O último grupo a ser rendido de suas funções laborais, foi o grupo de presas escravizadas nos banheiros dos funcionários. As garotas e a tia Regina, que estavam a tanto tempo presas em banheiros imundos e de cheiro terrível, que usavam seus rostos para satisfazer a crueldade dos homens e aliviar seus excrementos. Agora estavam tendo uma rara oportunidade de sair daquele lugar.
Diferente dos outros dois grupos de suas parentes, que tinham uma jornada bem definida, e que tinham um momento de descanso, mesmo que insalubre de em desconforto. Esse grupo estava disponível aos funcionários por vinte a quatro horas por dia, nunca sendo libertadas das posições nem para dormir, tendo que tentar descansar entre mijadas na boca, lambidas em rabos sujos de merda, choques, cuspidas, xingamentos e humilhação.
O estado dessas presas era deplorável, pois estavam magras, imundas, com feridas nas bocas, larvas sobre o corpo, machucados feitos por ratos que roíam seus corpos, e todas elas tinham uma inflamação nas vaginas, causadas pela sujeira daquele lugar. E as que estavam recebendo mijada na cara, tinham conjuntivite por causa da acidez da urina. Elas eram lixo humano, cobertas de fezes e urina, sem dignidade, sem descanso, sem clemencia e adoecidas pela sujeira e convívio com ratos, que tinham mais valor que elas naquele lugar imundo.
Seus corpos tinham atrofiado, elas foram tiradas das amarras e não conseguiam mais andar, estavam fracas, apáticas e em uma enorme confusão mental. Elas não conseguiam andar sozinhas por nenhuma trilha, e seus corpos estavam pálidos como a urina dos guardas que escorriam por suas peles. Olhando de longe, elas pareciam tigres, rajadas de sujeira, como um animal com listras em tons de amarelo na pele. Era uma cena grotesca, que mesmo o homem mais cruel e sádico sentia pena delas, mesmo que isso fosse ignorado.
E com este estado lastimável, elas seriam punidas diferente de suas parentes, que estavam condenadas a ficarem estáticas por um longo tempo como punição. Elas que estavam imóveis a quase dois meses, agora seriam colocadas para uma caminhada forçada, numa posição incômoda, e arrastando um enorme peso extra. Elas saíram do banheiro, presas em uma fila indiana, caminhando com muita dificuldade, o que era punido pelos funcionários com chicotadas nas peles pálidas e sujas delas. E tiveram que caminhar por toda a manhã, andando a esmo por trilhas, passando por outras presas que olhavam assustadas para o que estavam vendo. Elas passaram por suas parentes crucificadas, por suas parentes amarradas em árvores. Márcia chorou ao ver sua mãe enrolada em arame farpado, mas a vergonha de se mostrar para ela coberta de merda e mijo seco, fedendo a longas distâncias, magra e pálida cortou seu coração. Júlia também teve sentimento parecido ao passar e ser parada bem a frente da cruz onde sua mãe Rejane estava presa, com olhar vazio e tendo alucinações de calor, sede e fome. Elas estavam sendo humilhadas ao extremo.
Após a longa caminhada dessa manhã, chegaram a um campo arado, onde tinha um velho casebre, onde foram deixadas para dormir e descansar. Elas continuaram acorrentadas umas as outras, e não foram limpas. O cheiro horrível delas causava enjoo nas outras presas do casebre, e elas olhavam com nojo para aquelas cinco mulheres imundas. Foi somente no meio da madrugada, quando estava a menos de doze graus celsius, foi que elas foram levadas ao gramado e receberam um banho de água gelada, e foram esfregadas por vassouras ásperas.
Na manhã seguinte viram seus novos trabalhos. Elas tinham que puxar um arado durante todo o dia naquela terra inóspita, e quando terminavam de arar, um enorme rolo de cimento com um eixo de madeira era preso por cordas, e elas ficavam o dia seguinte inteiro arrastando aquele rolo pelo terreno que araram antes. Na manhã seguinte recomeçava a aragem, e assim o ciclo iria se repetir por toda a semana.
Como estavam fracas, aquilo era um esforço desumano, e as dores no corpo tornavam o castigo muito cruel. E para impedir qualquer tentativa de enrolar no trabalho, aquelas que se ajoelhassem ou caíssem durante a jornada, era ameaçada de voltar para o banheiro, e tinham suas porções de água e comida da noite, a única alimentação do dia, suspensas pela noite seguinte ao deslize.
Toda as presas da fazenda sofrem, toda aquela família estava sendo humilhada, mas nada se comparava com a nova vida daquelas cinco azaradas, que foram sorteadas a viver aquilo. Era uma vida degradante, uma humilhação maior do que elas aguentariam ver e suportar, e literalmente elas estavam aproveitando uma nova vida de merda. Uma vida onde a esperança não tinha alimento, e a salvação tinha sido abandonada.
Aquela semana seria tão cruel quanto todos os dias no trabalho anterior. Mas certamente seriam as mais submissas das quinze parentes.