Inferno particular
Quando a terrível semana de martírio das pobres prisioneiras estava acabando, e praticamente todas as presas já tinham sido presenteadas com marcas, cicatrizes e longas sessões de dor, e o cenário do pátio onde elas estavam era caótico e pavoroso. Um mar de mulheres brancas, queimadas de Sol, descascando e vermelhas, exaustas, literalmente penduradas em seus caibros empaladores, arqueadas e com braços jogados para baixo, sem forças de olhar para cima, ou mover seus corpos. Essas pobres sofredoras estavam com um olhar pálido e vazio, uma respiração ofegante e curta, demonstrando um cansaço e um desgaste físico e emocional impensável para um humano. Durante essa semana, apenas um copo pequeno de um caldo gosmento e sem sabor, e uma seringa de água era dado a elas por dia, insuficiente para matar a sede e a fome, mas suficiente para que elas não morressem. Só que a desidratação causava dores terríveis pelo corpo, a boca seca aberta já não babava mais e não urinavam há dias. Praticamente elas vegetavam presas naquele pátio.
Aquelas jovens garotas que foram escolhidas pela rica senhora, tinham tido uma semana ainda pior que as prisioneiras do pátio, pois para essas selecionadas sofredoras, pois elas nem a gosma sem sabor tinham recebido. Apenas uma pequena porção de água foi levado a elas nos últimos sete dias, e suas colocações tornavam o tempo um castigo cruel, capaz de destruir uma pessoa.
Elas foram resgatadas na mesma ordem que foram deixadas para o castigo sádico que tinham sido escolhidas. A primeira, a morena do grupo, estava pendurada na velha árvore, com os pulsos esfolados e em carne viva, pálida, magra e tendo alucinações, seus olhos estavam arroxeados pela argola de ferro forçando-o, e seus orifícios tinham larvas de moscas depositados por conta do mel e da impossibilidade de higiene. Quando a corda foi cortada, ela caiu ao chão como uma fruta podre, sem a menor resistência ou tentativa de amortecer a queda. Apenas um baixo e curto gemido foi ouvido. Ela não conseguia caminhar, e só voltaria para o pátio, arrastada pelos guardas.
A segunda a receber a visita dos guardas para o resgate e rendição de sua posição, a primeira das gêmeas, estava prostada de ponta cabeça na cruz de madeira, muito queimada de Sol, com um ninho de pássaros sendo feito em sua vagina aberta, que como sua amiga, tinha larvas de moscas, bernes e muitos insetos. Sua boca aberta estava com a língua roxa, dormente e machucada, quase certo de que ela tinha uma inflamação na língua, e ela já deveria estar necrosando pelas prensas, e sinais de mordidas estavam na ponta de sua língua e seus lábios, provavelmente por causa de animais que tinham mordido seu rosto. Ela fedia, e sua cabeça bem avermelhada pelo sangue, lhe causava dores absurdas, que já não eram capazes de fazê-la chorar, pela desidratação. Tirada da cruz, ela também não tinha condições de caminhar, e foi amarrada pelos pulsos, e puxada como um saco de batatas pelos guardas, que foram em direção a sua irmã.
Sua irmã gêmea, idêntica a ela, estava em uma situação muito pior que ela, pois ao chegarem para buscá-la, ela se encontrava com a cabeça coberta de formigas, seus olhos estavam cobertos de pus e inflamados pela impossibilidade de piscar nos últimos sete dias, e insetos roíam seu rosto e pele, que estava muito machucada. Desenterrada do chão, sua coluna estava machucada, suas pernas e braços dormentes não respondiam, e sua vagina estava cheia de minhocas e sanguessugas, que aproveitaram a umidade da moça para fazer sua morada. Havia mofo em sua pele, e micoses pela umidade da terra. Ela havia tido uma lesão na coluna, que nunca mais iria fazer ela ter uma vida normal. Seus olhos estavam turvos e ela imaginava que ficaria cega, tanto que ela não conseguiu ver sua amada irmã, e não foi vista por ela, já que quando a resgataram, não tiraram as vendas adesivas de seus olhos.
Restavam ainda as duas primas, que estavam pouco adiante, esticadas e presas uma a outra em um velho carvalho, com a coluna arqueada, que lhes havia causado uma hérnia pelo tempo que passaram assim, seus rostos tinham baratas passeando, e os mamilos das duas estavam inflamados pelos enferrujados anzóis. Seus anus tinham insetos e suas vaginas estavam cobertas de fungos pela exposição ao tempo. Eram dois corpos febris, com olhares de pânico e um vazio que não demonstrava esperança de sair daquela situação. AS duas desejavam morrer, mas não tinham conseguido. Jogadas ao chão, elas se contorciam de dor nas costas e estavam travadas, sem conseguir mexer os braços e com as pernas dando pequenos movimentos curtos.
Estavam todas vivas, em condições insalubres, e com traumas na mente que nunca mais seriam esquecidos. Foram arrastadas até o pátio onde as prisioneiras estavam, e foram mostradas a todas elas, que olhavam com pavor o que assistiam. Depois foram levadas ao pátio principal da prisão, onde a sádica senhora iria terminar seus macabros desejos. Pois todas foram lavadas com lavadoras de pressão, que causava desconforto e dor à aqueles tão machucados corpos, e em seguida um médico inspecionou as prisioneiras, dando o veredito para cada uma delas.
A morena, que estava com a língua preta, teve sua língua amputada, impedindo uma infecção maior, e dando a senhora um souvenir, as gêmeas tiveram um dente cada arrancado, apenas para dar a senhora uma lembrança delas, e isso foi feito sem anestesia, causando uma dor imensa, que terminou no desmaio das duas pobres. O olho da gêmea que não piscou não cegou, mas seus músculos ficaram muito lesionados, então ela iria fechar os olhos com muita dificuldade pelo resto de sua vida. E as duas primas tiveram os mamilos arrancados pelo médico, que cortou a protuberância dos seios das moças sem nenhuma anestesia, e como estavam inflamados, a dor foi ainda maior.
Ao final daquela semana, a sádica senhora levou consigo todas as gravações do tempo que as garotas ficaram presas na floresta, e como souvenir levou pedaços delas, em potes, que seriam guardados em sua coleção particular.
Estava assim encerrada aquela macabra jornada.
Ao amanhecer do dia seguinte, todas as prisioneiras foram lavadas, receberam pomadas cicatrizantes e foram hidratadas e alimentadas. E após essa limpeza pesada, foram sendo levadas para o interior do prédio da prisão, onde a rotina maldita daquele lugar voltava ao que era antes. E pelos próximos meses, muita coisa iria mudar na vida das azaradas mulheres dali.