Continuando…
Parte 5. Obsessão.
11 anos atrás:
O sorriso no rosto de Renato era radiante naquela manhã de Agosto. Acabara de saber que havia passado no vestibular de matemática da FGV, no Rio de Janeiro. Estava ansioso para encontrar os amigos Augusto e Andréa e contar as novidades. A vontade de Renato não era dividir uma conquista com as pessoas por quem tinha carinho, seu intuito verdadeiro era se vangloriar. Caminhou apressado pelo corredor da escola estadual de ensino médio. Aquele dia também marcava uma data especial, era o início do terceiro bimestre do ano letivo. Para um aluno do terceiro ano, era importante prestar atenção nesses últimos seis meses para não se complicar. Com a faculdade garantida, não podia relaxar nas notas e se transformar em um repetente.
No meio do corredor, seu tio, funcionário da secretaria da escola, chamou por ele. Renato, sempre dissimulado e atencioso, foi ao seu encontro. O tio disse:
- Preciso de um favor. Tem uma aluna nova começando hoje e eu preciso que você mostre a escola para ela.
Renato estava ansioso para contar a novidade aos amigos, mas não podia negar um favor ao tio, isso arranharia sua imagem de bom moço. Se resignou e o seguiu até a secretaria. Ao chegar, ficou deslumbrado com aquela linda morena. Sentiu aquele frio no estômago característico de quando a paixão toma conta do corpo. Ela era linda. Perfeita aos seus olhos. Considerava a amiga Andréa, a garota mais bonita da cidade, mas agora tinha sérias dúvidas quanto a isso. Aquela morena de seios pequenos, bunda redonda e avantajada, cabelos lisos e compridos e rosto angelical, era a garota mais linda que já havia visto em toda a sua vida. Ficou olhando para ela de queixo caído e sem conseguir dizer nada. Seu tio fez as apresentações:
- Renato, essa é a Sheila. Ela acabou de se mudar para a cidade com os avós.
E se virando para Sheila, disse:
- Meu sobrinho vai lhe mostrar o colégio e por sorte, vocês são da mesma classe. Se apressem, restam quinze minutos para o fim do intervalo.
Renato sempre fora um grande paquerador. Tinha seus casinhos com as jovens da cidade e estava sempre enrolado com uma ou outra garota. Era um negro muito bonito e muito disputado. Mas sempre existe alguém que chama mais a atenção das garotas. Esse alguém era Augusto, o melhor amigo, que para a sorte dele, desde que entrou na puberdade só tinha olhos para a Andréa. Namoravam desde sempre e isso ajudava Renato a ser o número um entre os solteiros. É claro que sempre conviveu com as perguntas sobre o amigo e sempre usava a sua proximidade para ajudar Andréa a mantê-lo na rédea curta. Não fazia isso por amizade, e sim para manter o status de rapaz mais desejado. Sabia que com Augusto na ativa, seus dias de alfa dominante da cidadezinha estariam contados.
Refeito da primeira impressão e do deslumbre, Renato voltou a ser ele mesmo. Sorridente, simpático, confiante e um tanto cafajeste. Mostrou toda a área interna a Sheila. Banheiros, refeitório, biblioteca, sala de informática… quando iam saindo para o pátio, o primeiro golpe do destino: alto, forte, bonito… Augusto estava encostado na pilastra de sustentação da marquise da cantina. Renato percebeu os olhos de Sheila brilhando ao olhar para o amigo. Pensou rápido e disse:
- Cadê Andréa, a sua namorada. - Deu uma forçada na palavra ao falar namorada.
Augusto olhou para ele sem entender nada, mas respondeu:
- Foi ao banheiro. Estou esperando a madame aqui.
Foi só então, que Augusto percebeu Sheila parada ao lado de Renato. Ele disse:
- Olá, moça! Augusto, prazer! Melhor amigo desse idiota ao seu lado.
Ela lhe estendeu a mão de forma cortês:
- Oi! Eu sou a Sheila. Muito prazer.
Caminhando em direção aos três, vinha Andréa. O ritual de apresentação e cumprimento foi repetido entre as duas. Andréa, sem perder tempo, saiu puxando Augusto pelo corredor de volta à sala de aula. Sheila acompanhou os dois com os olhinhos desejosos. Renato sentiu uma premonição estranha. Um arrepio gelado lhe subiu pela coluna. Não podia deixar Sheila e Augusto se aproximarem. Ele disse:
- Vem! Está quase na hora da aula. Precisamos ir. - Sheila o acompanhou.
Algumas semanas depois, após várias tentativas frustradas de Renato, tentando se aproximar de Sheila e de ver o jeito que ela estava sempre olhando para Augusto, ele decidiu que ia usar a única carta em sua manga, a amizade. Os dois estavam na quadra da cidade, sozinhos, brincando de chutar a bola um contra o gol defendido pelo outro, o famoso gol a gol, quando Renato pediu um tempo, pegou uma garrafa de água, dessas de refrigerante de dois litros que os dois haviam trazido e sentou no chão para descansar. Tomou um gole, respirou um pouco e entrou no assunto:
- Preciso da sua ajuda. Acho que estou gostando mais do que devia da Sheila.
Augusto o interrompeu:
- Quem é Sheila?
Renato, surpreso, estranhou:
- Tá de sacanagem? A morena nova que se mudou há algumas semanas. Porra! Você é lerdo mesmo.
Augusto deu risada:
- E como eu poderia ajudar? Só falei uma vez com a menina. Talvez Andréa seja melhor para isso do que eu.
Renato insistiu:
- É para isso que servem os amigos. Quem sabe se vocês se aproximassem dela e falassem bem de mim? Poderíamos sair os quatro juntos. O que acha?
Augusto, mesmo achando aquilo uma ideia idiota, prometeu tentar:
- Vou falar com a Andréa, mas não prometo nada.
O segundo golpe do destino: foi Renato quem iniciou a aproximação entre Augusto e Sheila.
Os encontros na praça central da cidade eram quase diários. Andréa no inglês, Augusto e Sheila se aproximando cada vez mais e Renato ao lado, impotente, vendo a admiração da morena, cada dia mais um pouco, sendo conquistada pelo amigo. Todo aquele sentimento de amizade que nutria por Augusto, começou a virar rancor. O golpe definitivo do destino foi o término dele com Andréa, e o passeio no mirante com Sheila. A amizade que aos poucos virou rancor, agora se transformava em ódio e inveja.
A única coisa boa nisso tudo é que em poucas semanas, Renato estaria de mudança para o Rio de Janeiro. Não precisaria mais conviver com aqueles dois. Jurou para si mesmo que só voltaria à cidade natal quando tivesse a chance de se vingar de Augusto.
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A impressora começou a apitar, trazendo Renato de volta ao presente. Ele ficou satisfeito com as fotos impressas. Com cuidado, guardou tudo em três envelopes de papel pardo. Sentou no sofá e conectou o celular no notebook. O arquivo foi melhorado digitalmente, editado de uma forma bem sacana e copiado para três pendrives. Terminou o serviço, desligou o notebook e também colocou um pendrive dentro de cada envelope. Colou as bordas e escreveu em cada um deles:
"A verdade sobre Sheila e Andréa."
Riu satisfeito consigo mesmo. As provas estavam prontas. Se o seu objetivo não fosse alcançado, o envelope seria entregue à família das duas e principalmente, para Augusto.
No corredor, em direção ao seu quarto, parou e ficou admirando Andréa nua em sua cama. Apesar do sexo maravilhoso que faziam, nunca houve sentimento. Era Sheila que nunca saiu dos seus pensamentos. Nem achava que era mais amor. Aquilo tinha se tornado uma obsessão, a única mulher que ele nunca conseguiu conquistar. Ele pensou: "nada como um dia após o outro. Chega de viver nas sombras, hora de agir."
Ele acordou bem disposto na manhã de segunda-feira. Desceu as escadas e começou a preparar uma vitamina com as frutas que encontrou na cozinha. Maçã, banana, abacate… apesar da mistura variada, o gosto estava ótimo, mesmo com a predominância do abacate. Bebeu no copo do liquidificador mesmo. Foi até a área da piscina e nadou por vinte minutos ininterruptos. Voltou ao quarto e tomou um banho caprichado. Se vestiu e voltou a usar máscara invisível de bom moço. Chegou na escola com tempo de sobra para uma pequena parada na sala dos professores. Um cafezinho com os colegas era um ritual sagrado naquela escola.
Lá estava ela, sonsa e dissimulada. Aquela cara inocente, púdica, não combinava com a devassa que estava sendo chupada por Andréa dois dias atrás na piscina. Ele pensou: "piranha safada. Você ainda vai gemer gostoso na rola desse negro. Me aguarde." Renato se aproximou:
- Bom dia! Que perfume bom. É você?
Primeiro Sheila se assustou, mas ao ver que era Renato, relaxou e sorriu. Tentou afastar o pensamento do que Augusto havia contado. Não podia ficar excitada faltando poucos minutos para a sua aula:
- Oi, amigo! Como você está? E Andréa? Já começou hoje na UBS?
Sheila, por incrível que pareça, não sentiu nada ao ver Renato. Imaginava que após Augusto ter contado o que presenciou, ficaria muito balançada ao encontrar com ele. Estranhou essa situação. Renato respondeu:
- Sim! Ela começa hoje. E eu estou bem.
O sinal tocou, anunciando o começo das aulas. Sheila levantou apressada, pegou sua bolsa e se despediu:
- Até o intervalo, amigo.
Renato também precisava começar a sua aula. Se levantou e foi cumprir suas obrigações. Durante os dois primeiros períodos, não parava de criar estratégias em sua mente para a aproximação com Sheila. Tentar seduzir? Deixar acontecer junto com Andréa? Chantagear?
Muitas opções e nenhuma escolha. Decidiu que primeiro ia tentar usar seus atributos de sempre: charme, carisma e lábia. Se isso não funcionasse, pensaria na próxima estratégia.
O intervalo chegou e Renato novamente foi ao encontro de Sheila na sala dos professores. Com a desculpa de não conhecer ninguém, novamente sentou ao seu lado. Ela, outra vez, sorriu de forma cortês. Renato começou seu jogo:
- O que aconteceu no sábado? Você e Andréa estavam tão próximas na piscina. Quando saí da sauna, você já tinha ido embora. Augusto nem voltou. - Renato falava com um sorriso maroto no rosto.
Sheila acusou o golpe. Pensou: "será que ele viu alguma coisa?". Tentou disfarçar:
- Não me senti bem. Achei melhor ir embora. Avisei Augusto e ele foi direto para casa.
Ela olhou atenciosa para Renato, buscando decifrar suas reações. Ele disse:
- Entendi! Andréa ficou triste por você ter saído tão de repente. Ela me disse que curtiu muito estar com você na piscina.
De novo, Sheila percebeu o duplo sentido. Mas dessa vez, curiosa, tentou ir mais fundo:
- Como assim, estar comigo na piscina?
Renato afrouxou a pressão:
- Estar junto, se divertindo. Que bobagem você pensou?
Sheila, inocente, respirou aliviada. Não estava entendendo bem as intenções dele. Renato voltou a confundí-la:
- Andréa disse também, que você adorou as bebidas. Ela é muito boa nisso, não é? Principalmente aquele estimulante que ela usa. Aquilo me dá um calor.
Sheila voltava a se preocupar outra vez, pensando: "que raios de estimulante era aquele que me deixou tão safada e entregue?" Mas agora não queria mais continuar aquela conversa. Não estava entendendo as intenções de Renato e nem onde ele queria chegar com aquela conversa estranha. Se levantou e deu a desculpa de que precisava ir ao banheiro antes do intervalo terminar. Saiu apressada e preocupada.
Renato estava se divertindo em aterrorizá-la. Decidiu que faria isso a semana toda e depois daria o golpe final. Terminou aquela manhã satisfeito consigo mesmo e no que conseguiu causar em Sheila. No fim daquela manhã de aulas, ela estava visivelmente estressada na entrada da escola. Lhe lançou um olhar duro ao entrar no carro do marido. Renato ainda deu uma piscadela para ela antes de seguir o seu rumo.
Augusto percebeu o semblante preocupado da esposa:
- Que bicho te mordeu?
Sheila não queria conversa:
- Nada não. Dia estressante, só isso. Me leva para casa.
Sheila passou o resto do dia de cara emburrada. Por sorte, Augusto recebeu um chamado e, em menos de uma hora, já estava indo trabalhar. Passou o dia trabalhando e só chegou em casa no final da noite. Sheila já estava dormindo e não eram nem vinte e uma horas ainda. Achou que ela estava naqueles dias e deixou para lá. Pensou: "melhor não cutucar onça com vara curta." Esquentou o prato feito que ela deixou no forno, tomou um banho, assistiu um pouco de televisão e foi deitar também. Antes de virar para o seu lado, deu um beijo leve e carinhoso nos lábios da esposa e disse baixinho:
- Eu te amo!
Sheila, fingindo dormir, sorriu. Augusto nem percebeu, virou para o seu canto e pelo cansaço, dormiu poucos minutos depois. Ao sentir que o marido estava mesmo apagado, se levantou. Caminhou até a cozinha e tomou, vagarosamente, um pouco de água. Se sentia mal. O remorso e a culpa invadiam o seu peito. Não resistiu e começou a chorar. Augusto não merecia nada daquilo. Ainda mais agora que tinha a certeza que Renato estava brincando com ela. Lembrou das palavras de Andréa: "estranho, né? Você está casada com o meu ex e eu namorando o cara que era louco por você." Pensou também no dia estranho que teve: "Quais são as intenções de Renato?" As dúvidas começaram a assombrar Sheila.
Ficou sentada no sofá da sala por quase duas horas pensando no que fazer: "Deixar rolar? Confrontar Renato? Falar com Andréa?" Estava muito confusa e chateada. Foi apenas um deslize. Ok! Um grande deslize. Dois, na verdade. Será que Renato viu o que aconteceu entre ela e Andréa na piscina? Era hora de abrir o jogo com o marido e arriscar perdê-lo? Não imaginava viver em um mundo em que Augusto não estivesse ao seu lado. A atração por Andréa e a vontade de repetir aquela insanidade eram mais fortes do que o seu amor por Augusto? Não! Disso ela tinha certeza. Augusto era o seu único e verdadeiro amor. Só tinha uma coisa a fazer: uma conversa franca com Andréa e Renato e o fim de toda e qualquer aproximação, mesmo que precisasse ser honesta com o marido e arriscar o casamento. Não estava mais aguentando levar as mentiras adiante. Com Renato ciente, o risco era muito grande.
Estava exausta mentalmente e resolveu voltar para a cama. Apagou em instantes. Teve sonhos estranhos: Renato e Andréa chegavam em sua casa e mostravam um vídeo feito na piscina no sábado. Andréa a chupando e rindo para a câmera. Depois, Renato chegava e arrancava o seu biquíni, ela tentava resistir e mesmo assim, ele a pegava a força. Aquele pesadelo foi demais. Acordou gritando de pavor e toda suada. Augusto, assustado, socorreu a esposa. Após acalmá-la, tentou conversar:
- O que aconteceu, amor? Você está há mais de uma hora se revirando e se debatendo na cama.
Sheila não teve coragem:
- Apenas um sonho ruim. Me desculpa por atrapalhar o seu sono.
Augusto acariciou os seus cabelos, se deitou e trouxe a esposa para deitar a cabeça em seu peito. Com os carinhos e a proteção dele, ela votou a dormir.
A semana de aulas foi um verdadeiro inferno para ela. Enquanto ela não criava coragem para ser honesta com o marido, Renato não perdia nenhuma oportunidade de constrangê-la. Seus ataques eram diretos e intermitentes. Na sexta, durante o intervalo, ela resolveu contra-atacar, pegou Renato pelos braços e o puxou para uma área externa da escola mais reservada. Se não o confrontasse de uma vez, seria refém daquele jogo doentio indefinidamente:
- Qual é o seu problema? Tá, eu já entendi que você sabe o que aconteceu. Mas qual é o seu objetivo? Infernizar a minha vida? Destruir o meu casamento?
Renato, completamente calmo e sorridente, disse:
- Eu quero você.
Continua….
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