lembro, lembro. Eu me expressei mal, só isso. Desculpa!
- Vou falar só mais uma vez: se eu disser “não”, nós voltamos na mesma hora, sem discussão, sem crise alguma. Tudo bem? - Insisti.
- Tudo. - Respondeu.
Apertei sua mão e acho que exagerei porque ela resmungou da pressão. Ela me abraçou feliz, mas acho que deve ter notado que eu estava tenso como nunca estivera antes e falou realmente preocupada:
- “Mor”!? Meu Deus! Você tá tenso demais. Vamos esquecer dessa história. Você não vai conseguir curtir. Estou vendo e assim eu não quero.
- Não. Vamos jantar com ele. Só jantar. Lá a gente decide como terminar a noite. Mas, por enquanto, só jantar mesmo, ok!? - Falei e a encarei: - Eu também preciso aprender a me valorizar, confiar no meu taco e a confiar plenamente em você.
- Tá bom, então. Só jantar. - Ela falou, me acariciando os ombros: - Ele tinha falado de dançar também…
- Veremos lá na hora, Nanda. Veremos…