Ela novamente se calou e levantou a cabeça apenas para me encarar. Eu sentia sua buceta mastigar o meu pau em movimentos de pompoarismo que eu adorava tanto. Ainda havia um certo temor em seus olhos e eu me adiantei:
- Se eu deixar, se for com a minha concordância, você quer? Ou será que nem minha concordância importa mais?
Ela deitou de vez sobre o meu peito e respirou fundo antes de responder, agora sem me encarar nos olhos. Ficou em silêncio por um tempo, o suficiente para eu ter certeza da resposta.
[...]
[CONTINUANDO]
Aquela pergunta era de uma maldade... Eu sentia realmente algo pelo Rick que eu própria não entendia direito e sempre quis ter essa liberdade de decidir, de viver, mas não desse jeito, não naquele momento e fiquei sem saber o que responder. Não sei como o Mark interpretou o meu silêncio, mas eu sabia o que queria em primeiro lugar e foi isso que quis deixar bem claro depois de refletir brevemente:
- Eu faço qualquer coisa para a gente ficar bem, até mesmo esquecer ele de vez. Você é o meu marido e além das nossas filhas, não preciso de mais ninguém. - Suspirei fundo e continuei: - Mas eu sou uma mulher adulta e madura, meio complicada às vezes, e tenho minhas vontades, é claro… algumas bem pitorescas. Então, eu acho… Não, não… Eu exijo, pelo menos, ser ouvida antes de você tomar qualquer decisão que também me envolva, entende? Inclusive quanto aos meus eventuais parceiros, ok?
Mark ficou um instante em silêncio, talvez tentando entender a minha resposta e, na sequência, nos girou na cama, ficando por cima de mim. Passou então a me penetrar num papai e mamãe calmo, controlado, romântico e isso eu tive certeza quando ele procurou meus lábios para um beijo. Eu o encarei assim que nossos lábios se separaram e ele me encarava com um bom olhar:
- Você tem todo o direito de ter suas vontades e eu adoro isso. Eu também já entendi que a minha insegurança não pode ser motivo para eu fazer o que fiz, mesmo que tenha sido na melhor das intenções. - Deu-me outro beijo e continuou: - Eu te amo, sua boba. Acho que só tive medo de te perder…
Eu sorri para ele com uma felicidade que parecia querer explodir em meu peito. Abracei seu pescoço, trazendo-o para mim com uma imensa vontade de rir, de chorar, de gritar, de fazer tudo e mais um pouco, mas apenas consegui suspirar e:
- Eu também te amo demais, Mark. Nunca duvide disso. Aconteça o que acontecer, eu nunca deixarei de te amar e não vou te abandonar, nunca, seu bobo! Não tem Rick ou pirocudo no mundo que me tire de você.
Trancei minhas pernas em sua cintura e continuei:
- Eu sou sua, mor, e não serei de mais ninguém se for para ficarmos bem. A gente pode até voltar a ser um casal monogâmico, se você quiser. Faço qualquer coisa para ficar em paz com você.
- Monogâmica!? Você é safada demais, Nanda! Nunca conseguiria ficar sem dar para outro agora que a porteirinha foi aberta…
- Aí que você se engana! Por você sou capaz de tudo.
- Tá bom… - Resmungou, sorrindo: - Quando esse seu lado piranha assume a direção, sai da frente!
- É!? Então, então vem cá, seu gostoso. - Abracei-o forte e apertado, caprichando na voz rouca e sensual em seu ouvido: - Fode a sua piranha, fode! Mostra quem é o meu macho de verdade e me arregaça com esse seu pau delicinha!
- Porra! Pau… delicinha!? - Resmungou e começou a rir, gargalhando na sequência, inclusive, chegando a parar nossa transa.
Ele continuou rindo por mais um tempo, principalmente porque eu devo ter ficado roxa pelo fora que eu acabara de dar, mas logo me encarou e voltou a me bombar, mas naquele ritmo controlado, lento, gostoso. Ele estava bem, se divertindo e mais que isso, entendi que ele não queria me “foder”, mas sim “fazer amor” e isso eu adoro demais! Pouco depois, passou a esfregar sua púbis na minha, o que ele sabe que me deixa louca. Não sei quantos minutos se passaram, mas gozei novamente e aí sim ele acelerou de vez, explodindo pouco depois numa gozada farta dentro de mim. Após relaxar seu corpo, rolou para o meu lado na cama. Só se ouvia as nossas respirações atrapalhadas. Olhei para ele que se mantinha de olhos fechados e um semblante satisfeito, então passei a olhar o teto:
- Sou safada sim, mor, mas antes disso, eu já era a sua esposa. Além disso, eu não me apaixonei e aprendi a te amar apenas pelo sexo, foi por tudo o que você é: seu caráter, seu charme, sua inteligência… - Ele abriu os olhos e me encarou, sorrindo e sorri de volta: - Tá! Sua pegada também conta bastante… Eu te amo, seu bobo, e te respeito demais, e se for necessário parar tudo com todos para a gente ficar bem, eu paro. Paro mesmo, não duvide!
Ele me puxou para o seu peito e me beijou a testa, num gesto de carinho e felicidade. Depois explicou:
- Nós dois, juntos, decidiremos o que for melhor para a gente. Se tivermos que parar, paramos. Só não vamos decidir nada com a cabeça quente, ou num momento meio conturbado como o que estamos vivendo, ok?
- Ok.
Aquele abraço estava tão bom e a transa tinha sido tão gostosa que acabei apagando minutos depois. Bem cedo, por volta das cinco, acordei e vi que estava sozinha na cama. Uma sensação ruim me abateu, como se tudo o que tivéssemos vivido fosse uma mentira, algo forçado por ele e saí em seu encalço, disposta a pôr tudo em panos limpos. Quando estou saindo de nossa suíte, quase dou uma topada nele que retornava:
- Jesus, Nanda! Você quer me matar do coração, peste!?
- É que eu… acordei e você não… você não estava aqui! Aí, eu… eu… Sei lá…
- Só estava com sede. Fui beber água depois passei no quarto da Mi e a cobri. Já estava voltando para a cama.
Retornamos juntos e eu quis recompensá-lo pelo susto, fazendo um gostoso boquete. Claro que ele não recusou e ainda me puxou para si, num “69”, o que tentei evitar:
- Mor, eu não tomei banho! Ainda tem “fiotinho” seu aí.
- E daí!? Veneno de escorpião não mata escorpião.
- Você não tem nojo?
- Ara… Claro que não, sô! Não tenho nojo de nada que venha de você.
- Mas essa porra não é minha.
- Claro que é. Doei gratuitamente, você aceitou, passou a ser sua.
- Você não presta… - Resmunguei enquanto era calada por um língua bem no meio da minha buceta.
Já que ele queria, eu não negaria e esfreguei bem a minha buceta na sua cara. Caprichei no boquete, sugando forte e o punhetando ao mesmo tempo. Devia estar muito bom, porque ele gozou rapidinho. Eu não cheguei a gozar, mas me diverti bastante esfregando nele. No final, ele ficou com a cara toda lambuzada e teve que se levantar e lavar o rosto. Voltamos a dormir, acordando perto das seis e meia. Durante o café, enquanto conversávamos em família:
- Ontem você estava muito interessada no celular, Nanda. É… Por acaso, era o…
- Não, mor, não era ninguém. Aliás, era alguém, mas não esse alguém. Eu estava acompanhando umas atualizações… - Falei, sem entrar em detalhes, mas como ele me encarava, assim que as meninas foram se arrumar nos quartos para a escola, expliquei: - Acidente de trabalho ontem na empresa. Nada grave, mas envolveu polícia, hospital, enfim…
Mark é advogado, especialista em Direito do Trabalho, então eu não precisava dizer mais nada para ele entender que a empresa teria problema, grande ou pequeno, ela teria um problema no futuro. Seguimos nossa rotina e fui enfrentar a batata que ainda fervia na empresa, e o Mark estava certo. Não entrarei em detalhes, mas o rolo cresceu e realmente virou um processo, resolvido num acordo na Justiça do Trabalho. Apesar do Mark ser um ótimo advogado, a empresa possuía um escritório que lhe prestava serviços, então, não pude utilizar os conhecimentos do meu digníssimo e maridíssimo advogado.
Na hora do almoço, perguntei para o Mark em que hora iríamos à consulta com o doutor Galeano, mas ele disse que não poderia ir, pois um cliente fora preso por dívida alimentar e ele estava se desdobrando para conseguir tirá-lo ainda naquele mesmo dia. Cheguei a ligar para o doutor Galeano, tentando cancelar a sessão, mas ele insistiu que eu fosse sozinha. Concordei, mesmo meio contrariada e lá chegando, fui recebida pelo doutor Galeano com um abraço bastante caloroso. Após os cumprimentos e de eu explicar melhor a ausência do Mark, ele nos serviu um café e aí sim entramos no assunto:
- E então, dona Fernanda, é paixão ou amor o que sente pelo Rick?
- Antes de qualquer coisa, doutor, eu queria te fazer uma pergunta, posso? - Ele concordou com um movimento de cabeça: - O senhor andou induzindo o Mark a aceitar o Rick?
Ele se calou, encarando-me como se quisesse antecipar os meus pensamentos e falou:
- Acha mesmo que o seu marido possa ser induzido tão facilmente assim, Fernanda?
- É uma tremenda falta de educação responder uma pergunta com outra, doutor!
- Querida, sabe que não posso falar o que conversei com ele sem autorização: sigilo médico-paciente, lembra?
- Lembro. Espera um pouquinho…
Peguei meu celular e fiz uma chamada de vídeo para o Mark no mesmo instante. Ele me atendeu no segundo toque:
- Mor, você está sozinho?
- Agora sim. Estou na minha sala. A família conseguiu o dinheiro e acabei de protocolar o acordo. Meu cliente deve sair ainda hoje e... Mas por que a pergunta?
- O doutor Galeano tentou te induzir na sessão que você teve com ele?
- Mas que pergunta é essa, Nanda!? - Ele quis entender.
- Tentou ou não tentou, mor?
Após um breve silêncio dele, sempre me encarando pelo celular, veio a resposta:
- Não, Nanda, ele só confirmou para mim o que eu já sabia há algum tempo, mas que eu tinha uma certa vergonha de assumir.
- Como assim?
- O doutor Galeano está aí com você?
- Está.
- Deixa eu falar com ele.
Virei meu celular para o doutor e o vi cumprimentar o meu marido, depois o Mark foi, como sempre bastante objetivo:
- Doutor, o senhor está liberado para contar qualquer coisa que ela queira saber da sessão que tive com o senhor, qualquer coisa mesmo! Se tiverem alguma dúvida, podem me ligar e esclarecerei.
Doutor Galeano concordou com um meneio de cabeça e se despediram. Depois virei o aparelho para mim e perguntei:
- Tem certeza disso?
- Toda! Você foi honesta comigo no seu momento mais vulnerável. O mínimo que posso fazer é ser honesto e transparente também.
Despedimo-nos e apesar de suas palavras, foi impossível não ver que ele estava com um certo receio no olhar. Guardei o meu aparelho e encarei Papai Noel:
- Certo, Santa, você viu e ouviu, não é!? Ele não esconde nada de mim.
- E você, esconde dele?
- “Nossinhora”, doutor, o senhor já começou bem hoje, hein!... - Resmunguei e insisti: - E então? O senhor induziu ele?
- Você acabou de ouvir dele, querida. A conclusão ele já tinha, só faltava a coragem de assumir ou talvez alguém de fora da relação de vocês para esclarecer esse entendimento que ele já possuía.
- Caramba, mas que conclusão é essa? - Perguntei, temendo ser o que eu já imaginava dentro de mim.
- De que você precisa enfrentar a si própria, seus medos inclusive, reconhecer sua paixão pelo Rick e vivê-la intensamente.
O meu medo se materializou: era justamente o que eu imaginava:
- Vocês só podem estar loucos!...
- Mark não lhe contou nada sobre as nossas conversas?
Expliquei para ele tudo o que havia conversado com o Mark na noite anterior. Ele me ouviu atentamente e concordava constantemente com movimentos de cabeça. Ao final, ele foi quase tão objetivo que o meu marido:
- Exatamente! O Mark sempre soube o que era o correto a fazer, considerando que você e ele vivem um relacionamento liberal. Ele só não teve coragem de deixá-la viver essa paixão, talvez por algum resquício de sua criação tradicional de homem do interior. Mas, por favor, não o estou chamando de covarde, não é isso: é que ele te ama demais e temeu perdê-la para esse Rick, destruindo a família linda que vocês construíram.
- Mas… Mas… Doutor, não existe esse risco, nunca existiu!
- Será!? Será mesmo, Fernanda? Vamos analisar juntos então… - Disse e se recostou em sua poltrona, olhando para cima, com as palmas das mãos juntas em frente a sua boca, depois falando: - Se o Mark não existisse na sua vida e esse Rick surgisse como surgiu, qual a chance dele ter ocupado o lugar do seu marido no seu coração?
- Hein!?
- Você ouviu! Mas se quiser eu repito…
- Não! Não precisa. É que… Peraí um pouco! Por que o senhor disse “temeu”? Quer dizer que ele não teme mais me perder?
- Pensei que eu, na condição de analista da sessão, fizesse as perguntas por aqui… - Resmungou, sorrindo.
- Do jeito que estou ansiosa hoje, não é mesmo! - Retruquei, aguardando a minha resposta.
- Tá! Olha só… Eu não sei se ele exatamente deixou de temer, mas certamente ele entendeu que não pode mais ficar na dúvida se a “oncinha” dele vai caçar e depois voltar para a toca. Acredito que ele esteja disposto a passar por isso para voltar a confiar plenamente em você e na força do relacionamento de vocês.
Fiquei estupefata com a explicação e me calei, tentando absorver o impacto da explicação. Nem bem comecei a raciocinar e ele pediu:
- Agora é sua vez. Responda a minha pergunta, por favor.
- Qual mesmo? Ah, tá, tá… Se o Mark não existisse, se o Rick poderia ter ocupado e trá-lá-lá… É isso? - Ele balançou afirmativamente a cabeça, nem titubeei: - É muito injusto falar que o Rick ocuparia o mesmo lugar do Mark ou teria a mesma importância porque são homens diferentes, de portes diferentes, em condições diferentes, mas, dependendo da situação, acho que seriam grandes as chances de eu e ele, pelo menos, termos nos envolvido mais seriamente, doutor.
- Inclusive, se casando?
- Por que não? É uma possibilidade…
- Foi o que eu imaginei. - Ele disse, tomando um gole de seu café e voltando a me encarar: - Fernanda, o Mark já entendeu que você está apaixonada pelo Rick, sempre esteve e só tinha medo de assumir, mas fica tranquila, porque ele não te culpa. Ele já entendeu que foi fruto do acaso, uma brincadeira do destino.
- Nu! Que grande consolo… - Resmunguei, já emendando na sequência: - Eu amo o meu marido, doutor! Eu quero continuar com ele, disso eu não tenho dúvidas. Ah, e eu não estou apaixonada pelo Rick coisa nenhuma! Andei lendo alguns artigos que explicam as diferenças entre gostar muito, até intimamente, de estar apaixonada, e, sinceramente, não me considero apaixonada pelo Rick.
- Pode explicar melhor?
Praticamente repeti para ele tudo o que havia explicado para o Mark. O doutor Galeano fez uma expressão de que estava surpreso com meu estudo e conclusão, sorrindo ao final da minha explicação, mas ainda assim não aliviou:
- E o Rick, onde fica nessa história, então?
- Ele, eu acho que pode estar apaixonado por mim, porque identifiquei uns dois ou três sinais nele. Já eu não, eu… eu gosto dele, curto bastante quando estamos juntos, todo aquele clima de paquera, a atenção que ele me dá, a proteção… E temos mesmo uma boa química, um tesão muito grande um pelo outro, mais isso eu também tenho pelo meu marido, pelo Cauã Reymond e mais um punhado. Só que o Rick não é o Mark e eu abro mão dele facilmente para ficar com o meu marido. Inclusive, eu disse isso bem claramente para o Mark ontem, como já te falei.
- Ótimo! E por que você tem agido tão impulsivamente contra o Mark e até mesmo contra suas filhas?
- Eu… não… sei! Inclusive, esse foi o único sinal que encontrei que justificaria dizer que eu estou apaixonada pelo Rick de acordo com aquele artigo que te falei.
- Mas eu talvez saiba… - Disse e virou o restante de seu café: - Inconscientemente, Fernanda, você desenvolveu um sentimento muito potente por esse Rick, isso é fato incontroverso, concorda? Independentemente de ser paixão, gostar, ou qualquer outro nome, você se apegou a ele e não teve chance de viver essa aventura justamente porque houve a interferência de um terceiro, não acha? E quem é esse terceiro, Fernanda?
- O Mark!?
- Isso! Mas sabemos que ele agiu com boa intenção, não sabemos, Fernanda? Ou você tem alguma dúvida quanto a isso?
- Nenhuma, doutor! Sei que ele fez o que fez para proteger a nossa família e o nosso relacionamento.
- Certo! Mas ainda assim foi uma interferência que tirou de você o direito de viver esse sentimento e vê-lo florescer ou morrer, concorda?
- De certa forma…
- E quer saber mais? Você consegue entender o que potencializou o seu estado meio… Como eu poderia chamar… Inconstante e rebelde dentro da sua casa?
- Não!
- A promessa que foi descumprida pelo próprio Mark.
- Como é que é!? Que promessa? Do que o senhor está falando agora?
- Oras… - Resmungou, sorrindo: - A de te dar liberdade, minha cara, de viverem e aproveitarem em sua plenitude, livres, desapegados, com outros parceiros. Afinal, não é essa a premissa de um relacionamento liberal?
- Sim, mas ele nunca disse que eu poderia me apaixonar. Bem ao contrário, ele sempre foi categórico em afirmar que não dividiria o meu sentimento com ninguém.
- “Quem um dia irá dizer que existe razão / Nas coisas feitas pelo coração / E quem me irá dizer que não existe razão.” - Cantarolou o doutor Galeano, sorrindo em sequência e explicando: - Ninguém controla o coração, Fernanda, seu sentimento simplesmente surgiu. Ponto! Queiram vocês ou não, se apegar, se apaixonar por um terceiro é um risco que assumiram quando decidiram permitir a entrada desses terceiros em sua intimidade.
Eu o encarava sem saber o que falar, mas começava a compreender e ele continuava a falar sem parar:
- O problema, Fernanda, é que um sentimento como esse, se cultivado pode se tornar amor, e certamente aqui, bem aqui, residia o medo do Mark, ou talvez ainda resida.
- Tá! Peraí! Doutor, vamos com calma... Vamos supor que eu esteja mesmo gostando do Rick, apaixonada, ou sei lá o que diabo for isso. Se não é amor, é temporário, não é? Se for esse o caso, bastaria eu ficar longe do Rick por um tempo e tudo acabaria, correto?
- A princípio, sim.
- Como assim “a princípio”, doutor?
- Porque pode ser amor, não pode?
- Ah, para, né! Amor não é, disso eu tenho certeza! Amo o Mark e não consigo viver sem o meu marido, mas sei bem que consigo viver sem o Rick.
- Ótimo! Então?...
- Tem algum remédio para isso? Algum comprimido que o senhor possa me dar, um ansiolítico ou algo do tipo, sei lá, um tranquilizante para égua no cio? Só para que eu passe por esse período até o esquecimento sem dar tanta pancada neles, entende?
- Remédio?
- Sim.
- Tem, claro. Anota aí, chama-se viver…
- “Viver”!? Que raio de remédio é esse? É xarope ou comprimido? - Perguntei na inocência, sem ter entendido a indireta.
Ele somente me encarou, sorriu e explicou:
- Fernanda, você não precisa de tratamento químico, querida, você só precisa ser madura e assumir as consequências dos seus atos. Eu diria que a melhor forma de você superar o Rick é viver esse sentimento até esgotá-lo, o mais intensamente possível e se resolver com quem quer viver, e viver com ele daí por diante. Simples assim.
- Paaaaarou! Como é que é!? O senhor quer que eu vá viver minha paixonite ou sei lá o quê com o Rick e decida se é isso que eu quero para a minha vida? É isso mesmo!?
Ele balançou afirmativamente sua cabeça e explicou:
- Eu acho… Não! Eu tenho certeza e digo mais, o Mark já entendeu isso também! Ele já compreendeu que o seu sentimento não é nenhum tesãozinho de momento, um simples querer bem, uma besteirinha qualquer, mas algo mais forte, potente, intenso que chegou a te desestruturar como sua companheira, mãe e profissional.
- Quem disse que estou com problemas no trabalho? O linguarudo do Mark andou me dedurando para o senhor, doutor?
- Não, querida, quem me disse isso foi a minha experiência, porque o nosso lado pessoal anda lado a lado com o profissional. A linha é muito tênue e mais cedo ou mais tarde, iria respingar no seu trabalho.
Tudo o que ele dizia fazia sentido, tudo, e me doeu imaginar o que o Mark poderia ter sentido ou ainda estar sentindo: a decepção, a insegurança, o medo e, embora abalada, chocada, não chorei, porque autopiedade era tudo o que eu não precisava naquele momento. O que eu precisava era de conselhos para tentar consertar o que estava quebrado, recuperar o que parecia perdido:
- Será que eu consigo salvar o meu casamento, doutor, e recuperar o meu marido?
- E quem disse que você o perdeu, dona Fernanda Mariana!? - Brincou, olhando-me atento, certamente esperando uma patada minha que nunca veio, e continuou: - Não se esqueça de que ele te orientou a vir conversar comigo. Acha mesmo que se ele não quisesse continuar com você, ele teria te mandado procurar ajuda? Claro que não, né!?
- Eu… Mas eu não…
- Sim, querida, você sim! - Ele me interrompeu: - Para de fugir do problema e o enfrente de vez: vocês precisam disso para continuar! E digo mais: acredito que, inconscientemente, você se sabotava nas tentativas que tomou para romper com o Rick, porque você queria viver essa aventura com ele, ao mesmo tempo que queria manter seu casamento com o Mark.
- Mas…
- Vou te falar outra coisa… - Interrompeu-me novamente: - Talvez pelo fato de vocês serem liberais ou mesmo inconscientemente, você também enxergava no Rick um potencial parceiro para atividades extraconjugais mais regulares e mesmo que você não assuma nem mesmo para si mesma, talvez até para viverem como um trisal no futuro.
- Nunca! Nunca. Nunca… - Resmunguei, mas não sendo convincente nem mesmo para mim.
Espantada é o mínimo que eu estava nesse momento. Minha confusão que já era enorme agora parecia quase insolucionável e eu já estava quase chorando quando ele me interrompeu antes que eu abrisse a boca:
- Calma, respira, querida, engole o choro! - Falou e riu de uma forma paternal: - Não estou te condenando ou dizendo que deva ir por esse caminho. Só quero que você entenda toda a situação a fundo para que possamos construir as melhores formas de você compreender e expor sua conclusão final para o Mark, ok? Afinal, se é ele quem você quer, ele terá que participar, no mínimo, estar a par de todo esse processo também.
Concordei com a cabeça, sem conseguir falar uma única palavra porque parecia que eu tinha um nó na garganta e ele continuou:
- Você precisa entender e assumir que você queria o Rick ao mesmo tempo que não o queria para não afrontar o Mark. Queria e não queria… É uma situação contraditória, eu sei, mas é isso que acontecia. Por isso, você nunca conseguiu dizer um verdadeiro “não” para ele ou dar um basta em suas investidas.
- Mas eu nunca tive dúvidas quanto ao Mark e…
- Amém! Aleluia! - Ele me interrompeu novamente, comemorando como se fosse um gol de final de copa do mundo, vindo segurar em minhas mãos, o que me fez rir, mesmo estando tão nervosa: - É isso mesmo que eu queria ouvir e que sei que o Mark também gostaria.
- Mas eu sempre disse isso para ele; ele é que não me ouvia, ou já não acredita mais em mim. Inclusive, ontem, a gente estava tão bem, tão… conectados…
- Sim, eu entendo. Mas concorda que, antes, você falava uma coisa e fazia outra, não é mesmo? Dizia amar o marido e se importar só com ele, mas não dava um basta definitivo no amante que te queria só para ele. Isso gerou uma quebra na confiança que o Mark tem nas decisões que você pode tomar. Só que isso ainda pode ser consertado, desde que você entenda verdadeiramente seus sentimentos e tome uma atitude definitiva.
- Porra, doutor, mas eu vou ter que ficar com o Rick para isso!?
- Bom, isso só você pode responder. Como vocês são liberais, imaginei que você indo, vivendo essa aventura, se resolvendo com o Rick e voltando, estaria provando definitivamente para o Mark com quem você quer viver. Mas talvez você possa provar isso de outra forma…
- Como?
- Por que não coloca os dois frente a frente e diz qual é a sua decisão? Mas você, dizendo, falando de forma firme e decidida com quem deseja viver e como deseja viver com ele e com o outro que restar.
- Eu já fiz isso, doutor, ontem. Eu te contei…
- Certo! Mas… - Fez um bico e se calou.
- Mas!? Que “mas” o que agora, meu Deus do céu?
- Mas eu tenho medo que isso somente não seja suficiente para você se reencontrar consigo mesma e se reconectar com o Mark. Só penso que será melhor deixarmos as novas emoções para uma próxima consulta, quando o Mark estiver presente…
- Doutor, o senhor está falando comigo, Nanda, Fernanda Mariana Branca “Ansiosa Demais” Di’Maghi! - O interrompi, naturalmente ansiosa: - Acha mesmo que vou conseguir dormir até a nossa próxima consulta? Eu vou pirar!
Ele sorriu e viu que eu não sairia antes de resolver tudo ou, pelo menos, o que eu achava mais relevante:
- Então… Tá! Como se supera um grande amor, Fernanda?
- Uai! Eu… Não sei se li ou ouvi em alguma música, mas não dizem que um grande amor só se supera com outro grande amor.
- Touché! Exatamente… E essa é a questão que me incomoda.
- O senhor está duvidando do meu amor pelo Mark!? Acha que o meu amor pelo meu marido não será suficiente?
- Se o Mark te ajudar? Dá e sobra! Mas o seu sentimento por esse Rick foi tão intenso e marcante, e tem sido tão duradouro, e como não tiveram um desfecho, você… e… ele… - Frisou bastante, novamente falando pausadamente.
- Tá! E o senhor está insistindo que eu e o Rick devemos nos encontrar mais uma vez para terminar em definitivo, é isso? Na frente do Mark…
- Só se encontrarem não! Viverem mesmo esse sentimento, descobrirem os prós e contras, e entenderem o que querem para suas respectivas vidas.
Respirei fundo, sem tirar os olhos dele, chateada e negando com minha cabeça sua sugestão. Naturalmente, ele viu que tinha ido muito fundo, mas antes que eu falasse algo, ele se levantou e foi até uma estante e pegou um livro, folheando-o por um instante e lendo alguma coisa. Pensou por um momento, novamente me olhando e voltou a se sentar à minha frente:
- Você tem o telefone desse Rick, Fernanda?
- Te-Tenho, uai!
- Pode me passar?
- Po-Po-Po-Por que? - Gaguejei.
- Eu queria conhecê-lo e trocar umas duas ou três palavras com ele.
- Para que? - Perguntei, claramente aflita.
- Fernanda, só quero ajudar vocês e… Por que você está recusando? Agora fiquei curioso.
OS NOMES UTILIZADOS NESTE CONTO SÃO FICTÍCIOS, MAS OS FATOS MENCIONADOS E EVENTUAIS SEMELHANÇAS COM A VIDA REAL PODEM NAO SER MERA COINCIDÊNCIA.
FICA PROIBIDA A CÓPIA, REPRODUÇÃO E/OU EXIBIÇÃO FORA DO “CASA DOS CONTOS” SEM A EXPRESSA PERMISSÃO DO AUTOR, SOB AS PENAS DA LEI.