Semanas se passaram e eu ainda passava horas procurando e lendo textos e livros sobre BDSM. Sim, descobri que esse é o termo correto. O acrônimo de bondage , dominação, submissão, sadismo e masoquismo. A cada nova descoberta, uma nova dúvida surgia e a curiosidade e necessidade de se buscar aumentava. Havia páginas e mais páginas de contos eróticos sobre o tema. Passava horas com o tablet na mão navegando em sites, blogs e revistas. Tudo aquilo parecia excitante demais, divertido demais, instigante demais e delicioso demais. Os meus sonhos não foram embora. Eles aumentaram em intensidade e nitidez. Eu fechava os meus olhos e vivia cada uma das cenas que eu lia nos contos eróticos e cada vez que sonhava não era mais uma estranha ali era eu ajoelhada diante do meu dono. Não sabia como ou porque aquilo me atraía e instigava tanto. O bdsm oferecia prazer mas, sempre acompanhado de um pouco de dor. Eu senti necessidade de adentrar esse universo, queria ser uma submissa e provar dessa aventura.
Fucei a rede, em busca de uma rede social, site de relacionamentos ou algo do tipo. Queria um lugar onde eu pudesse procurar pessoas como eu, conversar e quem sabe encontrar um dominador. Não foi nada fácil mas, encontrei um site de encontros bdsm. Assim que pus meus olhos no site uma sensação nova invadiu-me, as imagens expostas e os anúncios me excitaram. Eu não demorei para preencher a ficha de inscrição porém, surgiu uma dificuldade na hora de escolher o nome. Refleti um pouco com o tablet na mão, passei os olhos por meu quarto a procura de inspiração. Foi em um frasco vazio de perfume que encontrei minha inspiração. Lily, esse será meu nome. Tentei preencher meu perfil com o máximo de informações sobre mim.
Explorei o site por dias, vendo vídeos e transmissões ao vivo. Até que cansei de olhar e quis iniciar uma conversa. No site existia homem de várias idades, cidades e até de outros países.
Eu procurava por entre milhares algum que me chamasse atenção. Eu achei que fosse demorar séculos para encontrar alguém interessante. Uma notificação chegou na minha caixa de mensagens do site. Abandonei minha pesquisa para checar a mensagem. Era de um cara intitulado "Adestrador". O nome pareceu-me uma escolha estranha no primeiro momento, esse impressão passou quando lembrei do contos que li. A mensagem dizia:
Olá, boa noite. Tudo bem? O seu perfil me chamou atenção, será que poderíamos conversar ? - Adestrador
Ele foi educado, então não vejo problema algum em conversar com ele. Respondi:
Oi! Boa noite. Tudo bem comigo e com você? Claro que podemos conversar - Lily
Estou muito bem, obrigada por perguntar. Que bom que podemos conversar. Como posso te chamar? - Adestrador
Pode me chamar de Lily mesmo, por enquanto. E você devo chamar de adestrador? Ou tem um nome mais simples? - Lily
Haha! Geralmente me chamam de senhor, dono ou mestre. Como não sou nada disso pra você ainda, pode me chamar de Ad. - Adestrador
Não seria incomodo te chamar de senhor. Mas gostei de Ad é mais curto. O que chamou a sua atenção? - Lily
Você falou que é iniciante, que está a procura de um dominador paciente e que deseje ensinar alguém do zero. Acontece que uma iniciante aqui é como uma gatinha no meio de leões vorazes - Adestrador
Eu li aquela mensagem, enquanto esperava que ele escrevesse a próxima, sabendo que ele falava a verdade. Do pouco que li sobre bdsm, percebi que a maioria dos dominantes adoram iniciar sua posse. Ser a porta de entrada, a primeira fonte de conhecimento, o professor enfim a referência. Estou gostando da forma como o Ad leva a conversa, até aqui não houve nenhum desrespeito. Sua próxima mensagem chega me surpreendendo.
Eu já vi muitas meninas virem ao site e por inexperiência cair nas mãos de homens cruéis e sem escrúpulos. Eu como todos os dominadores aqui, apreciaria muito criar uma submissa do zero, molda-la as minha vontades e desejos. Mas não é fácil encontrar alguém que pense como eu. Nós não escolhemos as submissas, vocês são quem nos escolhem. - Adestrador
Como assim nós é que escolhemos vocês ? - Lily
Eu não entendo esse ponto de vista, tudo me parece tão no centrado no que o dominador deseja. Como é possível que sejamos nós que os escolhemos? Pergunto para mim mesma. Deixo o tablet sobre a minha cama de solteiro, para ir a cozinha buscar um copo com água. Enquanto bebo a água que peguei na geladeira, observo o ambiente simples e aconchegante que é minha casa. O armário de madeira antigo, herança da minha avó que minha mãe guarda com tanto carinho, a mesa de mármore com seis cadeiras acolchoadas, a geladeira inox e o fogão completam o ambiente. O piso coberto por uma cerâmica branca, assim como toda a casa, as paredes são cobertas de azulejos até a sua metade. Termino minha água e volto para o meu quarto, que tem as paredes de uma cor verde azulada, mobiliado com uma cama de solteiro, um guarda-roupas e um criado mudo, ambos de madeira branca.
Simples, o dominador guia, protege, cuida, ensina. Mas nada disso é possível se a submissa não quiser. É preciso que ela se entregue, que ela escolha continuar. A submissa escolhe a quem se entregar. Eu não posso chegar pra você e determinar que te quero, te obrigar a me aceitar, eu exerço o controle mas é você quem tem que me entregar! - Adestrador
Entendi. Olha eu fui sincera quando disse que não sei de nada. Tudo que eu sei, aprendi lendo em blogs e livros. Você teria realmente paciência para me ensinar tudo? - Lily
Mais é claro que sim! Me conte o que você leu? Um dos livros não era o clássico da E.L James é? - Adestrador
Sim, não acho legal mentir. Li o livros da E.L James, mas também li as obras de Sophie Morgan. Tem algo errado com eles? - Lily.
Não, é que apenas é meio fantasioso. Muita gente veio para o bdsm em busca de um "Grey". Deixa isso para lá, por hora. Eu vou precisar sai agora. Podemos marcar de nos falarmos aqui novamente? - Adestrador.
Sim, claro ad. Quando seria possível para você? - Lily
Amanhã a noite, não estarei trabalhando e vou poder te dar toda a minha atenção. Eu ainda não sou seu dono mas, eu gostaria que você não conversasse com outro dominador enquanto falar comigo. Combinado? - Adestrador
Sim, combinado. Amanhã a noite as 19h ? - Lily
Perfeito. Menina Lily até amanhã - Adestrador.
Fiquei ainda com o tablet na mão até que a bolinha verde ao lado do seu nome sumisse. Eu não estranhei o fato dele pedir que conversasse apenas com ele mas, não estava nos meus planos conversar com outro. A forma calma com a qual ele iniciou a conversa, a tranquilidade que me passou e os suas ordens implícita em uma sugestão, me dizem que vale a pena esperar.
Saio da página do site pego o link direto e faço o download do aplicativo. Assim, não corro o risco de perder alguma mensagem caso ele retorne antes do combinado. Fito as horas no relógio que está sobre o criado mudo, são 15h30. Lembro que as 18h, preciso estar com a minha amiga Keller na sorveteria. Sim, sim eu sei ! Nós sempre nos encontramos lá. Lá é o nosso lugar, desde os 10 anos de idade que frequentamos o lugar. O slogan divertido não saio da nossa cabeça "Dreams - Ice Cream : Sorvetes com sabor de sonho".
Depois de arrumar algumas coisas no meu quarto, verificar pela enésima vez se não havia mensagens do Ad, tomei um banho e fui encontrar a Kell na sorveteria.
- Oi Lya! - Ela acenou para mim assim que me viu entrar.
- Kell! Tudo bem com você ? - digo abraçando-a!
- Tudo ótimo ! Tenho tanta coisa pra te contar amiga - disse com seus olhos azuis brilhando.
- Pode começar, me conta tudo! -,digo tão animada quanto ela.
- O Brad e eu estamos namorando! A
- O Brandon Alcântara? Meu cunhado?
- Sim, não é demais?
- Claro! Me fala quando ele te pediu em namoro? - pergunto muito feliz por ela.
- Ontem a noite, ele me trouxe flores e um monte de chocolates.
- Que lindo! Só sendo irmão do Thonny mesmo risos!
- São uns fofos aqueles dois. E você amiga como andam as suas pesquisas sobre bdsm? - Pergunta mudando o tom de voz.
- Eu encontrei um site de relacionamentos bdsm. Eu vi tanta coisa legal lá Kell.
- Sua maluca! Você tem o seu namorado esqueceu? Onde estava com a cabeça indo a um site de relacionamentos bdsm ? Não está pensando em trai-lo, está? - perguntou ela no seu tom maternal.
- Ha ha ha! Trair o Thonny? Jamais Keller, você sabe o quanto eu o amo. Eu só entrei pra pesquisar mesmo e assistir os videos que tem lá. Não vou virar submissa. - digo tentando em vão convencer.
- Lya Andrews Collins, eu conheço você! Fala pra mim você conversou com alguém? - perguntou ela olhando nos fundo dos meus olhos.
- Não, Kell! Eu não conversei com ninguém! E nem vou! - suspiro - Vamos pedir um sorvete? - pergunto levantando da mesa fugindo de seu olhar inquisidor.
- Eu quero soverte de chocolate com cobertura de menta - diz ela - Mas não pense que você me convenceu mocinha!
- Chocolate com menta, certo! Já volto.
Saio da mesa quase correndo para pedir os nossos sorvetes. Keller é muito mais que uma amiga, ela é minha irmã de outra mãe. Desde o maternal nós estudamos juntas, brincamos, brigamos, apanhamos juntas. Somos tão unidas que parece que uma consegue ler o pensamento da outra. Ela me conhece melhor que a minha mãe e esconder dela a minha pretensão submissa não será nada fácil.
- 2 Big Dreams , baunilha com chocolate e chocolate com menta. Por favor, mesa de sempre - digo a simpática Senhora de cabelos grisalhos que me atende desde sempre, mas que eu nunca lembro o nome.
- Pode deixar querida - disse sorrindo pra mim.
Sentar naquela mesa e encarar a Keller não ia ser uma tarefa fácil, mas, eu sou obrigada a fazê-lo. Ao chegar lá ela me encara com aquele seu olhar que diz "ou você me conta tudo ou eu descubro a força".
- Tudo bem admito! Eu conversei com alguém. Satisfeita? - digo bufando.
- Nome? Idade? Onde mora? Casado? Solteiro? Ele sabe que você namora? Você ...- Keller começa uma enxurrada de perguntas que parece são ter fim.
- PARA KELL! - Grito, ela e todos no local me olham assustados - Não posso responder mil perguntas de uma vez. Ele se apresentou para mim como Adestrador, e ainda não sei a resposta para todas as outras perguntas. Mas alguma coisa Briana?
- Não e nem invente de me chamar assim! Sabe que eu odeio esse nome! - ela me responde exasperada.
- Desculpa...eu não queria te irritar.
- Eu também não queria te deixar brava. É só que me preocupo com você! Sou sua irmã lembra? - ela olhou pra mim com seus olhos maternais.
- Sim, eu lembro. Mas, você precisa acreditar em mim quando digo que não vou trair o Thonny. Acredita em mim tá?
Tudo bem, vamos falar de outra coisa?
Nossos Big Dreams chegaram e os saboreamos enquanto falávamos sobre filmes. A conversa ficou tranquila e continuamos assim até que o celular da Kell tocou e ela precisou ir.
Ao chegar em casa meu pai está dormindo e minha mãe na cozinha. Ela estava com fone de ouvido, ouvindo música alta enquanto batia um bolo. Cozinhar é sua terapia, quando ela chega estressada de mais um dia de trabalhou no escritório de advocacia é isso que ela faz. Minha mãe é uma mulher alta e plenamente em forma. Seus cabelos pretos lisos sempre presos em um coque alto. Olhos castanhos escuros valorizados por seus longos cílios. É uma mulher muito bonita, apesar de raramente sorrir. As poucas vezes que a vi sorrir é quando a flagro acidentalmente nesses momentos de terapia. Eu vou a geladeira de mansinho pego um copo de água e tento sair com cuidado para que ela não note minha presença. Não quero atrapalhar seu momento.
Já no meu quarto me desfaço das minhas roupas para ficar só de calcinha. Pego o meu tablet e verifico a caixa de entrada do aplicativo, quase me decepcionando ao notar que não tem nada. Observo seu perfil para ver se encontro alguma foto dele mas, assim como no meu não há nenhuma. Algumas mensagens começam a chegar de outros dominadores, mas, decido ignorar. Fecho o aplicativo e vou direto para o meu leitor epub, mergulhar em uma leitura excitante que alimentará meus sonhos.
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Me contém pessoal o que acharam dessa públicação dupla? Não vou repetir os avisos principais em todo capítulo não. Apenas apreeciem essa obra e se deliciem como eu.
Beijos KS.
