[...]
Fiquei em silêncio porque realmente eu não sabia o que falar e qualquer resposta poderia ofendê-la. Ela própria quebrou o silêncio:
- Você quer ficar com a Denise, Mark?
- Não, Nanda. Eu só quero ficar comigo mesmo.
- Porque ela quer ficar com você. Tá na cara isso…
- Quando um não quer, dois não ficam.
- Verdade! - Respondeu e suspirou fundo: - Eu acho que o Edinho também quer ficar comigo.
- E você, Nanda? Quer ficar com ele? - Perguntei já certo da resposta igualmente negativa.
- Eu... - Ela suspirou fundo e, olhando para lugar nenhum, disse: - Sinceramente? Eu acho que sim…
[...]
Quando minhas filhas me contaram da aproximação que a Denise tentou com elas, mesmo que sutilmente, meu sangue ferveu e eu teria lhe dado uma surra se ela estivesse por perto. Ainda bem que o Mark teve o bom senso de protegê-las dessa aproximação, pelo menos naquele momento, para não confundir ainda mais as cabecinhas delas. Até fiquei feliz com ele e quando ele disse que ninguém iria me substituir como mãe delas, entendi ali uma indireta para nossa volta.
Depois ao me convidar para dormir em sua kitnet com as meninas, fiquei ainda mais animada. Entretanto, quando entrei naquele cubículo me deprimi terrivelmente porque ele não merecia em nenhuma hipótese estar num lugarzinho minúsculo daquele. Ele trabalhou a vida toda para nos dar uma boa condição de vida e vê-lo ali, naquelas condições, acabou comigo. Por mais que o Mark fosse uma pessoa simples, criado na roça mesmo, e dissesse se satisfazer com pouco, eu sabia que estar ali não o fazia feliz. Vê-lo ali me doeu a alma e me fez questionar a mim mesma se era certo insistir em um relacionamento para vê-lo definhar daquela forma.
Eu queria vê-lo voar mais e mais alto, e eu sabia que ele podia, mas ali eu temi pela primeira vez que ele tivesse perdido suas asas por minha culpa. A Denise talvez fosse a resposta para ele voltar a alçar voos mais altos. Talvez ela pudesse conquistá-lo e convencê-lo a se mudar para São Paulo, a trabalhar no escritório do pai e, quem sabe, até assumi-lo junto dela um dia. Ela parecia uma mulher decidida e realmente apaixonada por ele. Ela talvez pudesse ser uma companhia melhor que eu para ele naquele momento:
- Você quer ficar com a Denise, Mark? - Perguntei.
- Não, Nanda. Eu só quero ficar comigo mesmo.
- Porque ela quer ficar com você. Tá na cara isso…
- Quando um não quer, dois não ficam.
Isso era verdade, mas ele poderia aprender e eu poderia ajudá-la, inclusive. Talvez com uma mãozinha minha, ele pudesse decidir de vez nossa situação e dar um sentido a sua vida. A minha, eu poderia trabalhar depois, até mesmo quem sabe com o Edinho, porque aparentemente ele ainda me queria. Aliás, seu reaparecimento veio bem a calhar e eu poderia tentar usá-lo para me separar do Mark. Eu só não sabia se o que o Edinho sentia era amor, paixão ou uma obsessão por nunca ter me comido. Só com o tempo eu conseguiria descobrir isso, mas eu até estava disposta se, com isso, conseguisse colocar o Mark de volta aos trilhos do autocrescimento:
- Acho que eu não entendi, Nanda! - Mark me falou depois que lhe disse que eu podia querer ficar com o Edinho.
- Mark, vamos ser práticos! - Decidi lhe dar um fora, o quarto em nossa história: - Não é assim que você gosta? Objetividade, não é? Então… Se a gente não vai voltar, precisamos tocar a vida: você fica com a Denise e eu fico com o Edinho. Eles dizem nos amar e a gente pode aprender a gostar deles também.
- Você se encontrou com ele uma única vez depois de, sei lá, dez, quinze anos, e acha que ele te ama? De onde você tirou isso?
- Uma mulher sabe dessas coisas…
- É mesmo!? Então responde pra mim: eu ainda te amo?
- Ama! Ama muito. - Respondi triste: - Só que está com medo de confiar em mim e de eu te decepcionar novamente.
Acertei em cheio! Ele se calou como se alguém tivesse lhe dado um soco na boca do estômago e baixou a cabeça. Eu consegui deixá-lo sem palavras. Logo, eu, uma administradora, deixei ele, um advogado, sem palavras. Teria sido hilário se não fosse num momento quase trágico:
- Por acaso, você tem se encontrado com o Edson, Nanda? - Ele me perguntou, inconformado, quase se alterando.
- Não. - Respondi, virando meu rosto para não encará-lo.
- Nanda, responde olhando para mim!
Preferi me calar e aquele silêncio valeu mais que uma resposta mal dada, tanto que me atingiu como uma faca em brasa, imagina nele, então. Eu não sabia mais o que falar que não o magoasse:
- Nanda, fala comigo. Por favor. - Me pediu.
- Dorme, Mark.
- Dormir? De que maneira?
Me levantei, peguei meu celular e pedi um motorista de aplicativo, falando em seguida:
- Eu vou pra casa, Mark. Amanhã, diga para as meninas que eu tive um imprevisto e precisei sair mais cedo.
- Nanda, conversa comigo. Nós estamos chegando quase num ponto sem volta. Se você teve ou tem alguma coisa com esse Edinho, me conta. Não esconde nada de mim de novo, por favor.
- Não tenho nada com ele, mas…
- Ótimo! - Me interrompeu: - Eu acredito em você. Só não entendi o porquê de você falar que acha que quer ficar com ele. Por que isso? Me explica.
Nesse momento, um aviso soou no meu celular, indicado que o motorista de aplicativo havia chegado e eu mostrei para ele, tentando encerrar nossa conversa:
- Meu carro chegou, Mark. A gente conversa com calma outro dia. - Disse e me virei para a porta, mas não consegui sair porque ele me segurou pelo braço.
- Eu nunca terminei com você, nem fiquei com outra desde que saí de casa. - Me falou, sem que eu conseguisse encará-lo: - E olha que já tive chance. Mas se você sair agora, eu perco as esperanças de vez sobre a gente.
- Meu carro já chegou… - Falei sem a menor convicção.
- Eu vou lá e pago ele! - Disse e me pediu novamente: - Fica e conversa comigo.
Me virei para ele e, por mais que eu quisesse libertá-lo de mim, eu não conseguia. Preferi não encará-lo ou amoleceria. Eu sabia que meus olhos deviam estar cheios de lágrimas e me denunciariam:
- Amanhã, por favor… - Pedi.
- Agora! - Insistiu.
Só me voltei rapidamente para tocar em seu rosto e lhe dar um beijo na bochecha. Então, me virei novamente e saí com o coração em pedaços. Já estava feito. Fui até o carro que já me esperava, mas, antes de entrar, ouvi meu nome e olhei para a sacada do prédio e ele me olhava assustado:
- Nanda!?... - Falou, outra vez.
O encarei triste, entrei no carro e saímos em seguida. Já havíamos percorrido uns dois quarteirões e eu me arrependi, pedindo que voltasse. Por mais que eu não me sentisse à altura de fazer meu marido feliz, não poderia deixar o homem da minha vida naquele estado. Me sentia uma covarde. Acho que, na verdade, também não queria me separar dele, só não sabia como conduzir aquela situação para tirá-lo daquele cubículo. Eu tinha medo que ele caísse numa depressão, ou algo do tipo. Assim que o carro estacionou, o paguei e desci. Olhei para a sacada e nenhum sinal dele. Subi até sua kitnet e bati duas vezes na porta. Ele me atendeu, enxugando o rosto, parecendo ter chorado, e tive certeza que ele me amava e eu o havia feito sofrer novamente. Não disse nada e o abracei, soluçando minha culpa interna. Ele me acolheu em seus braços e, por um instante, ainda solucei em seu peito. Depois ele levantou meu rosto e me deu um beijo que me amoleceu inteirinha:
- Desculpa… - Falei, baixinho, envergonhada de mim mesma.
- Entra! - Ele já esboçava um sorriso para mim: - Acho que entendi tudo isso, palhaça!
- Como é que é!?
Sem dizer mais nada, me puxou para dentro e riu:
- Está rindo de quê? - Perguntei, surpresa.
- Acha mesmo que não entendi sua “tática torta”, Nanda!? - Respondeu meio chateado: - Sou igual aqueles personagens de animes japoneses: o mesmo ataque não funciona em mim duas vezes.
- Do que você está falando, Mark?
- Já entendi tudo! Você está tentando terminar nosso casamento por algum motivo que eu ainda não entendi. Na sua cabecinha bagunçada, você acha que será melhor eu recomeçar, com a Denise até, que ficar com você na situação em que nos encontramos. - Me encarou, sorrindo, e segurando meu rosto para nossos olhos não se desviarem: - Acertei?
- Ah, Mark…
- Eu sabia! - Ele falou, me abraçando: - Você quase nunca falava desse seu ex. Estranhei na hora que você falou que queria ficar com ele…
- Ah, poxa… Olha onde você tá morando, Mor. Isso me corta o coração… - Comecei a choramingar e ele me abraçou forte.
- Tá bom. Já entendi. - Só vou te falar uma coisa: você está errando de novo, como errou naquele episódio do Brunão. Está criando uma nova mentira para se divorciar de mim. Não é assim que se resolvem os problemas. Se quiser divorciar-se, é só falar que a gente senta e resolve; mas se quiser ficar comigo, seja honesta sempre!
- Eu sei que errei! - Respondi e enxuguei uma lágrima: - Mas prefiro ver você bem, mesmo que seja com a loira, do que definhando aqui.
- Não estou definhando, Nanda. É só temporário.
- Não! Não aceito isso. Você não merece…
- Tá bom, então.
- “Tá bom”, o quê? - Perguntei, sem entender.
- Só tem duas formas da gente resolver isso: ou a gente se divorcia de vez… - Uma lágrima desceu por meu rosto: - Ou eu volto pra casa.
Agora foi minha vez de encará-lo, surpresa:
- Se você quiser, amanhã eu volto pra casa. - Disse e me e deu um sorriso tímido, meio sem jeito mesmo: - Mas quero deixar claro que não estamos “voltando” exatamente. Acho que a gente ainda precisa conversar melhor antes de…
Antes que ele terminasse de falar, eu o calei com um beijo e chorei novamente com a boca ainda colada na dele, mas dessa vez foi de felicidade. Eu havia ganhado a chance de ter meu marido de volta e faria de tudo para não perdê-la. Se antes eu havia sido uma boa esposa, agora eu seria a melhor. Quis acordar as meninas para contar a novidade, mas ele me segurou em seu colo e não me deixou ir:
- A gente volta agora! Faz uma pizza, uma festa, deixa elas acordadas até de madrugada, mas vamos pra casa. Por favor… - Pedi enquanto o beijava.
- Não. Calma, mulher! Eu vou voltar... Calma! - Disse, me segurando em seu colo: - Você entendeu que nós não estamos voltando, não entendeu?
- Entendi! Eu vou respeitar seu tempo. - Disse, roubando outro beijo dele: - Mas porque não podemos ir para casa hoje?
- Amanhã a gente toma um café da manhã na padaria aqui do lado e depois organizamos minhas coisas com calma.
- Então, tá, né!? É até bom que a gente pode estrear as funcionalidades da sua kitnet. - Falei, o encarando com um sorriso que ele conhecia bem.
- Você não tem jeito, né!? A gente não voltou, Nanda… - Riu baixinho e me encarou em seguida: - Mas e as meninas?
- Já devem estar no segundo ou terceiro sono.
Fomos dar uma olhada nelas e elas ronronavam. Fechamos a porta e nos deitamos no sofá-cama. Por mais que ele dissesse que não havíamos voltado, nossos corpos discordavam, pois começaram a se enroscar. Em questão de segundos estávamos nus e, pelo fato das meninas estarem no quarto ao lado, não dava para caprichar muito nas preliminares, por isso partimos pros “finalmentes”. Que saudade do meu colchão! Quando ele começou a me penetrar, aquele maldito sofá-cama começou um “nhéc-nhéc” que brocharia até mesmo um ator pornô com overdose de Viagra. Não era um barulhinho: era quase um grito de guerra! Não tinha como continuar ali sem acordar as meninas, talvez até mesmo os vizinhos.
Mark, então, se levantou e trancou a porta do quarto delas à chave e jogou um edredom no chão para continuarmos. Com um pouco mais de segurança e silêncio ele me penetrou novamente e fundo, partindo para estocadas fortes e constantes. Que delícia de pegada! Quando eu estava quase gozando, aquele cachorro parou e desceu sem aviso para minha xaninha, abocanhando o que podia de uma vez e introduzindo não sei quantos dedos, fazendo uma pressão que me deixou louca. Acabei gozando em sua boca, mas ele não quis me dar trégua, sugando meu clítoris como se fosse a última fonte de água do mundo. Tive que tirá-lo a tapas porque eu estava quase perdendo o controle e começaria a gritar a qualquer momento:
- Mark! Não faz issoooooo… - Falei no final, enquanto ele me olhava, sorrindo e pressionava uma vez mais o interior da minha grutinha.
Voltou para cima e me penetrou outra vez, estocando gostoso por não sei quanto tempo. Quando eu disse que iria gozar novamente, outra vez ele parou e me virou de bruços, roçando seu pau na minha bunda para depois encaixá-lo em minha xaninha. E assim ficou bombando gostoso, em silêncio, enquanto me beijava o pescoço, nuca e orelhas, causando-me mais e mais arrepios:
- Sua gostosa, safada! Não consigo ficar longe dessa bocetinha, nem que eu queira… - Me falou ao pé do ouvido.
- Então volta para mim de vez. Ai! Eu te amo demais e… Uiiiii! Eu juro que nunca mais vou te fazer sofrer novamente. Juro! Juro!
- Jura?
- Juro.
- E como vai fazer isso?
- Dando tudo o que você merece! - Falei.
Nesse momento dei uma rebolada forte e o desengatei de mim. Por sobre meus ombros, vi que ele não entendeu o motivo. Então, abri as bandas da minha bunda, e, com os indicadores bem próximos de meu cuzinho, indiquei um caminho que sabia que ele gostava de usar:
- Começa aqui… - Falei, sem conseguir vê-lo por sobre meus ombros.
Não precisei convidá-lo duas vezes. Ele encostou a cabeça de seu pau em meu cu e forçou a entrada. Estava muito bem lubrificado e, após uma normal dificuldade inicial, conseguiu romper minha resistência, deslizando carne adentro. Eu gemi, afogando o som no edredom e ele parou. Um tempo depois iniciou um “vai-e-vem” curtinho e pouco depois estava todo dentro de mim. Eu não costumo gozar com sexo anal, na verdade nunca curti muito mesmo, mas aquele estava muito gostoso e ficou ainda melhor quando ele pegou minha mão e começamos juntos a tocar meu clítoris. Acho que pela primeira vez eu estava curtindo de verdade e tive a impressão de ter tomado uma espécie de “choquinho” que me fez tremer toda, mas de uma forma diferente de tudo que eu já havia sentido antes. Pouco depois, senti seu pau endurecer ainda mais, parecia até maior, e na sequência vieram seus espasmos com seu gozo me inundando. Ele desmontou em cima de mim, mas seu peso não me incomodava em nada e me permiti ser coberta por aquele homem.
Senti seu pau amolecendo dentro de mim um tempo depois e escapar espontaneamente de meu cu. Por mim, ele poderia ter passado a noite ali, mas como ele mesmo dizia, “o brinquedinho do homem é de montar, e desmonta depois de um tempo, já o da mulher é de abrir e pode ficar assim o dia todo”. Até tinha um fundo de verdade…
Nos limpamos, vestimos e deitamos no “nhééééc” do sofá-cama. Dormimos agarradinhos e satisfeitos com a companhia um do outro. No outro dia de manhã, eu acordei antes deles e fiquei com medo que tudo fosse coisa de momento, que ele pudesse não querer voltar. O acordei com carinhos e ele os recebeu com um sorriso, dando-me um beijo depois:
- Mor, você vai mesmo voltar? - A velha insegurança feminina me escapou língua afora.
- Uai! Se não quiser, eu fico.
Respondi com um beijo mais que apaixonado e ficamos nos curtindo um pouco. Pouco depois, alguém tentou abrir a porta do quarto e ele se levantou para destrancá-la. Nossa caçula, já havia despertado e pulou no sofá-cama comigo, fazendo-o gritar um alto “nhéééc!”. Rimos e Mark foi despertar Maryeva que dormia atravessada na cama. Mark pediu que se arrumassem para tomarmos café e disse que infelizmente todas precisariam trabalhar com ele naquele sábado de manhã. Elas ficaram sem entender e eu gritei:
- Papai vai voltar pra casa!
Elas começaram a sorrir, rir, fazer algazarra e pular na cama de felicidade. Eu podia ter errado e feito ele sofrer, mas aqueles momentos em família, os simples sorrisos de nossas filhas, fazia o rosto dele brilhar de felicidade. Não me aguentei e fui pular na cama junto delas enquanto ele ria encostado no batente da porta. Depois o puxamos para a cama e o enchemos de beijos. O capricorniano turrão afinal havia se rendido a um momento de brincadeiras! Após isso, enquanto nos vestíamos, ouvi seu celular tocar e vi que Denise tentava iniciar uma chamada de vídeo, isso às nove horas da manhã de um domingo. Ele estava no banheiro e fiz questão de atendê-la:
- Oi, Denise. - Falei, sorrindo.
- Nanda!? Acho que liguei errado… - Tentou me despistar.
- Não! Se você ligou para o Mark, então ligou para o homem certo, mas infelizmente no momento errado da vida dele. Ainda estamos muito juntos…
- Ah, tá… Fico feliz por vocês. - Disse, sem me convencer: - É que ele havia dito que me daria carona para eu buscar um carro reserva. O meu deu problema ontem…
- Se ele falou, ele irá, Denise. Vou chamá-lo. - Disse e coloquei o celular na mesa, indo chamá-lo.
- Mor, Denise numa chamada de vídeo! - Falei à porta do banheiro.
Pouco depois ele saiu com cara de surpresa e me encarou curioso, talvez esperando uma ceninha de ciúmes, mas eu apenas lhe dei um selinho caprichado e ele sorriu, indo em direção ao celular. Lá vi que trocou algumas palavras com ela, confirmando que iria levá-la até a cidade vizinha para que pudesse buscar seu carro, desligando após isso. Voltou meio sem jeito para perto de mim e decidi que era hora de mostrar que eu seria uma nova mulher em sua vida:
- Vai tranquilo, Mor. Eu vou ficar aqui com as meninas arrumando suas coisas. - Falei.
Vi que ele se continuava surpreso e sorriu para mim satisfeito com minha resposta:
- Antes vamos tomar um café com as meninas.
Descemos os quatro para uma padaria próxima e tomamos um delicioso café da manhã. Elas, claro, aproveitaram para experimentar tudo o que normalmente não tinham em casa. Saciados, voltamos para o apartamento:
- Vou levar a Denise e volto rapidinho, Nanda.
- Não tão rapidinho, ok? Nada de correria na rodovia.
Nos beijamos e fiquei na sacada vendo ele ir em direção ao nosso carro:
- Mor!? - Gritei da sacada, fazendo ele se voltar para mim: - Eu te amo, viu?
Ele sorriu e me jogou um beijo com as mãos. “Também te amo, sua boba!”, me falou. Enfim, eu sentia que estava no caminho certo para salvar nosso casamento.
[...]
Quando a Nanda saiu pela porta de minha kitnet, deixando-me com nossas meninas para trás, eu pensei que nosso casamento tinha acabado de vez. Apesar de tê-la ameaçado se saísse pela porta, ainda fui até a sacada para tentar uma última vez convencê-la a ficar. A chamei e ela simplesmente me ignorou, entrando no carro e partindo. Apesar de estar machucado com sua mentira no rodeio, no fundo eu ainda tinha esperanças de que a gente conseguisse se entender, mas quando ela saiu, essa esperança acabou e uma dor me atingiu em cheio o peito, fazendo transbordar nos olhos lágrimas que não sabia se de tristeza ou ódio por ela ter feito tudo aquilo.
Me sentei no sofá-cama e fiquei tentando entender como havíamos chegado naquela situação. Pouco depois, ouvi dois toques na porta da kitnet e quando olhei pelo olho mágico me surpreendi com a Nanda de pé do lado de fora. Abri a porta e ela se jogou em meus braços. A recebi com prazer e isso me fez um bem imenso. Acho que a ela também, pois apesar de estar soluçando, notei que se aninhou e se acalmou em pouco tempo.
Depois que entendi que tudo não tinha passado de uma nova tentativa de tentar acabar com nosso casamento como no caso do Brunão, eu tinha duas soluções possíveis: terminar de vez nosso casamento por causa de sua mentira e agora de sua artimanha ou simplesmente entender a angústia que ela vivia naquele momento e relevar com base em tudo o que já havia aprendido com o Dr. Galeano. Preferi a segunda hipótese, principalmente depois que ela me explicou não estar se conformando com minha condição atual que, apesar de não ser ruim, estava longe de ser igual à que tínhamos em nossa casa.
Voltar para casa, sem voltar para ela, não parecia ser uma solução lógica. Mesmo assim propus e ela aceitou sem titubear. Por mais que ainda não fosse a solução ideal para nós dois, seria bom para as meninas terem os pais sob o mesmo teto. Acho que ela não entendeu bem o conceito de “não voltar”, porque ela praticamente me comeu naquela noite. Claro que eu também não recusei, nem sei se conseguiria, porque essa danada sabe realmente mexer comigo.
Hoje de manhã, com a ligação da Denise, realmente me surpreendi com a forma como a Nanda a tratou, sem crises de ciúme ou insegurança. Como eu gostaria que isso fosse uma rotina em nossa vida. Depois do café com elas, me despedi e fui cumprir a promessa feita à Denise. Em minutos cheguei ao seu hotel e ela já me esperava na porta. Entrou em meu carro e partimos rumo a cidade vizinha para ela receber seu carro reserva. Ela não se conteve e a maldita curiosidade feminina a fez me perguntar se eu havia reatado com a Nanda:
- Não exatamente, Denise, mas decidi voltar para casa. Pelo bem das meninas…
- Poxa, Mark… Eu pensei que fosse ter uma chance contigo agora.
- Denise, vivemos vidas muito distantes. Dificilmente daria certo pra gente…
- Eu poderia mudar pra cá, ou você pra lá, não sei…
- Por favor, não faça isso com você. Sua vida já está toda estruturada em São Paulo. Você logo encontrará alguém que te faça feliz.
Ela se calou e, embora tenha sido contrariada, não demonstrou ter ficado brava, mas talvez ciente de que nossa distância realmente dificultava uma relação. Nossa viagem durou aproximadamente uma hora e ela pouco conversou comigo no trajeto. Aguardei a liberação de seu carro na locadora de veículos e depois de tudo providenciado, ela veio se despedir de mim:
- Bem… Eu vou indo então, Mark.
- Faça uma boa viagem, Denise. Foi um prazer te rever.
- Poderia ter sido muito mais prazeroso, não poderia? - Tentou me seduzir.
- Quem sabe um dia a gente não brinca novamente, não é!? - Sorri de volta.
Ela sorriu e me abraçou. Depois me encarou e me deu um beijo na boca que não pude recusar, afinal aquela mulher era linda, inteligente e muito sedutora, realmente apaixonante. Vi quando entrou em seu carro e partiu. Fiz o mesmo e depois de aproximadamente uma hora, cheguei na minha kitnet. Nanda e as meninas já haviam organizado toda a minha tralha e papeavam felizes, fazendo planos sobre o que iriam preparar para o meu almoço de boas-vindas. Me receberam com sorrisos e me ajudaram a carregar toda a mudança para o carro. Voltamos para casa em meio a várias brincadeiras.
Em casa, as meninas foram carregando suas malas do final de semana para seus respectivos quartos e Nanda me ajudou a trazer algumas das minhas, levando-se para o quarto de hóspedes, como eu havia pedido na noite anterior. Eu parei na porta do quarto e a fiquei observando, enquanto as depositava no chão, cantarolando alguma canção que não consegui reconhecer:
- Vamos deixando tudo por aqui que depois eu organizo no guarda-roupas. - Me falou.
Eu ainda a encarava quando ela disse isso, mas, ao contrário de a seguir, peguei o rumo da nossa suíte, sendo acompanhado por ela:
- Mor?... - Me perguntou, com um sorriso no rosto, que também transitava entre a dúvida e a surpresa.
- Acho que a gente pode tentar novamente, mas sem mentiras ou omissões, ok? - Falei, colocando algumas bagagens no chão: - Se você me quiser, é claro…
Seus olhos se encheram de lágrimas e ela correu para me abraçar:
- Estou te dando um voto de confiança! - Insisti: - Tem alguma coisa que você esqueceu de me falar ou alguma mentira? Qualquer coisa…
- Não! Não tem. Eu juro que não tem. - Me beijou e continuou: Obrigada, Mor. Obrigada, obrigada, obrigada. Você não vai se arrepender.
Entregamo-nos a um beijo e logo Miriam chegou com uma “necessaire”, acompanhada da Maryeva com outra mala:
- Ecaaa!! - Gritaram quase ao mesmo tempo, enquanto sorriam para nós.
Outra lágrima desceu pela face da Nanda, mas essa eu fiz questão de secar:
- Para de chorar! Por favor.
- Desculpa. - Falou e se dirigiu às meninas: - E aí!? O que vamos fazer de gostoso para o almoço?
Antes que pudessem responder, propus de sairmos para comer em algum restaurante e elas toparam um semi-rodízio de um tio da Nanda. Combinados, descemos o restante das malas e elas, mulheres, foram se produzir para o restaurante. Lá fomos nós e nos fartamos. Quase na hora da saída, recebo uma mensagem no celular de um número desconhecido:
Ele - "Oi, corno!”
Olhei na mesma hora para a Nanda e ela pressentiu que algo estava errado:
- O que foi, Mor? - Me perguntou, preocupada.
Eu continuava a encarando e, “gato escaldado” que eu ainda estava pelos últimos acontecimentos, preferi sair pela tangente:
- Nada, Nanda. Só um cliente sem noção. Só isso…
Voltamos para casa e meu silêncio começou a incomodar a Nanda. Ela insistiu mais umas duas vezes e eu continuei sem lhe dar maiores informações. Eu queria confiar nela, mas quem mente uma vez pode mentir duas. Fingi o meu melhor e ela se acalmou. Num momento em que consegui ficar só, retornei aquela mensagem com um simples:
Eu - “Como assim ‘corno’?”
Depois de um tempo, recebi outra:
Ele - “Quem avisa, amigo é!”.
Insisti e enviei outra:
Eu - “Tem alguma prova?”
Ele - “No momento certo.”
Insisti outra vez:
Eu - “Um ‘amigo’ não deixa o outro ansioso.”
Dessa vez não houve retorno e ele se silenciou. O número também era internacional, mas diferente do anterior que eu havia bloqueado tempos atrás. Eu poderia contar para a Nanda, mas se ela realmente estivesse me traindo, passaria a tomar cuidado para evitar um flagrante. Então, preferi me calar e ver onde aquilo poderia descambar. Nesse e nos dias seguintes, ela foi mais que uma esposa, foi realmente o sonho de qualquer homem: prestativa, amiga, mãe, amante. Não sabia o que fazer para me agradar e isso já estava até me incomodando, porque perfeição demais soa artificial e pode, na verdade, querer esconder algum defeito. Dias se seguiram sem novas mensagens, embora eu agora tenha tentado novo contato. Comecei a pensar se tratar de algum trote e deixei para lá, mas não o bloqueei como da primeira vez.
Da mesma forma como surgiu um boato relâmpago sobre minha separação e minha nova companheira na cidade, a Denise, com diversas variações da fofoca quase sempre me colocando como o traidor da história, surgiu um novo de que havíamos reatado. Aliás, nossa vida parecia ter entrado nos eixos e o sexo era fora do comum. Transávamos quase toda noite e algumas vezes durante o dia durante meu horário de trabalho que eu aproveitava para dar uma fugida ou ela aparecia de surpresa e me raptava para fins libidinosos.
Os dias continuavam passando e Nanda começou a se preparar para a parte virtual do curso de reciclagem que começaria na semana seguinte. Houve um reajuste da grade curricular por falta de formação de sala e ela foi transferida para um curso mais demorado e completo: esse novo duraria três meses e ela teria que fazer algumas aulas e avaliações mensais. A vantagem é que estes créditos estudantis poderiam ser abatidos numa pós, caso ela quisesse cursar posteriormente. Ela estava radiante com a possibilidade de voltar a estudar e depois trabalhar, e isso me animava, porque a alegria dela era contagiante. Reorganizei algumas tarefas domésticas para aliviar sua situação na casa e as meninas passaram a me ajudar a ajudá-la. Tudo parecia perfeito, até demais.
Na semana seguinte, recebemos a notícia pela Bia que o casamento não seria mais realizado. Foi um baque! A filha da puta fez suspense por um bom tempo até nos contar que estava tudo bem e que aquilo era apenas para o Bernardo se recuperar melhor com a fisioterapia e entrar andando sem muletas na igreja.
Num dia à noite, quando eu já estava deitado, ela se deitou meio calada e ficou esfregando uma mão na outra, como que procurando uma forma de me contar alguma coisa. Aquilo não me agradou e pensei: “Será que essa filha da mãe está me escondendo alguma coisa novamente?”. A encarei e fui direto:
- Fala, Nanda. Eu te pedi para ser honesta comigo.
- Mor, o Edinho entrou em contato comigo novamente… - Falou, constrangida.
- Quando? - Acabei me alterando um pouco: - Vocês estão conversando pelas minhas costas?
- Não! Foi hoje que ele me enviou uma mensagem e acabamos conversando um pouco. - Disse e pegou seu celular: - Quero que você leia. Não quero te esconder nada. Só não quero que se chateie.
- Só quero honestidade, Nanda. Quero poder confiar em você como era antes…
- Então, você não confia? - Me interrompeu, surpresa.
- Desculpa, mas ainda não como antes. Eu estou me esforçando, mas… - Fiquei com medo de continuar e acabar ofendendo-a.
Ela entendeu minha situação e me deu um beijo no rosto. Aliás, ela me conhecia muito bem e sabia que eu ainda levaria um tempo para perdoá-la completamente e confiar, talvez mais tempo ainda:
- Tá tudo bem. Só por você estar aqui me dando essa chance, já vale todo o seu esforço. Eu vou te conquistar de novo. Você vai ver! - Disse e me passou seu celular na conversa que manteve com o Edinho.
Não havia nada demais. Apenas troca de cumprimentos, amenidades, algumas indiretas por parte dele e um novo convite para que ela se hospedasse em sua casa que ela foi direta e categórica em negar, inclusive, dizendo que nós havíamos resolvido nossas diferenças e estávamos vivendo uma verdadeira segunda lua de mel. Ainda assim ele não se deu por vencido e dizia querer, pelo menos, ter a chance de jantar com ela um dia apenas para conversar como bons amigos:
- Por que você ficou receosa de me mostrar essa conversa? Você se portou muitíssimo bem! - Falei ao terminar de ler.
- Ah, sei lá. Fiquei com medo de você se chatear.
- Você não disse nada demais. - A tranquilizei, mas aproveitei para cutucar: - Mas também não negou o convite dele para jantar…
- É… Sabe que nem tinha me tocado disso!? Mas você está certo. Vou negar agora! - Pegou seu celular e digitou uma mensagem negando o convite, que ele recebeu, mas não visualizou.
- Você podia até ter aproveitado um jantar num ambiente público. Seria uma chance de você aproveitar um cardápio gourmet “très chic”. - Falei e ri.
- Ah, melhor não. Assim, ele não tem uma ideia errada.
- Eu te perguntei uma vez e vou perguntar novamente: você sente vontade de ficar com ele, de transar mesmo? Sexo, só sexo!
Ela ficou me encarando como querendo entender se eu a estaria testando. Vendo que ela não iria sair daquela letargia, insisti:
- Estou te perguntando numa boa. Não é um teste. Você sabe que eu não me importo em você ter uma aventura ou outra, desde que seja honesta comigo, sempre me avisando quando, como, onde e com quem, para eu ter certeza de que estará segura.
- De verdade!? Não! A gente nunca teve uma química assim tão legal…
- E ainda assim rolou aquela mão dele nos teus peitos e tua mão no pau dele, né!? - Rebati, sorrindo.
- Ah, que belezinha. Ciúmes de mim, Mor? Adorei! - Falou, rindo: - Deixa de ser bobo! Foi só uma brincadeira de juventude e eu ainda saí correndo no final quando vi o que eu estava segurando.
Rimos de seu comentário e nos deitamos para dormir. Por mais que eu quisesse confiar, ainda continuava com um pé atrás. Afinal, o tal “amigo das mensagens” dizia ter provas da traição dela, apesar de nunca tê-las me enviado.
Os dias se passaram e Nanda começou a fazer seu curso a distância. Estudava no período noturno, das sete às onze e meia. Eu passei a cuidar, na medida do possível, dos afazeres domésticos, com a ajuda das meninas. Ao final da segunda semana, reservamos um hotel para sua primeira estadia na capital. Terminada a terceira semana, lá se foi ela, de ônibus, porque tinha medo de dirigir na capital e não queria que eu a levasse, pois lá se deslocaria de Uber.
De lá ela me ligava todos os dias, durante o dia, antes de iniciar suas aulas e depois quando voltava para o hotel. Dizia que era para me deixar ciente de tudo. Eu a tranquilizei, dizendo que não estava cobrando nada, mas ela dizia fazer questão. Na quinta-feira, ela não me ligou antes da entrada, nem depois da saída da faculdade. No dia seguinte, ela me pediu imensas desculpas, dizendo que seu celular havia ficado sem bateria, o que era normal em se tratando de Nanda. Na sexta, fez suas primeiras avaliações e retornou no dia seguinte, logo de manhã.
Quando a busquei na rodoviária, notei que estava diferente, mas não num mau sentido: ela estava radiante, feliz mesmo com suas novas experiências. Acho que o ambiente estudantil estava lhe fazendo um bem tremendo. Em casa, nos contou todas as novidades e trouxe alguns mimos para as meninas e uma gravata para mim que disse ter comprovado num shopping perto do hotel em que se hospedou. À noite, em nosso quarto, se aninhou em meu peito, com o celular na mão:
- O Edinho me mandou mensagens novamente. Quero que leia. - Falou.
Novamente nada de relevante, a não ser a insistência dele em jantar com ela. Só estranhei um trecho que ele deu a entender que gostaria de continuar a “conversa de ontem”:
- “Conversa de ontem”? - Perguntei para ela.
- Então… Ele faz mestrado nessa mesma faculdade em que estou fazendo meu curso. Não sei se foi coincidência ou não, mas na quinta ele me encontrou nos corredores, durante um intervalo, e ficamos papeando até o reinicio das aulas. Por isso, ele me mandou essa mensagem na sexta, insistindo num jantar.
Coincidência ou não, quinta-feira fora o mesmo dia em que ela não me ligou. A luzinha amarela de “atenção” se acendeu para mim e fiquei um pouco cabreiro. Pensei em pressioná-la, mas ela estava tão feliz consigo mesma e com as conquistas que estava colecionando, que fiquei constrangido e acabei guardando para mim mesmo:
- Ah! - Nanda disse e se levantou, desamarrando seu robe de cetim e o deixando cair ao chão, exibindo um belíssimo conjunto de lingerie rendado vermelho: - Esse eu comprei para mim. Aliás, para a gente…
Se jogou em cima de mim e acabamos transando gostoso, como sempre. Não vou descrever necessariamente essa transa porque, apesar de ter sido gostosa, não foi das melhores por eu estar com uma baita pulga atrás da orelha. No dia seguinte, me levantei antes dela e a deixei nua sobre nossa cama. Aliás, todas dormiam e fui preparar um café da manhã. Enquanto esperava o café passar, vi várias notificações daquele número misterioso. A primeira já dizia:
Ele - “Oi, corno amigo.”
Ele - “Taí a prova que você me pediu:”
“Mui amigo você, cara!”, pensei comigo. Na sequência, várias fotos da Nanda com o Edinho nos corredores da faculdade, duas deles trocando beijos no rosto, uma que pela posição não dava para definir se no rosto ou na boca, algumas mostravam ele abraçado ao ombro dela, mas a que me baqueou foi uma dela entrando num carro SUV vermelho com ele e outra desse mesmo SUV entrando num motel:
- Ah, Nanda… - Acabei resmungando para mim mesmo.
Ela vinha entrando na área da cozinha nesse momento e eu ia despejar toda minha raiva e decepção sobre ela, não fosse Miriam entrar correndo logo atrás dela e vir em minha direção. A abracei e logo Maryeva chegava atrás, já se sentando na ilha para tomar seu café da manhã. Desliguei o aplicativo e tive que engolir minha raiva. Meu silêncio fez Nanda sacar na hora que alguma coisa não estava certa. Me perguntou o que estava acontecendo e eu somente disse que eram problemas no escritório. Tomei meu café e me levantei, sempre sob o olhar preocupado dela, indo para o banheiro de nossa suíte, onde me tranquei. Protegido pelo sigilo daquele local, comecei a olhar todas as fotos novamente e naquelas tiradas no corredor da faculdade, não vi nada demais. Aparentemente, ele se insinuava para ela, que não correspondeu em nenhum momento. Entretanto, as da entrada no SUV e deste no motel, eu não conseguia derrubá-las com nenhuma justificativa, principalmente porque eram do mesmo dia e as horas correspondiam em sequência.
Eu suava frio e mandei uma mensagem para aquele número:
Eu - “Amigo, há quanto tempo ela está me traindo?”
Ele - “Não sei exatamente, mas que já tem um tempo.”
Eu - “Marcos, é você?” - Perguntei, jogando um “verde”, imaginando ser uma armação daquele filho da mãe, mas não obtive resposta.
Saí do banheiro e Nanda estava sentada na cama me esperando com um semblante claramente preocupado:
- Mor, o que está acontecendo? - Me perguntou.
- Nada, Nanda. Vou para meu escritório. Quero adiantar um trabalho…
- Por favor, fala comigo. Estou vendo que você está transtornado. Eu fiz alguma coisa?
- A gente conversa depois. Agora eu preciso ir mesmo.
- Poxa, Mark. Fala comigo. Desculpa se eu fiz algo. Fala comigo.
Ela então me deu um beijo na boca e eu correspondi, mesmo não querendo naquele momento. Decidi fingir normalidade, pois se ela estivesse mentindo para mim, agora eu daria um flagra e acabaria de vez com nosso casamento. Saí de casa e já no meu escritório, compartilhei as fotos com meu computador e passei a analisá-las detidamente. Não sou um perito fotográfico, mas tenho um bom conhecimento em edição de textos e imagens, além de ser muito metódico a detalhes. Logo que abri a imagem dela entrando no SUV e deste no motel, estranhei as posições da informação de dia e hora inseridas nas fotos. Elas se diferenciavam uma da outra: na primeira estava no canto inferior esquerdo e na outra, apesar de também no canto esquerdo, estava fora da mesma margem da primeira. Entrei, então no campo de informações gerais do arquivo da foto e notei que as informações da primeira foto, correspondiam, mas a da segunda, tinha horário próximo, mas diferente.
Eu tentava encontrar uma explicação e só o que me ocorreu foi a possibilidade de adulteração ou falha de sistema. Nesse momento, uma nova mensagem chegou em meu celular:
Ele - “Eles estão se encontrando todo dia e dormindo juntos.”
“Dormindo juntos!”, falei em voz alta para meu único ouvinte: eu! Comecei a andar de um lado para o outro, irado, mas alguma coisa não correspondia. Por que ir a um motel, se já estão dormindo juntos? Até poderia ser curtição, mas não parecia muito o perfil dela, principalmente se quisesse manter as aparências:
Eu - “Preciso dar um flagra nela. Pode me ajudar?”
Meia hora depois, ele me retornou:
Ele - “Vou procurar me informar e te falo.”
Eu - “Denise, é você?” - Joguei novamente um verde e outra vez fui ignorado.
Pensei em passar o dia no escritório, mas pouco antes do almoço, Maryeva me ligou perguntando se não iria subir logo porque estavam me esperando e com muita fome. Voltei para casa e almoçamos a já conhecida “coxa e sobrecoxa de frango assado no molho de cerveja”. Apesar de delicioso, confesso que eu estava meio distante e nem curti tudo o que podia. Depois de almoçar, dei a desculpa de estar com dor de cabeça e fui me deitar. Acabei cochilando. Não sei quanto tempo depois, acordei com Nanda se aninhando em meu peito. Continuei fingindo dormir.
As horas foram se transformando em dias e os dias em semanas. Nesse meio tempo eu simulei da melhor forma possível estar tudo bem entre a gente. Esse tempo também serviu para me convencer de que alguém estava tentando armar para a gente, porque as fotos só começaram a surgir depois que ela começou a fazer o curso e somente na cidade de São Paulo. Ora, se ela me traía há tempos, porque nenhuma foto de nossa cidade?
A semana presencial chegou e Nanda viajou para São Paulo novamente. Como na primeira vez, me ligava durante o dia, antes de começar suas atividades na faculdade e depois que terminavam. Assim foi de segunda a quinta-feira. Na sexta, no meio da tarde, ela me ligou com um pedido inusitado:
- Oi, meu Morrrrr lindo! - Nanda me disse rindo, parecendo até meio alterada.
- Nanda!? Você andou bebendo? - Perguntei.
- Só dois chopinhos. Tudo bem com você e as meninas?
- Tudo tranquilo por aqui. E com você?
- Estou ótima! - Encarando-me pelo celular, após uma desajeitada piscadinha, disse: - Mor, eu tô mesmo liberada para fazer uma brincadeira por aqui?