Ela levantou um pouco a cabeça, de forma que pudesse me olhar nos olhos e continuou:
- Seis vezes na semana? - Perguntou e eu apenas sorri, deixando-a perplexa: - Cinco, quatro… Quantas, Mark?
- Não tem esse negócio de quantidade com a gente, não existe uma regra. Olha, na verdade, acho até que existe, mas não sobre quantidade e sim sobre qualidade. - Eu explicava e ela me olhava com um sorriso no rosto, curiosa e receptiva: - A gente, quando faz amor, faz da melhor forma possível e com toda a vontade, para nos satisfazer. Então, pode até ser uma vez na semana, mas quando rola, é realmente um acontecimento para valer pela semana inteira.
- Ah, delícia! - Respondeu, sorrindo e continuou: - E isso quando não dá duas ou três na mesma noite, né?
- Olha, duas tudo bem, mas três já seria realmente um acontecimento, quase para se comemorar como uma final de campeonato. - Respondi e ri, divertindo-me com a ideia dela.
- Vamos dar outra hoje ainda, né?
- Não sei. Vai depender da sua dedicação…
Ela sorriu, beijando-me em seguida e já foi me puxando para fora da cama:
- Vamos tomar uma ducha gostosa. Não vou te chupar com gostinho de cu, não!
[...]
(CONTINUANDO)
Após me despedir do meu marido, vi que não conseguiria dormir naquela noite. Aliás, após ver a Denise se esgueirar sobre meu marido, com um robe que quase a deixava nua, coisa que eu imagina ela estar embaixo daquele tecido, se eu dormisse, seriam pesadelos atrás de pesadelos. Pensei em ligar para conversar, mas, se eu fizesse isso, estaria deixando claro não confiar nele.
Não sei se ciúmes ou simplesmente insegurança me consumiam, mas me incomodava demais saber que ele estava lá com ela, aliás, só não, minhas filhas estavam lá também:
- Ah, Mark, cê não vai fazer isso, né? Não com as meninas perto… - Falei para mim mesma enquanto pegava uma garrafa de água no frigobar: - Lógico que não! Ele não é louco.
Depois de tomar dois ou três goles, voltei a conversar com a louca da Fernanda Mariana:
- Mas ela é louca por ele! E uma mulher louca de tesão é capaz de tudo para virar a cabeça de um homem.
Liguei a televisão, mas nada me acalmava:
- Ele não faria isso! Porra, e se uma das meninas dá um flagra neles!?
Peguei meu celular disposta a ligar, mas mudei de ideia. Ainda assim, já raivosa, teclei uma bela mensagem no meu WhatsApp para ele:
EU - “Mark! Nunca te pedi nada, mas não quero que fique com a Denise hoje, porque nossas filhas estão aí. Se uma delas pega vocês, eu não saberia como reagir, nem como explicar! Não estou duvidando de você, por favor, não é isso. Eu te amo e confio, mas estou com medo disso aí dar merda!”
Mandei a mensagem e no mesmo instante me arrependi, apagando-a para ambos antes que ele lesse. Não sei se ele chegou a ler, acredito que não, porque não me respondeu:
- Ai, Jesus, isso vai me matar!
Nesse instante, ouvi uma notificação, dando conta da chegada de uma mensagem. “Caramba, ele leu... Tô fodida!”, pensei, enquanto acessava o WhatsApp para ver que era uma mensagem do Paulo:
ELE - “Durma bem, minha querida. Quando quiser se divertir ou só conversar, papear mesmo, estou a sua disposição.”
“Porra, Paulo, bem que você podia me distrair mesmo, né!?”, pensei, cogitando a possibilidade de aceitar um convite para um drink na madrugada, mas já me recriminei em seguida, pois isso poderia desandar, se transformar numa bola de neve e me prejudicar:
- Não, Nanda! Você vai ficar calminha aí. Seu marido sabe o que faz e não faria nada para prejudicar suas filhas. Nada! Então, sossega mulher. Relaxa e dorme um pouco. - Disse para mim mesma.
Tomei um banho frio, me enxuguei e me joguei na cama, nua, enrolando-me nos lençóis, regulando o ar condicionado para o mínimo de temperatura. Acho que eu queria hibernar, mas, mesmo assim, rolei na cama até altas horas, alternando entre televisão, celular e nervosismo. Não sei a que horas dormi, mas não foi pelo tempo suficiente, porque quando meu celular tocou, eu estava o “ó do borogodó”.
Arrastei-me para fora da cama, enchi a pia com água fria, coloquei algumas garrafas de água gelada e mergulhei minha cabeça. Minhas olheiras estavam horríveis e decidi faltar nesse dia de treinamento. Mandei uma mensagem para o Gonzaga, avisando que não me sentia bem e que precisava descansar naquela manhã, e, se eu melhorasse, iria para o treinamento após o almoço. Ele enviou um simples e objetivo “ok!”, e nada mais.
Esperei dar a hora em que normalmente saímos de van para o local do treinamento para descer para o restaurante do hotel, pois não queria cruzar com ninguém. Poucos hóspedes estavam ali. Peguei alguns pãezinhos de queijo, um pão francês, queijo prato e presunto, e um santo café, de quem eu esperava um verdadeiro milagre. Já passava das oito e meia e, enquanto tomava meu café, decidi fazer uma chamada de vídeo para o Mark. Ele recusou!
- Como é que é!? - Falei para mim mesma, surpresa com aquilo.
Não tive tempo sequer de tentar outra chamada, pois ele mesmo me retornou, fazendo uma ligação simples:
- Oi, morena, bom dia.
- Bom dia, mor. Por que recusou minha chamada de vídeo?
- Estou no trânsito, Nanda. Não posso ficar com o celular na mão. Estou usando o sistema bluetooth do carro.
- Ah… Trânsito!? Já estão indo embora?
- Ainda não. Como hoje é um dia praticamente perdido, decidi levar as meninas para passear num shopping. Depois do almoço, vamos embora.
- Ah, mas que bonito, hein? Batendo perna sem mim! - Falei brincando e sorrindo satisfeita, enquanto já ouvia as risadinhas das minhas filhas no fundo da ligação.
- Oi, mãe. - Miriam gritou.
- Oi, mãe. - Repetiu a Mary, com sua voz rouca e forte, também rindo: - O pai falou que vai levar as mulheres da vida dele para passear hoje…
- Ah, sei. Da vida dele, né? - Resmunguei e minha insegurança gritou: - Denise também está aí com vocês?
- Claro que não, né, Nanda! Cê tá louca!? - Mark respondeu com uma entonação mais séria, eu diria até incomodada: - Ela foi trabalhar. Ela tem a vida dela e nós temos a nossa, né?
- Ah, tá, é que…
- Eu entendi sim! - Ele me interrompeu ainda sério.
- Desculpa, mor, mas você me conhece. Eu sou assim! Eu vou desligar para não te atrapalhar no trânsito, mas quando pudermos falar mais tranquilamente, liga pra mim. Vou ficar no hotel hoje de manhã…
- Uai, ficar aí por quê? Aconteceu alguma coisa?
- Não, nada! Eu só não dormi bem à noite e não estava me sentindo muito legal, mas já estou tomando um cafezão caprichado e depois vou descansar um pouco. Acho que depois do almoço já consigo ir para o treinamento.
- Então, tá.
- Beijo. - Falei e insisti: - Eu te amo, ouviu? Aliás, eu amo todos vocês!
Depois foi aquela muvuca deles todos falando juntos e misturados que me amavam, enquanto me mandavam beijos dos mais estalados possíveis. Sorri feito uma boba para mim mesma. Ele não havia transado com a Denise, pois o clima ali era o melhor e mais descontraído possível. Bem, pelo menos ele não havia sido flagrado, o que também já era um bom começo.
Assim que repousei meu celular sobre a mesa, ouvi um “Ahamm!” e me virei na direção da voz, vendo seu Paulo de pé meio ao lado da minha mesa e meio atrás de mim. Gelei e pensei “Pronto! Olha a comida de toco: Foi só adiantarmos sua escolha que já tá relaxando, né, dona Fernanda Mariana!? Já tá se achando a patroa, né?”, mas um sorriso na sequência, desmontou minha tese:
- Ué! O que você está fazendo ainda aqui, Fernanda? - Perguntou.
- Ah, eu dormi muito mal à noite, quase nada para falar a verdade, e decidi ficar para descansar. Hoje eu seria um fardo para o meu grupo.
- Mas você está doente? Precisa de alguma coisa?
- Não, acho que não. Só vou tomar meu café e descansar. Depois do almoço já vou para o treinamento.
- Então eu te levo, se for o caso. Também só vou para lá mais tarde.
- Seu Paulo, digo, Paulo, posso te fazer uma pergunta?
- Claro, minha cara. - Respondeu, enquanto se sentava.
- O que o senhor espera de mim?
Ele me olhou, mas não parecia surpreso, tomou um gole de seu café e falou:
- Bom, primeiro, senhor está no céu. Pensei que já tivéssemos esclarecido essas questão dos pronomes? - Disse e me encarou, zombeteiro, mas como eu estava séria, continuou: - Segundo, posso me sentar?
Indiquei a direção da cadeira, obviamente concordando e ele continuou:
- No mais, sinceramente, eu espero uma boa companhia pelos dias que ainda faltam para o treinamento terminar e quem sabe, mas só quem sabe, desfrutar de um ou dois bons momentos com você.
- Tudo bem, Paulo, entendi a questão do senhor e do você, e vou tentar resolver essa primeira questão de vez. - Respondi tranquilamente: - Agora, a boa companhia, vou ser sincera, acho que só será em público e sem terceiras intenções. Eu quero me focar exclusivamente no curso e voltar para minha família o quanto antes.
- Fiz algo que te desagradou?
- Não, nada! Cometi um erro com meu marido numa situação que vivi recentemente e preciso colocar a cabeça no lugar. Então, envolvimentos mais íntimos, se é que me entende, estão descartados no momento. - Acho que fui mais que sincera, quase grossa, mas eu precisava situá-lo: - No futuro, com a concordância do Mark e de preferência com sua presença também, podemos até quem sabe…
- Seu marido te proibiu, é isso?
- Não, nunca! Eu tenho a confiança dele e o problema foi esse, eu não estava pronta para usar toda a liberdade que ele me confiou. Pisei na bola com ele e não quero nunca mais repetir outra dessas.
- Bom, mas um drink, um jantar, podemos, não podemos?
- Desde que seja num ambiente social e se possível com outros membros do treinamento, sem problemas. Não quero que me vejam como a interesseira que ficou com o dono da empresa para se beneficiar, entende?
Ele me olhou surpreso, mas também satisfeito com a honestidade nua e crua que pus sobre a mesa. Isso ficou claro quando continuou conversando comigo vários assuntos, desviando daquele meu “fora” nele:
- Maravilha então, dona Fernanda Mariana, mas posso te dar a carona, né?
- Pode, uai! - Depois o encarei séria e pedi: - Por favor, nunca mais me chame de Fernanda Mariana. Odeio meu nome composto.
- Ué, mas eu acho tão bonitinho, soa tão bem, ó: Fernanda… Mariana… - Disse lentamente, degustando.
- Nu! Isso é quase uma facada no meu peito, Paulo. Não faz isso.
Ele riu e como uma homem maduro, rapidamente mudou de assunto e passamos a conversar diversos outros assuntos. Logo depois, voltamos cada qual para seu respectivo quarto e, na hora do almoço, encontramo-nos no restaurante do hotel:
- Está linda, Fernanda. Desculpe minha ousadia, mas acho que serei obrigada a insistir em ter a honra de jantar uma noite com você.
- Paulo, Paulo, Paulo… Já conversamos sobre isso e, insistindo, você me coloca numa situação delicada, afinal você é meu patrão e isso poderia configurar assédio. - Disse e o encarei, enigmaticamente.
Apesar de estar brincando, ele sabia que eu sabia bem o que estava falando. Ser administradora e ainda casada com um advogado, e trabalhista, me dava conhecimento de sobra para saber bem sobre o que eu estava falando. Ele ficou em silêncio por um momento, analisando meu semblante:
- Estou brincando, Paulo. - Falei, sorrindo e completei: - Mas agora sério: não vai rolar nada mesmo. Vou terminar minha semana de treinamento e voltar para minha família. Aliás, vou te passar o contato do meu marido, assim você pode fazer amizade com ele e daí quem sabe no futuro…
- Ô mulher difícil…
- Se eu fosse fácil, não teria graça.
- Isso é verdade! - Riu e me acompanhou ao buffet.
Servimo-nos, voltamos à mesa onde almoçamos e depois fomos para o local do treinamento. Meus colegas ainda não haviam retornado, apenas Gonzaga estava lá com cara de poucos amigos:
- Bonito, hein, Fernanda! Já tá se achando uma “bam-bam-bam”, né? - Soltou assim que me viu entrando na sala.
Não tive tempo de abrir a boca, pois Paulo entrou logo atrás de mim e o repreendeu veementemente:
- Gonzaga, contenha-se! A dona Fernanda teve uma indisposição e ainda arrumou forças sei lá de onde para comparecer agora à tarde. Além disso, a escolha ainda não está fechada. Ela não teria porquê agir assim.
Gonzaga engoliu a seco, desculpou-se comigo e ficamos os três conversando, enquanto os demais não chegavam, o que não demorou mais de vinte minutos. Com todos ali presentes, o treinamento voltou a acontecer como de costume. No final do dia, voltamos para o hotel e de lá para nossos quartos. Assim que pus os pés para dentro, peguei meu celular querendo ligar para minha família e vi várias mensagens deles e vídeos, inclusive.
Cliquei no primeiro e havia um da Miriam aprontando todas num parquinho infantil de um shopping qualquer de São Paulo. Mark e Mary apareciam na filmagem apenas para brincar comigo. Bem, ele brincava, narrava e se divertia, minha filhotona estava domando um baita pote de sorvete e pouco falou, mas seu sorriso dizia muito.
No segundo, minha caçula já havia retornado para junto deles e agora estavam numa livraria fazendo um de nossos programas preferidos: escolher um bom livro. O Mark sempre foi um aficionado por leitura, ele ama, quase mais que a mim, mas fazer o quê, né? A leitura chegou primeiro em sua vida… Como resultado disso, combinamos que sempre saíssemos com elas para algum destino diferente, passeio ou shopping, daríamos um livro para marcar o momento. Elas tem vários, um para cada passeio que já fizeram. Miriam estava esparramada sobre uma espécie de tapete, rodeada por cinco livros e Mary parecia focada, compenetrada em apenas um. Mark me mostrava as filhas, com orgulho:
Ele - “Acho que elas já escolheram.”
Ele - “A Mary com certeza; Miriam está meio indecisa ainda.”
Ele - “Vou levar um pra gente também, ó!”
Nisso ele mostra um volume do Kama-Sutra, ilustrado com imagens de pessoas de verdade. Eu fiquei vermelha, com vergonha de algumas que ele me mostrou, mas ele somente ria baixinho até que chegou numa foto:
- Filha da puta! Acho que foi com essa aqui que você me tirou a coluna do lugar naquela vez… - Disse e mostrou uma foto.
Eu me lembrava da situação e da ocasião, ele precisou de atendimento médico e de um massagista, inclusive. Entretanto, sinceramente, eu não me lembrava da posição, mas já estava disposta a tentar novamente. “Melhor se preparar, mor: vou quebrar sua coluna dessa vez.”, pensei e ri para mim mesma.
Depois vi um terceiro e último vídeo deles, lanchando na praça de alimentação, conversando, brincando e dando risadas, mandando mensagens para mim e brincando que o pai delas havia se engraçado para uma moça:
Ele - “É mentira, Nanda!
Ele - “Ela só me pediu uma informação que eu não soube dar e depois perguntei que perfume ela estava usando porque era realmente muito bom.”
Mary - “O fato dela ser toda bonita, gostosa e ter dado um sorrisinho bobo pra você não conta nada, não, né?”
Miriam - “Foi mesmo, mãe, eu também vi!”
Ele - “Vou deixar as duas de castigo, suas dedos-duros.”
Começou uma algazarra, terminando com eles as gargalhadas pela brincadeira feita. Eu sorria feito uma boba e comecei a chorar feito uma idiota:
- Já estou voltando, gente. - Falei para meu celular e ainda beijei a tela do aparelho como se eles pudessem me sentir: - Porra! Como vou limpar esse batom agora?
Passei um bom tempo dando uma limpeza no meu celular e liguei para eles. Miriam me atendeu na hora:
- Oi, mãe! - Disse e gritou: - Pai, Mary, a mamãe tá no telefone!
Fiquei conversando com minha caçula e logo minha gatona chegou, coçando os olhos e me cumprimentando. Passamos a conversar em três e Miriam, sempre ela, dedurou o pai:
- Já que o pai vem, mãe, ele tá cagando. - Cochichou próxima a tela do celular.
- Pra que você tá cochichando? Ele não tá aqui para ouvir! - Mary a confrontou.
- Ah é! - Disse e deu uma gostosa risada: - Tô meio “chô-chô”, mãe.
Comecei a rir, porque aquela expressão eu não ouvia desde a época delas no Jardim de Infância. Alguns minutos depois, ouço a voz do Mark:
- Nu! Melhor ninguém usar o banheiro da suíte. Vai ficar interditado por um tempo.
- Credo, pai! - Gritaram praticamente ao mesmo tempo.
Mary depois deu o tiro de misericórdia, rindo à beça, algo não muito comum:
- O pai passou o dia entupido, mãe.
- Mãe!? - Ele perguntou se aproximando da sala e arregalou os olhos quando me viu: - Nanda! Há quanto tempo você tá aí? Vocês nem para me avisar.
- Eu avisei! - Disse Miriam, rindo com uma malícia matreira bem própria dela: - Você é que tava ocupado demais para ouvir.
Mark ficou parado olhando para ela sem saber se xingava ou ria. Xingar eu sei que ele não faria para uma brincadeira; acredito que estava se segurando para não perder o resquício de autoridade que lhe restava:
- Dá aqui esse celular! - Falou, disfarçando sua própria risada: - Dá logo, senão a cinta vai comer no lombo.
- Ui, que meda! - Disse Miriam e saiu correndo, levando o aparelho consigo.
Algumas belas balançadas na tela, risadas, gargalhadas e brincadeiras que não consegui entender direito depois, ele pegou o aparelho:
- Cheguei!
- É, eu vi, tá dando para sentir o cheiro daqui.
- Ah, vá ocê também… - Falou e riu gostoso.
Passamos a conversar a quatro e pouco depois as meninas se retiraram, deixando os dois amantes a sós. Ficamos conversando amenidades e assuntos sobre o nosso dia e lhe contei das investidas do Paulo. Ele se mostrou orgulhoso com a forma que conduzi a situação:
- E nem deu uma coçadinha nessa… - Falou e se esticou para ver se estava sozinho: - A bocetinha não coçou de vontade de fazer uma reunião mais íntima com o patrão?
- Ah, vá você agora, ô! - Respondi e ri, continuando: - Olha, apesar da idade, ele é todo charmoso, muito educado e tem um papo legal. Pode até rolar pela diversão, mas não vai ser hoje, nem nesta semana. Já deixei bem claro que agora só saio quando você estiver por perto. Acho que eu ainda estou precisando amadurecer um pouco mais antes de sair sozinha, na verdade, nem sei se quero mais sair sozinha.
- Olha, já conversamos, você não fez nada de errado. - Ele falou, mas parou, pensou um pouco, olhando para o teto e continuou: - Tá, misturou um pouco os canais, mas é um risco que sabíamos que existe. Acho que seu único erro foi ter repetido, convivido demais, sei lá, dado chance para que algo nascesse.
- Então, por falar em repetir, eu queria te perguntar se você e a Denise…
Não tive coragem de terminar a pergunta, mas ele entendeu bem e de primeira, respondendo em seguida:
- Nós ficamos e correu tudo bem, se é o que você quer saber. Fica tranquila.
Não fiquei. Uma sensação diferente, estranha e nada agradável me percorreu o corpo. Eu não entendia bem, mas me senti traída, não pelo sexo em si, muito menos por ter sido com a Denise, mas por ele ter colocado nosso segredo em risco e principalmente com as nossas filhas. Ainda assim não quis me abater na presença dele e depois de conversarmos mais um pouco, nos despedimos aos beijos e juras. Ele chamou nossas filhas e fizemos o mesmo, brincando. Quando desliguei o aparelho, decidi tomar um banho e aquela sensação aumentou. Ali, eu chorei, muito mesmo…
Dormi e não sei como ou quando, mas, no dia seguinte, acordei no horário de costume. Troquei de roupa, desci para meu café da manhã e antes que eu chegasse ao restaurante, um faz tudo do hotel me chamou até o balcão da recepção. Ali, me entregaram um imenso buquê de rosas vermelhas e um cartão:
“Não desisto fácil do que eu quero e mais do que querer você, eu preciso. Ainda estou em Manaus, no seu coração e na esperança de tê-la ao meu lado. Me liga. Rick.”
- Ô, caramba! - Falei em voz alta, chamando a atenção da atendente: - Nada não, moça.
Peguei o buquê e saí em direção ao restaurante, mas mudei de ideia e voltei à recepção, colocando-o sobre o balcão:
- Moça, eu tenho que trabalhar e não posso perder tempo. Pode colocá-lo na recepção, enfeitar o saguão ou se não quiser, jogue-o fora! - Falei e já saí dali em direção ao restaurante, antes mesmo que me respondesse, levando apenas o cartãozinho.
No restaurante, me reuni à Aline e Cíntia. Papeamos de tudo e isso me fez um bem danado, pois consegui me desanuviar do sentimento estranho que ainda estava tendo do Mark. Acabei confidenciando a elas o buquê e mostrei o cartãozinho. Aline saiu na frente:
- Ai, mas que lindo, Nanda.
- Tá louca, Aline!? Ela é casada e ama o marido! - Cíntia a repreendeu e se virou para mim: - Rasga!
- Mas não deixa de ser bonito, né? - Insistiu Aline, olhando para mim.
- Essa insistência dele já passou dos limites. O cara parece um louco.
Um olhar diferente da Cíntia me preocupou e peguei no ar sua preocupação:
- Ele não é desse tipo de louco, Cíntia. Pelo menos, eu acho que não.
- E o que você vai fazer? - Ela me perguntou.
Eu olhei para o cartãozinho novamente e depois os rasguei, picando bem miudinho mesmo:
- Feito! Quero saber só do treinamento e depois da minha família.
Elas bateram palmas e fomos para o treinamento. O dia transcorreu sem nenhuma novidade. Até o Paulo sumiu, o que achei estranho porque ele vivia por lá, supervisionando os trabalhos.
Os quatro dias que se seguiram, passaram praticamente idênticos. A única novidade vinha por conta dos buquês que eu recebi todos os dias no mesmo horário e sempre com um cartãozinho diferente:
“Se amar fosse fácil, todos conseguiriam realizar esse sonho. Não é, nunca foi, nunca será, mas se eu tiver você do meu lado, enfrentarei a tudo e todos para nos fazer felizes. Me liga. Rick.”
“Eu não quero insistir, tampouco desistir. Se souber de uma forma que faça um coração deixar de amar, me ensina? Juro que estou disposto a tudo para te ver feliz, até mesmo desistir de você. Me liga. Rick.”
Teve até uma meio brega:
“Sabe aquela estrela que brilha lá no céu? Caiu aqui na Terra! Você viu? Não!? Olha no espelho e irá vê-la resplandecer tudo ao seu redor. Brilha pra mim também, Nanda. Eu te amo, caramba. Me liga. Rick.”
E uma última:
“Hoje, eu sonhei com você. Nesse sonho, eu realizava um desejo antigo: ter uma família, mas não uma qualquer, uma em que você brilhava na cabeceira da minha mesa, rodeada por suas, digo nossas filhas, e um lindo menino, sua cara por sinal. Realiza comigo. Me liga. Rick.”
Essa me doeu de verdade! Não por ele exatamente, apesar que uma frustração dessas deve ser horrível para qualquer um, até mesmo para ele. Doeu-me pelo fato de que eu nunca fui capaz de dar um filho para o Mark, algo que eu me penitencio até hoje e sei que ele sente falta. Decidi, naquele momento, que eu teria uma conversa com o Rick. Eu só não imaginava o que isso significaria em nossas vidas.
[...]