Continuando.
A psique de uma pessoa é algo complexo, você passa por muitas coisas, as vezes acha que o que é certo, é certo e ninguém pode falar que aquilo é errado, o contrário também é verdadeiro, porem eu estava mesmo errado? Aquilo deveria acontecer como foi? Ver Mari transando com aqueles dois, não fazer nada, não é justificativa viável para isso. Acordei ainda não tinha amanhecido, devo ter cochilado apenas, meu estomago doía, Mari dormia pelada do meu lado um sono pesado, corri para o banheiro e comecei a vomitar, tudo que eu comi e bebi saiu do meu corpo naquele momento, parecia que estava sendo exorcizado, quando o vomito cessou entrei para uma ducha gelada, demorei ao menos 30 minutos com a água gelada na minha cabeça, toda vez que eu fechava os olhos os flashes daquela noite passavam na minha cabeça e todas as lembranças a que mais voltava era de Mari me chamando de corno, como eu pude admitir isso. Eu sentia raiva de mim, raiva de tudo, aqueles tapas que dei nela não eram para ela gostar, por que ela sorria? Minha mente estava fritando, as lágrimas vinham sem controle, lembrei de Rebecca, meu coração apertou, aquele era um gatilho que não gostava de ter, nos primeiros meses da sua perda eu sonhava com ela me dizendo algo sempre naquele último momento, porém era agoniante não lembrar, isso me assombrou por anos, até o dia que descobri que Mari precisaria fazer uma cirurgia, era como eu tivesse tomando um terceiro tombo, Mari tem seus defeitos, porém foi companheira me aturando toda noite que eu acordava chorando assustado, ela fez tudo para que eu não me aprofundasse no abismo que eu estava entrando.
Terminei o banho coloquei uma roupa e saí, deixei carteira, celular, tudo no hotel e fui correr na praia, o sol estava começando a aparecer, corri o sem rumo, tentando não pensar, mas nada me fazia esquecer. Era como se tivesse voltado ao acidente, minha vida estava despedaçada, eu tinha matado alguém por um capricho, por simplesmente ter raiva de outra pessoa, raiva da pessoa que amava e agora estava de novo aqui no mesmo cenário remoendo a culpa por aquela que amo estar me traindo.
Depois de tanto correr, resolvi sentar na areia, o sol estava já estava alto, devo ter seguido por umas três horas correndo e caminhando sem parar, não via mais o hotel, ali busquei olhar o mar, refletir, as ondas iam e vinham, eu me concentrava nisso, ao longe vi uma família, a mãe brincando com o filho na areia, o pai com o segundo filho, ainda um bebe para colocar seus pezinhos na água, eu olhava aquela felicidade com muita inveja, eu me casei para ter uma família, porém acho que escolhi errado desde a primeira vez. Eu não conhecia a Mari que casou comigo, não essa que traía, a Mari com quem eu tive um relacionamento era uma menina meiga, que tinha vergonha da própria sombra. Meu primeiro sorriso veio desde então, lembrando daquele passado, fui até o mar mergulhei, tomei minha decisão.
Cheguei no hotel eram quase cinco da tarde, uma viatura da policia estava estacionada, por coincidência, Sargento Braga estava na recepção.
Braga: Oh! Olha o sumido ai.
Eu: Quem você acha que está sumido?
Braga: Então, sua mulher deu queixa a algumas horas dizendo que você tinha sumido, estávamos o procurando.
Eu: Ah sim, fica de boa que eu apareci, menos trabalho para vocês.
Continuei andando, fui para o quarto, assim que abri a porta Mari correu para os meus braços, eu olhei seu semblante, parecia que ela tinha chorado, na minha mente estava confuso.
Mari: Graças a Deus, você ta bem.
Continuei calado e fui para o banheiro, liguei o chuveiro e tranquei a porta.
Mari: Ei, por favor, vamos conversar, eu mereço saber onde você estava.
Continuei meu banho e ignorando-a. Ela ficou em silêncio esperando minha resposta, até que não conseguiu mais.
Mari: Deixa eu entrar, a gente precisa conversar. Acordei e você não tava aqui, fiquei preocupada, você sumiu o dia todo, achei que algo de ruim tinha acontecido.
Terminei o meu banho me enxuguei e abri a porta, ela olhava para mim com uma expressão de tristeza misturada com arrependimento.
Mari: Por que você sumiu?
Eu: Era para eu ter sumido da sua vida a quatro anos atrás, devia ter sido eu a morrer naquele acidente.
As lágrimas começaram a escorrer o rosto de Mari, eu a olhava com uma expressão de frieza, aquele choro não iria me comover.
Mari: Por que você ta falando isso.
Eu: Você sabe o motivo, nossa relação num era para dar certo, olha o que aconteceu ontem, eu fiz merda, você, porem o que mais assustou foi você mudar daquele jeito depois da nossa conversa, parece que estamos vivendo uma mentira.
Mari: Mas eu.
Eu: Eu sei, você fez aquilo por que eu transei com a Alice, eu mereci, mas precisava daquele teatro todo, precisava me chamar de corno?
Mari: Desculpa, eu fui além, mas eu não tinha escolha.
Eu: Sempre temos escolha, a diferença é que eu assumo as minhas, até agora eu não sei como meu corpo não respondeu a vontade de meter a porrada em todo mundo.
Mari: Eu não tinha escolha.
Eu: Você sempre teve, mas nunca quis escolher, vou te perguntar uma ultima vez isso, o que mais você esconde de mim.
Aquela pergunta tinha significado, não era apenas a compulsão por sexo, eu sabia bastante sobre os outros segredos que Mari guardava, mas ela nunca quis me contar por vontade própria.
Mari: Eu já disse, não posso.
Eu: Você não pode ou não quer?
Mari: Se eu te falar tudo vai mudar entre a gente, você não vai querer mais ficar comigo.
Eu: Acho que não está funcionando, pois assim que voltarmos a gente vai se separar.
Mari começou a chorar copiosamente, junto ela dizia.
Mari: NÂO, NÂO, NÂO, num faz isso comigo. Eu te amo.
Eu: Não vejo amor entre a gente, eu vejo uma doença, um acabando com a vida do outro, você não quer estar comigo, sei que quer transar com o copeiro, com o recepcionista, com metade dos homens que estão aqui de férias.
Mari: Eu não...
Eu: Fala a verdade.
Mari: Ontem eu não podia fazer nada para mudar aquilo.
Eu: Claro que podia, a gente podia ter vindo embora, eu fiz burrada mas.
Mari: Não, tem coisa que você ainda num sabe direito.
Eu: Como assim, apesar de você não achar que sei, eu descobri alguns dos seus segredos.
Mari me olhou assustada.
Mari: Como assim sabe meus segredos?
Eu: Seu pai me contou algumas coisas, o resto mexi os pauzinhos para saber.
Mari: Você não ta falando sério?
Seu olhar era de desespero, ela jamais pensou que eu soubesse de tudo, então comecei.
Eu: Você acha que teríamos nos casado se eu não soubesse, você me traiu inúmeras vezes, eu num sou um otário assim. Fora isso depois que eu flagrei Maycon e você na sua casa eu pedi um amigo a ficha dele, o que não foi difícil de achar, ele e o pessoal da republica dele tavam metido com venda de drogas na universidade, além do mais seu pai é muito trabalhador, porém tem um péssimo tino para negócios, o que me surpreendeu mais foi que eu vi teu pai e Maycon conversando. Até ali a história poderia ser comum, os dois se conheciam já e tal, mas meu pai falou que o teu tinha pego um empréstimo para bancar um merda que ele fez na loja dele, o fato é que o empréstimo foi com um agiota da cidade vizinha, que por coincidência era o mesmo cara que fornecia drogas pros moleques venderem na república.
Mari olhava de boca aberta eu falando aquilo, então continuei.
Eu: Eu ouvi o Maycon falando naquele dia que você precisava encontrar ele a tarde, pois os amigos dele queriam te ver, essas palavras vieram quando soube da infeliz coincidência, naquela noite você não saiu, nem na seguinte, você imagina por que?
Mari: Não.
Eu: Eu dei um aviso pro Maycon, ele ficou assustado nos primeiros dias, mas quando soube da conversa com seu pai eu indaguei teu pai, ele me contou que Maycon era quem estava cobrando a grana do empréstimo, e soube também que teu pai quando ficou doente quando fui fazer meu curso, era por que tomou uma surra. Ai é só somar tudo e achar o xis, o Maycon não te sodomizava atoa, ele foi incumbido de pegar o pagamento do teu pai, você era o pagamento, seu pai não sabia dos detalhes, mas Maycon te drogava e te vendia para uma noite de sexo, esquema esse que descobri como funcionava alguns anos depois, mas vamos atentar a Maycon, três dias depois pedi uns amigos policiais par dar uma batida na republica, por sorte Maycon num tava lá e fugiu do flagrante, porem eu consegui o HD com suas fotos, ou seja, não tinha mais chantagem, o agiota consegui uma informação de onde ele ia ta e soprei para um traficante rival, ai juntou a fome com a vontade de comer. Teu pai ficou livre da dívida e você de ter que fazer programa.
Mari: Como?? por que você não me disse que sabia o tempo todo?
Eu: Eu sabia, mas não tinha certeza se você tava gostando daquela vida. Quando voltei formado, a gente conversou e se reconciliou, ali eu fiquei com duvidas se você gostava ou não daquilo, mesmo sabendo que boa parte dos programas que você fez foi drogada e o professor do seu estágio era um cliente fixo, como fiquei na nossa cidade, eu cerquei mais, Maycon tava sem proteção, porem eu sei que ele te chantageava sempre e a mensageira era a Rebecca, vi no seu whatsapp, você sempre foi péssima com tecnologia e distraída, essa parte descobri naqueles dias após o acidente, Rebecca me contou muita coisa sobre como conheceu você, mas o que me intrigou foi ela ter dito que você atendeu com ela, por causa da morte dela eu também entrei em contato com a família, eles não queria falar nada sobre ela, até que um tio me contou uma história dela ter sido expulsa de casa por ter aliciado a irmã caçula a ser garota de programa.
Mari me olhava em choque eu jogando as cartas na mesa, apesar delas não servirem de nada naquele momento.
Eu: Outro detalhe importante, alguém que ganha a vida como acompanhante de luxo ganha uma grana considerável, não precisa morar em uma republica com mais sete garotas, então eu desconfiei, e a surpresa veio ali, Rebecca era uma das cabeças do recrutamento das meninas para a prostituição, ela que tomava conta das novas garotas ensinando o que deviam fazer e como fazer, ela sempre ia junto nos primeiros programas e um detalhe importante, todas eram drogadas para ser mais fácil o esquema, pois manter o vicio é algo que faz a pessoa ter dependência e obedecer a qualquer coisa para ter o que quer. Então quando conversamos, sobre o casamento resolvi testar você pedindo que denunciasse o professor, pois era uma forma de você me mostrar que tava ali sem querer.
Mari chorava enquanto prestava a atenção nas minhas palavras.
Eu: Eu vi filmagens suas, fotos, ouvi relatos, em todas você estava drogada, agora uma coisa que eu tenho que admitir, ter ficado com Rebecca mudou um pouco minha cabeça, eu não sou um monstro, ou uma maquina, ela ter morrido por minha causa me fez pirar por um tempo, isso me fez ver você com outros olhos, seus problemas também, eu não queria te negligenciar, mas eu mesmo tendo acessos de raiva eu num gosto de fazer mal as pessoas. Achei que essa viajem seria uma segunda lua de mel, e não essa tragédia. Pois ontem você me mostrou o contrário do que eu acreditava, pois você estava de cara limpa, e foi você que buscou a situação.
Mari: Me desculpa, eu devia ter te contado desde o começo, eu não queria que você soubesse assim. Eu fui uma idiota, tentei fazer as coisas do meu jeito e só fiz merda.
Eu: Me fala, seja sincera pelo menos agora, pois essa é a ultima chance de você falar.
Mari enxugava as lágrimas, porém se forçou a falar.
Mari: Eu não sabia que você sabia de tudo, mas vamos lá que talvez a história ainda tenha uma parte que você não saiba. A gente foi para BH, eu tava no mestrado, assim que terminei consegui aquele emprego na fabrica, iniciei o doutorado e tudo foram flores, mas não, a uns seis meses atrás eu dei de cara com um dos sócios da empresa, eu conhecia ele, da época da faculdade, foi um dos clientes que o Maycon arrumou, ele então começou a puxar papo, eu evitava, porém não podia sair dali, o emprego pagava bem, você ainda tava no meio do curso, a grana ficou curta com meu tratamento e então eu não queria te dar despesas mais, porem o cara era insistente, mas ele não fica em BH, ele mora em São Paulo, fazia visita a cada mês, porem as visitas começaram a ficar mais frequentes. E num happy hour ele apareceu, me mostrou umas fotos no celular, falou que se num ficasse com ele de novo ia espalhar para todo mundo que fui garota de programa, além que ia me dispensar da empresa, acabei cedendo. As primeiras vezes confesso que eu não queria, porem eu e você não estávamos tendo uma relação boa na cama, ai comecei a me entregar de vez. Lembra que eu viajei algumas vezes a trabalho nesses últimos tempos?
Eu: Sim. Lembro.
Mari: Então, eu viajava com ele, fazia papel de namorada, as vezes tinha que ajudar a fechar algum negocio. O problema maior veio quando recebi a proposta de ir para França terminar o doutorado, ele resolveu que quer ir junto e disse para eu te largar, disse que se eu não o largasse ele iria te contar tudo e você iria me deixar. Acabei cedendo e quando a gente veio para cá vi uma oportunidade de me despedir de você e de fazer você ficar com raiva de mim. Aquele dia na Balada os meninos vieram pra perto porque eu chamei, mas você voltou rápido e quebrou a cara deles. No outro dia de manhã eu chamei o serviço de quarto de proposito, você foi para o banho, eu não vesti o robe, eu me ofereci para o Diego, queria que você me pegasse no flagra, até chupei ele, porem o garoto gozou rápido e correu com medo de você. Mas o que mais me abalou foi quando chegamos na piscina, pois o meu chefe tava lá.
Eu: Você está falando que o Germano?
Mari: Sim, ele é o meu amante, o cara que ta querendo que eu va morar com ele.
Eu: E por que não me falou dessa situação?
Mari: Vergonha.
Eu: Mas não faz sentido, ele ontem me contou que Alice?
Mari: Ela é só uma das garotas que ele paga para transar, e não foi ela que transou comigo, foi ele. Aquela parada do swing ele me avisou que se não fosse iria ter todas as fotos minhas dos últimos seis meses no seu email. Aceitei a proposta de irmos, a Alice transar com você me deixou puta também, não imaginei que você fosse comer o primeiro rabo de saia que desse mole para você.
Me mantive em silêncio sobre esse comentário.
Mari: Lá na casa de swing você não reparou, mas o Mano te drogou, seu whisky tava aduterado, não sei que droga ele usou, mas você depois de três doses parecia um vegetal andando, mas tinha ainda tinha lucides para no olhar.
Eu: E o Diego onde entra nesse plano?
Mari: Ele caiu de gaiato e eu resolvi que era melhor ele do que o mano, mas no meio da foda ele veio para cima e também me comeu.
Eu: Mas quando nos chegamos aqui a gente discutiu e transou.
Mari: Você apagou antes mesmo da gente sair de lá, Diego te deixou aqui na cama, eu deitei do seu lado, pensei que você ia dormir até hoje devido ao tanto que você tava drogado, porém eu tava cansada e dormir, quando acordei você tinha sumido, sem chave, carteira ou celular, achei que tinha alucinado, e saído sem rumo, estava aqui preocupada achando que algo de ruim tinha acontecido com você.
Aquela história era difícil de engolir, porem algumas delas tinham sentido, eu não sabia da ida dela para França, porém ainda tinha o fato dela ter me traído nos últimos seis meses. Agora fazia sentido a sensação de depressão que tive depois que acordei, meu coração acelerado e o fato de eu não ter conseguido fazer nada para parar aquela noite. Ouvi alguém bater na porta, resolvi ver que era, quando abri era Germano.
Mano: Graças a Deu...
Eu dei um soco bem no meio do rosto de germano, soquei forte, quando ele caiu eu parti para cima e continuei batendo, Alice estava perto saiu correndo para chamar alguém, porém o tempo que demoraram eu tinha desfigurado a cara de Mano, chamaram a policia e sorte sorriu, pois o sargento Braga novamente apareceu na minha vida.
Braga: Porra tenente, de novo?
Eu: Me desculpa, mas hoje eu tenho motivos.
Braga: E qual seria?
Eu: Esse cara me drogou ontem, e estuprou minha mulher.
Todos olharam em choque, Braga olhou o estrago na cara de Mano. Mari me olhou com cara de séria, porém eu disse.
Eu: Tenho provas que ele me drogou, só fazer um exame toxicológico em mim. Além do mais um funcionário do hotel também ta envolvido no estupro.
Eu tinha já metido os pés pelas mãos, feito a merda feder, porem não ia cair sozinho, Mano não conseguia abrir os olhos, gemia de dor e a fala estava afetada devido ao deslocamento do mandíbula. Braga olhou para mim e pediu reforços e fomos todos para a delegacia. Mari se recusou a fazer o exame de corpo delito e disse que o sexo com o funcionário foi consensual, porém admitiu que sofria ameaças de Mano, eu fiz o exame e deu positivo para substância desconhecida, o que uma rápida geral no quarto dele encontrou alguns frascos da droga, e como eram sintéticas e muita quantidade ele foi preso por tentativa de envenenamento, eu sabia que isso não era algo que ia manter ele preso, mas manteria ele ocupado por um tempo, pois não iria poder sair do país. Porém todo aquele transtorno tinha acabado e a minha surra nele ficou como legitima defesa.
Voltamos para BH, Mari foi despedida do emprego, pagaram todos os honorários além disso deram um cala boca bem gordo dizendo ser indenização por quebra de contrato, a gente se manteve na mesma casa, porém não nos falávamos, apenas o necessário, resolvi que iria vender aquele apartamento e aceitar uma transferência para o sul do estado, Mari iria para a França, ficaria dois anos fora, não assinamos o divorcio e assim nos separamos.
Continua...