Poder e riqueza - O chifre que mudou a minha vida! - Parte 33 - Final

Um conto erótico de Mark e Nanda
Categoria: Heterossexual
Contém 12291 palavras
Data: 19/03/2024 11:02:27
Última revisão: 22/03/2024 18:27:03

Despedimo-nos enfim e fui para casa, trocar de roupa e trabalhar. Minha cabeça tentava se concentrar nos compromissos profissionais que eu tinha, mas as minhas dúvidas e sentimentos turbavam tudo na minha mente. Foi uma semana difícil, mas o final de semana seria ainda mais para todos que faziam parte daquele circo que havia se tornado a minha vida.

(CONTINUANDO)

Aliás, logo no primeiro dia, bem pouco após nossa trepada fenomenal, eu estava pisando nas nuvens. Não porque estivesse apaixonado pela Lucinha, apesar de eu saber que sentia algo muito forte por ela, mas porque fora realmente uma trepada das melhores que eu já dera na vida, cheia de tesão e uma sensualidade que eu desconhecia. Trabalhei como nunca e fechei ótimos negócios, conquistando novos ótimos clientes e ampliando sensivelmente o portfólio da “Candiru”. Como eu já havia avisado que faria, resgatei todo o valor investido pela Alícia e lhe devolvi nesse mesmo dia, obviamente descontando minha corretagem e a taxa de urgência, que cobro de todo o cliente que não faz uma previsão de saque com dias de antecedência. Ela ainda tentou entrar em contato comigo para agradecer todo o meu trabalho, mas eu não a atendi, deixando que minha secretária cuidasse disso, de uma forma totalmente profissional e protocolar.

Lucinha, como eu já imaginava, me mandou uma mensagem nesse mesmo dia de manhã, praticamente implorando para que eu continuasse cuidando de seu dinheiro e eu concordei, afinal, não queria criar uma quizila com a mãe do meu filho. Aliás, acabamos nos tornando mais próximos e sempre que podíamos trocávamos mensagens e ela vivia me enchendo com mensagens altruístas ou de conteúdo de autoajuda, ou mesmo ligações para falar dos mais variados assuntos, sempre com prevalência do dia a dia e das necessidades do Gú.

Aliás, o Gú, depois da cirurgia, parecia outro: muito mais alegre, ativo, esperto, arteiro, realmente havia mudado sensivelmente, mas para muito melhor. Soube pela Lucinha, numa dessas nossas conversas, que ele havia aprontado uma das boas com a dona Helena. A Lucinha me contou que o danado inventou de fazer arte com a avó e o meio que bolou foi tirando o sifão da pia da cozinha sem que ela notasse. Então, sempre que ela ia lavar alguma louça ou copo, a água molhava a cozinha toda. Fez isso várias vezes até ser flagrado pela própria dona Helena que havia ficado de butuca e que, brava, lhe deu um tapa na bunda. Foi a própria dona Helena que lhe contou tudo, inclusive o castigo, pedindo que a Lucinha não se zangasse com ela e que não me contasse, algo que a Lucinha não conseguiu evitar. O melhor foi quando a dona Helena lhe contou que, após o tapa, ele fez um biquinho, como se fosse chorar, mas saiu correndo e rindo da travessura feita, além de ter parado na porta da cozinha e dado, ele próprio, dois tapinhas em sua própria bunda, só para desabusá-la. Adorei a inteligência do moleque e ri bastante de sua malandragem:

- Ele não vai parar. - Adverti a Lucinha: - Já, já ele tira de novo.

- Minha mãe pediu para o meu pai colocar uma espécie de braçadeira de metal no sifão. Agora, nem que ele tente muito, conseguirá soltá-lo novamente.

Minhas videochamadas com o Gú também andavam a toda. Ele sempre vinha com uma novidade e a última foi contar do seu dia a dia na escolinha. Essa foi a primeira decisão conjunta que eu e a Lucinha tomamos juntos sobre ele, afinal, como ele estava se recuperando maravilhosamente bem e muito rápido, decidimos que seria bom ele conviver com outras crianças e aprender coisas diferentes das quais ensinávamos. Nesse dia, descobri que o meu filho era um safadinho:

- Pai, já tô namorando.

- Oi, Sério!? Que maravilha, Gú, mas, explica direito esse troço aí.

- Ah, tem um monte de menina lá. Então, eu escolhi três.

- Três!? - Fiz o maior esforço para não cair na risada.

- É! Tem a Ritinha, a Ana e a Marcinha. Ritinha é loirinha e baixinha, a Ana é uma sapeca e a Marcinha tem um bundão…

- Gustavo! Que conversa é essa!? – Lucinha o interrompeu, falando meio brava.

- É, ué! Acho que vou casar com as três.

- Mas… Mas…

- Calma, Lucinha. - Eu a interrompi sem agora conseguir conter uma gostosa risada: - É coisa de criança. Não tem que se preocupar. O danadinho deve ter puxado a mãe.

- Há, há, há para você, Gervásio. – Ela retrucou e se levantou, mas não sem antes estipular tempo e dizer que ele já deveria estar dormindo.

Conversamos mais algumas poucas coisas e nos despedimos. Lucinha me ligou minutos depois:

- Gervásio, você ouviu aquilo!?

- Deixa o menino. É só brincadeira. Ele só está deslumbrado com as coleguinhas.

- Sei… Safado igual o pai!

- O pai!? Sério isso?

Ela ficou encabulada porque, obviamente, ela era muito mais safada que eu, inclusive, sua safadeza e falta de cumplicidade foram os fatores que culminaram no final de nosso casamento, então ela não tinha como me rebater. Conversamos mais algumas amenidades e desligamos. Ah, o casamento, reatar ou não reatar, eis a questão? E que questão… Essa me atormentava 24h por dia, 7 dias por semana e eu não sabia o que decidir.

Após alguns bons dias refletindo, decidi ligar para o meu casal de orientadores para assuntos liberais e de outras naturezas: Mark e Nanda. Calhou deles estarem vindo para São Paulo, o Mark viria buscar a Nanda que estava retornando de uma viagem de negócios dos Estados Unidos. Reunimo-nos num almoço em minha casa. Após eu contar todas as novidades para eles, inclusive da minha experiência no motel, notei que eles se entreolharam por um instante e o Mark foi o primeiro a falar:

- Seguinte, Gervásio, acho que você está indo com muita sede ao pote. Nu, cara, você é louco de fazer um ménage masculino logo de cara e ainda com um completo desconhecido. Porra, meu, e se ele fosse um desequilibrado? E se fosse um doente ou se tivesse alguma doença? Vocês não podem ir se entregando assim não, caraio.

- Ah não, mas ele parecia de boa e saudável.

- Aham… - Ele resmungou enquanto tomava um bom gole de sua bebida: - Um infectado por HIV no início da contaminação, também não aparenta, aliás, acho que isso é quase uma regra para qualquer DST, não é, Nanda?

- É, acho que sim… - Resmungou a Nanda sem tirar os olhos de mim, como se quisesse estivesse se segurando para me contar algo.

- Entenda uma coisa: se você decidir voltar com a Lucinha e essa é uma decisão só sua, obviamente que a gente não vai opinar sobre isso, se prepare, porque ela foi bem clara e não ficará só com você. Acha mesmo que está pronto para isso, aliás, você quer isso, ser praticamente um corno manso da sua esposa?

- Ué, mas não vou ser corno. Caso a gente volte, será jogo limpo agora: eu saberia de tudo, com quem, quando, etc. e etc....

Nanda balançou negativamente sua cabeça e, como já era de se esperar, explodiu:

- Gervásio para! - Disse, meio invocada e brava, chamando a minha atenção e a do marido: - O Mark não quer falar, mas eu vou: você não tem perfil ou bala para ser um liberal nesse momento. Corno!? Affff... Muito menos ainda. Na primeira saída dela, você vai despirocar, falar um monte para ela e vão se desentender.

- Mas não vou ser corno, Nanda, eu já expliquei que…

- Para, para, para! - Ela me interrompeu novamente: - É claro que vai, cara! Ser corno não tem nada a ver com ser traído. Ser corno do parceiro é aceitar que ele tenha outro ou outra. Veja eu e o Mark: nosso jogo é aberto, falamos sempre com quem, quando, como, e tudo mais que o outro quiser saber, isso só nos torna cúmplices, mas mesmo assim ele é meu corno e eu sou corna dele.

Mark a olhava, mas balançou negativamente sua cabeça, entretanto, sorrindo maliciosamente:

- Uai! Cê sabe que é assim, Mor! Você é o meu corninho mais gostoso e que mora no fundo do meu coração e eu sou sua corninha mais safadinha. - Ela deu uma parada pensando e resmungou: - Essa palavra soa tão esquisito… Será que existe essa palavra corna? Acho que não, né? Então, acho que só o Mozão que é corno aqui...

- Ah vá!... - Resmungou o Mark, rindo.

Aliás, eles riram juntos da bobeira dita por ela, enquanto ela se aproximava e o beijava com uma ternura de dar inveja. Pouco depois, ela me encarou e não facilitou:

- Eu não sei se você daria conta do fogo da Lucinha; não sei se você daria conta de ser um corno manso ou mesmo o corninho dela; não sei se você seria feliz nesse tipo de relação; e, não sei se ela está sendo totalmente honesta com você.

Essa última consideração dela me deixou curioso e surpreso. Será que ela sabia de algo e não me contou? Eu precisava entender:

- Como assim “totalmente honesta”? Você está sabendo de alguma coisa, Fernanda?

- Talvez…

- Talvez o quê, Fernanda? Poxa, se a… a… Lucinha estiver mentindo novamente para mim. Bom, daí eu tenho um motivo para não voltar mesmo.

- Então… - Ela disse e tomou um gole de sua bebida, fazendo um breve suspense que só serviu para aumentar minha ansiedade: - É isso que está me deixando confusa…

- Como assim confusa? Do que você está falando, aliás, não está falando?

Eles se entreolharam por um momento e foi o Mark que iniciou a explicação:

- Já que você começou, agora tem que terminar, né? - Virou-se para mim: - Nós soubemos que a Lucinha teve um envolvimento com o Rick. Parece até que eles andaram ficando juntos algumas vezes.

- Mas souberam como, quando?

- Isso agora não vem ao caso… Só ficamos sabendo que ela estava com ele. Isso foi verdade mesmo.

- Pois é… - Resmunguei.

- O Rick é um filho da puta, Gervásio, talvez pior que o Roger, igual pelo menos. Só que ele tem uma baita quedinha por mim… - Fernanda agora explicava.

- Quedinha o caralho! O cara carrega um caminhão de bosta pela Nanda. - Mark a interrompeu.

Ela o encarou, sorrindo e balançando negativamente a cabeça:

- Nossa que sutileza, Mor. Cê quase pareceu uma lixa de parede limpando uma bunda.

Ele a encarou surpreso e riu, virando-se para mim:

- Depois o sutil sou eu. Vê se pode, Gervásio!?

Ela sorriu e fez uma caretinha para ele antes de continuar, agora me encarando:

- Então… Ele tem uma baita quedinha por mim e num dia, nem me lembro quando, eu estava num almoço de negócios aqui em São Paulo com alguns diretores da empresa em que trabalho e uns investidores, e os vi almoçando juntos…

- Isso foi depois do meu divórcio, certo? - Perguntei, querendo entender.

- Ah sim… Bem depois. Acho até que anos depois. - Ela deu uma rápida olhada para o marido e continuou: - Você acredita que assim que me levantei para ir ao banheiro, o safado veio atrás de mim e me interceptou assim que eu saí? Mesmo depois de anos sem a gente se encontrar, ele se acho no direito de me interceptar, puxando-me para um canto um pouco mais afastado, uma espécie de mezanino e começou a dar em cima de mim, e isso porque ele já estava acompanhado.

- Filho da puta!... - Resmunguei, inadvertidamente.

- Ele é mesmo! - Ela continuou: - Só que não dei bola para ele e forcei meu retorno à mesa, quando ele começou a fazer suas juras de amor, etc. e tal. Daí eu subi o tom, quase brigando com ele e ainda joguei na cara dele de que era um sem vergonha, afinal, ele estava acompanhado. Acredita que ele me falou que ela não era nada para ele, só uma acompanhante sem importância alguma?

- Acompanhante como? Garota de programa!?

- Foi o que ele deu a entender.

Eu estava assombrado com aquela revelação, mas não conseguia acreditar naquilo. Ela voltou a falar:

- Só que eu não engoli essa, sabe? Sei lá, acho que o meu sexto sentido apitou que tinha caroço nesse angu. Então, por conhecê-la um pouco e por conhecer aquele lá, e por saber que ele não tem escrúpulos quando quer alguma coisa, tanto que insistia em querer ficar comigo novamente pelas costas do meu marido, fiz um joguinho com ele: eu disse que se ele dispensasse sua “acompanhante”, terminando qualquer envolvimento com ela... – Falou, fazendo aspas com os dedos para mim: - Eu poderia considerar jantar com ele ainda naquele mesmo dia.

- E ele fez o quê?

- O que eu imaginava: voltou para a mesa e terminou com ela na frente de todos os presentes no local, sem nem pestanejar. Ele só não a humilhou, bem, não muito, mas terminou com ela, até falando meio alto. Para deixar bem claro de que ele não estava brincando, levantou-se e algumas notas de dinheiro sobre a mesa, saindo no mesmo instante.

- Canalha… - Falei, bebendo um gole de minha bebida: - E ela?

- Ela!? Sabe que ela até que reagiu bem? Ficou na mesa, meio triste é claro, mas se manteve altiva e terminou sua refeição tranquilamente. Algumas pessoas chegaram a olhar para ela, mas acho que a reação dela foi ótima, pois acabou com o interesse de todos logo em seguida. Eu é que não consegui me conter e pedi licença às pessoas da minha mesa, que também tinham presenciado tudo, falei que a conhecia e iria ver se ela precisava de ajuda.

- Por que você fez isso?

- E por que eu não faria, Gervásio? Eu a conheço mesmo! Apesar de tudo o que ela te fez, ela sempre me tratou relativamente bem.

- É…

- Então… Eu fui até à mesa e ali notei que ela estava bem mais chateada do que triste, mas bem. Ela me reconheceu de imediato e já ficou mais alegre em me ver, tanto que se levantou e me abraçou. Daí nós nos sentamos e… Bom, vou resumir: eu contei que o Rick era o mesmo que quase acabou com o meu casamento e contei que eu, indiretamente, havia feito ele terminar com ela.

- Porra! E ela? - Insisti, abismado.

- Ela ficou confusa num primeiro momento e quis ficar brava comigo, mas expliquei que se afastar do Rick seria a melhor decisão que ela poderia tomar na vida porque ele não a amava de verdade. Inclusive, eu disse que entre ele e o Roger, fico com um cachorro vira-lata. No final, acho que ela entendeu e fez algo que me surpreendeu bastante: pagou seu almoço com seu próprio dinheiro e juntou as notas que o Rick havia jogado sobre a mesa, doando para todos os funcionários do restaurante. Eu achei o máximo! Pena que o Rick já havia saído, porque eu gostaria de ter visto a cara dele.

- A Lucinha, garota de programa? - Resmunguei.

- Gervásio, ela não era, nem nunca foi uma GP. Para de ser burro, cara! Isso foi só uma forma que o Rick utilizou para falar, achando que iria diminuí-la para mim. Sei lá, talvez ele pensasse que assim, conseguiria me convencer que eu ainda era a mulher da vida dele.

- Eu também não acredito nisso, Fernanda.

- Nem deve, Gervásio, não é o perfil dela. Ela ser safada, querer um relacionamento liberal, tudo bem, nisso eu acredito! Mas garota de programa foi só o filho da puta do Rick forçando a barra. - Mark disse.

Fiquei em silêncio, assimilando toda aquela história enquanto bebia um bom gole da minha bebida e não me contive:

- Fernanda, só por curiosidade, você foi jantar com o Rick depois?

Ela deu uma gostosa risada nesse momento e abraçou ainda mais o braço do Mark:

- Fui... – Eu devo ter feito uma casa de surpresa nada boa: - Não, não foi assim! Deixa eu te contar... Depois que ela saiu e eu voltei para a minha mesa, terminamos nosso almoço. Então, liguei e contei tudo para o Mark. Meu Mozão, ainda um pouco inseguro, me perguntou se eu iria jantar com ele e eu, claro, neguei. Daí o Mark me perguntou qual o restaurante em que ele queria me levar e eu falei...

Mark deu uma gostosa risada nesse momento, enquanto balançava seu copo de bebida, interrompendo-a:

- Mas foi! - Ele falou, sem cessar seu sorrido.

- Fui, mas não fui com o Rick. O Mark me pediu para marcar com ele para o dia seguinte, para as 21:00. Daí o meu cavaleiro vingativo fez uma reserva no mesmo restaurante e horário, convidando uma amiga nossa, a Denise. Acho que você conhece…

- Conhe... Conheço! - Engasguei porque não sabia se eles sabiam do meu envolvimento com ela: - Conheço bem. É aquela loira, né?

- Qual é, Gervásio!? Para de ser banana, “caboco”! Eu sei que você pegou ela. Ela mesma nos contou.

Fiquei constrangido, mas a Fernanda não queria perder o embalo e continuou, após dar uma bela risada da forma como o marido me repreendeu:

- Gervásio, meu amigo… - Disse e deu uma grande risada que chamou a atenção de todos ao nosso redor: - Ai, ai… Você precisava ver a cara do Rick quando nós entramos no restaurante, as duas de braços dados com o Mark e fomos até sua direção. Cara, parecia que iríamos repetir o maldito jantar que quase me fez perder o meu marido...

Nesse momento, ela deu uma parada e respirou profundamente, tomada por uma expressão de angústia e tristeza. Acho que ela deve ter rememorado maus bocados de sua vida. Depois de respirar mais duas vezes e ser acariciada gentilmente pelo marido que deve ter entendido sua situação, ela retomou:

- Então... – Pigarreou: - Nós o cumprimentamos rapidamente, eu e Denise à distância, sem maiores intimidades, mas o Mark fez questão de apertar sua mão e cochichar algo bem próximo ao seu ouvido. Depois seguimos para a nossa mesa. Ele saiu instantes depois e nunca mais o vi.

Não consegui resistir em encarar o Mark:

- Cara, você é muito mau!

- Com aquele lá? Sou mesmo! Se cair na minha reta, passo por cima, dou ré e passo de novo. - Disse e riu.

- Ai, que macho! Hoje tem, tá? - Fernanda brincou e cochichou algo no seu ouvido que fez com que ele a encarasse, mas o deixou vermelho, encabulado mesmo.

- Mas que biscate! - Ele ainda resmungou antes que caíssem numa risada.

- Sabe o que é o pior nessa história toda? O Mark até hoje não me contou o que cochichou com o Rick. Sempre que lembro dessa história, me coço toda...

Mark a olhou e calmamente, parecendo até mesmo desafiá-la, tomou um gole de sua bebida, com um sorriso de canto de boca. Ela não perdoou:

- Mor, você sabe que eu sou ansiosa. Faz assim comigo não...

Ele continuou balançando seu copo e ela começou a lhe dar tapinhas, chacoalha-lo pelo braço, brincando estar brava. Sinceramente, para mim, parecia que aquela brincadeira começava a ficar séria, mas ele pouco caso fez, apenas virando seu corpo na direção dela e segurando seu rosto de frente para o dele, olhos nos olhos:

- Não seja boba! Eu não disse nada demais. – Deu-lhe um selinho e continuou: - Aliás, até acho que é demais para ele sim. Eu simplesmente disse que o encanto dele havia se quebrado e que eu e ela estávamos mais unidos do que nunca, e que seria melhor ele desistir, de uma vez por todas.

Ela arregalou aqueles olhos meio esverdeados para e inclinou sua cabeça levemente para a direita, olhando-o perdidamente apaixonada. Então, suspirou profundamente e o beijou com vontade, sem nenhum receio de que alguém pudesse vê-la se entregar. Assim que seus lábios se separaram, ela, sem tirar os olhos dos dele, disse um simples “Obrigada!”, mas com uma carga de sentimento e gratidão como eu nunca vira antes.

Passamos a conversar amenidades e, no final, eles concordavam novamente em uma coisa: que a decisão final seria minha, mas que eu precisava estar muito ciente das consequências de reatar um relacionamento com a Lucinha, porque agora não envolvia somente dois adultos, mas uma criança também e, numa eventual nova separação, o Gú poderia ser o grande prejudicado.

Passei quase um mês pensando a respeito de reatar ou não o meu casamento com a Lucinha. Minha rotina se manteve a mesma: trabalho, casa, ligações e videochamadas para meu filho e para a própria Lucinha, além de jogos online que passei a curtir quase todo o dia com o Gú, naturalmente limitando a atividade a não mais que uma hora por dia. Minhas visitas para eles também continuaram normalmente e em sentia que sempre que nos encontrávamos, Lucinha esperava ansiosamente uma decisão minha.

Bem, numa sexta-feira à tarde, após sair da “Candiru”, fui diretamente para Itu, visitar o meu filho e naturalmente a Lucinha também. Passamos uma deliciosa noite de sexta e o sábado seguinte juntos, desfrutando a companhia uns dos outros. No domingo, após ela colocar o Gú para dormir, pedi para conversarmos a sós. Acho que pela entonação de minha voz, ela sabia bem sobre o que eu queria falar:

- Eu tomei uma decisão, Lucinha, e espero que você a entenda.

Ela suspirou fundo, olhando-me com preocupação e antes que eu pudesse continuar, me pediu:

- Só me dá um abraço antes, Gê? Eu… Eu acho que ainda quero ficar só um pouquinho mais na esperança de… - Calou-se, com os olhos marejados.

Antes mesmo que eu aceitasse o seu abraço, ela própria pulou no meu colo e me abraçou. Ficamos em silêncio por um bom tempo ali, naquela posição e confesso, meus olhos também marejaram. Quando ela se deu por satisfeita, ela própria se soltou e voltou a se sentar no sofá, ficando praticamente de frente para mim:

- Pode falar.

- Olha… Eu pensei demais eu tudo o que aconteceu entre a gente, no antes e no depois, sobre tudo o que conversamos e, Lucinha, eu vou ser bem sincero, eu... eu acho que realmente não dá mais para a gente. Não que eu não pudesse aprender a viver nesse meio, mas, sei lá… Há tanta coisa dita e tantas outras que parecem não ter sido contadas ainda, que eu… Bem, eu não posso viver nessa ansiedade, nessa incerteza de saber se posso ou não confiar em você, entende?

Uma lágrima desceu por sua face, mas ela até que parecia estar bem tranquila com a minha resposta, o que me deixou confuso, porque eu esperava uma reação muito mais emotiva por parte dela. Fiquei mais confuso ainda quando, após uma grande conversa sobre companheirismo, cumplicidade, e tantas outras coisas que faltaram no nosso casamento, terminamos transando naquela mesma noite. Fiquei até com a impressão de que ela estivesse como que comemorando a nossa não reconciliação e isso eu fiz questão de tirar a limpo:

- Não, nada disso, Gê! - Ela começou a rir, enxugando lágrimas de seus próprios olhos, deixando-me mais confuso ainda: - Não tô comemorando nada, seu bobo! Bem, até que é se pensarmos bem, afinal, não terminamos juntos, mas estamos mais juntos do que nunca, não é?

- Tô entendo é nada! - Resmunguei, mas sendo bastante honesto.

- Pensa assim, nos damos muito bem, somos muito amigos, transamos quase sempre que nos encontramos nos finais de semana, nos ajudamos mutuamente, trabalhamos para dar um futuro legal para o Gú… O que mais eu posso querer? Eu tenho o meu companheiro de volta! Além do mais, só estou colhendo o que plantei e olha que estou colhendo frutos muito melhores do que eu merecia. - Disse e me beijou com paixão: - Obrigada, amor, por ser assim comigo apesar de tudo o que eu te fiz.

Estranhamente, aquelas palavras me fizeram bem. Compreendi, em partes, o que ela sentia e isso me deu paz.

A vida seguiu e realmente a gente transava quase sempre que se encontrava. Bastava termos uma chance de ficar a sós que a madeira se escondia na gruta e isso quando também não entrava na manilha. Acho que estávamos transando com mais regularidade do que quando estávamos casados, mas isso não me impediu de começar um novo relacionamento com Ana Cecília, uma antiga colega dos tempos de colegial com quem dei uma topada, enquanto caminhava distraído por um shopping de São Paulo.

Aninha era o tipo de mulher que, mesmo discreta, se destacava na multidão. Tinha cabelos pretos levemente ondulados, pouco abaixo da linha de seus ombros e olhos de uma cor que eu teimava em dizer que eram cinzas, mas ela jurava que eram verdes, enfim, uma questão que nunca conseguimos concordar. Tinha um belo corpo também, com seios de pequenos para médios, cintura fina e um bumbum redondinho. Nossa primeira transa foi espetacular, mas, por mais que ela se esforçasse, não era igual a Lucinha. Ainda assim ela tinha um “algo mais” que me encantava e engatamos um namoro. Quando informei à Lucinha que teríamos que dar um tempo em nossos encontros, afinal, eu não queria trair a minha namorada, notei de imediato que ela não gostou, pois indicou-me a direção da porta da sala:

- O que é isso, Lucinha!? Pensei que, sei lá, fosse ficar feliz por mim! Afinal, estou tentando reconstruir a minha vida e...

- Feliz com o quê? – Ela me interrompeu e esbravejou: - Em saber que o meu Gervásio não vai mais ser meu!? Ah, faça-me um favor: vai lá ficar com essa tal de Aninha e vê se me deixa em paz, ok?

- Lucinha…

- Sai, Gervásio! - Interrompeu-me irada, com sangue nos olhos e espinhos no coração.

Fui para o hotel nesse dia e no seguinte voltei para São Paulo, após uma rápida passada para me despedir do meu filho. Não vi cara da Lucinha nesse dia.

Na semana seguinte, conseguimos conversar melhor, pelo menos sem tantas animosidades e ela me desejou boa sorte em meu novo relacionamento, além de desejar que eu fosse muito feliz. Claro que era da boca para fora, pois ela tinha mágoa nos olhos e uma saudade que eu não conseguia entender bem.

Passou-se um mês. O aniversário do seu Joaquim, pai da Lucinha, estava chegando e dona Helena decidiu fazer um churrasquinho para comemorar seus 70 anos. Como não podia deixar de ser, fui convidado, aliás, eu e a Aninha. Tentei explicar para a minha ex-sogra que levar a Aninha poderia não ser uma boa ideia, mas ela insistiu, dizendo que já era hora da Lucinha entender que a vida tinha que seguir e que era importante ela conhecer quem seria a madrasta do Gú.

O aniversário dele foi feito na chácara que um amigo deles lhes cedeu no sábado e domingo. Familiares e amigos que viessem de foram poderiam inclusive pernoitar na chácara, mas eu preferi ficar numa pensão com a Aninha, para evitar eventuais dissabores. Quando cheguei na chácara com ela, não vi Lucinha em lugar algum, mas fomos muitíssimo bem recebidos pelos meus ex-sogros, presenteando o seu Joaquim com uma exclusiva cachaça da região de Salinas, em Minas Gerais. Seus olhos brilharam com o presente e os da minha sogra também, mas os dela era de irresignação, pois imediatamente criticou a minha escolha, afinal, ele não vinha bem de saúde há alguns meses e a cachaça só iria piorá-la ainda mais:

- Deixa disso, Lena, isso aqui é álcool saborizado. Vai até ajudar a me desinfetar por dentro. – Meu ex-sogro falou rindo e dando um jeito de já ir saindo de fininho com a garrafa embaixo do braço na direção de uma roda de seus amigos ali próximos.

- Bonito, hein, Gervásio? Quer matar teu sogro, menino!? - Dona Helena me falou de imediato, mas já me dando um abraço: - Brincadeira! Venham, sentem-se onde quiserem que logo estaremos servindo, aliás, cerveja, refrigerante, suco estão na geladeira do lado da churrasqueira. Você é de casa, pode pegar à vontade, ok, Gervásio?

Aninha estava ao meu lado, olhando-nos com um semblante tranquilo, mas levemente invocado. Minha sogra aproveitou para elogiá-la:

- Moça bonita, hein, Gervásio. Acho que dá casamento dessa vez…

Aninha corou, eu corei e para despistar, perguntei do Gustavo. Ela me deu uma direção, dizendo que havia um parquinho onde as crianças estavam se divertindo. Fomos eu e a Aninha para lá, e realmente o Gú estava se esbaldando. Aninha não perdeu a chance para me cutucar:

- Que história é essa de “seu sogro”? – Perguntou, olhando-me de uma forma crítica, mas ao mesmo tempo divertida: - Eu ouvi, não pense que não ouvi, Gegê!

Fiz cara de desentendido, mas entendi bem a indireta da minha mais nova ciumenta. O Gú, mesmo divertindo-se bastante, ao me ver, parou tudo e veio correndo me abraçar. Era seu primeiro contato com a Aninha e quando a apresentei, ele fez uma cara de quem não estava entendendo nada:

- Pensei que você e a mamãe fossem morar juntos?

- É? Então, mas acho que não vai dar. - Engoli a seco e disfarcei, porque a Aninha sorria de uma forma meio enciumada: - Mas, não é bom do jeito que está? A gente brinca quase todo dia nos jogos e ainda nos falamos um montão.

- É… Mas se a gente morasse junto, a gente podia brincar muito mais, né? - Fez questão de frisar.

Ele voltou para o brinquedo logo depois, mas ouvir aquilo do meu filho, me doeu no fundo da alma, o que se refletiu em meu semblante, porque a Aninha veio logo em meu socorro:

- Não fica assim, Gegê. Isso só mostra o quanto ele gosta de você.

- Eu sei, mas, poxa, parece que eu o estou decepcionando.

- É! Sim e não...

- Como assim “sim e não”, Aninha?

- Oras, ele precisa aprender que na vida não temos tudo o que queremos. O “não” é necessário para o amadurecimento sadio de uma pessoa. Acho até que é uma boa oportunidade para você ensinar essa lição e mostrar que podem ser amigos de outras formas, interagindo de outras formas, entende?

Aninha era pedagoga infantil. Então, concluí que sua visão era correta e que eu poderia explorar isso, apesar de ainda não saber como. Entretanto, de uma coisa eu tinha certeza: ela já sabia e certamente me ajudaria nesse processo.

Ficamos distraídos vendo o Gú brincar e pouco depois vi a Lucinha sentada num banquinho um pouco mais afastado, debaixo da sombra de uma árvore. Ela parecia distraída, olhando seu celular, e seu semblante não era dos melhores. No ato, intuí que ela devia estar chateada pela Aninha estar ali:

- Vamos ali cumprimentar a Lucinha?

- Sua ex?

- É.

- Tem certeza? Não quero arrumar problemas, mas se ela me peitar, você sabe que eu também não vou deixar barato.

- Que é isso, Aninha!? Calma! A Lucinha é de boa. Vem, vou te apresentar.

Fomos em sua direção e quando estávamos nos aproximando, notei que ela lia algo na tela do seu celular parecendo resultados de algum exame médico. No ato, fiquei preocupado com a saúde do Gustavo, mas decidi só perguntar quando tivéssemos uma chance de ficar a sós. Assim que nos aproximamos de fato e ela nos notou, fechou o aplicativo e sorriu grandemente para mim, minguando aos poucos quando ela notou que eu estava acompanhado:

- Oi, Lucinha. - Falei, com a maior cautela do mundo, sem sequer me aproximar para beijá-la no rosto.

- Oi, Gê. - Ela retrucou e se levantou, vindo me beijar a face, e encarou a Aninha logo em seguida: - Você deve ser a Aninha. Eu sou Lúcia, mas você também pode me chamar de Lucinha. É um prazer.

Foi então em sua direção e lhe deu dois beijos em cada lado da face, surpreendendo-me e, de certa forma, até a própria Aninha que havia imaginado correr o risco de alguma confusão. Foi justamente o contrário. Elas se deram super bem e ficaram de papo praticamente o dia todo, sentadas na mesma mesa, enquanto eu interagia com o Gú, ou com elas, ou com seus parentes porque, por muito tempo, eu também fiz parte daquela família:

- Caralho, hein, Gervásio! Arrumou uma gata maneira? - Disse-me o César, um primo da Lucinha de quem eu era bem próximo: - Não dá pra entender como um cara feio como você se dá bem.

Todos na roda riram da brincadeira e ele ainda espezinhou um pouco mais:

- Pintudo você não é! Dá pra ver que no máximo tem uma manjubinha aí… - Falou apontando para a minha bermuda.

Como homem nunca sai da “Quinta Série”, discretamente segurei no meu pau e balancei em sua direção:

- Quer pegar pra ter certeza? – Brinquei.

- Pra quê!? Essa manjubinha aí dá nem para fazer uma fritada. – Ele insistia.

- Pois é! Mas manjubinha é uma das melhores iscas e no meu caso sempre ajudou a pescar sereia, seu cabaço. - Falei, dando-lhe um tapa no ombro: - E você já arrumou uma namorada ou continua “cinco contra um”?

Todos caíram na gargalhada e a gozação foi geral para cima dele que ria amarelo, mas logo me abraçou e também caiu na risada.

No final da tarde, num momento em que a Aninha foi ajudar a dona Helena com as louças, consegui ficar a sós com a Lucinha e fui direto no assunto que me preocupava:

- Vi você olhando alguns resultados de exames hoje de manhã e…

- Você viu? - Ela me interrompeu, surpresa, e encarou com os olhos arregalados.

- Vi, ué! Está acontecendo alguma coisa? O Gú está bem?

Ela suspirou aliviada e sorriu:

- Está tudo bem, Gê. O Gú está cada dia melhor. São só exames de rotinas e os resultados têm sido os melhores possíveis.

- Mas sua cara não estava muito boa…

- É só cansaço. O trabalho tem me exaurido bastante. Só isso...

Aceitei a explicação, mas não fiquei convencido, afinal, a Lucinha era a Lucinha e eu não conseguia confiar plenamente no que ela me falava. Entretanto, não havia razão alguma para ela esconder algum problema com o Gú de mim e imaginei se seus pais não estariam doentes, afinal, minha sogra havia me dado uma catracada logo pela manhã. Decidi que iria conferir essa história com a dona Helena quando pudesse.

No dia seguinte, o churrasco continuou e como o tempo limpou, algumas pessoas se aventuraram na piscina, dentre as quais a Lucinha e a Aninha, que não se desgrudavam. Devo reconhecer que vê-la juntas, de biquini, foi um baque para mim, mas me segurei e fingi bem uma normalidade bastante estranha. Novamente fui alvo de chacota:

- Cara, se as duas decidirem partir para cima, o Gervásio não dá conta. Vai ter que terceirizar, mané! – Agora era o Caetano, irmão do César, igualmente sarrista, quem me aporrinhava.

- Eu topo, hein!? Se precisar de ajuda, conta comigo. - Retrucou o César.

- Ela é tua prima, mané! – O próprio Caetano o peitou.

- E daí!? Fez sombra, jogou na água e fez “tchibum”, já tá bom pro abate. – César insistia, colhendo risadas, algumas amarelas em desaprovação.

Como vários naquela roda de homens não eram exatamente parentes sanguíneos, pouco depois surgiram alguns tímidos outros “eu topo”, mas ignorei todos. Preferi não dar sequência àquela brincadeira e fui eu mesmo interagir com as duas na piscina. Sentei-me na beirada e logo a Aninha veio se aconchegar no meio das minhas pernas. Lucinha também se aproximou e tocava minhas coxas seguidamente enquanto conversava com a Aninha e comigo. Eu já estava imaginando rolar uma discussão entre elas em breve, mas tudo seguiu sereno por todo o dia. Não havia como negar que eu estava muitíssimo bem acompanhado, para inconformismo da rodinha dos machos. Não consegui falar a sós com a dona Helena nesse dia, mas quando nos despedimos, avisei que precisava muito conversar com ela:

- Quando quiser, filho. É só me ligar.

- Eu preferia falar pessoalmente.

- Ué! Então, na próxima semana. - Disse e me encarou: - Mas, se for urgente, dou um jeito agora mesmo.

- Não, não… Eu acho que não é nada urgente, mas é algo que eu preciso esclarecer.

Voltamos para a capital e a Aninha não se cansava de elogiar a Lucinha, tanto fisicamente, quanto sua companhia agradável, chegando a dizer inclusive que não entendia como nós havíamos nos separado. Eu aproveitei para cutucar minha atual:

- Bom saber que vocês se gostaram tanto. Quem sabe da próxima não rola da gente, os três, ficarmos juntos?

Pra que fui falar isso!? Ela brigou, discutiu, esbravejou e fez greve de sexo por uma semana. Entendi naquele momento que, com ela, eu não conseguiria fazer o ménage sugerido pela Lucinha e sinceramente, isso me fez um bem danado, porque eu começava a enxergar na Aninha uma possibilidade de recomeço.

Minha ansiedade por conversar com a dona Helena crescia a cada dia, mas, o acaso, fez que aquela semana fosse extremamente corrida para mim: compromissos, reuniões, novos clientes, fizeram meu tempo ser pouco, tanto que, pela primeira vez, não consegui visitar meu filho no final de semana. Naturalmente, ele não aceitou bem, mas prometi que na próxima semana, levaria uma surpresa para ele.

Na outra semana, a rotina acalorada me arrancava o couro novamente. Já era quarta-feira e eu praticamente havia me esquecido da conversa que teria com a dona Helena quando recebo uma ligação da Lucinha tarde da noite:

- Lucinha!? Aconteceu alguma coisa?

- Desculpa ter te acordado, Gê, mas acabei de ficar sabendo.

- Sabendo o quê? O Gú está bem?

- O Gú está ótimo! Fica tranquilo… - Disse e suspirou, buscando coragem: - A Alícia acabou de me ligar. É sobre o Roger…

Já imaginei que aquele bosta estaria novamente ciscando ao redor da Lucinha e agora nada a impediria de ficar com ele novamente:

- O que aconteceu? Ele voltou a te procurar, é isso? Você ficou com ele outra vez?

- Não... Não, Gervásio, claro que não fiquei com ele! – Disse-me aparentemente ofendida: - E ele nunca mais irá nos procurar: ele morreu.

Eu poderia dizer que fiquei em choque, triste, chateado, mas a verdade é que eu dei pulos de alegria com aquela notícia. Eu nunca deixei de considera-lo, um instante sequer, culpado por tudo o que fizera na minha vida, apesar de eu entender que a Lucinha tinha uma grande parcela de culpa também, e aquela notícia era como se eu tirasse uma tonelada de peso dos meus ombros. Ainda assim me mantive cortês:

- Sério!? Não sabia…

- Foi. Parece que ontem, ou anteontem, não entendi bem. Só sei que tem alguma coisa a ver com uma rejeição a um transplante e uma infecção generalizada...

- Caramba!

- Pois é… Agora, eu não sei o que faço, se vou ao velório dar um abraço na Alícia ou se fico. O que você acha?

- Lucinha, a decisão é sua! Eu não sou amigo de nenhum deles e não irei. Sinto muito pela Alícia, mas também a considero culpada por tudo o que aconteceu. Talvez se ela não tivesse me envolvido e convencido a esperar no dia daquela maldita recepção, eu poderia ter te pegado e ido embora, evitando aquela merda toda.

- Credo, Gervásio, quanta mágoa…

- E queria o que de mim? Olha o que vocês fizeram com a gente! Direta ou indiretamente, ela sempre foi cúmplice daquele merda do Roger! - Falei e bufei no final: - Espero que ele arda no fogo do inferno, com o pau do capeta bem no meio do cu.

- Jesus, Gervásio, para! Não fala besteira.

Respirei fundo e apesar de tudo, vi que tinha mesmo falado uma baita besteira, inclusive, culpando-a novamente. Ela não disse nada, talvez por saber que tinha culpa. Respirei fundo e decidi ser mais polido:

- Sinto muito, Lucinha, mas se a sua intenção foi verificar se eu te acompanharia no velório ou no enterro, eu não vou.

- Tá, eu… eu entendi.

Estávamos já para desligar, mas uma luzinha se acendeu e não contive a curiosidade:

- Lucinha, você disse que o transplante dele não deu certo. Sabe me dizer que doença ele tinha? Afinal, ele, rico do jeito que é, teria os melhores médicos a sua disposição. Achei meio estranho…

- Também estranhei, mas aconteceu. Não sei ao certo, Gê, mas parece que era cirrose...

Desligamos logo depois e aquela informação me deixou preocupado. Fui pesquisar na internet porque sempre fui um asno na área das ciências naturais, em especial Biologia, e fiquei atônito, pois uma das causas da cirrose é justamente a contaminação pelos vírus da hepatite. Praticamente não dormi naquela noite e logo de manhã liguei para um amigo dos tempos de colégio, Pedrão, formado em medicina e fiz uma série de perguntas, chegando a conclusão de que o problema do Gustavo poderia ter sido causado pelo Roger, mas para isso a Lucinha também teria que ter sido ou estar infectada. Ele me explicou:

- E é bem isso, Gervásio. Em muitos casos, não há nenhum sintoma e isso aumenta os riscos da infecção evoluir silenciosamente e se tornar crônica, causando danos mais graves ao fígado, como cirrose e até mesmo câncer.

- Então, não estou errado em ter imaginado que ele pode ter contaminado o meu filho indiretamente por ela ter feito sexo sem proteção?

- Não está mesmo! E digo mais, se for esse o caso, sua ex-esposa pode estar contaminada e ser assintomática. Então, é imprescindível que ela faça alguns exames para se certificar e, sendo o caso, inicie o tratamento para ontem, antes que essa doença evolua e seja tarde demais.

Aquela notícia caiu como uma bomba na minha cabeça e imediatamente cancelei todos os meus compromissos na “Candiru”, e olha que eu estava com a agenda bem cheia. Não havia tempo a perder. Fui para casa onde fiz uma mala pequena e saí diretamente para Itu.

Cheguei na casa dos pais da Lucinha e naturalmente eles se surpreenderam com a minha chegada. Informaram-me que ela ainda estava no trabalho e o Gú na escola. Aproveitei a ausência deles e pedi para conversar com meus ex-sogros, afinal, eu tinha outras dúvidas e precisava de respostas imediatas. Dona Helena se surpreendeu ao ver que eu não sabia de tudo:

- Pensei que ela já tivesse te informado disso, Gervásio! A Lucinha está fazendo um tratamento há um bom tempo da mesma doença que o Gustavo teve. Só que, no caso dela, a doença está sob controle.

- Não é bem assim não! – Disse seu Joaquim: - Ela praticamente estacionou, mas não se cura. Não entendo direito, mas parece que o vírus e o organismo dela estão se tornando resistentes ao remédio.

- Porra, por que a Lucinha me escondeu isso!? - Disse e bati a mão na mesa, inconformado: - Mas como ela está? Está bem, não está?

- Está, está sim. – Dona Helena respondeu, mas sem passar grande convicção.

Meu sogro, ao contrário, balançou a cabeça negativamente e esclareceu:

- Ela se faz de forte, mas eu tenho notado que ela tem ficado mais cansada com facilidade e andou reclamando de dor na barriga dias desses.

- Joaquim…

- Para! Helena, nem começa! O Gervásio tem razão em estar preocupado, porque eu também estou! - Disse e se virou para mim: - Helena tem muita fé de que nada acontecerá, mas eu sou mais prático e estou com medo sim. Posso estar enganado, mas eu tive a impressão de que até que a cor da Lucinha mudou um pouco.

A conversa ia longe quando um amigo do seu Joaquim ligou pedindo uma ajuda com um assunto qualquer. Até me ofereci para acompanhá-lo, mas ele recusou, dizendo que era coisa simples e que eu ficasse e conversasse seriamente com a Lucinha assim que ela chegasse. Assim que ele saiu, minha ex-sogra me convidou para acompanhá-la até a cozinha, pois iria passar um café. Lá, descobri mais coisas que me deixaram confusos:

- Juro que pensei que vocês iriam voltar, Gervásio. A Lucinha, depois que vocês se reaproximaram, virou outra pessoa: saiu daquela depressão pesada em que estava e voltou a sorrir, a brincar, a cuidar do Gustavo. Parecia a minha menininha novamente…

- Como assim depressão!? Ela não me falou nada de depressão.

- Não!? Bem, depois que vocês se divorciaram e ela chegou aqui, ela praticamente se isolou do mundo. Só depois de dois meses, quando a barriga dela começou a crescer, é que ficamos sabendo que ela estava grávida. No início, tentamos convencê-la de toda maneira a te ligar, mas ela disse que não faria porque não tinha certeza se você era o pai. Só aí entendemos o motivo do divórcio de vocês.

Eu tomava o meu café em silêncio. Ela foi pegar uma travessa de bolo de aipim que havia acabado de fazer e me serviu um bom pedaço, continuando:

- Como ela estava grávida, a obrigamos a cuidar da gestação. Então, ela saía só para fazer o pré-natal e passou a me acompanhar rapidamente em compras.

- Dona Helena, eu não estou entendendo? Ela não chegou a namorar com um tal de Roger, ou era Rick, não me lembro bem, nesse período, após chegar aqui? - Tentei dissimular para não ofendê-la.

- Roger, Roger, Roger… - Dizia para si mesma, tentando ligar o nome a alguma pessoa: - Não! Nenhum Roger, nunca. Ah, mas Rick teve sim. Esse era um cara grandão, bonito, eles chegaram a sair umas duas, três vezes no máximo, creio eu, mas isso foi bem depois do nascimento do Gustavo. Parece até que depois de uma viagem a São Paulo que ela fez, eles terminaram e ela quase se fechou novamente, mas como agora tinha o Gustavo, o menino a ajudou a se manter de pé.

- E Alícia?

- Ah, uma moça alta, bonita! Dessa eu lembro. Ela veio algumas vezes durante a gravidez, mas elas só ficavam aqui em casa. Só duas ou três vezes nós saímos, as três juntas, para comprar o enxoval do Gustavo.

Não víamos o tempo passar e só nos demos conta do adiantado da hora quando a Lucinha entrou com o Gustavo na casa. Meu filho é um turbilhão que inunda de vida onde chega, barulhento e muito interativo. Ele, ao me ver, veio correndo me abraçar e contar um pouco do seu dia a dia. Lucinha ficou surpresa e um pouco acuada, mas me cumprimentou e logo se sentou à mesa para tomar um café e comer um pedaço de bolo. Passei a reparar nela e realmente a impressão do seu Joaquim também se tornou a minha: sua pele parecia ter uma tonalidade mais amarelada, mas também poderia ser efeito da luz, ou um bronzeado, sei lá.

Conversamos assuntos amenos por um bom tempo e logo a dona Helena, esperta, se ofereceu para levar o Gustavo para o banho. Era a chance de eu esclarecer algumas coisas com ela e não perdi tempo. Ao ser confrontada, seus olhos se arregalaram e se encheram de lágrimas:

- Minha mãe não tinha o direito! Não tinha…

- Fica calma. Eu iria descobrir de uma forma ou de outra. – Falei para acalmá-la: - E como você está?

- Estou bem.

- Eu quero a verdade, Lucinha! Pelo menos, uma vez na vida, me fala a verdade, caramba. Estou mesmo preocupado com você.

Ela esfregava as mãos uma na outra com força, demonstrando o nervosismo que lhe acometia e ao tentar se levantar, teve uma vertigem. Eu a amparei de imediato e, após sentá-la, ela começou a chorar, deixando-me aflito. Naquele momento, a única coisa que eu podia fazer, era abraçá-la e o fiz, bem apertado, para ela se sentir acolhida, protegida. Funcionou e ela se controlou:

- Gê, vamos conversar em outro lugar? Vou te contar tudo, prometo, e dessa vez não omitirei ou mentirei em nada.

Ela entrou na área dos quartos, indo até a porta do banheiro e avisou a sua mãe que estava saindo comigo para resolver um assunto importante, mas que voltariam em breve. Ouvi um sonoro “Ahhhhhh…” do Gustavo e a Lucinha lhe disse que traria uma pizza para comermos juntos com o papai. Daí só se ouvia “Obas!”, “Ebas!”, transbordando toda forma de alegria infantil.

Saímos e ela me pediu para dirigir até uma pracinha não muito longe dali. Assim que estacionei, virei-me para ela e vi que tinha lágrimas nos olhos:

- Lucinha… - Falei, já temendo o pior.

- Eu menti para você, Gervásio! Menti sim, mas dessa vez foi na melhor das intenções.

- Tá! Explica. – Pedi.

- Eu estou doente, Gê. Também peguei o vírus da hepatite e já faz um tempo que venho me tratando, mas a minha doença não evoluiu tão rápido como a do Gú porque eu já sou adulta e ele, criança, em fase de crescimento, a doença disparou. Pelo menos, foi isso que o médico me explicou.

Eu a olhava sem falar nada, mas ainda esperando explicações. Ela continuou:

- A minha doença estava sob controle e o médico até acreditava que fosse se curar, mas de uns tempos para cá tem piorado. Parece que o remédio já não tem feito mais efeito como antes.

- Troca de remédio, Lucinha.

- Eu já estou usando o melhor que existe no mercado. Já usei vários outros, mas nenhum tem mostrado bom resultado. Só um transplante para resolver de vez o meu caso, porque… - Ela se calou e pegou o celular, mostrando-me o resultado de um exame de imagem, com a conclusão de cirrose: - Eu já estou com cirrose. Não tem mais o que fazer, a não ser um transplante.

- Tá, ok, fica calma. Isso se dá jeito. O Gú fez, você também pode.

- Doador compatível, Gê, eu preciso de alguém compatível e não achei ninguém ainda. Na minha família, ninguém combina comigo, ninguém, você acredita? Tenho não sei quantos primos, tias, tios, e ninguém tem um sangue parecido com o meu. Então, agora eu estou na fila de espera e rezando para aparecer alguém. - Disse e começou a chorar novamente.

- Foi por isso que você mentiu para mim, dizendo que havia se relacionado novamente com o Roger? Só para não voltarmos?

- Foi… - Disse e se surpreendeu, tentando voltar atrás: - Não, não… O quê?

- Sua mãe já me contou tudo, Lucinha. Me disse que depois do divórcio você ficou depressiva e não saía de casa para nada além dos exame de pré-natal e algumas compras.

- Ô mãe!...

Olhei bem no fundo de seus olhos e peguei em sua mão:

- A verdade! Só me fala a verdade, Lucinha!

Ela tremia e me olhava envergonhada, desviando o olhar e tentando ganhar um tempo que não poderia ter. Insisti e ela começou a chorar, mas não arredei minha posição ou a larguei. Algum tempo depois, ela respirou fundo e continuou:

- Quando você me pediu para voltarmos, eu vi que Deus estava me dando uma nova chance de ser feliz. Nós poderíamos ser uma família feliz, eu, você e o Gú, mas... a que custo?

- Como assim?

- Gervásio, você se divorciou de uma mulher saudável e pega depois ela toda podre por dentro! Acha isso justo com você? Acha que eu quero que você passe pelo que eu estou passando? Sabe qual é o próximo exame que eu terei que fazer? Uma biópsia do fígado. É isso mesmo!? Vão me abrir e tirar um pedacinho do meu fígado para confirmar se eu estou morrendo mesmo. Um dos médicos, falou discretamente com outro alguma coisa sobre um câncer. Câncer, ouviu? Você não tem que passar por isso. Já basta o que enfrentou com o Gú.

Fiquei em silêncio por um instante, olhando para ela que chorava baixinho, mas sem largar sua mão um instante sequer. Algum tempo depois, perguntei:

- Nunca voltou a se encontrar com o Roger?

- Pessoalmente nunca. Só uma vez eu conversei com ele por videochamada a pedido da Alícia, porque ela me disse que ele queria me pedir desculpas por tudo o que causou na nossa vida. Aliás, ele disse que também iria ligar para você. Ele não te ligou?

- Talvez tenha ligado, mas eu deixei orientações expressas na corretora para não me passarem nenhuma ligação vinda dele.

- Então, ele morreu sem seu perdão.

- Quem perdoa é Deus, Lucinha! Eu sou falho, pecador e não tenho essa obrigação, não com ele.

- Gervásio, para com isso! Você não é assim, amor, para!

Depois de um tempo em que ficamos em silêncio, ela olhando para baixo e eu para ela, perguntei outra coisa que eu precisava entender:

- Aquele dinheiro que a Alícia e ele te deram. Ele é…

- Uma indenização, uma compensação não só pela desgraça que causou nas nossas vidas, mas também para auxiliar no meu tratamento e no do Gustavo.

- Então, eles já sabiam da sua doença? Foi o Roger que te infectou com essa doença, não foi?

- Foi. Certamente foi, porque eu não me relacionei com mais ninguém até o Rick.

- Nas duas, três vezes, né? - Falei, encarando-a com um sorriso amarelo.

- Ô mãe, de novo!...

- Não foi só sua mãe que me contou. Bem, essa parte foi, mas depois fiquei sabendo pela Fernanda do dia em que ele terminou com você no restaurante.

- Pois é. Pensei que ele pudesse ser diferente, mas no fundo era só um babaca, machista e egocêntrico. - Disse e arrumou seu cabelo, me encarando: - Sabe? Sinceramente, não senti nada quando ele terminou comigo. Não significou nada mesmo. Eu… Eu acho que estava com ele só por, sei lá, comodismo, tentando encontrar alguma coisa que nem eu mesma sabia o que era.

- E pelo Roger, você sentia alguma coisa?

Ela me olhou profundamente nos olhos e respondeu:

- Acho que por ele eu sentia alguma coisa sim. Ele foi o meu segundo homem, Gê, e, sei lá, eu gostei de transar com ele, mas depois tive raiva por ele ter causado o nosso divórcio e ódio quando eu soube que ele me infectou e depois ao Gú. Aí sim eu o odiei de verdade, mas já o perdoei, afinal, ficar com um sentimento ruim dele só me faria mal. – Respirou fundo, olhando para o teto do carro: - Nossa!... Eu lembro certinho no dia seguinte aquela recepção de você me falando que queria que eu fizesse uma bela bateria de exames para ter certeza que eu não tinha me contaminado...

- Pois é! E você fez, não fez?

- Fiz! Bom, fiz só a primeira bateria. Como tudo havia dado negativo, eu nem me preocupei em continuar os exames.

- Ah, Lucinha... Porra, meu, caralho, que burrice! – Esbravejei, irado com sua irresponsabilidade.

- Desculpa. Eu sei que fiz merda, com você, comigo, com o Gú, com todo mundo. Desculpa. – Disse e voltou a chorar pesado.

Deixei que ela chorasse porque eu próprio não sabia mais o que dizer. Conclui que enfrenta-la ou brigar seria pior naquelas condições. Respirei fundo, controlando-me e na primeira oportunidade, quando ela se controlava, falei:

- Você podia ter sido honesta comigo desde o início. Eu podia ter te ajudado. Eu podia…

- Podia o quê, Gê, sofrer comigo? Ver eu me definhar até morrer? Não quero te causar mais nenhum sofrimento, nenhum, ouviu? - Disse e enxugou uma lágrima: - Só preciso da sua amizade e que você cuide muito bem do Gustavo quando eu me for. Só isso!

- Você não vai morrer, Lucinha, não vai! - Eu falei e a abracei.

Agora quem chorava era eu e ela aproveitou a deixa para chorar novamente. Ficamos os dois abraçados e chorando por um tempo, até ela se recuperar:

- E você acha que eu quero, Gê? É claro que não! Mas se eu não encontrar um doador compatível, eu… eu…

- Calma, calma… Eu conheço pessoas, o Mark e a Fernanda conhecem pessoas, talvez a gente consiga te ajudar.

- Eu ficaria eternamente grata se vocês conseguirem, mas já estou perdendo as esperanças, Gê.

- Seus pais já estão a par da sua doença?

- Não! Nem precisam ficar. Eu… Eu dou o meu jeito e quando não der mais, vejo o que dá para ser feito. É viver o hoje e rezar pelo amanhã, amor.

Nossa conversa foi longe e, no final, conclui que ela havia criado toda uma história para me afastar dela, talvez romper de vez o sentimento que nos unia e apesar de errada, era uma justificativa bem plausível e forte, dolorosamente forte.

Saímos dali e passamos numa pizzaria que conhecíamos bem e compramos duas pizzas tamanho família, uma calabresa e uma portuguesa. Voltamos para a casa de meus ex-sogros e fingimos estar tudo bem, apesar que nossos semblantes denunciavam que não estava. Naquela noite, como que pressentindo que algo estava muito errado, o Gustavo armou um belo barraco, obrigando eu e a Lucinha a dormir na mesma cama, com ele no meio. Foi a primeira e última vez que fizemos isso…

Retornei derrotado para a capital e contei tudo o que estava acontecendo para a Aninha, pedindo um tempo em nosso relacionamento para eu poder cuidar da Lucinha. Ela não só recusou como se dispôs a ficar do nosso lado durante todo o momento, apoiando e ajudando no que fosse possível. Eu não sei se teria conseguido sem esse apoio.

Fiz uma videochamada para a Fernanda e para o Mark, contando tudo o que eles ainda não sabiam. Pela primeira vez, vi a Fernanda se desmanchar em lágrimas e não terminar uma conversa que coube ao Mark assumir. Eles se mostraram muito solidários e fizeram de tudo para conseguir um doador compatível, inclusive contatando alguns conhecidos nos Estados Unidos, mas todo o esforço foi em vão, pois o sangue da Lucinha era raro e muito difícil de encontrar. Ainda assim passaram a visitar periodicamente a Lucinha e a ajudar, mesmo à distância, no que era possível.

A doença da Lucinha passou a evoluir rapidamente e logo os sintomas impossibilitaram que ela trabalhasse. Tentei trazê-la para a capital, afinal, poderia se tratar nos melhores hospitais, mas ela recusou, pois não queria sair do lado da família, tampouco me trazer problemas e, no final, confessou que não queria gastar o dinheiro que tinha ganhado, pois queria garantir o futuro do Gú. Em menos de doze meses, sua situação se tornou caótica: magra, com uma barriga acentuada, com a pele e olhos amarelados. Precisou ser internada num hospital, pois sua alimentação passou a ser intravenosa, onde logo precisou ser conectada a aparelhos, cateteres, vários canos e fios que a impossibilitavam de ter uma vida plena. Para uma mulher ativa como ela, era o inferno na Terra.

Num dia, no meio da semana, recebi um áudio desesperado da dona Helena, dizendo que os médicos haviam chamado todos os parentes para visitarem a Lucinha, pois seu quadro havia piorado e talvez tivesse chegado “a hora”. Larguei tudo o que estava fazendo e corri para lá. Fui parado por um guarda rodoviário, afinal, eu estava descontrolado no volante, dirigindo extremamente fora do limite de velocidade e de forma arriscada, mas ao explicar o que se passava, mostrando fotos, exames e o áudio desesperado da minha ex-sogra, ele se compadeceu. Entretanto, ele não me deixou dirigir, assumindo a direção do meu veículo para me levar em segurança até o hospital, enquanto seu colega seguia a nossa frente, abrindo o caminho no trânsito pesado.

Chegamos mais rápido do que eu esperava no hospital, ele me desejou sorte e melhoras para a minha “esposa”, porque fora assim que eu me referira à Lucinha enquanto me justificava. No hospital, naturalmente não permitiam a entrada de todos, pois ela estava no CTI. Realmente era algo bem controlado, mas assim que cheguei, minha sogra me viu e veio correndo me abraçar, pedindo que deixassem eu entrar: era um pedido da Lucinha.

Observados os procedimentos de praxe, uma enfermeira me escoltou até o seu quarto. Entrei e lá estavam meu ex-sogro, uma tia e uma prima dela que eu conhecia. Meu sogro também veio me abraçar, com os olhos já transbordando em lágrimas. Elas me cumprimentaram discretamente e saíram em seguida, levando-o e nos deixando a sós. Lucinha, apesar de ser só uma sombra do que já fora um dia, ao saber que eu viria, pediu para ser maquiada, por isso sua prima estava ali no quarto. Fez uma maquiagem simples, discreta, comedida, bem diferente das que costumava usar, mas ainda assim era o suficiente para deixá-la novamente linda. Aproximei-me, dando-lhe um beijo carinhoso na testa e puxei uma cadeira para perto de sua cama. Antes que eu sentasse, ela brincou, sorrindo:

- Poxa! Na testa?

Sorri encabulado, mas, entendendo o recado, dei-lhe um selinho na boca que acabou evoluindo para um beijo mais íntimo, mas também já sem a energia dos bons tempos em virtude de seu estado. Sentei-me então ao seu lado e peguei em sua mão. Estranhei porque estava gelada:

- Está com frio, Lucinha?

- Sabe que… até que não.

- É que sua mão está meio fria…

- Desculpa!

- Por que está pedindo desculpa?

- Sei lá, mas já estou deixando alguns em haver. Eu sempre erro mesmo. - Disse e riu graciosamente de si mesma.

Também ri, mas apenas num efeito de companheirismo porque, sinceramente, eu não tinha a menor alegria de estar ali e vê-la naquela situação:

- Como está se sentindo? Posso fazer algo para que se sinta melhor?

- Pode. - Disse e com sua mão, indicou-me um envelope em cima de uma mesinha lateral: - Pega aquilo ali. Você irá precisar dele logo, logo.

Peguei o envelope e o abri. Dentro havia uma escritura pública de última vontade, um testamento, no qual ela afirmava seu desejo de que a guarda do Gustavo me fosse entregue, mas que o trouxesse sempre que possível para visitar seus pais, bem como o deixasse passar as férias com eles. Olhei para ela sentindo um nó na garganta e não consegui mais me segurar, baixando minha cabeça e chorando, porque só ali tive a noção que o fim, não o do nosso relacionamento, mas o verdadeiro fim, estava próximo. Enquanto eu ainda chorava, ela começou a afagar a minha cabeça, brincando:

- Se eu pudesse, acho que também choraria, amor, mas ando meio desidratada e piorei ultimamente, então não vai dar.

- Por que, hein, Lucinha? Por que!? - Perguntei ao levantar minha cabeça e a encarar.

Ela se calou por um instante procurando resposta, mas a única que conseguiu dar, gerava mais dúvidas:

- Porque tinha que ser assim. Acho que era o meu destino passar por isso. Eu só lamento que você tenha cruzado o meu caminho e agora esteja sofrendo também. - Dizia, agora acariciando meu rosto: - Não! Na verdade, eu não lamento não. Você foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida, você e o Gú, claro. Eu só lamento não ter correspondido à altura.

Respirei fundo, afinal, eu estava ali para dar forças e não para fazê-la se sentir culpada ou pior do que já estava. Começamos a conversar e passei a falar de outros assuntos para tentar animá-la, especialmente, lembrando passagens prazerosas de nossa vida juntos. Funcionou e ela já ria bastante. Logo, o Gustavo foi autorizado a entrar com meus ex-sogros e fez uma verdadeira zona ao ver seus pais juntos novamente. Ele brincou, falou, caçoou, enfim, pintou e bordou, mas rapidamente uma enfermeira entrou e pediu que o levassem, dado o horário e também porque outros pacientes precisavam descansar. Ele veio se despedir da Lucinha:

- Vou te esperar lá na casa da vovó, mamãe. Vê se traz o papai também. Já estou com saudade da gente junto.

Lucinha o acariciou, abraçou e beijou, mas nada falou, deixando em aberto para que cada um entendesse o que quisesse. Ele se deu por satisfeito e logo saiu com meu ex-sogro. Falei que iria dar uma saída para que algum parente pudesse entrar, mas a Lucinha não deixou, segurando a minha mão. Sua mãe entendeu a deixa e nos deixou a sós novamente. Ela respirava lentamente, às vezes com mais dificuldade, mas parecia decidida em encerrar de vez alguma questão:

- Eu nunca deixei de te amar, Gê. Nunca, nunca, nunca…

- Lucinha…

- Por favor… - Pediu, interrompendo-me e novamente respirou profundamente: - Eu sei que você já falou que me perdoou, mas eu nunca vou me cansar de pedir perdão pelo que te fiz. Se eu pudesse voltar atrás, juro que não te faria passar por aquilo.

- Eu acredito em você. Ah, e só pra constar, eu vou te perdoar sempre.

- Obrigada. - Disse sorrindo: - Eu queria te pedir uma coisa também.

- Pode falar.

- Perdoe o Roger e a Alícia também. Ele já encontrou o caminho dele, bem ou mal, mas já encontrou. Ela ainda terá que responder pelo que fez um dia, mas… - Novamente respirou profundamente: - Mas não é justo que você carregue tanto ódio no seu coração, não é! Você precisa se aliviar desse fardo e seguir em frente, pelo seu próprio bem. Por favor…

Eu não tinha a menor intenção de perdoar ninguém, não achava justo, aliás, eu achava que isso seria me submeter, concordar com o que me fizeram. Entretanto, ela estava certa, eu não podia negar que às vezes me pegava pensando neles e desejando as piores coisas possíveis por terem feito o que nos fizeram. Entretanto, se eu perdoar a Lucinha, talvez eu pudesse perdoa-los também. Antes que eu respondesse, ela continuou:

- Perdoar não significa que você… deva conviver com ela. Isso não! Só significa que você… se permite viver… sem esse peso, esse ódio. Você é maior que eles, você é maior que eu. Então, seja maior e se liberte, por favor.

Sua voz começava a ficar mais fraca, falhando às vezes. Não seria justo negar um pedido dela naquele momento, mesmo porque ela desejava o bem para mim:

- Você está certa. Eu vou perdoá-los, Lucinha, prometo. Talvez não agora, mas eu farei isso sim.

Ela sorriu lindamente e fechou os olhos, ficando em silêncio e me deixando aflito porque já se haviam passado alguns bons segundos. Cutuquei-a de leve na costela e ela deu um pulinho:

- Gervásio, eu tenho cócegas! - Disse e riu baixinho.

- Você fecha os olhos e fica em silêncio num momento desses. Quer me matar do coração?

Ela riu novamente e voltou a me encarar, sem cessar seu sorriso:

- Você foi o amor da minha vida, sabia? Aliás, foi não, você é e sempre será. Não sei bem como vai ser daqui por diante, mas tenho certeza de uma coisa, para onde quer que eu vá, eu vou levar esse amor comigo, para sempre. Isso ninguém poderá me tirar, nunca!

Aquelas palavras me atingiram novamente com um peso imenso e meus olhos voltaram a marejar. Levantei minha cabeça para me controlar e, dessa vez, me contive. Voltei a encará-la e ela me olhava, sorrindo e feliz por saber que ainda causava um efeito daquele, não da dor da despedida, mas de um sentimento recíproco que ela sabia que eu tinha, mesmo sem eu ter confessado. Isso era uma covardia minha e eu estava disposto a enfrentá-la:

- Eu também, Lú. Eu nunca deixei de te amar, e olha que cheguei a tentar, e acho que nunca vou amar outra pessoa.

Ela sorriu e lágrimas brotaram em seus olhos:

- Olha! Eu ainda tinha água. - Disse, riu de suas lágrimas e depois perguntou: - Será que existe paraíso, Gê?

- Claro que sim! Eu vivi boa parte dele com você aqui.

- Então, existe inferno também. - Disse e riu baixinho: - Porque sei que te fiz passar bons perrengues.

- Você sabe mesmo cortar um clima, hein, Lúcia Helena? - Reclamei, brincando.

Ela riu novamente:

- Mas você vai tentar, você precisa tentar amar outra pessoa. Não é justo que passe a vida sozinho e o nosso filho precisa de uma madrasta, e das boas, hein!? Promete para mim.

- Prometo, Lú. - Respondi sem muita convicção.

- A Aninha parece ser legal. Gostei dela. Em outra situação, acho que teríamos sido amigas. - Disse e respirou profundamente outra vez: - Posso te pedir só mais uma coisinha, Gê?

- Claro que sim!

- Você me daria um beijo?

Nem respondi, apenas me aproximei dela, olhando em seus olhos e o que vi foi justamente o que eu buscava há tanto tempo: arrependimento verdadeiro, real. Naquele momento, enfim, estávamos de volta ao que éramos no começo: apenas eu e ela! Sorrisos brotaram espontaneamente de nossos lábios enquanto nos olhávamos e acariciávamos a face um do outro. Aproximei-me dela e um beijo... Não! “O beijo” aconteceu: intenso, forte, caloroso, apaixonado, embebido num amor que parecia não ter fim. Perdemo-me no tempo e nas sensações, mas ela precisava daquilo, era a sua redenção, enfim. Quando nossos lábios se separaram, encostei minha testa na dela e ficamos curtindo, de olhos fechados, aquele momento que poderia ser eterno. Não foi:

- Eu preciso descansar um pouco, Gê. Se você quiser, pode ficar naquela poltrona ali. É mais confortável do que essa cadeira.

- Eu estou bem. Prefiro ficar aqui juntinho de você. - Falei e lhe beijei a testa.

- Que bom! Eu também prefiro que fique. - Disse e me piscou um olho.

Ela se ajeitou no travesseiro com a minha ajuda e ficou me olhando por um tempo. Depois, cerrou os olhos e passou a ressonar suavemente logo depois. Fiquei olhando para ela e pensando que a minha covardia em enfrentar aquela situação na recepção pode não ter sido a causadora de todo o mal que passamos e do que ela enfrentava naquele momento, mas certamente permitiu que ela se submetesse aos caprichos do Roger, inclusive contaminando-a. Não cheguei a falar para ela essa minha culpa porque essa eu faria questão de carregar sozinho pelo resto dos meus dias. Essa era a minha cruz.

O cansaço e o turbilhão de emoções cobraram o seu preço e acabei dormindo, com a cabeça apoiada na sua cama, ainda segurando a sua mão. Naquela noite, Lucinha dormiu tranquila, com um suave sorriso nos lábios e não acordou mais. Eu, entretanto, fui despertado, não sei quanto tempo depois, por duas enfermeiras e um médico que haviam entrado no quarto para checar a leitura de alguns instrumentos ligados a ela:

- Ela está sem batimentos. Aline, traga o desfibrilador. Jane, precisamos de adrenalina. Rápido, rápido… - Disso o médico.

A preocupação dele deixava claro o que estava acontecendo, mas já era o bastante:

- Doutor, por favor, deixe-a ir. - Pedi, com os olhos marejados novamente.

- Mas podemos trazê-la. Não quer que ela viva?

- Ela está viva, doutor, mais viva do que nunca! - Disse já chorando, sem tirar os olhos dela: - E mais que isso: agora ela está livre de tudo o que a machucava e limitava. Ela já sofreu demais…

Ele entendeu o recado, mais ainda quando olhou para uma das enfermeiras que tinha os olhos igualmente marejados:

- Eu… Eu… A gente vai deixá-los a sós. - Disse, enfim, sinalizando para as enfermeiras o acompanharem.

Assim que eles saíram, aproximei-me da Lucinha que tinha um semblante leve, ainda com aquele mesmo suave sorriso nos lábios e lhe dei outro beijo carinhoso:

- Vai com Deus, meu amor! A gente vai se encontrar, só não será em breve, mas iremos. Pode ter certeza.

Restabeleci-me da melhor forma possível e saí para dar a notícia aos familiares. Uma das enfermeiras aguardava na porta e disse que cuidaria dela. Fui até a recepção e não precisei falar nada, meu semblante me denunciou. Lágrimas, choros, lamentações, pessoas se abraçando e se consolando. Naquele momento, a família se apoiou e eu era o estranho, mas não para ela e voltei ao quarto. A enfermeira retirava alguns instrumentos dela e apesar de não ser usual, não pediu que eu saísse. Eu observava de longe, calado, conformado:

- Ela está linda, não está? - Perguntei para ninguém.

- Linda e feliz. Sua presença fez toda a diferença na sua travessia.

- Travessia?

- Sim! Não sei qual questão pendente ela tinha, mas a situação dela já vinha se degradando nos últimos dias, mas ela não desistiu até resolvê-la. Acho que a última questão dela era você e você cumpriu maravilhosamente bem o seu papel.

Eu não entendia e ela me explicou:

- Sou espírita e nós acreditamos na alma, no carma e na evolução. Algumas almas conseguem passar bem para o outro plano, outras não. Você fez a ponte para que ela encontrasse alívio e tivesse paz. Quando ela retornar, será outra pessoa, muito mais evoluída, pode ter certeza?

- Acredita mesmo em reencarnação?

- Você não?

- Não sei, sou católico.

- A Igreja Católica também acredita na reencarnação. Ela só limita o retorno a uma época própria. - Falou e se aproximou de mim: - O importante é que você acredite que fez o melhor por ela hoje. Há muita coisa que não compreendemos ainda, mas seria horrível acreditar que isso é o fim de tudo, não seria?

Concordei com ela e agora ela me pediu que saísse pois iria preparar o corpo para ser liberado à família. Fui até a Lucinha e novamente lhe dei mais um carinhoso beijo nos lábios, saindo.

O corpo foi liberado logo pela manhã. O velório durou dois dias para que a família tivesse tempo de se despedir a contento e o enterro foi realizado no final da tarde. Não preciso dizer que houve muito choro e lamentação pela passagem de uma mulher tão jovem, querida e cheia de vida, isso é óbvio. Gustavo, apesar de jovem, quis vê-la só no final do velório e não chorou, não, pelo menos, até chegar ao meu colo, quando sofreu a dura realidade da perda. Nesse momento eu desabei também, chorando com ele e tentando achar uma razão para o injustificável.

Como eu havia dito no início, “essa foi uma história de surpresas e reviravoltas, e porquê não dizer de superação” e, agora, eu entendi “porque decidi contá-la para vocês”. Não foi “para a infelicidade de alguns, acabou se tornando pública” ou porque tenha “causando um verdadeiro rebuliço na minha vida e da minha esposa”. Fiz para que saibam que devemos sempre diligenciar e proteger o que temos de mais preciosos em nossas vidas: nossos sentimentos, nossos companheiros, nossa família. Eu falhei em proteger a Lucinha dela mesma quando ela esteve vulnerável e perdida, deixou-se ser aliciada; ela falhou em não ter confiado em nosso amor e ter sido honesta comigo; mas, no final, acho que conseguimos encontrar o perdão dentro de nossos corações e era isso o que mais importava:

- Papai, vamos!? - Gritou o Gustavo, a minha "superação" viva, acenando para mim, enquanto saía de um brinquedo do parquinho do condomínio onde agora moramos, seguido pela Aninha que parecia uma criança brincando com ele.

- Vem, Gegê! - Ela própria me chamou, dando um toque no Gú logo depois e correndo para outro brinquedo, com ele atrás.

- Já vou, gente. Calminha aí… - Respondi, já me levantando do banco em que revisitava essas memórias.

"Eu te amo, Lucinha, para sempre. Fique bem e até algum dia.", pensei e saí correndo atrás da minha felicidade.

FIM

OS NOMES UTILIZADOS NESTE CONTO E OS FATOS MENCIONADOS SÃO FICTÍCIOS E EVENTUAIS SEMELHANÇAS COM A VIDA REAL É MERA COINCIDÊNCIA.

FICA PROIBIDA A CÓPIA, REPRODUÇÃO E/OU EXIBIÇÃO FORA DO “CASA DOS CONTOS” SEM A EXPRESSA PERMISSÃO DA AUTORA, SOB AS PENAS DA LEI.

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Comentários

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Agora me resta fazer uma súplica em particular,

Gostaria de ver a continuação do conto do Callegan/ entre o amor e a paixão.

⭐⭐⭐💯. Obrigado!

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😭😭😭Muito bem elaborado!!

Concordo com a observação de Id@, por ser grande fã!

Te agradeço Nanda, por mexer com nossas emoções, por bagunçar o psicológico da gente,

Enfim por agregar valores a essa leitura!

⭐⭐⭐💯

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Gostei muito do final da história. À duras penas, redimiu a Lucinha. Parabéns.

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Grata, de coração.

Já estava com saudades de você.

Desculpa qualquer coisa.

Beijão.

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Fique tranquila. Eu não deixo sentimentos ruins ficarem muito tempo no meu coração.

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Nanda, Mark

Que história!!! Muito emocionado com o final. Horas depois de ler - e refletir - fez-me lembrar de Nelson Rodrigues. A vida como ela é. Eu sempre espero um final feliz. Mas quem pode dizer que não o foi. Apenas fez-me lembrar o quão humano eu é todos a minha volta somos. Se o intuito da escrita é este - agregar à vida do leitor - são vencedores. E a única forma de agradecer a vocês é demonstrar apreceço e admiração pelo trabalho. Pessoas iluminadas...

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Nanda e Mark,

Cada capítulo foi marcado por emoções (fantasias, desejos,decepções,angustias,etc) nos mostrando a vida de um casal que passou pela tentativa de uma experiência liberal que não deu certo. Do seu jeito, Lucinha tentou contornar e sempre deu a entender que não se importava com os sentimentos de Gervásio.

Que final épico, um final triste consequente das escolhas, não teve como não sentir um nó na garganta ou uma queimação no estomago. Tudo muito coerente.

Parabéns novamente !

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Mais uma vez me peguei ansioso na espera de um próximo conto da sequência. Sempre uma leitura que me prende instiga e só sossego com o final do texto, esteja one eu estiver. Enredos criativos com cenários detalhados, personagens muito bem construídos, diálogos sensuais- especialmente dos personagens femininos e suas expressões sedutoras que se repetem em diferentes contos - e invariavelmente muita surpresa ainda que em torno de um mesmo tema: relações liberais. Acompanho e me inspiro. Até me atrevo a escrever.

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Boa noite, Nanda e Mark!

Ao ler o episódio anterior fiquei um tanto decepcionado, carregando a impressão de que vocês se deixariam levar pela tentação de ir pelo caminho fácil, pelo lugar comum. Ao ver o email informando da nova publicação de vocês posterguei a leitura, não querendo confirmar o q eu imaginara. Por fim vim ler e ainda bem q o fiz. Que história. Que virada sensacional vocês deram. Parabéns apra vocês é pouco.

Muito obrigado pelos momentos agradáveis que seus textos nos proporcionaram.

Um grande abraço e que venham outras grandes histórias.

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Gente, só informando, foram feitas algumas alterações e melhorias, sob orientação do Mark. Então, se quiserem chorar mais um pouco, releiam.

Desde já agradeço a todos que acompanharam essa história.

Beijão procês.

💋

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Muitos leitores pedem um final alternativo, não considero necessário, o final proposto pelo casal de escritores é perfeito.

Contudo, se é para voltar a história, a perspectiva de Lucinha do período que conheceu o casal Roger e Alícia, da noite da recepção e dos dias posteriores seria interessante. A personagem é muito rica e, a meu ver Roger e sua esposa despertaram algo do passado de Lucinha, algo soterrado pelos anos de casamento e que Gervásio desconhece.

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Querido, concordo com você e só para constar, não será feito nenhum final alternativo. A história é essa e ponto.

Entretanto, eu e o Mark estamos conversando sobre a possibilidade de uma continuação e uma expansão da história, mas para isso estou tentando convencê-lo a me ceder uma história que ele já estava escrevendo. E vou te dizer, se ele me ceder e ajudar a adapta-la, está aqui ficará épica, digna de ser transformada num livro.

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Ja postei um comentario abaixo, e, lendo e relendo algumas vezes, pude refletir, que Historia linda, porque nao emocionante. Voces atiraram no que viram e acertaram no que nao viram. Trataram de uma forma ampla diversos aspectos pessoais, como o fisico, o afetivo, o carater e o espiritual, dando ao casal uma redençao, provando de que o amor verdadeiro quando existe, nao se perde. Trataram a Lucinha de uma forma mais humana. um final nao tao feliz, mas dando a paz ao casal. Parabens e caso queiram fazer um final alternativo, nos surpreendam, afinal de contas, voces sao livres, para criar e recriar historias. Nota 1000 ao casal Nanda e Mark.

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Que série envolvente e empolgante, o final foi dramático e de redenção. Três estrelas merecidamente, agora é dá três estrelas em todos os capítulos já que li o conto de uma única vez. Agora só leio o conto depois que vejo que foi escrito o capítulo final, infelizmente tem muitos contos bons inacabados e isso é frustrante.

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Nanda, Mark, confesso que estou sem palavras com esse excepcional capítulo. Independente de todas as fraquezas da Lucinha vcs conseguiram retratar um ato de pura redenção. Só me resta declarar o meu profundo respeito e admiração por vcs. Parabéns á vcs com todos os méritos.👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏

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Definitivamente eu prefiro odiar um personagem do que ver ele morrer, me emocione muito aqui.

Parabéns aos autores que deram muita vida para esse casal. Essa série esta no meu top 20 com certeza

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Um bom final pra limpar a barra da Lucinha,que cometeu um erro atrás do outro. Só matando uma corneteira pra o pessoal se aquietar. No entanto,vejo um final condizente.

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Bravo! Bravíssimo! Mil estrelas! Enredo digno de concorrer a um Oscar ou, no mínimo, a um Kikito no festival de cinema de Gramado. As lágrimas não chegaram a cair, mas encheram meus olhos que teimaram em resistir à minha vontade de chorar! Este conto que deveria ser apenas erótico, nos dá uma lição de vida sobre o perdão e o arrependimento dele ser realizado apenas no último segundo de nossa vida. Lembrando de Shakespeare, numa frase parecida: "Perdoar ou não perdoar, eis a questão"! Situação difícil! Nos faz ver a dualidade de nossas escolhas na vida. Nos faz perceber como nossas mágoas conduzem nossos destinos. Nos faz perceber o quão bom é um diálogo esclarecedor nos nossos relacionamentos humanos. Enfim, casal mineiro ou ... casal maneiro, sou teu fã! Mark, te admiro, um abraço quebra costelas! Nanda, me desculpe Mark, te amo, um beijo na buchecha!

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Apesar de ser uma pagina de contos, não li uma história tão boa como essa, que não foi só o erotismos, envolveu sentimentos, trama e digo gostei muito do final. Confesso desceu algumas lágrimas. Virei fã PARABENS.

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Esse conto desde o inicio foi norteado pela possibilidade se tratar de um caso real, de um conjunto de fatos que ocorreram na vida de um casal, o Gervásio e a Lucinha, fatos esses decorrentes das ações que um outro casal, Roger e Alicia, cometeram. Esse conto mostra como é tenue a diferença entre poder manter o amor ou perder esse amor em uma relação. Mostra com muita propriedade como é difícil as vezes perdoar. Mas mostra que o perdão deve existir, até porque no ato de perdoar a criatura perdoa não apenas aquele ou aquela que lhe causou o mal, mas também ao se apartar do rancor, do ódio. A Lucinha concedeu o perdão as criaturas que causaram e lutou para obter o perdão do Gervásio e unir ele ao Gú.

Nanda. Conto brilhante, excelente roteiro para um filme que sua exibição certamente faria com que a sala de projeção de cinema se tornasse um local onde muitos expectadores derramassem muitas e muitas lágrimas.

Parabéns e continue escrevendo novos contos possíveis de serem reais como este.

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Estou sem palavras pra descrever como foi maravilhoso acompanhar toda essa história e chorar com esse final maravilhoso

Parabéns ao casal nanda e mark vcs são d+💞

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