Quando decidimos retornar para junto de nossas esposas, vi que um casal elegante estava conversando com a Lucinha e a Alícia. O homem, Raul, aparentando ter uns cinquenta e poucos anos, era um empreendedor imobiliário de enorme sucesso e magnata do varejo de materiais para construção. Ele estava acompanhado de uma linda loira, que se chamava Gabriela, seus olhos azuis brilhavam no reflexo das enormes pedras que adornavam seu pescoço. A conversa era leve, mas o clima estava carregado de poder e insinuações indizíveis. Tanto ele como Roger, ao notarem que estaríamos em uma outra mesa num canto mais afastado, mexeram seus pauzinhos e nos instalaram na deles. Meu martírio começaria ali.
(CONTINUANDO)
Roger, após um tempo de conversa comigo, passou a direcionar a sua atenção para a Lucinha, enquanto que, coincidentemente, Alícia passou a conversar comigo, curiosa em saber mais sobre mim e a minha vida, como se eu tivesse algo de interessante para lhe falar. Num certo momento, com a justificativa de melhorar nossa interação, Roger pediu que trocássemos de lugar na mesa, quando eu passei a ficar do lado esquerdo de Alícia que ficou ao lado de seu marido que, por sua vez, ficou do lado esquerdo da Lucinha. Às vezes, eu olhava para Lucinha e podia ver como ela estava sendo envolvida pela conversa do Roger, aparentando estar bastante interessada no que ele falava. Naquela hora, nada havia que indicasse estar acontecendo algo mais, ainda era muito cedo, eles haviam acabado de se conhecer e os meus olhares com os da Lucinha se cruzavam frequentemente, oportunidades em que trocávamos sorrisos um para o outro, demonstrando que estava tudo bem.
Anunciado o início do jantar, Roger levantou-se, oferecendo a sua mão para a minha esposa. Ela nesse momento me olhou, mas, talvez com medo de ser descortês, aceitou a gentileza. Como não me opus a isso, ele, não sei se conscientemente ou não, após saírem, pousou sua mão no imenso decote nas costas dela, guiando-a para um imenso e variado buffet. Apesar de eu não ter gostado, também não imaginei que aquilo pudesse significar algo mais e decidi dar espaço e tempo para as coisas se acertarem.
Decidi ser cortês e fiz o mesmo com Alícia, oferecendo-lhe minha mão e braço para acompanhá-la até o buffet. Ela me aceitou com um lindo e cativante sorriso e assim, lentamente, quase desfilando, fizemos o mesmo caminho para a mesa de alimentação. Durante o percurso, ela recebeu um mar de saudações e deferências, e ela, educadamente, apresentava-me a todos. Ela era realmente conhecida e respeitada por todos os presentes. Nos encontramos com Roger e Lucinha no buffet e só ali tive chance de trocar poucas palavras com a minha própria esposa:
- Gente… Gê, olha isso! Já viu tanta comida assim? Tô passada…
- Vai devagar, hein! Pobre quando come muito melado, se lambuza.
- Credo! Que ditadinho mais caipira, hein, amor!? - Disse e riu de uma forma gostosa, colocando uma mão no meu peito e chamando a atenção de Roger e da Alícia que também conversavam perto da gente.
Depois de nos servirmos, voltamos para nossos lugares. Roger insistiu que Lucinha voltasse ao assento que ficava do lado direito a ele. Alícia, por sua vez, novamente sentou-se do meu lado, sem que alguém sequer tivesse sugestionado isso. Ter uma mulher linda, culta e viajada como aquela ao meu lado era um prazer, mas confesso que ver minha Lucinha ao lado do Roger começou a me incomodar. Não sei se dei alguma bandeira, se ele notou ou se ela disse alguma coisa, talvez que poderia estar sendo impertinente, mas fato é que virou-se para falar um pouco comigo também:
- Espero que não se importe de eu pegar a sua esposa emprestada, Santos? - Disse e sorriu de uma forma amigável: - É que ela é muito divertida e estamos tendo uma conversa muito agradável. Além disso, a Alícia já conhece todas as minhas histórias, não é, querida?
- Ah… Não, não, tudo bem. Fico feliz que ela esteja se divertindo. - Respondi, engolindo o meu orgulho.
- Ah, amor, estou mesmo! - Lucinha me confirmou e contou algumas passagens rápidas de algumas histórias que ele havia lhe contado, fazendo-o rir e rindo junto.
- E são todas verdadeiras, não são, Alícia? - Ele perguntou, ainda sorridente.
- Hã!? Ah sim. São sim, querido. Realmente hilárias… - Ela ratificou, mas não tão sorridente quanto eles.
Como não fiz objeções e Lucinha parecia se divertir, deixei seguir. Após um tempo e uma conversa mais íntima entre eles que eu não consegui ouvir, estranhei porque vi Lucinha me dar um sorriso meio forçado, provavelmente para que eu não ficasse constrangido ou chateado com toda aquela atenção que ela estava recebendo ou talvez porque ele já tivesse falado algo que a tivesse surpreendido.
Na verdade, apesar do que eu sentia, Lucinha parecia estar adorando toda a atenção dele e ajeitou na cadeira, cruzando suas pernas para o lado do Roger, conversando sem parar com ele. Após comermos, os pratos foram recolhidos. Alícia então me convidou para acompanhá-la até a mesa das sobremesas e não tive como recusar:
- Está tudo bem, querido? Você parece meio… tenso.
- Hein!? Ah não, não, não… Acho que é o ambiente. Não estou muito acostumado a todo esse “rique e foque”.
- Aham… Sei! - Disse e sorriu, fingindo acreditar: - Me passa uma colherzinha, por favor?
Atendi seu pedido e voltamos à mesa. Em nossos lugares, agora um outro casal estava sentado, conversando com Roger e também com a Lucinha. Alícia pegou sua taça de champanhe e me convidou a fazer o mesmo, para sentarmos em uma mesa ao lado, onde ficamos degustando nossas sobremesas, bebendo e conversando amenidades. Ela me envolveu em suas histórias de viagens internacionais e não me dei conta do tempo passando. Só depois de mais de meia hora, é que me lembrei da Lucinha. Quando olhei em sua direção, vi que o Roger estava muito mais próximo dela do que da última vez, aliás, os dois estavam praticamente colados. O casal que havia chegado por último já não parecia interagir tanto com eles, conversando apenas entre si. Lucinha parecia estar hipnotizada por tudo o que ele estava contando e ocasionalmente, balançava sua cabeça ou jogava os cabelos de um lado para o outro, sempre rindo e olhando intensamente para ele. Eu já estava a ponto de ir até lá acabar com aquele clima de romance, quando Alícia, notando o meu desconforto, colocou sua mão sobre a minha e falou algo que quase me tirou o chão:
- Não adianta usar de subterfúgios com você, querido. Já notei que é um homem maduro, inteligente e certamente já deve ter notado que o Roger está tentando seduzir sua esposa. Estou errada?
A naturalidade com que ela falou aquilo me deixou sem ação. Eu não podia acreditar no tom casual que ela adotou, como se aquilo, se realmente aquilo estivesse acontecendo, fosse a coisa mais normal do mundo. Naturalmente, fiquei sem resposta, mas ela sabia bem o que dizer:
- E ele provavelmente terá sucesso. Quase sempre ele consegue!
Eu estava surpreso e certamente meu semblante denunciava isso. Alícia me olhava com uma calma sereníssima, não piedade ou medo, e apertou ainda mais a minha mão, certamente sentindo toda a tensão que de uma dúvida, agora passara a ser uma constatação. Minha primeira reação foi ficar irado e tentar me levantar, mas ela me manteve sentado e continuou:
- Fique calmo e respire fundo. Pense um pouco antes de agir! Não há motivos para você ficar chateado, afinal, toda mulher acha atraente um homem rico e poderoso como o Roger.
- E eu sou o quê? O tonto, o babaca do marido pobre que será corneado? Então, não tenho valor algum por não ser rico ou poderoso como ele? - Perguntei chateado.
- De forma alguma! - Ela falou e secou suavemente sua boca num guardanapo antes de tomar mais um gole de seu champanhe: - Vi o quanto se amam, tanto você a ela como ela a você. Se acontecer, e digo que há uma grande possibilidade disso acontecer, o amor de vocês não será menor, nem seria afetado, afinal, sexo e amor são coisas bem diferentes.
Eu não conseguia acreditar que ela estava falando sobre seu próprio marido dessa maneira simplista e superficial, enquanto assistia ele dar total atenção à minha esposa. Se o ruim já não fosse suficiente, bem naquele momento, vi o Roger puxar Lucinha para mais perto dele ainda, passando agora a sussurrar em seu ouvido. Ela arregalou os olhos surpresa com algo que lhe foi dito, mas logo depois um sorrisinho maroto e contido brilhou em seu rosto. Houve um momento em que ela pareceu hesitar, mas pouco depois ela balançou a cabeça, negando alguma coisa para ele e me olhou nesse momento com um claro receio de algo. Ainda assim, ela sorriu para mim de uma forma tímida e meio constrangida, parecendo estar um pouco confusa ou temerosa. Como eu gostaria de poder ouvir cada palavra para entender o contexto do que a deixou daquela forma: O que ele perguntou? Por que ela disse não? Estranhamente, com uma mistura de emoções, sensações e sentimentos conflitantes, eu comecei a ficar excitado vendo minha esposa ser cortejada a poucos metros de mim. Não sei se Lucinha notou minha tensão, mas pouco depois ela me soprou um beijo do outro lado da mesa, o que me deixou mais tranquilo, embora eu tenha reconhecido um brilho que eu conhecia bem em seus olhos: malícia! Eu me virei para a Alícia e perguntei objetivamente:
- Você não se importa que o seu marido fique flertando com outras mulheres?
- E por que me importaria? Não tenho problemas algum com isso! Entenda, eu não sou burra, sei que se ele quiser, irá fazer isso com outras mulheres, sabendo eu ou não, gostando eu ou não. Ele simplesmente é assim e não deixará de ser por minha causa. - Disse e tomou novo gole de seu champanhe, encarando-me de uma forma sedutora antes de continuar: - E falando honestamente, eu sou mulher, entendo perfeitamente o que sua esposa está sentindo. Quando se está com um homem como ele, você se sente a única pessoa que importa do mundo. Essa intensidade natural do Roger é um afrodisíaco muito poderoso para qualquer mulher! Ele simplesmente é assim, charmoso e sexy…
- Então, para você está tudo bem ele transar com outras mulheres? - Insisti, interrompendo-a, não acreditando naquela conversa.
- Para mim está mais do que bem! Eu até o encorajo. Ele precisa de mais sexo do que eu posso dar. Então, ele sempre dá uma escapulida e depois volta para mim saciado e disposto a me dar amor. Já com as outras é só sexo mesmo.
Este era um mundo totalmente novo para mim. Eu até já havia lido alguma coisa sobre relacionamentos liberais, mas nunca tinha conhecido um casal que fosse realmente desse meio. Alícia percebeu que eu continuava confuso:
- Olhe para ela, querido. - Disse, apontando para Lucinha com um discreto meneio de cabeça: - Veja como ela está animada, conversando com ele. No momento, ela está cheia de desejo e começando a ficar excitada com toda a atenção dele. Nós, mulheres, somos intuitivas por natureza e ela já deve ter sentido que o interesse dele vai muito além de uma simples cordialidade.
- E por que ela não para? Ela já não deveria ter cortado as iniciativas dele? Poxa, ela é casada, comigo! - Frisei, meio irritado.
- Não são todas que conseguem ter esse discernimento. Certamente, ela sentiu seu poder e está se submetendo ao domínio dele. A vontade de se submeter a ele é uma consequência inconsciente. Eu sei como é isso, porque foi assim que ele me conquistou e é o que ele faz comigo também.
- Ah, eu vou lá acabar com isso e…
- Calma, querido! - Ela me interrompeu, novamente segurando em meu braço: - Vamos só observar, por enquanto. Talvez eu esteja errada e ela resista, quem sabe, não é? Mas mesmo se ela não resistir, que mal há nisso!? É só sexo, entende? Ela irá gozar, provavelmente muito mesmo e depois retornará para você, louquinha de desejo e querendo te compensar de toda eventual angústia que possa ter te causado. Deixe que ela se divirta! Acredite em mim: você irá adorar o que ela fará com você depois de uma transa com o meu Roger. Ah, se vai…
- Ainda assim, eu…
Ela me interrompeu agora com um gesto de mão e pegou a garrafa de champanhe, servindo-se e a mim também. Depois disso, falou:
- Acalme-se! Estou aqui para te ajudar. Vamos só observar por enquanto, ok?
Enquanto eu estava chocado em ouvir toda a franqueza das palavras de Alícia, fiquei extremamente surpreso ao notar que, apesar do meu estômago estar revirando, com um sentimento de ciúme que me dilacerava, eu estava de pau duro. Tentei desviar um pouco minha atenção da Lucinha e perguntei:
- Você… Você também trai o seu marido?
Alícia riu e tocou em minha mão novamente, acariciando-a suavemente:
- Claro que não, querido! Ele nunca me deixaria fazer isso. Claro que já tivemos algumas festas bem… - Parou, pensando em como dizer, sorrindo com alguma lembrança e continuou: - Bem selvagens em nossas propriedades, com muito sexo, ménage, swing, mas nunca fiz nada escondido. Eu até transo com seus amigos ou parceiros de negócios, mas só quando ele quer. Tudo gira em torno dele, do poder dele, entende?
Olhei para a Lucinha novamente e agora os indícios de que ela estava ficando excitada já eram sinais inconfundíveis, até visíveis eu diria, quase gritantes. Sua forma de sentar, sua inclinação em direção a ele, a forma como o encarava, sutis mordidas de lábio, tudo indicava que lentamente ela estava caindo em seu feitiço. Eu estava chateado, enciumado, irado, mas também excitado e curioso, e fiquei ainda mais surpreso comigo mesmo quando decidi não intervir. Sim, decidi que iria ver se Roger teria sucesso com a minha esposa e se ela, por sua vez, se entregaria aos galanteios dele, pois eu ainda acreditava em seus votos de fidelidade comigo.
Alícia, notando o meu silêncio e como eu buscava o olhar da Lucinha, sem ter sucesso, continuou:
- Provavelmente será uma das melhores transas da vida dela. Sempre é para mim. Se bem que, no meu caso, é amor e não sexo, entende? - Tomou outro gole de seu champanhe e me encarou, de uma forma sedutora: - Sabe, eu até gosto quando ele tem uma nova conquista, principalmente quando é a esposa de outro homem, porque quando ele chega em casa no dia seguinte, ele… Nossa! Ele me ama de um jeito, com uma intensidade, uma força, enquanto fica se gabando de como a casadinha tímida e fiel resistiu no começo, mas depois, no final, virou uma safada sem limite, até mesmo implorando pra ele foder o seu cu com força.
Conforme ela ia falando as situações, minha mente começava a se encher de imagens selvagens, devassas. Eu já não tinha mais certeza de nada, quando fui interrompido pelo mestre de cerimônias que convocou o primeiro leilão da noite:
- Observe… Acredito que esta será a sua primeira grande jogada da noite. - Disse Alícia.
- Como assim?
- Apenas assista! O Roger é um mestre nisso. Muito em breve saberemos se ele vai conquistar sua esposa.
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