Já haviam várias horas desde o amanhecer do dia, e Míriam, agora sozinha na grande muralha, estava ainda mais confusa e exausta. A solidão e o medo do que estava por vir, mesmo que enebriado pela sede e fome, estavam dominando sua destruída mente, fazendo ela ter alucinações terríveis. Ela tentava imaginar onde estaria sua mãe, e para onde levaram sua irmã caçula, mas sua mente era incapaz de dar a ela alternativas para isso. O Sol incomodava, pois as prisioneiras castigadas na muralha ficavam numa posição em que os raios solares batiam diretamente nelas durante todo o dia, não tendo nenhuma sombra, exceto quando nubla ou chove. Ela não resiste e dorme.
Eis então que dois guardas chegam aos pés do grande muro e gritam:
- Acorda vadia! Sua hora chegou.
- Vamos putinha, agora é que sua hospedagem começa de verdade.
Míriam confusa, acorda assustada, sem saber se é real ou uma alucinação. E percebe uma escada colocada do seu lado, e um guarda que nela sobe, trás com ele uma chave, e solta os grossos parafusos do grilhão que prende suas pernas, e em seguida cada um dos braços. Ela cai, é uma altura de vários metros, e seu corpo é amortecido por montes de grama seca que eram colocados embaixo do muro.
- Aiiiii! Exclama ela de forma baixinha, pela fraqueza de seu corpo, ao receber o impacto do solo no monte de grama.
Ela implorou por um gole de água:
- Por fa-vor, me dá á-gua. Disse ela em pausas curtas, que demonstravam fraqueza e sofrimento.
Mas os guardas, que antes tinham dado a sua irmã uma boa dose de urina, que fez Míriam sentir inveja, dessa vez, ignoraram em silêncio as súplicas da moça ruiva. Também diferente de sua irmã que foi levada em um pau de arara, Míriam foi forçada a ir caminhando, com toda a dificuldade e esforço que ela precisou para isso. Ela cambaleava, e só ficava em pé, pois uma vara com uma coleira tinha sido colocada em seu pescoço, e um guarda a segurava longe do chão para não cair. Era um esforço dantesco para dar um simples passo, e o pisar no chão fazia todo seu corpo doer.
A pobrezinha foi andando, sendo que ela praticamente era empurrada pelos guardas, e viu ao sair das árvores, ao longe os prédios da grande prisão, da cozinha e da administração. Mas percebeu que estavam indo em outra direção. Ela confusa, não pensou em nada, apenas seguiu como um zumbi os comandos e empurrões dos dois guardas. Foram até a borda de uma floresta, uma espécie de bosque, onde duas guardas femininas, duas jovens moças negras, altas e esguias, aguardavam a chegada de Míriam. Ali foi realizada a troca da escolta da garota.
- Nossa, que estrago fizeram nela. Disse uma guarda para os rapazes.
- Rss. Você não viu nada ainda, tem que ver o que vamos fazer com a mãe dela. Respondeu o rapaz para a guarda.
Nesse momento, Míriam gelou, e o medo fez com que ela esboçasse choro, mas estava tão desidratada, que nem as lágrimas lhe acompanhavam mais. E ela se postou em silêncio a continuar andando, agora sob os comandos de duas garotas que deveriam ter a sua idade, mas que tinham total poder sobre seu corpo e sua vida. Garotas que não tinham nenhuma compaixão com ela. E que estavam ansiosas para humilhar a pobre ruiva. Continuaram por longos minutos, cada passo era um martírio, até que chegaram a uma casa isolada, que mesmo ficando dentro dos muros da prisão, não era visível para quem não conhecesse bem o lugar.
Na porta uma velha senhora, preta, gorda e com aparência truculenta esperava pelas garotas. E quando Míriam foi posta de joelhos a sua frente, na entrada da casa, ela sem dizer nada, nem expressar nenhum sentimento no rosto, deu um soco na cara da garota, que sentiu seus olhos queimarem, e uma dor terrível, que tornou turva a visão daquele olho. Em seguida, repetiu o seu ódio, e deu outro soco, dessa vez no outro olho. Míriam começou a chorar e implorar para não apanhar.
- Não!!! Não faz isso! Por favor!
- Faço! Você é um lixo, uma imprestável, e a única coisa boa que você tem é essa carne para apanhar. Disse a velha com tom ríspido.
- Socorro, me ajuda! Exclamou Míriam com o choro engasgado.
- Aqui ninguém vai te ajudar, e ninguém vai ter pena de você sua puta! Disse uma das guardas.
- Aqui nessa prisão, você nem começou a sofrer ainda. Disse a outra guarda rindo.
- Vadias brancas como vocês precisam pagar o mal que fizeram ao nosso povo, e essa prisão é um expurgo desse mal. Sua cor de pele vai te dar muito sofrimento ainda, e seu corpo não te pertence mais, sua vida não te pertence mais, seus sentimentos não existem para nós, e seu prazer é apenas uma forma de te humilhar e te causar dor. Explicou a velha, que continuou.
- Agora você vai ser minha por alguns dias, vou te condicionar a uma nova vida, será uma nova espécie, e sairá dessa floresta irreconhecível. Vou te deixar dormir, vai descansar, e quando acordar, você será minha, só minha, e vou te fazer provar as mais macabras experiências para te treinar paro o seu futuro. Deixe aqui sua humanidade cadela, deixa aqui seu prazer, e doe seu corpo para a prisão, seu sofrimento é o nosso prazer. Você vai se lembrar da muralha, e como era bom estar ali.
Míriam estava em pânico, não conseguia dizer uma só palavras, somente arregalou os olhos, e abaixou a cabeça.
A velha então ordena que as guardas deixem Míriam com os cães, e elas a arrastam para uma jaula, que servia de canil para dois grandes cachorros sem raça definida. Míriam nem se importa de estar com eles, e os cachorros ignoram sua presença. Mal entra na jaula, ela vê o pote de água dos bichos, e como uma cadela, enfia a cara naquela água suja, matando sua sede. Em seguida, divide a ração para tentar matar sua fome, e percebe que seu corpo cansado está relaxando. Ela dorme, e praticamente passa dois dias inteiros desmaiada. O sono é tão pesado, que nem percebe os cães lambendo sua buceta, ou tentando penetrá-la enquanto dorme.
Esse agora seria seu novo lar provisório, até ser levada para outro lugar daquela maldita prisão.
(Bom, agora vamos dar uma pausa nesse trio de protagonistas, porque enquanto elas estão se adaptando a nova vida, um grande evento está sendo organizado na prisão, e novidades estão chegando, além do retorno de velhas conhecidas)