Jornada de um Casal ao Liberal - Capítulo 17 - Sete dias de paixão e uma desilusão - Dia Dois

Um conto erótico de Mark e Nanda
Categoria: Heterossexual
Contém 18968 palavras
Data: 05/08/2024 18:07:49

Já passava da 1:00 da madrugada quando consegui me controlar um pouco e lavei meu rosto. Saí do banheiro e me deitei então ao lado do meu marido que se virou na cama e jogou um braço por cima de mim, puxando-me para ele. Acabamos nos encaixando de conchinha e o que deveria servir para me acalmar e fazer dormir gostoso, doeu ainda mais fundo, na minha alma, fazendo-me ficar desperta madrugada adentro e pensando em tudo no que aquilo poderia se transformar.

Não sei quanto tempo ao certo, talvez uma hora e tanto depois, decidi me levantar e tomar um ar na sacada do nosso quarto. Uma brisa morna da maresia tocava o meu corpo e fazia meus cabelos balançarem ao seu sabor. Ali um filme dos anos de vida em comum, com os nossos altos e baixos, passou pela minha mente, tantos momentos felizes, muitos mais numerosos que os tristes, fizeram em ter uma noção de que não poderia continuar agindo daquela forma com ele. Olhei para trás e não o vi mais sobre a cama. De repente, o som da descarga no banheiro e a porta se abrindo, revelaram o meu marido que agora vinha meio cambaleante em minha direção, mas sorridente e coçando os olhos:

- Perdeu o sono? - Perguntou-me após me abraçar.

- É… É! Eu… Sei lá… Acho que a mudança da rotina, a ansiedade, a cama diferente… Não sei.

- Só isso mesmo?

Titubeei, mas sentia não ser a hora de fazer revelações:

- É… É sim. Fica tranquilo.

- Então, vem deitar, eu faço cafuné em você.

Deixei-me levar para a cama e seus dedos em minha cabeça, num gesto tão carinhoso e normalmente delicioso, agora pareciam pontas de facas riscando a minha pele. Ainda assim preferi aceitar seu gesto e fingi dormir. Logo, ele dormiu também. Sinceramente? Fingir não ajudou em nada, pois eu não consegui pregar o olho.

Por volta das 4:30, com o corpo dolorido de não achar uma posição que me fizesse descansar, decidi me levantar e fazer uma caminhada pela praia para espairecer ou pirar de vez, mas eu precisava pensar, avaliar, tomar uma decisão e arcar com as consequências. Coloquei um biquini, um shortinho curto de tactel, calcei minhas chinelas, fiz um rabo de cavalo e me assustei com a mulher que vi no espelho: abatida, com olheiras profundas, extremamente cansada, exausta mesmo. Não era eu, mas ainda assim era a que eu tinha naquele momento. Saí silenciosamente, carregando apenas uma mochilinha de pano florido com celular, algum dinheiro e meu protetor solar. Passei pela recepção e dois atendentes me pararam tentando ser solícitos. Apenas os agradeci e saí. Na praia, decidi ir para o lado sul e segui andando.

A madrugada já não estava tão escura, pois um lumaréu ao horizonte já anunciava o novo dia que estava para raiar. Caminhei por uns trinta minutos e os primeiros raios de Sol já apareciam iluminando os pontos mais altos. Ali, andando e pensando, conclui que o Mark não merecia ser colocado de lado, muito menos testado. Se ele não precisava de prova alguma, se ele já me aceitava da forma como eu era, se ele já havia me perdoado por todo o sofrimento que o fiz passar, por que insistir em ficar com o Rick para reconquistar sua confiança? Essa eu já tinha! Eu só precisava continuar sendo merecedora para pavimentá-la de vez em nosso caminho. Então, por que eu convidei o Rick? Eu poderia ter convidado o seu Paulo? Talvez algum ex-namorado? Um GP, talvez? Mas nããão! Eu tinha que convidar o Rick. Justamente o Rick que incomodava tanto o meu marido. Será que o doutor Galeano estava certo e eu poderia estar amando dois homens sem saber ao certo? Eu não acreditava nisso. Eu não sentia pelos dois a mesma coisa. Eu tenho certeza de que o meu sentimento pelo Mark é muito maior que aquele pelo Rick:

- Só pode ser macumba. - Pensei e sorri para mim mesma e eu mesma me respondi: - Ou é paixão de pica, Nanda. Picou você e agora você quer pica de novo.

Macumba, eu não acreditava ser o caso, porque o meu santo é mais forte que as más intenções de terceiros. Paixão de pica, se fosse esse o caso, acredito que o Mark nem se incomodaria, porque estávamos nesse meio liberal justamente para isso, para ter e dar prazer. Acabei concluindo três coisas: primeiro, que ter planejado fazer uma brincadeira apimentada com o meu marido em nossas férias não foi o meu erro, mas sim ter decidido incluir o Rick; segundo, o Rick tem uma coisa que me faz perder as estribeiras e o controle, então eu deveria evitar ficar só com ele em qualquer momento; e, terceiro, eu precisava confiar mais no que eu sinto pelo meu marido e no que ele diz sentir por mim se quiséssemos continuar nesse meio, ou iríamos acabar nos separando de vez:

- Honestidade, Nanda… Você precisa ter coragem e ser honesta com o seu marido. Vai lá e conta para ele a mais nova cagada que você fez. Peça perdão, se ajoelha, lambe os pés dele, mas aprende de vez e para de errar, cacete! - Falei para mim mesma, tentando me fazer entender.

E foi com esse pensamento que eu decidi que me abriria com o Mark, contando tudo, desde o início, fazendo-o entender que não fiz por mal, apenas pensava que, como ele já se sentia bem para bolar brincadeiras para nós, eu também queria, só tendo errado na escolha do parceiro avulso. Ali, distraída, nem notei que meu nome já era entoado por uma voz masculina. Acho que só na terceira ou quarta vez em que fui chamada me dei conta de que a “Nanda” que era chamada era eu mesma. Virei-me na direção do meu interlocutor e vi o Rick vindo em minha direção:

- Mas que inferno! - Falei, olhando invocada para ele que se aproximava a passos largos e não me aguentei: - Porra, Rick, até aqui!? Cê tá me seguindo?

- Oi… Bom dia para você também, Nanda. - Falou agora parando a poucos metros de mim: - Mas respondendo sua pergunta, claro que não, né! Eu sempre faço caminhada de manhã, antes do Sol nascer, aliás, eu não tinha como imaginar que iria te encontra aqui. Daí… vi uma morena bonita andando à minha frente e fui caminhando atrás, admirando seu andar e tal, mas eis que comecei a prestar atenção melhor e notei que já conhecia aquela bunda. Daí chamei o seu nome. Como você não atendia, cheguei a pensar que estivesse errado, mas quando você olhou para o lado e notei que falava sozinha, não tive mais dúvidas, era você.

- Tá! Então, tá então... Bom te ver, Rick, vou seguindo e…

- Vou com você. - Interrompeu-me, ansioso.

- Ah, não vai não... Não mesmo! Estou querendo ficar sozinha, preciso pensar e tudo o que não quero agora é tititi no meu ouvido. Dá um tempo!

Virei-me e comecei a caminhar rapidamente para me afastar dele, mas o danado começou a andar também, pelo mesmo caminho que o meu, só que a uns bons metros atrás. Parei novamente e voltei:

- Para de me seguir, Rick!

- Não estou te seguindo… A praia é pública, só estou fazendo a minha caminhada matinal.

- Está certo então... Vou por esse lado. - Disse e indiquei a face norte da praia: - Continue a sua caminhada porque eu vou voltar para o resort.

Voltei caminhando e notei que ele ficou parado por um instante, sem me seguir. Depois de alguns minutos andando, eu já não o via mais. Respirei tranquilamente e continuei por mais uns dez minutos até ver um quiosque sendo varrido e decidi comprar uma água. Sentei-me na areia e fiquei olhando o oceano, respirando fundo e organizando novamente a confissão que eu faria para o Mark, quando:

- Sabe, eu estive pensando também e você está certa!

- Jesus, Maria, José! - Gritei, jogando a minha garrafinha longe.

Olhei para o lado e o Rick estava me encarando com os olhos arregalados, surpreso com a minha reação:

- Ah, vai dar susto na sua mãe, seu filho da puta! Caralho, Rick, não tem mais o que fazer?

Ele começou a rir e eu também não aguentei e ri da sua cara, da situação como um todo. Fui pegar a minha garrafinha que vazava o restinho de sua água e encarei ele:

- Vou buscar outra. Relaxa! - Ele se adiantou e foi até o quiosque próximo.

Voltou pouco depois e me entregou outra garrafinha, voltando a falar:

- Sabe?... Talvez você tenha razão. Acho que a gente já deveria ter contado essa história para o Mark…

- “A gente” quem, cara pálida? - Perguntei, surpresa.

- Ué! Você, eu, nós… a gente.

- Do meu marido, do meu casamento, quem cuida, sou eu! Você é um ami… uma pessoa querida que eu queria que ele conhecesse melhor para, quem sabe, termos alguns momentos mais… mais…

- Gostosos?

- Pode ser… Gostosos! Mas devia ser eu e ele juntos, com ele ciente e de acordo, nunca como quase fizemos ontem, aliás… Merda! Que acabamos fazendo…

- Nanda, para com isso, cara! A gente não fez nada! Ouviu? Nada! - Disse e depois de uma respirada profunda, corrigiu-se: - Tá! A gente começou, mas parou a tempo. Relaxa, supera isso.

- É fácil falar! Não é o seu casamento que está em jogo…

- Nem o seu! Vou falar um negócio para você... Você diz, e eu acho que está certa, que o Mark é tão esperto, tão inteligente, que se brincar, ele já está sabendo que eu estou aqui e que a gente já andou ficando.

- “Nossinhora”! Nem de brincadeira você me fale uma coisa dessas, Rick. Se ele descobre que eu pisei na bola de novo, eu… a gente… nós… Afffff!...

- Por que a gente não volta e convida ele para tomarmos um gostoso café da manhã juntos? Daí você explica o seu plano, diz que é uma fantasia, uma brincadeira picante, e acaba logo com esse estresse todo. Eu, pelo que você me fala dele, acredito que ele irá entender e concordar. Assim, a gente aproveita melhor esses dias todos que ainda vamos ficar por aqui.

- Rick, eu… eu vou mesmo falar com ele, mas não sei como vai ser. Ontem tivemos um dia maravilhoso juntos e se não fosse pela minha escorregada, teria sido perfeito. Eu ainda tenho que pensar como vou abordá-lo sem fazer uma caca ainda maior.

- Bem, você é quem sabe.... Estou à sua disposição, naturalmente até encontrar alguém interessante.

- Rezo que isso aconteça logo! Assim você não perde a sua viagem e me deixa em paz.

- Caramba, hein!? É só patada que eu levo... Mas só para você se situar, eu já encontrei. Uma morena linda, mas que está se fazendo de difícil.

Entendi a indireta e apenas balancei negativamente minha cabeça. Levantei e ele também, e acabamos seguindo juntos pela praia até o resort, o que não levou mais do que trinta minutos. Nesse meio tempo, acabei me entretendo com ele que passou a falar sobre assuntos variados, triviais, especialmente elogiando o local e o resort, aliviando um pouco a tensão em que eu me encontrava:

- O seu não é um quarto! Aquilo é quase um apartamento de tão grande, nem sabia que eles disponibilizavam daquele tamanho.

- Tamanho família, literalmente. Tem tudo, inclusive, uma mini cozinha que não imagino para que sirva num local que tem vários restaurantes, mas tem. Ah, e a hidro então? Imensa! Deve caber umas oito pessoas lá.

- Coisa de rico, né!?

- Pois é, mas tenho tudo isso e não tenho quem colocar lá dentro. Vê se pode…

Novamente entendi a indireta e lhe dei um tapinha de leve no ombro, pedindo que deixasse disso. Ele, em contrapartida, pegou-me pela cintura, como se estivesse brincando de fazer cócegas. Naquele momento, nós dois estávamos rindo feito crianças, mas o meu sorriso foi minguando à medida em que subíamos em direção à recepção, porque, já de longe, reconheci uma pessoa sentada num banco próximo, segurando uma “long neck” verde de uma marca de cerveja que era balançada como se fosse um pêndulo: o Mark. Ele olhava para baixo, em direção a garrafinha que não parava de balançar, mas, apesar de não estar diretamente em minha direção, de onde ele estava, eu tinha certeza de que havia me visto chegar.

Sem ter como fugir sem parecer culpada por algo que eu não havia feito, não naquele momento de manhã pelo menos, decidi enfrentá-lo. O Rick me acompanhou, justificando temer que eu fosse agredida, mesmo eu o mandando seguir em frente. Era chegada a hora, a hora da verdade…

[...]

Quando a Nanda saiu sorrateiramente do nosso quarto à noite, deixando-me na cama, eu sabia que ela iria aprontar e o pior com o meu algoz: o Rick. Olhei rapidamente para o meu celular que marcava 23:42. Cheguei a me levantar e colocar rapidamente algumas roupas para segui-la, mas depois refleti: “para que?”, “por que?”, “o que eu ganharia com isso?”. Sentei-me na beirada da cama e conclui que, por mais que me doesse, talvez fosse o momento de eu seguir o conselho do doutor Galeano e deixá-la seguir o seu caminho, tomando as suas próprias decisões e fazendo o que tivesse vontade. Se ela voltasse para mim, seria por livre e espontânea vontade, porque me amava realmente e se não voltasse, pelo menos eu saberia que foi bom enquanto durou e poderia seguir em frente, talvez conhecer alguém, enfim, viver a minha vida.

Fui até a sacada de nosso quarto e vi que num quiosque não muito distante, uma festa animada estava rolando, com pessoas, músicas, tochas, vida, tudo o que eu precisava. Pensei em ir até lá, mas o meu ânimo não era dos melhores. Voltei até o frigobar do nosso quarto e abri uma cerveja que durou dois goles bem dados. Abri outra e voltei para a sacada. Acabada essa cerveja e vendo que beber não resolveria nada, decidi me despir e voltar para a cama, onde me joguei e passei a navegar pela internet, rezando para o sono chegar rápido.

Mal havia começado a mexer no celular e ouvi um som na porta do nosso quarto. No meu celular, o relógio indicava que faltava um minuto para a meia noite. Desliguei o aparelho e o coloquei sobre o criado mudo. Silenciosamente para os padrões Nanda, ela abriu a porta e entrou, pé ante pé, mas não veio até a cama, trancando-se no banheiro. Como ela passou a demorar, estranhei e fui até a porta, e a ouvi chorando lá dentro, resmungando para si mesma alguma coisa que não consegui entender. Se eu batesse à porta e ela me atendesse, eu não teria como não a confrontar pelas lágrimas e a obrigaria a me explicar o que aconteceu ou, caso se recusasse, eu acabaria revelando saber da chegada do seu amante no resort e, em qualquer hipótese, tudo acabaria em discussão.

Retornei para a cama e me deitei, mas não consegui dormir: os pensamentos se atropelavam, chocando-se uns nos outros, mas apenas uma certeza eu tinha, o de que o seu encontro com o Rick não havia acontecido como ela imaginara e isso levantava duas hipóteses: de que deram uma rapidinha e ela se arrependeu novamente, ou de que não transaram por decisão de qualquer um deles e ela se ofendeu. Havia uma terceira, que envolvia violência por parte dele, mas essa eu não queria sequer considerar, porque se ele houvesse ousado encostar suas mãos na Nanda contra a vontade dela, eu tenho até medo de imaginar o que faria com ele.

Perdido nos meus pensamentos, não vi o tempo passar, mas quando ouvi o som de uma descarga, vi na tela do meu celular que já era quase 1:00 da manhã. Pouco depois, ela abriu a porta, tirou a sua roupa e se deitou ao meu lado. Eu podia ouvi-la soluçar discretamente, e isso me doía, fosse o motivo que fosse, por isso rolei na cama e joguei um braço por cima dela, puxando-a para mim. Isso deve ter lhe feito algum bem, pois parou de soluçar e depois de algumas suspiradas mais profundas, aparentou dormir. Eu segui logo em seguida.

Acordei, sei lá quanto tempo depois, sozinho na cama. Olhei ao meu redor e a vi perdida em pensamentos na sacada do nosso quarto. A natureza me chamou e fui dar uma mijada, retornando rapidamente depois. Ela me viu e não tive como não ir ao seu encontro. Conversamos rapidamente e notei que ela estava tensa, quase explodindo e tentei tirar alguma coisa dela, mas ela me despistou e decidi não insistir naquele momento. Ela veio para a cama comigo e eu a confortei por algum tempo, voltando a dormir, mas só após notar que ela não se movia mais.

Não me lembro a hora correta em que despertei e novamente sozinho. Entretanto, agora, ela não estava em lugar algum. Notei que ela levou consigo algumas poucas coisas e daí por diante não consegui dormir mais. Olhei em meu relógio e já marcava 5:00 da manhã. Mandei uma mensagem para ela, mas ela não visualizou. Então decidi me levantar e sair, não para procurá-la, mas para tentar dar um sentido à minha vida que novamente voltava a ficar sem rumo.

Passei pela recepção e saí em direção ao quiosque-bar do resort na praia que já começava a ser iluminado pelos primeiros raios de Sol e onde alguns funcionários já faziam a limpeza, preparando-se para iniciar as suas atividades. Um lampejo de luz me fez perguntar se algum deles havia visto uma morena com a descrição da Nanda passar por ali, mas nenhum deles a viu passar. Agradeci e perguntei se já estava servindo chope, mas negaram, informando entretanto que ainda haviam algumas cervejas “long neck” na geladeira. Mesmo de estômago vazio, peguei meia dúzia num baldinho com gelo e fui caminhar pela praia, sentido norte. Andei alguns minutos e desisti, voltando para trás.

Sentei-me em um banco próximo à entrada da recepção, onde fiquei bebendo e divagando sobre onde a Nanda poderia estar. Infelizmente, com quem eu já imaginava. Apesar de não entender o que havia acontecido durante a noite, eu tinha a quase certeza de que agora os dois pombinhos estariam juntos, se esbaldando um com o outro. Novamente, me socorri aos conselhos do doutor Galeano, mas sinceramente eu já não sabia se a volta dela seria suficiente para fazer as coisas se normalizarem entre a gente.

Tentei me colocar no lugar dela e imaginar o que eu faria, mas eu não conseguia me imaginar deixando o meu parceiro de lado, a quem eu dizia amar, para poder me esbaldar com outro que eu sabia que não o agradava. Mas esse era eu, o Mark, racional, “pé no chão”, muito diferente da Nanda, emocional e “cabeça voada”.

Enquanto eu bebia, olhando para o horizonte sem enxergar nada, perdido em pensamentos mil, via algumas pessoas já perambulando pela praia, mas duas silhuetas em especial pareciam se divertir entre si, brincando, andando, correndo... Eles interagiam animadamente e não tive como não me imaginar com a Nanda naquela situação. Conforme eles se aproximavam, suas silhuetas aumentavam e se tornavam mais nítidas, mas nem seria necessário muito mais proximidade para eu reconhecer as curvas daquela mulher. Um pensamento louco de interceptá-los e rodar a baiana até passou pela minha cabeça, mas eu não era assim. Pelo caminho que adotaram, concluí que eles pretendiam entrar pela recepção, mas certamente ela me viu, pois mudou seu semblante, sua forma de interagir e conversar, e sua direção que agora era a minha. Estranhamente, o Rick a acompanhou e eu já imaginava mil situações, nenhuma delas agradável.

[...]

Assim que me aproximei enfim do Mark, ele levantou seu olhar e a forma fria com que me encarou, causou-me um arrepio de imediato. Rick esboçou um “bom dia” que foi sumariamente ignorado pelo Mark, afinal, bom para quem? Para o Mark, certamente não! Para mim? Pior! Para o Rick? Talvez, caso o meu casamento viesse ao fim:

- Mor, eu…

- Achou mesmo que iria me esconder isso até quando, Nanda? - Interrompeu-me, fazendo um meneio de cabeça em direção ao Rick.

- Eu… Eu não estava escondendo. - Suspirei e me corrigi: - Tá, eu estava, mas não é o que você tá pensando.

Ele virou a garrafinha de cerveja que segurava e a colocou num baldinho, onde outras quatro já haviam sido consumidas, pegando mais uma, abrindo e virando uma golada. Eu precisava me explicar, mesmo sem saber como:

- Era para ser uma brincadeira, algo leve, gostoso. Eu… Eu o convidei justamente para te provar que posso ficar com outro sem deixar de te amar.

- Há-há! Tá… - Ele resmungou, sorriu sarcasticamente, dando uma olhada de desprezo para o Rick e me encarou: - Esse nunca foi o problema. Você ficar com outros é a finalidade de estarmos no meio liberal. A questão é que, com ele, você se envolveu sentimentalmente e você sabe que ele pouco se importava se isso acabaria com a nossa família e…

- Isso foi antes. Hoje, eu sou outro homem, Mark. Eu posso te provar isso. - Rick o interrompeu.

O Mark segurou o pescoço da garrafa com ódio e se levantou, encarando o Rick. Entrei no meio dos dois e empurrei o Rick para trás:

- Para! Para, Rick. Sai daqui.

- Mas, Nanda, não vou te deixar sozi…

- Sozinha com o meu marido!? - Eu o interrompi, empurrando-o ainda mais: - Mas é claro que você vai e vai agora!

- Eu… Ok, então… Eu vou ficar ali, vigiando, da porta.

- Você vai embora para o seu quarto. Some das minhas vistas! Eu posso até acabar divorciada hoje, mas, se você não respeitar a minha vontade, eu juro… eu nunca mais olho na sua cara!

Ele me encarou e ainda deu uma última olhada para o Mark, mas desviou o olhar rapidamente:

- Tá bom, eu vou, mas qualquer coisa você tem o meu telefone.

Assim que ele começou a se afastar, virei-me na direção do Mark e disse:

- Por favor, vamos conversar?

- Agora!? Depois da merda feita de novo, Nanda?

Respirei fundo, porque eu precisava manter o juízo e tentar retomar, de algum jeito, o controle da situação, no mínimo equilibrá-la para não deixar tudo ir por água abaixo:

- Escuta, por favor. Eu… não sinto… mais nada… por ele!

- Imagino que não. Deve ser por isso que você se levantou cedo, né? Para dar umazinha para não perder o costume… Só errou de parceiro!

- Opa, opa, opa! O que é isso agora, Mark!? Por favor, me respeita.

- Sério!? Você vai me pedir respeito. É isso mesmo que estou ouvindo?

A situação beirava a tragédia, então decidi ser enérgica. Baixei meu short e coloquei as mãos sobre um dos laços que prendia o meu biquíni, pronta para desatá-lo. O Mark, sem nada entender, me perguntou:

- O que você está fazendo? Vai querer me esfregar na cara que está arrombada?

- Não, seu grosso! Vou fazer justamente o contrário. Quero que você veja que eu não fiz nada. Nada, está ouvindo?

Ele segurou as minhas mãos antes que eu desatasse o nó:

- Não precisa. Você não apostaria tão alto assim.

- Eu quero que você veja. Não estou mentindo. Vamos para o quarto, então. É até melhor que lá poderemos conversar com calma.

Se não fosse quase trágica, a cena seria até excitante: uma mulher seminua, querendo se desnudar por completo em público para um homem e ele resistindo. Inesperadamente, ele encostou sua cabeça em minha barriga e eu tirei as mãos do laço na hora, afagando a sua cabeça e respirando um pouquinho mais aliviada:

- Não fizeram nada mesmo?

- Não! Só caminhamos, nem isso eu tinha planejado. Saí sozinha e encontrei ele no meio do caminho. Juro por Deus, pelas nossas filhas!

Ele suspirou alto, desencostou-se da minha barriga e virou a sua cerveja, colocando o casco no balde e abrindo mais uma:

- Seis cervejas! Você já comeu hoje?

- Não, e de acordo com você, nem o Rick.

- Há-há-há, Mark!

Ele ficou em silêncio, bebericando sua cerveja e depois a virou numa golada, colocando o último casco no baldinho:

- Mor, por favor, conversa comigo. A gente precisa se entender.

Ele, entretanto, se levantou e disse:

- Vou dar uma volta. Estou precisando espairecer. A gente conversa…

- Mark, poxa, estou me abrindo com você. - Eu o interrompi, ansiosa para não perder aquela linha de comunicação: - Estou tentando contar tudo. Me dá uma chance, pelo menos de me explicar? Por favor…

- Confessando… Tá, sei… Sabe qual é o problema, Nanda? Não foi espontâneo de novo. Se eu não tivesse flagrado os dois pombinhos, você não teria me falado na…

- Não! Eu ia te confessar. Eu saí para pensar e estava voltando justamente para te falar tudo, juro, mesmo porque eu precisava te contar para saber se você concordaria e toparia a minha brincadeira.

- Tá bom… - Disse e me deu as costas, já dando dois passos para longe antes de falar: - Vai em frente!

- Por que eu iria mentir, Mark? - Falei, puxando meu short para cima novamente, mas me enroscando no chinelo.

- Sei lá… Talvez pelo mesmo motivo que omitiu? Quem sabe… Vai saber o que se passa na sua cabeça, Nanda.

Ele seguiu andando deixando-me para trás, sem saber o que fazer, mas eu sentia algo no ar, uma possibilidade de entendimento e decidi partir para o tudo ou nada: ou recuperaria de vez o meu casamento, ou o libertaria de vez de mim. Eu o amava demais e se, para vê-lo feliz, eu tivesse que me afastar, eu o faria. Era o que eu pensava. Assim que me ajeitei, saí correndo atrás do Mark que já estava a bons metros de mim e agarrei sua mão:

- Você vai me ouvir!

- Só vou dar uma volta. A gente conversa depo…

Meu sangue já estava fervendo e sem saber o que fazer para pará-lo, fiz o pior, entrando na sua frente e lhe dando um tapa no rosto. Ele me encarou surpreso, depois bravo, mas acabou dando uma risada gostosa antes de falar:

- Puta que pariu sua filha da puta do caralho! Você faz a cagada e eu que apanho!? Perdeu o juízo de vez, sua louca?

Acabei rindo também da boca suja dele e expliquei:

- Desculpa, mas eu… eu… precisava te parar. - Disse e virei a minha face para ele que arregalou os olhos, surpreso: - Direitos iguais, mor. Manda ver!

Ele encostou a mão direita no meu rosto e a afastou, pronto para me retribuir o “carinho” recebido. Encostou e afastou, umas três vezes, fazendo com que eu abrisse e fechasse os olhos em todas elas. Por fim, afastou-a para longe e fechei os olhos de vez, esperando a pancada, mas ele mandou ver num tapa bem estalado na minha bunda, fazendo-me gritar:

- Aaaaaaai, caralho! Porra, Mark, vai deixar marca.

Ele começou a rir e me puxou para um abraço apertado. A dor simplesmente desapareceu como num passe de mágica com a surpresa daquele abraço gostoso e aumentou exponencialmente quando ele se aproximou de mim e me beijou a boca. Não sei se toda a tensão, o medo de ter falhado, de tê-lo decepcionado, de ter perdido o amor da minha vida, mas comecei a chorar enquanto nossos lábios estavam ainda grudados. Ele se afastou tentando compreender e eu escondi meu rosto em seu peito, chorando de vez. Quando e o encarei, ele falou:

- Eu já sabia que ele estava aqui.

- Mas… Mas como?

Ele balançou negativamente a cabeça e sorriu, segurando-me pela cintura enquanto nos colocava para andar pela praia novamente. Ficamos um momento em silêncio, mas logo ele começou a explicar:

- Não existe crime perfeito, sua bocó. Não sei se consciente ou inconscientemente, você já vinha dando sinais há dias de que estava aprontando. Eram coisas sutis no dia a dia, mas eu notava: uma risadinha perdida, um olhar mais aflito acompanhado de mordidas nas unhas, troca de mensagens com vigilância redobrada ao seu redor, insinuações de “terceirizar” nossas transas… - Ele frisou a voz, mas sem tirar o olhar do horizonte: - Coisas assim…

- Eu… só queria fazer uma surpresa.

- Mas quem quer fazer surpresa, não deixa pistas, a não ser que queira ser descoberta.

- Mas só por isso você desconfiou que eu estaria trazendo o Rick para cá?

- Pois é, ajudaria a esconder se você não cadastrasse o nome dele no seu celular e não o deixasse dando bandeira sobre o balcão.

- Bisbilhotando o meu celular!? Que coisa mais feia, Mark… - Falei e ri, brincando.

- Se você não quisesse que eu visse, não daria bandeira, ainda mais com um contato chamado “Ricardão”.

- Uai! Ricardão é só um nome… Sugestivo, tudo bem, eu concordo, mas só um nome.

- É, né!? Ricardão, Ricardo, Rick… Realmente tudo muito diferente, inclusive, com código de área 11, né? - Falou e riu da coincidência do nome com o termo: - Eu só não entendi por que com o Rick de novo?

- Não “com o Rick”, mas ele é o único que eu tinha… assim… intimidade imediata para fazer a proposta.

Ele fez um movimento de cabeça como se não tivesse entendido a minha resposta e eu segui explicando:

- Você fez aquela brincadeira em São Paulo para mim, não fez? - Ele fez um meneio de cabeça, concordando e eu continuei: - Achei linda, adorei mesmo! Significou muito para mim, porque eu vi que a gente estava se divertindo juntos novamente, com cumplicidade, do jeito que sempre deveria ter sido. Então, pensei em fazer o mesmo aqui: uma brincadeira, uma surpresa, eu, você e ele, e o Rick era o único que eu podia convidar. Assim, fiz a proposta e ele aceitou.

- Propôs o que exatamente?

- Falei que nós estaríamos viajando em nova lua de mel, mas que eu queria provar para você, de uma vez por todas, que posso me envolver com um terceiro sem deixar de te amar.

- Voltamos na questão do início: você e ele tem sentimentos envolvidos, e eu… não… aceito… dividir… o seu sentimento… com ninguém… Caralho! - Falou pausadamente: - Pode me chamar de ciumento, inseguro, fraco, frouxo, do diabo a quatro, mas eu não admito dividir o seu coração com ninguém. Não admito! Eu... Eu simplesmente não consigo.

Eu parei, forçando com que parasse também e me coloquei à sua frente, segurando seu rosto com as minhas mãos e olhando no fundo dos seus olhos:

- Acho tão lindo quando você confessa que tem medo de me perder…

- Eu não falei isso!

- Pode não ter sido com essas palavras, mas foi esse o significado e sabe o que mais? É uma das mais lindas declarações de amor que uma mulher pode receber.

- Mas não parece ser suficiente, né? Porque você trouxe ele. Porra, Nanda, você é uma mulher bonita, com duas reboladas, consegue convencer qualquer um para fazer uma farra, mas nããããão… - Falava de uma forma zombeteira, mas sem demonstrar estar bravo, talvez um pouco chateado: - Quem ela tem que trazer? Quem? Quem? O Rick! Simplesmente, o filho da puta do Rick.

Dei um sorriso amarelo, apertando levemente os lábios e expliquei:

- Trouxe… - Respirei fundo e sem tirar os olhos dos dele falei: - E eu sei que consigo outro se eu quiser, mas… sei lá… acho que no fundo eu ainda queria ficar com ele novamente, mas agora dentro das nossas regras, com honestidade, transparência, cumplicidade, tudo do “jeitin" que tem que ser.

- Pois é… Já começou faltando honestidade, transparência e cumplicidade, tudo do “jeitin” que não pode ser! - Ele retrucou me encarando com uma expressão invocada.

- Não! E sim… Acho que você está certo e errado, pois você mesmo disse que talvez, inconscientemente, eu já estivesse tentando me abrir para você não ser pego de surpresa. Foram as suas palavras…

Ele desviou o olhar de mim e encarou o horizonte em silêncio por alguns segundos, mas sua face e as suas expressões eram tranquilas. Ele parecia mesmo ciente daquilo e aparentemente concordava com tudo o que eu conclui. Olhou para mim e falou:

- Você está tentando me enrolar com as minhas próprias palavras…

- Juro que não! Além do mais, eu queria que você participasse comigo, como foi no começo e deveria ter sido sempre. E, ó, será a última vez! Eu prometo! Se você, por qualquer motivo que seja, mesmo sem motivo algum, não quiser que eu veja, fala ou troque mensagem com o Rick nunca mais, eu nunca mais farei. Dou minha palavra de honra! Eu só quero te mostrar que, nem ele, nem ninguém, é páreo para você e que você, só você, é o homem da minha vida. Ele será só mais um que passará, mas você será o único que viverá para sempre no meu coração.

Ele voltou a desviar o olhar por alguns segundos, agora olhando para o mar e então falou:

- Eu estou com fome e penso muito melhor com a barriga cheia. Então, que tal voltarmos para o resort e tomarmos um bom café da manhã. O restante a gente vê depois.

- Hummm… Sinceramente? Eu também estou morrendo de fome.

Voltamos para o hotel e a mesa do café já estava sendo posta, afinal, algumas pessoas quando vão para resorts, querem iniciar seu dia cedo para aproveitar ao máximo as possibilidades. Servimo-nos fartamente e nos sentamos numa mesa na parte externa, o que seria bom para podermos continuar a nossa conversa e eu comecei:

- Posso perguntar uma coisa?

- Pergunte, uai.

- Por que você não perguntou o que eu podia estar aprontando, afinal, você disse que já sabia?

- Uai… Porque… Porque eu tinha esperança de estar errado.

- Tá… Outra pergunta então: se não fosse o Rick, se fosse um outro qualquer, não haveria problema algum correto?

- Correto…

- E se eu te disser que o Rick é um outro qualquer para mim, isso mudaria alguma coisa?

Ele colocou um pão de queijo que mordia em seu prato e me encarou. Assim que terminou de mastigar e engolir o pedaço que estava em sua boca, falou:

- Não seja desonesta comigo. Você sabe que o Rick não é um qualquer e em vários aspectos, mas o que me incomodou e incomoda ainda é a questão do sentimento que ainda acho que existe. O pauzão, o charme, todo o restante não me incomoda porque eu me garanto, acho que nem saber que ele é podre de rico me incomoda, mas o sentimento que vocês dois criaram, sim! - Bebeu um gole de seu café e insistiu: - E não venha me dizer que o esqueceu, que ele não significa nada, porque sei que é mentira.

- Tá, entendi… - Bebi um gole do meu café, olhando para ele que voltava a mastigar o seu pão de queijo e insisti: - Mas e se eu falar que você significa muito mais para mim do que ele significa ou poderá significar um dia, isso muda alguma coisa?

- Primeiro, eu te agradeço pela consideração e por reconhecer tudo o que construímos juntos, em especial nosso sentimento, mas, segundo, isso significa que você ainda deseja construir algo com ele e isso me desagrada imensamente.

- Como assim “construir algo”?

- Uai! Você acabou de falar “do que ele significa ou poderá significar”... “Poderá”? No futuro!? Que merda é essa!? Você ainda quer insistir em continuar se encontrando, convivendo com ele?

- Entendi. Desculpa! Acho que coloquei mal pra caramba a palavra na frase mesmo.

Voltamos a tomar o nosso desjejum em silêncio, mas eu não conseguia ficar de boca fechada:

- Mas e se ele se mostrar confiável, uma pessoa que possa participar esporadicamente das nossas aventuras, igual a Denise participa?

- Primeiro, com a Denise não há uma premeditação, uma… uma… - Ele se calou, pensando em como explicar: - Ela não é um objetivo no meu caminho. Ela é legal, uma ótima pessoa, uma grande amiga, e amiga nossa, minha e sua, mas eu não quero ficar com ela… Segundo, ela nunca tentou destruir a nossa família, porque ela sabe como pai e mãe são importantes na criação dos filhos. Ela sente isso na pele todos os dias, esqueceu? E… Terceiro, eu… não… confio… no Rick! Sei lá, pode chamar de intuição ou do que você quiser, mas eu simplesmente não consigo confiar nele.

- Será, e digo assim muito hipoteticamente, será que você não criou um certo bloqueio pelo fato de eu ter falado lá atrás que me apaixonei por ele?

- Talvez. Pode ser sim! Só que depois ele me deu motivos, mais do que suficientes, para eu desejar vê-lo bem longe da gente. Acho que o pior de tudo foi ele ter tentado destruir a nossa família e ainda sugerir que criaria as nossas filhas. Aquilo foi o suprassumo da canalhice a meu ver.

- É eu sei, mas só para constar, eu nunca concordei com aquela sugestão e briguei feio com ele. Eu sei o pai que você é e nunca permitiria aquilo. Também achei absurda a sugestão!

Voltamos a comer em silêncio, mas logo ele se levantou avisando que iria buscar alguma coisa na mesa do buffet. Sozinha fiquei pensando e concluí que o melhor a ser feito talvez fosse mesmo esquecer o Rick, afinal, o meu casamento ainda estava em reforma e eu poderia prejudicar todo o organograma se insistisse com aquilo. O Mark logo voltou, sentou-se e tomou uma golada de uma nova xícara de café, dizendo:

- Pão de queijo horrível! Essa turma não aprende mesmo.

- Eu já nem pego mais quando saio de Minas. Não achei um fora da nossa terrinha que prestasse.

Ficamos em silêncio por mais alguns momentos e foi a minha vez de ir buscar alguma coisa mais. Fui e peguei um pouco de iogurte e uma generosa fatia de mamão papaia com mel e cereais. Quando voltava, vi o Rick sentado num canto do restaurante sozinho e lhe fiz um “tchauzinho” tímido que foi retribuído com um sorriso amarelo e um movimento de ombro. Assim que saí para a área externa, vejo o Mark parado com os cotovelos apoiados na mesa e os dedos entrelaçados, apoiando a sua boca, com um olhar perdido para o oceano. Sentei-me e alisei o seu braço:

- Desculpa. Eu só queria fazer algo divertido e te provar que posso ser confiável novamente. É uma coisa minha, eu… talvez eu quisesse fazer isso para provar para mim mesma que eu posso ser confiável para você. É complicado… Eu sou complicada.

Ele, que havia me olhado enquanto eu falava, voltou a olhar para o oceano, mas eu queria melhorar o nosso clima:

- Esquece de tudo isso! Eu já havia avisado o Rick de que poderia dar tudo errado e nada acontecer caso você não se sentisse à vontade. Não deu! Está tudo bem. Vamos só nos concentrar na gente, pode ser? Por favor…

Como ele sequer voltou a me olhar, eu preferi deixá-lo com os seus pensamentos e voltei a comer o meu mamãozinho com mel e cereais, alternando para o iogurte. O Mark olhava fixamente o oceano e depois de um tempo disse:

- Eu… Eu vou tentar aquele trem lá. - Disse e apontou para um cara tentando se equilibrar numa prancha de “Stand Up Paddle”, continuando depois: - Aproveite esse tempo aí sozinha e se resolva com o Rick. Está liberada, Nanda! Vai lá e mata a sua vontade.

- Mark, não foi isso que eu disse. Pelo amor de Deus! Eu queria você comigo vivendo uma aventura. Eu só pensei que pudesse ser com ele e assim matar dois coelhos com uma caixa d’água só: eu te mostrava que posso ser confiável e eu me mostrava que podia ser confiável para você. Sem você, eu não vou!

Ele me encarou surpreso e começou a rir. Eu fiquei sem entender. Quando ele parou, notando que eu “boiava igual coco no Tietê”, explicou:

- É matar dois coelhos com uma cajadada, não caixa d’água, Nanda! - Riu quando viu minha expressão de surpresa com um sorriso amarelo de fundo e depois ainda falou: - Pelo menos, você me faz rir… Mas estou falando sério: vai lá e se resolve, sozinha.

- Sozinha, eu não vou!

- A decisão é sua. Você está liberada pela manhã. Agora, vou ali ver como funciona aquele trem. - Disse e se levantou, andando e me deixando só, sentada à mesa.

[...]

Eu precisava espairecer depois de toda aquela situação e me afogar tentando ficar de pé numa tábua lisa parecia uma boa decisão. Cheguei até próximo a linha d’água, bem de frente onde um casal apanhava para ficar de pé na prancha e logo um funcionário do resort se aproximou, perguntando se eu gostaria de usar uma das pranchas:

- Olha, eu até gostaria, mas nunca fiz isso.

- Nossos instrutores estão aqui para melhor servi-lo, senhor. Apenas o casal ali já tinha hora marcada, mas se o senhor aguardar um pouco, um deles poderá ajudá-lo, certamente com o maior prazer.

- Eu… vou aguardar sim. Obrigado.

Naquele momento, havia seis pessoas na água, sendo um aparente casal e uma moça avulsa, cada um deles acompanhado de um instrutor, dos quais duas eram mulheres, lindas por sinal, uma mulata, de pele bem negra, mas com um corpo espetacular e um sorriso maravilhoso, que brilhava de longe, e uma loira, bronzeadíssima e com um corpo também esculpido, certamente em horas de academia. O homem já era um morenão com a pele bem bronzeada, quase um mulato, alto e forte, certamente também fã de horas de academia. Eu ficaria feliz com qualquer uma das duas e fiquei fazendo hora ali, aguardando e torcendo ser atendido por uma delas.

Sentei-me na areia, tentando afastar os meus pensamentos da questão principal que me assolava: “participar ou não da mais nova sandice da Nanda” e nessa luta interna, o tempo passava. Enquanto eu aguardava, ainda torcendo fervorosamente por dentro, senti um toque no meu ombro e logo a Nanda se sentava ao meu lado:

- Você vai mesmo?

- Vou tentar. E você, não vai? - Falei e indiquei a direção do resort com um meneio de cabeça.

- Não! Sem você, não, e… Ó! Se não der, não tem problema, porque eu quero é ficar numa boa com você. Estou falando de coração.

Ficamos ali e ela fez questão de se manter grudada ao meu braço a todo o momento. Um bom tempo depois, a turma que tentava ficar ereta sobre a prancha, broxou e desistiu de vez, saindo da água. Eu me levantei e fiquei ansiosamente aguardando a sorte sorrir para mim e eu estava tão “facinho” que aceitaria qualquer uma daquelas belas professoras que se aproximavam. O funcionário que me atendeu foi de encontro aos três e falou alguma coisa, indicando a minha direção. Logo, os três se aproximaram e fizeram várias perguntas, mas a mais interessante foi feita pela linda mulata:

- E você é casado?

Olhei para a Nanda que me encarava com um sorriso de canto de boca e falei:

- Corre pra água, moça! Se a minha onça levantar para dar o bote, você não escapa.

A moça me olhou surpresa e deu uma analisada na Nanda que se mantinha no mesmo lugar e a encarando com os olhos meio espremidos:

- Ihhh! Tô nem aí, viu! - A Nanda falou, sorrindo: - Pode usar à vontade. Só faz o favor de depois devolvê-lo no quarto 512, ok?

Eu a encarei, confuso, e perguntei:

- Que quarto é esse? O nosso não é o 512!

- Sei lá. Só sei que se você aprontar, não precisa voltar para o nosso quarto. - Disse e gargalhou, ante a cara de surpresa de todos os instrutores: - Gente! Eu tô brincando. Sou ciumenta assim não, sô!

Eles riram da brincadeira, mas logo o morenão se impôs:

- Então… Amigo, meu nome é Roberto, mas todo mundo me chama de Betão. É um prazer. Por uma questão de política do hotel, eu serei o seu instrutor agora. Talvez, se eu não estivesse disponível, uma das minhas colegas poderia atendê-lo, mas agora, hoje, serei eu quem terá o prazer de lhe ensinar.

- O prazer vai ser todo seu, Roberto, porque eu não vou ter prazer algum. Gosto de banana não, cara, o meu negócio é manga.

A loira ruborizou, talvez imaginando que eu falasse dela, enquanto a mulata fez um bico de inconformidade e o Roberto gargalhou alto:

- Cê é um dos meus! Gosta de fazer piada com tudo. Melhor assim. Vamô nessa.

- Se não tem outro jeito, né!?

Fomos para a água e ainda consegui ouvir as duas instrutoras tentando convencer a Nanda a experimentar, mas como a minha onça branca nada igual um prego, seria uma tentativa em vão. Logo, estava eu tentando ficar de pé na prancha, mas o resultado se mostrava quase impossível. Não sei bem o que aconteceu, mas teve um momento em que eu me desequilibrei e caí feio, levando uma pranchada na cabeça. Eu apaguei. Quando voltei a mim, estava esticado na areia da praia e o Roberto se aproximando com aquele baita beição do meu rosto. Coloquei a mão na cara dele e o empurrei:

- Sai pra lá, capeta! Eu falei que não queria ter aula com você... Já tá abusando, safado!

Ele se afastou e começou a rir, avisando:

- Ele está bem, pessoal, foi só um susto.

- Foi mesmo! Estou assombrado até agora. Nu! Trem feio demais, sô! Sai, “cuzaruim” dos infernos!

Lógico que eu forçava a piada para aliviar a situação. A Nanda que agora já estava grudada em mim, só balançava a cabeça negativamente e me criticava por ter tentado dar uma de “boyzinho”. O Roberto e a loira gargalhavam de se acabar. Acabou que fiquei amigo do Roberto, pois ele ficou quase uma hora tentando me convencer a voltar para a água, mas como diria a Nanda, em sua própria versão do ditado: “gato escaldado tem medo até da tia”. Desisti dessa “aventura”, despedindo-me deles, enquanto a Nanda tentava me arrastar para a enfermaria:

- Não vou! Eu estou bem. Sossega!

- Certeza?

- Claro, né, ô!

Decidimos ficar na piscina do resort, pelo menos até a hora do almoço. Almoçamos num dos restaurantes e fomos dar uma cochilada em nosso quarto. Eu estava me sentindo muito bem, leve, descontraído e pensativo se havia tomado a melhor decisão. Já a Nanda, era o resultado da soma de tensão, ansiedade e decepção. Voltei a insistir:

- Se quiser ficar com o Rick, vai! Eu… estou… te liberando! Vai e aproveita, mas com segurança. Só não esquece o caminho de casa.

- Não vou! Sem você, eu não vou! Já errei demais para te deixar de lado, chateado comigo.

- Eu não estou chateado…

- Mas vai ficar! - Ela me interrompeu: - Pisei na bola, já entendi. Errei de novo, mesmo querendo acertar. Só deixa pra lá. Vamos aproveitar nós dois e vai ficar tudo ótimo! Se pintar alguma coisa, no meio do caminho, a gente vê o que faz.

- Ôôôô… Por falar nisso… Você viu as instrutoras daquele trem lá na praia!? Eu acho que dá esquema, hein?

- Com elas!? Sei não… Mas com o tal Betão? Esse eu tenho certeza que te curtiu.

- Oi!?

- Ah… Vai me dizer que não notou o jeito que ele te olhou?

- Eu!?

- É! Acho que você vai ter a chance de viver uma aventura e tanto.

- Sai fora! Bumbum em que mamãe passou talquinho, ninguém põe a mão com terceiras intenções. Sou polo positivo, fia. Ninguém vai enfiar nada em mim não!

Ela começou a gargalhar de perder o ar, mas depois se acalmou e se deitou ao meu lado. Decidi não insistir com a questão do Rick, porque, se liberada, ela não queria aproveitar, era uma decisão dela. Eu é que não me sentia à vontade para participar com os dois e foi o que deixei bem claro. Talvez, a quatro, quem sabe… Adormecemos, mas com o celular programado para nos acordar em meia hora.

Despertados no horário, fomos para a praia, beber, comer e torrar ao sol. Essa última parte, para ela, pois não sou fã de queimaduras e preferi ficar debaixo de um guarda-sol. A Nanda se esbaldou com seu bronzeador que eu era intimado a renovar de tempos em tempos. Bronzeou, desfilou pelas areias com seu mini biquíni quase micro quando ia e vinha de suas mergulhadas para refrescar no mar. Enquanto isso, eu bebia e admirava a paisagem do local, da Nanda e de outras belas moças e mulheres que já apareciam em maior número por aquelas bandas.

Num certo momento, distraí-me mais do que o necessário com uma bela morena, talvez pouco mais jovem que a Nanda que tentava disciplinar seu pequeno filho. Ela usava um biquíni tão pequeno quanto o da minha digníssima e isso já me acendeu um alerta amarelo de um possível casal liberal. Não sei se dei bandeira, mas notei que o seu marido parecia olhar também em minha direção, mas como eu e ele usávamos óculos escuros, seria difícil um cobrar o outro. Voltei minha atenção para o mar e a Nanda havia desaparecido da minha visão. Levantei-me e a procurei com mais cuidado, afinal, a minha onça nadava pessimamente mal. Acabei localizando-a um pouco mais à esquerda, sentada próxima à linha d’água e conversando animadamente com duas moças, uma loira e outra morena.

Respirei aliviado e voltei a me sentar, mas mal peguei minha cerveja, vejo as novas duas amigas da Nanda apontando para alguma coisa mais à esquerda da praia. Ela, ao se virar naquela direção, não pareceu ter gostado nada do que viu. Passei a olhar naquela direção e uma figura alta, forte, pomposa e cheia de marra, ou charme, pensem o que quiserem, se aproximava a passos largos daquelas moças. Eu já sabia quem era e tive mais certeza ainda quando a própria Nanda olhou na minha direção, com semblante encabulado. O Rick chegou e a cumprimentou com um beijo na face e após, as suas novas amigas que babavam por ele. Tentou encaixar uma conversa qualquer, mas a Nanda apenas deu um toque em sua perna, disse alguma coisa e se levantou, chacoalhando a areia da bunda, enquanto vinha na minha direção. O mesmo semblante carregado com que saiu de lá, chegou até mim e falou:

- Eu vi que você viu e você também deve ter visto que eu não tive culpa de nada. Eu só estava batendo um papo quando ele chegou.

- Eu não disse nada.

- Mas pensou! Eu te conheço, Mark, sei como você é.

Dei dois tapinhas no meu colo e ela sorriu, jogando-se com vontade. Calculei mal a proposta e ela a força da bundada, pois a cadeira não aguentou tanta vontade e simplesmente desmontou, levando-nos ao chão. Ouvimos algumas risadas próximas, mas que logo foram abafadas pelas nossas próprias. Ela saiu de cima de mim e me ajudou a sair do que restou da cadeira. Logo, um funcionário do resort se aproximou pedindo mil desculpas pelo inconveniente e se comprometendo a substituí-la rapidamente. Embora ele não fosse culpado de nada, agradeci a gentileza. Enquanto isso, convidei a minha digníssima para um mergulho e saímos de mãos dadas para a água, seguindo mais para a direita da praia a pedido dela:

- Obrigada.

- Mas… por quê?

- Uai, por não ter se chateado comigo.

- Você não fez nada, fez?

- É… Eu sempre acabo fazendo, né!? Cê sabe como eu sou… Mas eu tenho melhorado, não tenho?

- Ô…

Estranhei a forma como ela falou aquilo, mas como ela havia rejeitado a aproximação do Rick me fazia crer que ela estava se esforçando para provar algo e acabei deixando para lá. Ficamos alguns bons minutos na água e quando saímos um funcionário do resort nos aguardava, tendo montando um mini oásis onde estávamos, com um guarda-sol maior, duas cadeiras, duas esteiras, uma mesinha central com uma porção de snacks e um baldinho com meia dúzia de cerveja. Novamente se desculpou por qualquer inconveniente, mas nós é que o agradecemos pela gentileza. Por fim, a Nanda pediu uma caipirinha que ele correu providenciar:

- Eu vou ficar mal acostumada…

- Vida de rico é assim.

- Ahhhhh… - Ela resmungou e, enquanto se sentava na cadeira, sorriu e falou: - Ó só o que eu tô perdendo com você. O Riiiiiiqueeeee…

[...]

Quando eu vi a prancha virando pela enésima vez, mas agora com o meu marido caindo igual um saco de batata na água e não saindo, pensei que tivesse ficado viúva. Mas foi por pouco tempo, logo o instrutor saiu puxando o Mark pelos ombros e após quase fazer um boca a boca nele, saiu rindo da forma como o Mark o xingou, deixando-me roxa de vergonha. Pensei em chamar a sua atenção, mas eu fiquei tão feliz por ele estar bem que deixei para lá. Depois de muito conversarmos com os instrutores, o Roberto tentando convencê-lo a voltar para a prancha e eu a nunca mais pisar em uma, acabei vencendo.

Decidimos relaxar na piscina do resort e ali ficamos até almoçarmos. Depois cochilamos em nosso quarto e à tarde fomos curtir a praia, dentro das comodidades oferecidas pelo nosso resort. O Mark ficou debaixo de um guarda-sol. Eu fiquei dividida entre bronzear, nadar e desfilar o meu mais novo e minúsculo biquíni para o meu marido. Vez ou outra, eu pedia que ele me besuntasse com o óleo bronzeador, sentando-me em seu colo ou pedindo enquanto eu estava na esteira. Fato é, estava delicioso demais. Enquanto isso, bebíamos e falávamos sobre os mais diversos assuntos, inclusive sobre homens e mulheres bonitos, mas nunca, tocando no nome do Rick. Eu tinha receio e ele aparentemente não queria.

Houve um momento em que estava sentada na beira da linha da água, conversando com duas moças, Joyce e Miriam, uma loira e uma morena, quando elas começaram a olhar para a minha esquerda e falaram:

- Nooooossa! Olha que deus grego e… vem vindo para cá!?

- Oi!?

- Ali, Nanda, olha ali. - Disse a Joyce, indicando discretamente uma direção.

Quando olhei, era o Rick, vindo na nossa direção. Gelei. Respirei fundo e olhei na direção do Mark que me olhava. Eu já via o meu “caldin” desandar novamente. O Rick enfim se aproximou, galanteador como sempre:

- Ora, ora, ora… Eu não sabia que Minas, além de criar lindas morenas, também gerava sereia! - Brincou e me beijou a face.

- Cês são de Minas? - Perguntei para as duas que negaram com movimentos de cabeça: - Uai! Morena… então… acho que é para você, Miriam!

Ele deu uma risadinha charmosa e emendou:

- São todas lindas sereias, mas você sabe de quem estou falando, não é, dona Fernanda Mariana? - Falou e piscou um olho para mim.

- Aham! Imagino… - Falei e me apoiei em sua perna para me levantar, falando: - Eu vou dar uma chegadinha logo ali, ok? Meu marido está me esperando. Tchau procês, meninas. Se der, a gente se vê mais à noite.

Saí rebolando e batendo em minha bunda para me livrar da areia. Ensaiei até uma corridinha até o meu marido, pois não queria mais me desentender com ele, mas nem precisei me explicar, pois ele já havia acompanhado tudo à distância e não me culpou de nada. O ápice do momento ficou por conta de uma cadeira de praia que não aguentou meu desejo todo por ele, arriando as quatro pernas em plena luz do dia e na presença de sei lá quantas pessoas, mas, mesmo isso, serviu para darmos altas risadas juntos. Dali fomos até a água, tomar um banho de mar juntos, enquanto um funcionário do resort trocava a nossa cadeira e quando voltamos havia vários mimos para a gente, como pedido de desculpas. Pedi uma caipirinha e virei minha cadeira de modo que ficasse quase de frente para o Mark e quase de costas para o Rick.

Estávamos nos divertindo um com o outro novamente, bebendo e comendo, quando uma sombra tampou o meu Sol. Um calafrio me percorreu a espinha e eu não precisava olhar para trás para saber quem era, pois o olhar do Mark denunciava o meu problema bem ali, atrás de mim:

- Não precisava me dar as costas, Nanda. Isso já é bem mal educado.

Eu estava constrangida, me sentindo num beco sem saída, prestes a ver tudo dar errado de vez, quando o Mark se levantou e potencializou o meu mal estar. Ele ficou cara a cara com o Rick, ambos se encarando. Se tensão gerasse energia elétrica e alguém aproximasse uma lâmpada dali, ela teria explodido. Eu precisava fazer algo, mas não sabia o quê. Então, deixei que o destino dirigisse o momento e rezei para que o melhor acontecesse. Aconteceu, mas eu não sabia se seria o melhor:

- Rick…

- Oi… Mark!

Meu marido fez sinal para um funcionário do resort que se aproximou quase correndo, aliás, ele e mais um certamente haviam sentido que algo estava para acontecer, por isso vieram de dupla. O Mark então falou:

- Podem trazer uma cadeira para o meu “amigo” e também mais um balde com cervejas, por favor? - Disse num tom estranho, meio jocoso, meio sarcástico, mas nada convencional: - Bebe uma com a gente, não bebe, Rick?

Rick, que o olhava, ficou sem entender. Eu que olhava para o chão, levantei o meu olhar suplicando uma explicação para o Mark, mas tudo o que vi foi o meu marido com olhar compenetrado, alternando entre a direção em que os funcionários seguiram e o Rick, nunca para mim. Ele pretendia algo e eu não sabia o quê…

[...]

Na minha terra dizem que quem clama pelo capeta corre o risco de dormir com o diabo. Pois bem… A Nanda, brincando comigo, falou o nome do Rick e não é que algum tempo depois o diabo, em pessoa, surgiu! O pior é que o “coisa à toa” veio todo invocado, chateado pela Nanda ter se sentado de frente para mim e de costas para ele. Eu não sabia o que ele pretendia naquele momento, aliás, não sabia direito o que a própria Nanda pretendia ainda, então tomei uma decisão um tanto quanto questionável: convidei o “tinhoso” para se sentar e beber alguma coisa com a gente.

Dava para ver a quilômetros que a Nanda estava uma pilha de nervos. O Rick não parecia nervoso, mas ficou bastante confuso com o meu convite. Titubeante, ele aceitou se sentar e pegou uma cerveja com uma mão levemente trêmula. Peguei outra para mim também e toquei o gargalo da minha na dele, brindando:

- À família! - Como a Nanda e ele continuavam inertes, insisti: - Vamos lá, gente: à família! Não concordam com o meu brinde?

- Cla-Cla-Claro! À… À família… - A Nanda respondeu, olhando-me com a testa franzida como se perguntasse: “o que você está aprontando?”

Rick ainda nos olhou por alguns segundos, mas como eu o encarei, ele disse:

- À família de vocês, é claro; e às amizades.

Levantei minha garrafa e concordei:

- Aos amigos verdadeiros! Muito bom…

A Nanda apenas levantou sua caipirinha novamente, mas sem curtir nada daquele encontro a três. Ficamos bebericando em silêncio por alguns instantes, ele curioso e ela claramente constrangida. Eu queria exatamente isso, causar constrangimento e dúvidas com o silêncio presencial deles. Talvez assim que conseguisse obter alguma confissão de algo que eu ainda não sabia, mas desconfiava ter acontecido. Senti que estava prestes a conseguir, porque ele começou a falar, mas foi interrompido pela Nanda:

- Então, Mark, eu queria, sei lá, esclarecer algumas coisas…

- Eu já contei tudo para ele, Rick!

- Tudo!? - Ele insistiu.

- É! Tu-Tudo... Não acho que a gente precise ficar repetindo uma situação que já nos deixou muito constrangidos. Tudo bem?

Concordei com um meneio de cabeça, mas o Rick parecia surpreso, pois insistiu:

- Mas tudo mesmo?

- É, Nanda, tudo mesmo? - Agora era eu quem perguntava.

Ela ficou roxa e tive a certeza de que me escondia algo, principalmente pelo que disse a seguir com os olhos já marejados, apertando o meu antebraço com suas duas mãos:

- Nem tudo, mas, mor, eu vou contar. Eu prometo! Depois, só nós dois, por favor.

Não fiquei tão surpreso porque eu já desconfiava de algo, talvez só um pouco chateado e, sem saber o que dizer, acabei perguntando:

- Poxa, Nanda, vocês…

- Nãããão! Eu não fiz! Não fizemos! - Ela se adiantou e cochichou a seguir: - A gente não transou.

- Não mesmo! Isso é verdade. - Ele ratificou, fazendo ainda um meneio de cabeça em sentido positivo.

- Porra! Então, o que é, caralho!? O que aconteceu que você não pode falar aqui e agora, acabando de vez com essa merda de suspense?

Ela mordia os lábios e uma lágrima fugiu face abaixo, piorando toda a situação:

- Nanda! Foi nada demais… Fala! Ele vai entender… - Rick pediu.

- Cala a boca, Rick! - Ela se alterou, mas falando baixo, sem tirar os olhos de mim: - Por favor, eu conto tudo quando estivermos sozinhos. Por favor, por favor, por favor…

Respirei fundo e desviei o meu olhar dela para encarar o Rick, focando seriamente em seus olhos. Não sei se consciente ou inconscientemente, ele mordeu os lábios e depois passou a língua, o que, para mim, serviu quase como uma resposta:

- Você o… chupou!? - Perguntei, voltando a encará-la.

Ela fechou os olhos e fez um movimento positivo de cabeça, apertando ainda mais o meu antebraço. Tentei soltar-me dela, mas cada vez que eu puxava, ela repuxava de volta. O próprio Rick, agora me surpreendendo, colocou uma mão sobre o meu joelho e apertou, tentando chamar a minha atenção. Quando eu o encarei, pronto para xingá-lo, ele falou:

- Quase nada! Ela começou, mas se arrependeu em seguida e desistiu. Trocamos alguns beijos antes, é verdade, mas não passou disso. Ela simplesmente não quis seguir em frente porque você não estava ciente, nem de acordo.

Eu olhei na direção da Nanda que, sem conseguir falar, apenas confirmou com um movimento da sua cabeça. Olhei novamente para o Rick que ainda insistiu, dizendo ter sido “super superficial mesmo”. Não que a palavra dele importasse, mas independente dela ter ido até o fim, havia ficado com ele e iniciado, deixando apenas uma questão agora: foi uma traição ou não?

Eu respirava fundo enquanto analisava os fatos, as situações e tudo o que estava envolvido. Enquanto isso, eu bebia igual o motor oito canecos de um Maverick 76: era literalmente um gole por respirada. Logo, a minha cerveja acabou. Peguei outra garrafa e tentei puxar o meu antebraço para abri-la, mas ele seguia preso pela Nanda que não dava sinais de querer liberá-lo, com medo de que eu fosse embora de vez:

- Solta! - Pedi de uma forma desnecessariamente enfática.

Isso deve tê-la assustado ainda mais, pois apertou firme novamente, cravando suas unhas em mim ao ponto de eu gemer. Só então ela aliviou a pressão. Olhei em direção ao Rick e então virei o gargalo da garrafa em sua direção, fazendo um leve meneio de cabeça. Ele apenas movimentou os lábios, sem soltar som algum, como se perguntasse “abrir?” e eu confirmei com um movimento de cabeça. Ele então abriu a garrafinha e voltei a beber. Ele já havia terminado a primeira, mas não se sentia à vontade para pegar outra:

- Pode pegar, Rick, bebe à vontade. Essas já estão pagas. - Falei.

Ele se serviu de outra enquanto seguia sem saber o que fazer ou dizer por obviamente ser um dos envolvidos naquele novo flagra. Virei a minha garrafinha e tentei me levantar, sendo mantido preso pela Nanda. Tentei soltar o meu braço mais duas outras vezes e falei:

- Ou você me solta, ou vem comigo! Eu vou entrar na água para esfriar a cabeça.

Ela se levantou sem me encarar e também sem me largar o braço, aliás, largou o meu antebraço apenas para entrelaçar os dedos de sua mão na minha. Caminhamos a passos largos até a água e continuei caminhando cada vez mais para o fundo. Ela me acompanhava, mas a partir de um certo ponto começou a ficar temerosa e a dar pequenos passos, até que parou e não me deixou mais seguir:

- O que foi? - Perguntei.

- Eu não sei nadar, Mark! Tá querendo me matar?

- Olha… A pergunta é boa e plenamente cabível na presente circunstância. - Falei da forma mais formal que podia: - O que você faria no meu lugar?

Ela suspirou fundo e deu de ombros, como se dissesse “tanto faz, você decide”. Mergulhei minha cabeça na água e logo saí. Ela ficou ali ao meu lado, de mãos dadas, sem falar nada, nem sei se ela teria algo a dizer. Depois de um tempo, o silêncio já me incomodava:

- Quer tentar justificar? - Perguntei.

- Pra quê? Eu errei. Ponto.

- É só isso que você tem para dizer?

- Ah, mor, eu vou falar o quê? Que eu bebi um tanto ontem? Bebi, e daí? Que ele quer ficar comigo e se insinuou? A gente sabe que ele quer, eu principalmente sei disso, e daí? O erro foi meu, não dele. Eu é que tenho que ser fiel à você, não ele.

- É… eeee?

- Eeee, mais nada. Eu errei! Paciência… Mas em minha defesa, quero só lembrar que assim que eu notei o que estava fazendo, me arrependi e parei. Eu… Eu só dei uma ou duas chupadinhas mesmo. Juro que não teve nada mais.

- O problema não é você ter ido até o final, mas ter começado.

- Eu sei, eu sei, eu sei…

- Porra! Se sabe, por que faz?

- Isso, eu não sei. - Falou e sorriu, mas um sorriso murcho que não durou dois segundos: - Foi tudo errado, a verdade é essa: eu estava no lugar errado, com a pessoa errada, quase bêbada, enfim, tudo errado! Tudo, tudo, tudo…

- Você dá valor ao nosso casamento?

- “Nossinhora”, Mark! Que pergunta é essa? É claro que sim, caramba! Eu sei que fiz merda, mas desisti a tempo.

- Tá… Então me responde uma coisa com toda a sinceridade, porque é a última vez que vou te perguntar isso nessa vida, está me entendendo?

- É claro que eu te amo!

- A pergunta não é essa… O que eu quero saber é: você tem vontade de ficar com o Rick? Sim ou não? Resposta rápida. Responde!

- Te-Te… Si-Sim! Acho que tenho… Tenho. Eu tenho! Desculpa, mas eu tenho.

[...]

- Ok. Era o que eu precisava saber… - Ele disse e começou a andar em direção à areia, arrastando-me a tiracolo.

- Ma-Mark, o que você vai fazer? Espera! Fala comigo. Mark!

Ele me ignorou, sumariamente me ignorou e me arrastou como se eu fosse uma criança birrenta até o nosso mini oásis, de onde o Rick nos olhava curioso com a aproximação. O Mark soltou a minha mão antes que eu pudesse evitar e se sentou abrindo outra cerveja. Nesse momento o toque de um celular começou a ecoar e ficamos nos olhando em dúvida. Demorou alguns segundos, mas o Mark reconheceu como sendo o dele. Ele pegou o aparelho para silenciar, mas um sorriso sutil surgiu em seu rosto. Então, teclou algo rapidamente e começou a recolher as suas coisas:

- Mor, por favor, fala comigo. - Pedi, quase chorando.

- Relaxa, Nanda. Pega as suas coisas e vamos subir. - Disse o Mark com uma dolorosa frieza na voz e se virou para o Rick: - Rick, que tal jantarmos juntos hoje, hein? O que me diz?

- Jantar!? - Repetiu o Rick, atordoado com a surpresa da proposta.

- Isso! Jantar… Você come à noite, não come? - Insistiu o Mark.

- Ué! Se… Se não for causar nenhum problema para vocês…

- Nenhum! Que tal às 20:00… Não, não! 21:00? Assim podemos tomar uns tragos, bater um papo, nos conhecer melhor…

- Por mim, está… está tudo bem.

- Maravilha! Apesar de não precisar, eu fiz uma reserva para dois no Papoula, mas acho que posso alterá-la para três, mas já ficamos combinados. Se eu não conseguir, a Nanda te manda uma mensagem avisando, afinal, eu sei que vocês vêm trocando mensagens, não é?

Ele não confirmou, mas a cara que fez confirmava tudo. Virei-me para a Nanda e falei:

- Já pegou as suas coisas ou você vai subir depois? - Ele me perguntou, sério, frio.

- Eu… Não! Eu vou com você.

- Ótimo!

Peguei minhas coisas e me despedi do Rick sem sequer encostar um dedo, seguindo lado a lado com o Mark que agora parecia ter uma certa leveza no olhar. No caminho, minha intuição me empurrou:

- Posso perguntar quem te ligou?

- Pode.

Como ele ficou em silêncio, insistiu:

- Tá! E então?

- Então o quê?

- Quem te ligou?

- Ah! Isso. Não é nada, não... Era só uma confirmação sobre o jantar de hoje à noite que eu tinha falado com o Rick lá na praia.

- Ah… Mark, por falar nisso, acha mesmo uma boa ideia convidar o Rick para um jantar?

- Por que? Você não acha? Não se garante nem estando ao meu lado?

- Não! Não é isso. É que… sei lá… pode ser meio constrangedor. Já não saiu como eu havia planejado, então… ó… por mim, a gente esquece dele e aproveita só nós dois. Até podemos incluir outra pessoa, mas que não seja ele, que tal?

- Nanda, relaxa. É só um jantar. Você falou tanto nesse cara, insistiu tanto, demonstra tanto querer ainda ficar com ele, que eu fiquei curioso e decidi conhecê-lo melhor. Quem sabe, não sou eu que estou exagerando em tudo, não é mesmo? Vamos nos encontrar, jantar, onde todos nós poderemos nos conhecer melhor. Não vejo problema algum.

- Tá bom. Se você está tão seguro, eu concordo.

Como as reservas do Mark eram para o principal restaurante do resort, decidi me produzir para impressioná-lo. O Rick seria apenas um privilegiado voyeur, mas o meu marido seria o beneficiário principal de todo o meu latifúndio noite adentro.

Tomamos um delicioso e relaxante banho de hidromassagem, aos beijos e amassos, mas o Mark logo se levantou dizendo que queria dar uma cochilada. Fiquei um pouco mais, tentando fazer um plano mental de como proceder e depois saí, para começar a me produzir. Sequei e escovei o meu cabelo. Eu ia prendê-lo num coque, mas decidi deixá-los soltos, pois me daria uma pegada mais sensual. Fiz uma maquiagem leve, mas com um destaque para meus olhos, afinal, por serem da cor avelã, com a maquiagem e iluminação certas, eles mudavam de cor, praticamente ficando verdes. Nos lábios, apenas um batom vermelho. Apesar de estarmos na praia, coloquei um vestido longo preto que eu havia levado para uma ocasião como aquela, com uma imensa fenda na perna direita, além de meias calça sete oitavos preta rendada por baixo que, a depender do movimento e da forma como eu me sentava, deixava aparecer parte da renda, ficando extremamente sexy.

Quando eu estava quase pronta, faltando apenas colocar algumas joias e os sapatos de salto, acordei o Mark que ficou deslumbrado com a visão que teve. “Ponto para mim!”, comemorei com um sorriso de canto de boca ao vê-lo me encarar e assobiar na sequência. Ele foi se arrumar e, é impressionante, ficou pronto e não mais que dez minutos! Colocou uma calça social mais esportiva, sapatos, uma camisa social com a manga dobrada e teve tempo até de fazer a barba antes de se vestir. Acho que eu nem estava pronta quando ele deu uma última aspergida de perfume e me perguntou:

- Vamos?

Fiz uma careta de incredulidade para ele e fui até o banheiro dar uma última verificada nos detalhes. Ouvi quando ele ligou para alguém e só peguei uma última parte da conversa, com ele dizendo “Sim, Mark Di’Maghi. Já estamos descendo”. Definitivamente pronta, fiquei aguardando-o que novamente me olhou deslumbrado:

- Você está linda, aliás, você é linda. Só está mais, se é que isso é possível. Você me entendeu, né?

- Obrigada, mor. Você também está um gato! Realmente, muito gostoso, charmoso.

- Vamos? - Ele insistiu.

- Vamos…

Saímos do corredor, passando pela recepção e fomos caminhando ante o olhar surpreso e porque não dizer igualmente deslumbrado de vários hóspedes com quem cruzamos no caminho. Logo, chegamos ao restaurante. Um garçom nos encaminhou até à mesa, onde o Rick já nos aguardava. Ele ficou boquiaberto com a nossa aproximação, naturalmente por minha aproximação. Assim que chegamos à mesa, ele ficou sem saber o que fazer. O Mark estendeu sua mão e o cumprimentou com um formal “Boa noite!”. Eu e o Rick continuávamos sem saber como agir e o Mark me empurrou gentilmente com uma mão em minhas costas, fazendo que eu avançasse um passo em direção do Rick. Então, nos cumprimentamos com um discreto beijo no rosto.

Era uma mesa redonda, então todos ficariam do lado de todos, a princípio. Eu fiquei à direita do meu marido. Estranhei, entretanto, por haver quatro cadeiras e serviço preparado para quatro pessoas, mas nada questionei no momento. O Rick se sentou ao lado esquerdo do Mark, mas o meu marido pediu que ele se mudasse para a outra cadeira, justificando que assim ele “poderia ficar mais próximo de mim.” O Rick parecia bastante ansioso, nervoso eu diria até, e se antecipou, tentando ser cortês:

- Primeiro, gostaria de dizer, com todo o meu respeito Mark, que a Nanda está linda. Simplesmente, maravilhosa.

Agradeci sutilmente com um sorriso no rosto e baixei meu olhar, mas depois olhei na direção do Mark que o encarava com um semblante bastante tranquilo:

- Concordo totalmente! A Nanda se superou hoje. Deve estar tentando impressionar alguém…

Apesar de ter sido uma brincadeira, naquele momento, não teve graça alguma, mas deixei passar sem fazer nenhuma crítica. O Rick, certamente também sentindo a indireta, decidiu se antecipar, fazendo graça:

- Certamente! Para o marido dela.

- Assim espero! - Mark retrucou de imediato.

A tensão estava no ar e decidi tentar por alguma paz naquele momento:

- Mor… Por favor!

Ele sorriu e acenou positivamente com sua cabeça. O Rick, tentando parecer simpático, novamente se antecipou:

- É… Eu andei dando uma olhada na carta de vinhos, Mark, e se você me permitir, eu gostaria de indicar um delicioso Chateau francês muito bem avaliado. Ah, e… é um presente meu para essa noite tão agradável, como uma forma de retribuir o gentil convite.

Mark o encarou em silêncio por um segundo, mas concordou com a cabeça, apenas fazendo um aparte:

- Agradeço a gentileza, Rick, e aceito sim, aliás, aceitamos, não é, Nanda? - Perguntou e assenti com a cabeça: - Mas vamos aguardar só um instante, por favor, é que a mesa ainda não está completa.

- É, eu… - Calei-me olhando para ele, mas não consegui me segurar e perguntei para o Mark: - Eu estranhei o quarto lugar. Cê está esperando alguém, mor?

Um sorriso surgiu em sua face e ele se levantou, respondendo, antes de sair em direção à porta do restaurante que, naquele momento, estava atrás de mim:

- Não mais, Nanda. Eu já volto. Só um instante…

Olhei para o Rick que estava sem entender tanto quanto eu. Então, virei-me para olhar na direção onde o meu marido foi e, a princípio, não reconheci ninguém. Ele continuava seguindo até a porta e lá parou para cumprimentar uma linda mulher, uma mulata alta, encorpada sem ser gorda, mais para o estilo ultra mega master gostosona “plus size”. Ele a beijou no rosto e trocaram algumas palavras. Logo, ela lhe deu o braço e vieram em direção à mesa. Eu sou míope e estava sem óculos ou lentes de contato naquele momento, mas assim que eles se aproximaram reconheci de imediato a moça em questão. Ela se aproximava com um imenso sorriso na boca e assim que chegou à mesa, falou:

- Oi, Nanda.

- Iara! O que… você… Mas como? É… - Suspirei fundo para não explodir e olhei para o Mark: - Mor? Mark!? O que tá acontecendo aqui?

[...]

Quando um celular começou a tocar e me dei conta de que era o meu, eu não precisava atender para saber quem havia chegado e foi providencial, maravilhosamente providencial. Se eu o atendesse naquele momento, eu perderia o efeito surpresa, então teclei uma mensagem rápida:

Eu - “Oi, anjinha.”

Eu - “Que bom que chegou.”

Eu - “Estou na praia, mas subindo para o meu quarto.”

Iara - “Estou pregada, Mark!”

Iara - “Vou dar uma descansada também.”

Eu - “Estou morrendo de saudades e quero te ver deslumbrante para o nosso jantar de hoje à noite.”

Iara - “Só vim porque foi um pedido seu, mas, olha lá, hein?”

Iara - “Não quero problema para o meu lado.”

Iara - “Me liga.”

Eu - “Assim que eu tiver uma folga da Nanda, te ligo.”

Subimos eu e a Nanda para o nosso quarto, onde tivemos uma conversa tranquila, mas com uma tensão inegável, embutida no sentido das palavras. Acabei convencendo-a de que seria um jantar normal, trivial, dizendo ainda que gostaria de conhecer melhor o Rick. Isso talvez tenha passado uma impressão para ela de que eu pudesse estar aceitando a sua “surpresa”, mas mal sabia ela que eu já estava preparando a minha própria para colocá-la à prova.

Decidimos tomar um banho relaxante de hidromassagem e ficamos namorando. A Nanda se insinuava sem trégua, querendo transar, mas eu queria mantê-la tensa e para isso, teria que negar-lhe sexo naquele momento. Ela acabou aceitado uma esfarrapada desculpa de que eu queria cochilar e ficou um pouco mais na hidro, curtindo os seus sais de banho. Falei que encostaria a porta para ela curtir a música de fundo do seu celular, pois eu queria silêncio. Saí. Peguei o meu celular e fui até a sacada do nosso quarto, fazendo uma chamada que foi logo atendida:

- Sacanagem, hein? Venho para um lugar todo maravilhoso desses e não tenho um homem para me lavar as costas! - Brincou a Iara, ao atender o telefone.

- Se tudo correr da forma como estou planejando, você vai ter. Oi para você também, anjinha.

- Oi, amor. Tudo bem contigo?

- Podia estar melhor, mas… vou consertar, relaxa!

- Ela trouxe ele mesmo, né?

- Trouxe!

- Mark, qual é a dessa mulher? O que ela tem na cabeça?

- Em uma palavra: confusão!

- Porra! Confundir o que sente pelo marido com o que sente pelo amante é para acabar!

- Não acho que seja bem isso, mas acaba sendo.

- Não tô entendendo mais é nada, viu!

- Você veio preparada, não é? Está tudo dentro do esquema, não está?

- Está sim! Vou aparecer lá mais deslumbrante que a porta bandeira da minha Vai-Vai. Espera só para ver a mulata, amor, você vai querer trocar de mulher.

- Você não vai querer se confundir também não, né, Iara? Pelo amor de Deus, de cabeça confusa, basta a da Nanda.

Ela deu uma sonora e escrachada gargalhada do outro lado da ligação e explicou:

- Se ela cair na área, é pênalti, Mark: eu vou bater e vou fazer um golaço no seu coração.

- Ai, caramba… Acho que fiz cagada.

Ela deu uma nova risada e avisou:

- Oxi! Cagada nenhuma, amor. Só não vou deixar você escapar outra vez. Só isso.

Despedimo-nos e desliguei. Decidi realmente dar uma cochilada, pois, conhecendo a Nanda como eu conhecia, sua preparação para o jantar levaria horas. Acertei em cheio, pois ela me acordou umas três horas depois, já de noite. Ela já estava praticamente pronta e, sou obrigado a confessar, linda, linda, linda… Fiquei embasbacado com tanta beleza, charme, elegância, tudo, e nesse momento, me perguntei se não era eu quem havia dado um passo maior que a perna no meu plano. Fui ao banheiro e enquanto podava a barba, analisando os prós e contras, concluí que ela precisava passar por aquela situação para entender que eu não estava à disposição dela, que se eu quisesse, eu também poderia ter as mais belas e encantadoras mulheres ao meu lado.

Denise seria a escolha lógica, mas agora comprometida, não queria envolvê-la. A Iara, quando soube da história e do meu plano, tomou para si as minhas dores e ficou mais que interessada em participar. No fundo, acho que ela poderia até torcer para algo dar errado entre eu e a Nanda, mas era um risco que eu pretendia administrar. Eu só precisava tomar cuidado para o embate entre a onça branca e a pantera negra não se tornar físico, o resto eu conseguiria controlar.

Naturalmente, fiquei pronto antes da Nanda terminar de se arrumar. Isso foi bom, pois pude fazer uma chamada de vídeo para a Iara só para confirmar que estava igualmente linda, pois ela fez questão de se mostrar em frente ao espelho. Ela não havia brincado quando disse que viria para abalar as mentes e corações, pois usava um longo vestido “tomara que caia” vermelho, com uma fenda imensa na perna direita, onde reluzia uma tornozeleira dourada com uma pimentinha vermelha. Havia prendido os cabelos num coque baixo, como uma espanhola e feito uma maquiagem que iluminava ainda mais quando sorria. “Vai ser páreo duro para a Nanda!”, pensei ao me despedir dela, avisando para anunciar o meu nome quando chegasse, pois já estávamos descendo.

Quando, enfim, a Nanda terminou de se arrumar, descemos e fomos caminhando, passeando até o restaurante. Ela chamava a atenção de todos por onde passava e não era para menos, pois estava realmente deslumbrante. Acho que se houvesse um concurso de casal mais bonito naquele momento, nós éramos medalha de ouro, com certeza.

Chegamos ao restaurante, onde o Rick já nos esperava à mesa. Fomos até ele e o cumprimentei, visto que ninguém parecia saber o que fazer. Ele e a Nanda então pareciam ter medo de se aproximarem, tanto que eu tive que “dar um empurrãozinho” para um cumprimento acontecer. Sentamo-nos e o Rick tentava ser gentil, cavalheiro, amigável a todo o momento, mas ao tentar me enfiar um vinho exclusivo e caríssimo goela abaixo, concluí que poderia estar querendo me humilhar indiretamente, afinal, só os muito ricos tinham bala para gastar numa bebida como aquela. Entretanto, já que ele queria pagar e eu queria beber, não achei errado aproveitar a oportunidade, apenas pedindo que aguardasse:

- É, eu… Eu estranhei o quarto lugar. Cê está esperando alguém, mor? - A Nanda me perguntou, confusa e curiosa.

Eis que nesse momento, a minha convida surgiu na porta de acesso do salão, acompanhada por um garçom. As pessoas pararam para vê-la entrar e ela sabia o efeito que causava, pois parou numa pose imponente, decidida e olhou por todo o salão como se procurasse alguém, no caso, eu. Sorri de imediato e me levantei, lembrando-me só então de responder minha onça branca:

- Não mais, Nanda. Eu já volto. Só um instante…

Saí sem olhar para trás e logo o meu olhar cruzou com o da Iara que abriu um imenso sorriso. Corri meus olhos debaixo para cima e quando a encarei novamente, acenei positivamente com a minha cabeça, também sorrindo. Cheguei até ela que agradeceu ao garçom e a beijei no rosto, discretamente:

- Você está… simplesmente… divina! - Falei pausadamente para dar mais ênfase.

- Se eu estiver à sua altura, já fico feliz.

- À minha altura!? Quem sou eu para estar ao lado de uma deusa como você?

- Você é o homem que eu deixei escapar num momento de bobeira, em que eu estava confusa, mas se eu tiver a mínima chance de te pegar para mim novamente, eu pego, hein?

- Já conversamos sobre isso…

- Eu sei, seu bobo. Só estou brincando. - Falou e piscou rapidamente um olho: - Talvez nem tanto, mas quem sabe…

Ofereci o meu braço e ela o pegou firme, forte, decidida… Fomos então até à mesa, onde o Rick me encarava com olhos arregalados e a Nanda, míope, espremia as pálpebras, tentando enxergar quem estava comigo. Foi até engraçado ver os seus olhos esverdeados se abrirem e se arregalarem conforme a gente se aproximava, mas não muito porque logo seus dentes apareceram entre os lábios, indicando que a fera estava prestes a dar um bote. Iara, toda charmosa, a cumprimentou docilmente. A Nanda, enfim, é que não recebeu tão bem a surpresa:

- Iara! O que… você… Mas como? É… Mor? Mark!? O que tá acontecendo aqui?

- Uai! - Disse o Mark, já encaminhando a Iara para o seu lado esquerdo, puxando a cadeira e fazendo-a se sentar: - Achei que seria uma oportunidade única se todos nós pudéssemos nos conhecer melhor, Nanda: eu conhecer o Rick e você, a Iara.

- Você trouxe a sua ex-namorada para a nossa nova lua de mel e acha que vou concordar com isso!? - Perguntou, com o tom de voz já se exaltando.

- Por que o estresse, Nanda? - Perguntei e ela bufou, irada, mas se controlou: - Você não trouxe o seu escolhido? Eu trouxe a minha. Não faça cena, isso não irá ajudar em nada.

- Mark, também não precisa disso, não acha? - Iara me pediu e propôs para todos: - Por que não aproveitamos a oportunidade para fazer exatamente o que você acabou de propor. Vamos conversar, nos conhecer melhor, aproveitar a noite, como bons amigos fazem.

- Isso! Gostei da ideia. Como bons amigos fazem… - Rick repetiu quase no automático.

A Nanda me encarava com sangue nos olhos e estava prestes a explodir. A Iara e o Rick entenderam que qualquer movimento errado acarretaria num desastre e decidiram ficar em silêncio. O Rick nesse momento acabou sendo providencial, pois voltou a falar do vinho e eu disse que seria uma boa ideia. Entretanto, antes que o vinho chegasse à mesa, a Iara se adiantou e, surpreendendo a todos, convidou a Nanda para irem juntas ao toilette. Naturalmente, a Nanda ficou ainda mais atordoada com o convite e me encarou. Eu não sabia o que dizer, mas a Iara sabia:

- Vem comigo, Nanda. É papo de mulher. Esses dois babacas aí não precisam ouvir o que a gente tem a confabular.

- Ara! Eu não te conheço, Iara. - Nanda resmungou, irada.

Iara, que já havia se levantado, aproximou o seu rosto do dela e a encarando com um olhar tão sério quanto o dela, disse:

- E se não quiser conhecer da pior maneira, é melhor vir comigo.

- Há! Acha mesmo que me assusta?

- Acho, aliás, tenho certeza! Se eu não te assustasse, você não teria ficado tão abalada. Agora, para de frescura e vem comigo. - Insistiu e deu uma leve puxada na cadeira que a Nanda ocupava.

A Nanda me encarou ainda irada, mas prevendo o pior, balançou afirmativamente a cabeça e se levantou, saindo em seguida com a Iara e me deixando a sós com o Rick. O vinho chegou na mesa, mas eu pedi que não fosse servido ainda, pedindo, ao contrário, que nos trouxesse dois uísques escoceses, puro, sem gelo:

- O meu, com duas pedras de gelo, por favor. - Pediu o Rick e eu balancei negativamente minha cabeça: - O que?

- Vai aguar o uísque, Rick. Bebida boa é pura, sempre sem gelo. Água você põe no Tang.

- Vai querer me ensinar a beber, Mark?

- Acho que você está precisando de uma ou duas lições, sim! - Respondi, encarando-o, sem tréguas ou papas na língua.

[...]

- Certo, Iara, o que você quer comigo? - Perguntei, assim que entramos no toilette.

Ela, aliás, após se certificar de que estávamos sozinhas, trancou a porta e veio para cima de mim, segurando os meus braços e me chacoalhando. A surpresa da situação, a ineditismo do momento, me fizeram não ter reação alguma além de encará-la assustada. Devia ser isso o que ela buscava, porque ela já emendou uma dura:

- Como você pode ser burra desse jeito, mulher!? Porra! Você tem tudo o que poderia pedir a Deus e ainda quer mais?

- Do que você está falando afinal, Iara? - Perguntei e já me estressei: - E burra é a tua mãe! Me respeita.

- Respeito? Respeito!? Vá se fuder, sua biscate ignorante do caralho, quer exigir respeitinho de todos, mas fica espezinhando sobre o sentimento do seu marido, logo, o homem que você deveria defender a unhas e dentes! Vá exigir respeito das tuas negas, queridinha, porque, desta preta aqui, você só vai ter quando colocar essa merda de cabeça no lugar.

- Quem você pensa que é para falar assim comigo? - Falei mais alto, me alterando.

Ela não respondeu, mas me olhou de uma forma que assustaria até o Mark, pelo menos eu acho. Além disso, ela levantou sua mão e pensei que fosse me surrar no banheiro naquele momento. Eu me garantia muito, mas ela era bem mais forte que eu, não gorda, nem feia, mas forte, estilo cavalona esculpida em academia. Então, no mínimo, a briga seria feia, com uma certa vantagem para ela. Ela, entretanto, respirou fundo e apoiou as duas mãos sobre a bancada da pia do banheiro e olhou para baixo por um instante. Depois levantou seus olhos e me encarou com uma certa decepção no olhar:

- Como eu adoraria ter insistido mais com o Mark… - Suspirou fundo e completou: - Ele é tudo de bom, e a minha tia sabia, a minha vó, até a minha mãe, mas eu… Nãããão! A burra aqui queria experimentar mais da vida, namorar, dar, fuder mesmo. Ah se eu soubesse que ele é liberal. Nunca que eu teria deixado aquele homem e, ó, eu trataria ele a pão de ló. Eu faria ele o homem mais feliz da face da Terra, todos os dias, todas as horas, quando ele quisesse.

- Eu sabia que você ainda é apaixonada pelo meu marido. Eu sabia!

- Apaixonada? Nãããão… Acho que não. Acho que estou deslumbrada pelo homem que ele se tornou: bom profissional, ótimo pai, excepcional marido e extremamente, loucamente caído de amores por você…

Ouvir aquilo me surpreendeu. Não que eu não soubesse, eu sabia e concordava em gênero, número e grau, mas ouvir isso dela a respeito dele, me surpreendeu. Ela deve ter notado e sorriu, virando-se para mim e continuando:

- Sabe qual é a diferença entre eu e o Rick?

Balancei negativamente a cabeça, embora as evidências visuais fossem inúmeras:

- Eu não estou disposta a prejudicar a família de ninguém. Eu gosto do Mark sim, talvez até esteja ainda apaixonada, vai saber… Mas eu nunca… nunca… nunca, nunca, nunca, prejudicaria a família de vocês para tê-lo só para mim e sabe por que?

Novamente balancei negativamente a minha cabeça:

- Primeiro, porque ele sofreria muito se ficasse longe das filhas. Isso tá na cara, concorda? - Balancei afirmativamente a cabeça e ela continuou: - Segundo, porque ele ama você, sua burra! Ele pode até gostar de mim, porque a gente tem uma química gostosa, um negócio de pele que quando esfrega… afffff!… Pega fogo fácil! Talvez até a gente desse certo como casal, mas isso só se você estivesse fora da parada, com você em campo, não tem jogo.

- Ele te falou isso? - Perguntei baixinho, ainda aturdida.

- Ah, Nanda, “qualé”? E precisa!? Tá na cara dele, caralho! Cê acha mesmo que ele me ligou porque queria ficar comigo aqui na nova lua de mel de vocês? Porra! Pensa um pouco, meu!

- Mas então… Eu não estou entendendo. O que você está fazendo aqui?

- Estou equilibrando a balança, sua idiota! Não vim para tomar ele de você, mas sim porque ele sabe que você tem medo de mim, do que eu signifiquei na vida dele.

- Sério!? - Zombei da sua colocação, embora fizesse sentido, virando-me para o espelho, procurando talvez me reencontrar.

- Doeu, não doeu?

- Como?

- Doeu quando você me viu chegando, não doeu? Doeeeu… Eu sei que doeu. Eu vi na sua cara, nos seus olhos, a dor da punhalada pelas costas, quase como uma traição.

- Eu… Eu… Vou… É… Vou entrar ali no… no reservado e… pensar um pouquinho. Já… Eu já volto. - Falei e me virei, dando um passo, mas sendo puxada para trás.

- Não, você não vai! Você quer ir lá para chorar e se fizer isso, vai borrar toda a maquiagem. Isso eu não vou deixar. - Disse e levantou o meu rosto com uma mão: - Caralho, mulher, você é linda! Tem um puta marido, uma família do caralho, filhas, vida, tudo o que eu não tenho. Dá valor a isso.

Ela começou a abanar a mão na minha frente e não tive como conter uma risada pela situação, no mínimo, inusitada. Ela ainda continuou:

- Homem tem de monte nesse mundo, piranha, uma caralhada de macho a fim de fuder que cê nem imagina, tudo facinho, facinho para umas safadas como a gente. Por que então… Porra, mulher! Por que insistir com esse filho da puta do Rick? Mete o pé nesse animal e vá ser feliz com o teu marido. Garanto que se você quiser dar para outra amanhã, ele topa, ele deixa. Então… Então… Porra! Eu não entendo…

- Eu entendi… o seu ponto de vista. Mas em minha defesa, eu queria dizer que só convidei o Rick porque pensei que, eu ficando com ele e voltando para o Mark, eu provaria que sou digna da confiança dele novamente. Entendeu?

- Por que digna da confiança? Vocês se separaram? Você andou aprontando?

- Éééé… Mais ou menos isso. Mas se eu for te contar, vamos passar a noite trancadas aqui. Então, acho a melhor a gente voltar, não acha? Amanhã, se você quiser ouvir, eu te conto tudo, durante o café da manhã, que tal?

- E hoje, como vai ser?

- Uai! O Mark não queria que a gente se conhecesse? Então, vamos nos conhecer. Acho até que posso acabar gostando de você.

- Cê já gostou, piranha, só não quer admitir. - Disse e deu uma gostosa risada, seguida de um abraço, cochichando, por fim, no meu ouvido: - Não vim para dividir, só para somar. Fica tranquila, o marido é teu, eu já saquei. Eu vou ser só mais uma safada que irá dar uma canseira nele, aliás, nele e em você também, porque te achei uma gostosa do caralho!

[...]

Havia um silêncio que só era quebrado pelo irritante som dos gelinhos batendo dentro do copo do Rick e ele parecia fazer aquilo para me irritar. Decidi quebrar o silêncio antes de lhe quebrar a cara:

- Certo, Rick, qual é a sua, afinal?

- Não entendi a pergunta…

- Se eu bem me lembro, você me disse, há algum tempo, que faria de tudo para conquistar a minha amizade, correto? - Ele acenou positivamente com a cabeça e eu continuei: - Então, corrija-me se eu estiver equivocado, mas acho que fazer tramoias pelas costas já deveria ter sido abolido da sua conduta, não concorda?

- Olha, Mark, dessa vez, você não vai me culpar. Eu estava quietinho no meu canto, como eu havia prometido para você, quando a Nanda, foi ela que entrou em contato comigo. Eu pensei que vocês estivessem numa boa, num primeiro momento, só quando ela me disse que podia ou não rolar, eu estranhei, mas ainda assim ela me convenceu a vir. Ela, a todo o momento, fazia questão de dizer que queria provar para você que é de confiança e que, se rolasse, seria só sexo, tipo um bate e volta: a gente fica, transa, goza, e ela volta para o marido. Parece que isso era uma regra entre vocês, não entendi direito… - Respirou por um momento e continuou: - Ah! E eu tenho tudo registrado no ZAP. Se você quiser ver, eu mostro!

Até aí, as histórias convergiam e batiam perfeitamente bem. Eu não tinha o que falar porque tudo era exatamente isso e levava a concluir que, ou era verdade, ou eles haviam ensaiado muitíssimo bem. Recusei ver as mensagens, mas ainda precisava esclarecer algumas coisas:

- E aquela história de paixão entre você e ela, simplesmente acabou?

Ele me olhava, mas baixou os olhos por um instante, mexendo nos gelinhos com o dedo indicador da mão esquerda, talvez pensando no que falar. Logo, em seguida me encarou:

- Você quer a verdade mesmo, nua e crua? - Perguntou e eu assenti com a cabeça: - Eu acho que nós dois somos apaixonados, sim, um pelo outro. Eu, pelo menos, sou réu confesso; por ela eu já não posso falar, mas eu acredito, eu sinto que sim. Só que…

Nesse momento, eu quase o interrompi, mas pedi desculpas e que continuasse, e ele continuou:

- Só que ela te ama e não está disposta a abrir mão de você ou da família de vocês. - Deu uma pausa para tomar um gole de seu uísque, respirou fundo e falou: - Você pode não acreditar, mas eu andei fazendo terapia para tentar esquecer a Nanda…

Eu devo ter feito uma baita cara de surpresa nesse momento, porque ele correspondeu com outra. Deu então um sorriso e continuou:

- Pois é… Veja você, fiz terapia… Na verdade, ainda faço e sabe o que o meu terapeuta disse? - Neguei com a cabeça e ele prosseguiu: - Ele disse que eu não errei em me apaixonar por ela, nem ela em se apaixonar por mim. Entretanto, ele também disse que eu errei, e feio, em tentar sabotar a felicidade dela, tentando me impor como o único caminho para ela ser feliz.

Virou o restante do uísque e chamou um garçom com um movimento de mão. Quando foi atendido, fez o seu pedido e perguntou se eu queria mais uma dose, mas recusei. Assim que o garçom saiu, ele continuou:

- A visão do meu terapeuta, doutor Coelhinho, Epaminondas Coelho, é que existem várias formas de alcançarmos a felicidade e ela já encontrou a dela, ao seu lado e das filhas, com a vida que vocês já tem. Então, eu não teria direito de mostrar outro caminho, sem correr o risco de, ao invés de lhe trazer felicidade, proporcionar tristeza, amargura, decepção, etc., etc., etc….

Fiquei surpreso com as revelações. Além disso, o meu conhecimento e a minha experiência profissional, lidando com clientes, partes contrárias e testemunhas me ensinou a saber analisar muito mais que as palavras ditas e, naquele momento, sua postura, o seu gestual, indicavam que ele estava sendo sincero. Tomei outra dose do meu uísque e, por um momento, fiquei sem reação. O garçom trouxe o uísque do Rick. Com a saída do garçom, fiz uma pergunta que me incomodava:

- Vai respeitar a minha família, então?

Ele não respirou para responder:

- Com toda a certeza! Dou a minha palavra de honra.

- E não vai mais perseguir a Nanda?

- Eu já tinha parado! Foi ela quem me ligou.

- Não sei por que não consigo acreditar nas suas palavras? - Joguei um “verde”, tentando colher alguma insubsistência.

Ele sorriu novamente e jogou alto:

- E talvez nunca confie. Isso o meu terapeuta também me explicou. Não se ofenda com o que eu vou te falar, mas se você quer sinceridade, estou abrindo o jogo: meu terapeuta disse que você ficou inseguro comigo, nem foi ciúme, mas insegurança mesmo. Ele disse que quando a Nanda confessou para você que tinha se apaixonado, você tremeu na base.

- Não foi assim… - Resmunguei.

- Mark, qual é? Foi e você sabe. Mas ele me explicou também que o medo que você teve é o mesmo que qualquer marido teria, o medo de perder: perder a esposa, perder a família, perder o equilíbrio patrimonial, enfim, tudo, além de decepcionar quem mais depende de você, de vocês: as suas filhas. - Ele deu uma pausa, bebeu um gole de seu uísque e me encarou novamente: - Numa boa? Você foi um covarde, um medroso, um bananão… - Deu outro gole, uma risada contida e explicou: - Mas eu teria feito igualzinho a você. Então, fica tranquilo porque, hoje, eu te entendo.

Voltamos a ficar em silêncio e virei outro gole do meu uísque. Estava tão absorto nas minhas análise que nem me dei conta de que ele havia acabado, o que só vi quando levei o copo à boca novamente. Olhei para o copo vazio, depois para o Rick e falei:

- É… Acho que vou precisar de outra dose.

Ele fez um movimento para o mesmo garçom que já nos atendia, com um gestual para não colocar gelo e talvez por isso tenha chegado tão rápido. Brindamos em silêncio, apenas levantando os nossos copos e voltamos a ficar em silêncio. A noite ainda prometia fortes emoções…

[...]

Quando saímos do banheiro, a Iara pegou na minha mão e caminhava lado a lado comigo. Acho que a dura que ela me deu acabou me fazendo bem, porque eu até me sentia mais leve, talvez ainda um pouco desconfiada dela, mas bem mais leve. De longe, notamos um clima estranho entre os dois, pois estavam ambos bebendo em silêncio, olhando um para o outro com caras de poucos amigos. Ela quebrou a minha concentração.:

- Posso dançar com o Mark?

- Oi!?

- Eu posso dançar com o seu marido? Só uma música. Agora, antes do jantar.

Eu a encarei e ela sorria para mim. Deu uma piscada no final e insistiu na pergunta uma terceira vez. Mesmo desconfortável, concordei com um meneio de cabeça. Assim que chegamos à mesa e ela tocou o ombro dele, pedindo para dançarem, me arrependi e avisei que antes, eu gostaria de dançar uma música com ele. Ela fez um bico contrariado para mim, mas não recusou, afinal, a preferência era minha. O Mark se levantou e eu o arrastei pela mão até o meio do salão, onde três outros, bem mais maduros que a gente, dançavam agarradinhos. Grudei no meu mozão e passamos a dar dois passinhos pra lá, dois pra cá… Dois pra lá, dois pra cá. Nossas cabeças estavam encostadas lado a lado:

- Jura pra mim que você não sente nada pela Iara?

Ele se afastou apenas o suficiente para me olhar nos olhos e perguntou:

- Doeu, né?

- Ela perguntou a mesma coisa e quer saber a verdade: doeu demais!

- Então, respondendo: eu sinto! Gosto bastante dela, mas eu não a amo, se é isso que você quer saber?

- Eu acredito em você…

Ele aproximou a sua boca do meu ouvido e disse numa voz rouca e deliciosa de se ouvir:

- Então, escuta: eu também acredito em você! Mate a sua vontade com o Rick e volte para mim. Conversei um tanto com ele e talvez ele realmente não seja tão ruim assim. Estou te liberando.

Meu corpo estremeceu, não de tesão, mas de ter conseguido um “vale night” do meu marido, aparentemente baseado numa confiança que eu tanto almejava reencontrar:

- Então… você confia nele? - Perguntei.

- Não exatamente, mas eu confio em você. Você é minha esposa, a mulher que eu amo mais que todas nessa vida. Tenho que acreditar que nosso amor é suficiente para te trazer de volta para mim.

Suspirei fundo para não chorar, ansiosa por estar prestes a resolver de vez a situação que agora parecia existir só na minha cabeça. Sem ter o que mais dizer ficamos em silêncio, dançando até que a música acabou:

- A Iara também quer dançar com você.

- Aham…

- Você também vai ficar com ela, não vai?

- Isso seria um problema?

- Não, não seria, afinal, são direitos iguais, não é?

- Isso aí.

Voltamos à mesa e a Iara se levantou, saindo com o Mark. Sentei-me à mesa com o Rick e ele sorriu para mim, parecendo estar bastante aliviado:

- Parece que você causou uma boa impressão para o Mark. Ele me liberou…

- Verdade!? Por essa eu não esperava, não agora, não tão já assim.

- Pois é…

- Você não parece muito animada.

- Não, não… Estou sim, muito.

- E quando vai ser?

- Hoje, depois do jantar.

Foram minutos que duraram uma eternidade, mas logo o Mark e a Iara retornaram à mesa. O Rick, enfim, pediu que servissem o vinho que havia escolhido e brindamos, não tão animadamente como deveria ser, mas foi um brinde e logo às amizades improváveis. Em seguida escolhemos os nossos pratos. A partir daí, ficamos conversando trivialidades, forçando uma convivência pacífica em um momento tenso, mas que, para mim, era necessário ser vivido para ser superado. Vencida uma certa barreira, a Iara se mostrou uma companhia super animada e divertida, quase capaz de promover paz entre gregos e troianos.

Quase ao fim da garrafa, antes que o Rick pedisse outra, nossos pedidos chegaram. Jantamos, conversamos, o Rick tentava sempre ser simpático com o Mark que correspondia sem o mesmo entusiasmo, mas se esforçando bastante. Ao final da sobremesa, um delicioso brownie de açaí com sorvete de tapioca, o Rick perguntou para o Mark se poderia dançar comigo:

- Uai! Convida ela, cara. Da minha parte, isso é fichinha, considerando o que está por vir.

O Rick se levantou deu uma volta na mesa e, atrás do Mark, abaixou-se e lhe deu um tapa no ombro, tentando ser amigável:

- Deixa disso, mermão! Nós vamos dar muita risada disso um dia.

- Aham! - Resmungou o Mark, claramente contrariado.

- Dança comigo, Nanda? - Perguntou Rick, enfim.

Olhei para o Mark que sorriu e anuiu com um movimento de cabeça, o que me fez concordar e dar a mão para o Rick. Fomos para o meio do salão enquanto o Mark e a Iara ficaram conversando. O Rick não queria perder tempo:

- Cara, como estou ansioso! Parece coisa de primeira namorada.

- Riiiiick!

- Tá, tá, eu sei! Nada de sentimento, será apenas diversão, pura, mas deliciosa diversão.

- Isso aí!

- E depois, como a gente vai ficar? Assim… A gente transa hoje… Tudo bem… Legal! Mas, e amanhã? A gente vai poder repetir?

A pergunta era boa e eu não tinha resposta, nem eu mesma sabia se iria querer repetir. Decidi ser honesta:

- Vamos viver o presente, ok? O amanhã, a gente decide amanhã.

- Ok.

Acabada a música, ele já propôs subirmos para o seu apartamento, mas eu ainda queria trocar uma última palavra com o meu marido. Sentamo-nos novamente à mesa e eu me aproximei do Mark:

- Ele… Ele já está querendo subir.

- Já!?

- É… E eu acho que é melhor assim. A gente vai e resolve de uma vez.

- Ok… - O Mark resmungou, olhando para um copo vazio: - E… Você vai dormir por lá ou volta?

- Volto! Eu… Eu não quero dormir longe de você.

- Tá bom… - Ele então suspirou fundo, pigarreou, talvez tentando disfarçar ainda uma certa resistência, mas se virou para mim e piscou um olho: - Então, vai lá. Mostra para ele como é que a onça branca das Minas Gerais ruge.

- E vocês? - Perguntei, indicando a direção da Iara que falava algo com o Rick.

- Vamos ficar mais um pouco aqui. Talvez dançar mais. Depois, subimos.

- Tá…

Sorri meio constrangida, dei-lhe um selinho e olhei para o Rick. Assim que ele me viu olhando para ele, novamente se levantou, despediu-se deles e me esticou sua mão. Peguei-a e fomos em direção ao seu apartamento, finalizar uma fase que eu julgava necessária em minha vida.

[...]

Dançar com a Nanda era sempre um prazer, mesmo numa situação tensa como aquela. Eu já havia me decidido há tempos que liberá-la seria a melhor opção e hoje, depois de conversar com o Rick, acabei vendo que isso seria quase necessário para livrá-la de vez desse tormento que a consumia, ou seja, se ela achava necessário dar para ele e voltar para mim para provar ser confiável, que fosse: se ela voltasse, seria minha; se não voltasse, vida que seguiria:

- Então, escuta: eu também acredito em você! - Falei, tentando passar alguma convicção: - Mate a sua vontade com o Rick e volte para mim. Conversei um tanto com ele e talvez ele realmente não seja tão ruim assim. Estou te liberando.

Após terminarmos a nossa dança, foi a vez da Iara que também queria falar a sós comigo. No salão, após dois movimentos de uma avançada passista de escola de samba que quase me quebrou a coluna, ela se grudou em mim e deu uma de suas risadas gostosas antes de falar:

- A safada te ama, amor, disso eu não tenho dúvida.

- Eu também não duvido disso.

- Por mais estranho que possa parecer, ela quer dar para o playboyzinho aí para poder voltar para você. Sei lá... Na cabeça dela, ela acha que ir, transar, gozar e voltar, irá fazer você confiar nela.

- Eu já disse que isso não era necessário.

- Eu sei que não, mas... Que a minha opinião sincera?

- Por favor...

- Acho que ela quer dar mais uma com ele, algo tipo uma despedida, entende?

- Entender, eu não entendo, mas eu já aceitei isso há tempos, quando ainda estávamos fazendo terapia.

- Então, por você, tá tudo bem?

- Se eu disser “não”, irá adiantar?

Ela balançou negativamente sua cabeça, mordendo os lábios e brincou:

- Fica tranquilo. Vou ficar com você essa noite e passar um creminho nesse seu chifrinho inconformado. - Disse alisando levemente a minha testa.

- Não sei por que eu te trouxe?

- Porque eu sou fogo na roupa, amor, e queimo tanto, mas tanto, que se você ainda tiver gás, vamos causar uma bela explosão no seu quarto, ou no meu, você escolhe.

- Você se incomodaria da gente... sei lá... ficar por aqui, curtindo esse clima mais leve, dançando, bebendo, conversando?

- Claro que não, amor. Fico onde você quiser ficar.

Terminada a música, retornamos para a mesa e o Rick pediu que nos servissem o vinho que havia escolhido. Após isso, escolhemos os nossos pratos. Ficamos então conversando e bebendo até sermos servidos, comemos eu, Nanda e Iara, a especialidade do local: peixe e camarão; o Rick preferiu lagosta. Após isso, elas comeram uma sobremesa cada, enquanto eu e ele voltamos a beber um uísque doze anos.

Ao final da sobremesa das meninas, o Rick convidou a Nanda para dançar e foram para o meio do salão, enquanto eu e a Iara ficamos a sós na mesa. Ela ainda parecia duvidar da minha decisão e eu não a culpava, pois eu mesmo não estava certo:

- Você está bem, amor?

- Olha... Bem é uma concepção bem complexa para a filosofia, anjinha...

- Para de viadagem, né, Mark! Tá ou não tá?

Dei uma risada da forma como ela encarava e fui sincero:

- Estou consciente de que é um caminho necessário. Eu só espero que tudo fique bem depois disso.

- Relaxa que vou ficar ao seu lado enquanto for necessário. Não arredo o pé por nadica de nada!

- Oxi! Já tá falando igualzinha a Nanda. – Brinquei.

- Oxi! Que “oxi” é esse aí, uai? – Ela brincou, retrucando.

- O meu “oxi” é primo desse “uai” seu aí.

Ficamos rindo e logo eles retornaram. A Nanda se sentou e tentou se certificar se realmente estava tudo bem. Não estava exatamente, mas eu a tranquilizei. Ela se despediu com um selinho e então saíram do restaurante, de mãos dadas. Um aperto no peito chegou a doer e só não me enfartou porque um assobio chamou a minha atenção, a minha e de todo o restaurante. Quando olhei para o lado, a Iara sorria:

- Desculpa. Exagerei.

Um garçom veio atende-la e ela já foi falando:

- Uma caipirinha com pinga da boa para mim e um uísque duplo para o meu amor aqui.

- O que é isso, Iara? – Perguntei, surpreso com a pedida.

- Vamos animar e balançar o esqueleto, meu amor. Hoje, a noite é nossa!...

[...]

Fomos passeando pela área aberta do resort. A noite estava linda, estrelada e uma maresia gostosa acariciava a minha pele. O Rick, apesar de ansioso, parecia querer caprichar para que aquele momento ficasse marcado. Talvez pensasse que assim eu quisesse repeti-lo novamente, sei lá…

Levamos quase trinta minutos entre passeios, namoricos, beijos e amassos para chegar ao seu apartamento. Assim que entramos, o que deveria ser excitante, prazeroso, delicioso, se revelou insosso e broxante, mas ele não tinha culpa de nada: o problema era eu.

Foram minutos de carícias em que eu não conseguia pegar: eu literalmente parecia um motor à álcool num inverno dos bravos. O estranho é que eu o queria e muito, estava mesmo realizando um desejo, dois na verdade: o de ficar com ele e o de retornar para o Mark para reconquistar a minha tão sonhada confiança. Só que, simplesmente, eu não conseguia me conectar a ele naquele instante.

Perguntei às horas e ele me disse que faltavam dez minutos para a meia noite. Sorri para mim mesma e me levantei, indo até a porta do seu apartamento, o que deve tê-lo deixado bem perdido, tanto que só ouvi:

- Ô, Nanda, o que foi que eu fiz?

Voltei até ele e lhe dei um caprichado selinho nos lábios, segurando bem forte na sua cabeça:

- Nada, meu querido, nada mesmo. É só que… é quase meia noite. A minha magia já está acabando e vou voltar a ser um plebeia. Então, preciso voltar correndo para casa, para os meus.

- Como é que é?

- Desculpa, Rick, mas sem o Mark, eu não consigo. Acabei de descobrir que, sem ele, eu não sou eu. A Nanda, safada, arrojada, liberada, etc. e tal, só existe porque o Mark criou. Eu sou ele e ele é eu!

- Mas…

- Eu sou ele e ele é eu! - Repeti mais alto e fui em direção à porta, gritando embaixo do batente: - Eu sou ele e ele é eu!

Saí correndo pelos corredores, dali para a recepção, pátios, jardins… Correndo é modo de falar porque ninguém corre exatamente com sapatos de salto alto, mas eu queria chegar o quanto antes no restaurante e tinha esperança de que o Mark ainda não tivesse saído com a Iara.

Cheguei e entrei meio esbaforida no restaurante, quase atropelando o maitre que tentou me segurar, em vão, é óbvio. Entretanto, o Mark e a Iara já não estavam mais à mesa que, por sinal, já estava sendo desocupada pelos funcionários do restaurante. Eu havia atrasado e entregado o meu marido para a baiana safada aproveitar.

[...]

- Não é a Nanda ali? - Perguntou a Iara.

- Uai! É! O que será que aconteceu?

Voltamos, seguindo os passos dela de mãos dadas e entramos novamente no restaurante. A Nanda estava parada, respirando pesadamente, segurando parte da saia do seu vestido e com um semblante derrotado, devastado até:

- Nanda!? - Falei e ela se virou com olhos arregalados: - Aconteceu alguma coisa?

Ela abriu um imenso sorrisão e deu um tapa na mão da Iara, empurrando-a para o lado que acabou caindo no colo de um coroa numa mesa próxima:

- Tira a mão que ele é meu! - Ela falou e me grudou num beijaço inesperado.

Fiquei meio perdido, mas não o suficiente para não escutar a Iara rindo e comemorando alguma coisa com um sonoro “Uhull!”. Quando a Nanda aliviou a pressão e olhamos na direção da mulata, ela seguia no colo do velhinho, agora bebendo uma taça de champanhe enquanto ria com todos os presentes daquela mesa, menos uma senhora que pareceu não curtir a situação. Puxei a mulata pelas mãos e saímos os três dali:

- Para onde, senhoras? - Perguntei.

- Para o quarto. - A Nanda falou e ainda complementou: - Pode até trazer essa aí, mas você vai ter que dar conta.

- Nada disso! Vamos nos divertir lá no luau que eu te falei, Mark. Vamos lá, piranha, vamos beber até cair.

OS NOMES UTILIZADOS NESTE CONTO SÃO FICTÍCIOS, MAS OS FATOS MENCIONADOS E EVENTUAIS SEMELHANÇAS COM A VIDA REAL PODEM NÃO SER MERA COINCIDÊNCIA.

FICA PROIBIDA A CÓPIA, REPRODUÇÃO E/OU EXIBIÇÃO FORA DO “CASA DOS CONTOS” SEM A EXPRESSA PERMISSÃO DOS AUTORES, SOB AS PENAS DA LEI.

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Foto de perfil de Mark da NandaMark da NandaContos: 264Seguidores: 627Seguindo: 20Mensagem Apenas alguém fascinado pela arte literária e apaixonado pela vida, suas possibilidades e surpresas. Liberal ou não, seja bem vindo. Comentários? Tragam! Mas o respeito deverá pautar sempre a conduta de todos, leitores, autores, comentaristas e visitantes. Forte abraço.

Comentários

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Lendo alguns comentários lembrei do grande Nelson Rodrigues, autor que com brilhantismo escancarou a hipocrisia com que brasileiros e brasileiras tratam suas sexualidade. Ele tem uma máxima que considero perfeita: "Toda unanimidade é burra. Quem pensa com a unanimidade não precisa pensar".

Dito isso, discordo de críticas que não entram na complexidade dos personagens, onde os comentaristas simplesmente marcam sua posição contra o estilo de vida dos personagens, eu até entendo, para algumas pessoas é perturbador perceber que a felicidade pode vir de um estilo de vida que não compreendem.

Claro que felicidade, principalmente a conjugal, não é um moto perpétuo, ninguém é feliz 100% do tempo em qualquer estilo de relacionamento e restringir os problemas que Mark e Nanda viveram ao seu estilo de relacionamento é limitar muito a análise.

O casal se ama, começaram como monogâmicos e, apesar do amor, em um determinado momento da vida perceberam que a "paixão sexual" já não era a mesma. Foi a partir desse momento que Mark começou a pensar em novas possibilidades e, com muita conversa e cumplicidade, Nanda foi aceitando as "loucuras" do marido e gostando. Descobriu um lado da sua personalidade oculto até então.

Apesar dos problemas vividos o casal se tornou cada vez mais cúmplices, apaixonados e viram sua vida sexual tornar-se cada vez mais quente, mesmo quando não tinham a participação de terceiros.

Foi fácil? Obviamente que não. O casal viveu momentos bons e momentos ruins, mas não é assim com qualquer casal, independente do estilo de relacionamento?

A quantidade de comentários atribuindo a culpa de todo e qualquer problema do casal a Nanda é impressionante. Tudo bem, ela é impulsiva e muitas vezes mete os pés pelas mãos, mas tinha como ser diferente?

Mark tem experiência de vida, é racional, centrado e foi ele que propôs, depois de muito pensar, o novo estilo de relacionamento. Já Nanda era virgem até conhecer Mark, imaginava que seria mulher de um homem só por toda sua vida e, de repente, é apresentada a um mundo que não imaginava existir e, diga-se de passagem, se encantou!

Quando a mulher (o mesmo se aplica aos homens), tem uma bagagem de múltiplas experiências sexuais, fica muito mais fácil lidar com a transição do relacionamento monogâmico para o liberal, agora, como no caso da Nanda, onde Mark foi seu único homem até então, as chances de errar são muito grandes. É muito difícil virar a chave do "sexo com amor" para o "sexo pelo sexo".

Os primeiros erros da Nanda, na minha leitura, foram justamente durante esse processo de modificação de mentalidade.

Ela mudou? Sim, no entanto, algumas coisinhas ficam no subconsciente. Ela não se sente completamente confortável com Mark com outra mulher, por exemplo ...

Quanto a última confusão é importante entender o que a encantou no Rick. A meu ver não foi o sexo, que parece que não foi uma maravilha, nem o tamanho da rola, foi o fato dele tocar em algo não resolvido em seu subconsciente: ele disse com todas as letras que se ela fosse dele ele não admitiria compartilha-la com ninguém. Isso acendeu luzes do velho amor romântico que ela acalentou por boa parte da sua vida.

Contraditório? Não. Por mais que goste da vida liberal ela foi criada para ser mulher de um homem só e, venhamos e convenhamos, não e simples mudar algo que foi martelado em nossas cabeças durante toda nossa infância.

Nanda vai se provar confiável quando entender plenamente que o fato dela transar com outros homens não a faz uma mulher infiel e que Mark permitir tais aventuras não faz dele um corno manso, inferior aos homens que não aceitam o estilo de vida liberal.

Conscientemente ela já sabe, o problema é o inconsciente...

Já vi muitos casais liberais acabarem por conta da mulher, mesmo curtindo o estilo liberal, perder o interesse pelo marido e se apaixonar por um homem que exigia fidelidade. No fundo, mesmo gostando da diversidade, elas não se sentiam amadas por seus maridos que aceitavam vê-las com outros.

A mente humana não é simples!!

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Prezado amigo!

Primeiramente, agradeço por nos lembrar Nelson Rodrigues, o maior dramaturgo desse país!

Concordo muito com suas palavras, mas me pego em alguns ponderamentos:

* Em qualquer relacionamento Liberal ou monogâmico a questão da transparência, respeito, cumplicidade e confiança sofre muito com a mentira e a omissão (culposa ou dolosa);

* O Rick me parece ser um playboy, FDP, que vê a Nanda como um troféu;

* Em uma segunda lua de mel levar o maior desafeto do seu parceiro para participar?

* A cada novo confronto o Rick sai mais fortalecido, (ele demonstrou através de uma terapia, falsa ou não, que o Mark tem medo do efeito que ele causa na Nanda);

* O Mark liberou (até rápido) a Nanda para o Rick e já está se questionando se o amor dele é suficiente para trazer a Nanda de volta;

* A Nanda está entrando em uma espiral da teoria do caos;

Achei a sua concepção factual em relação a Nanda e por esse motivo, (se não for inconveniente) gostaria saber a sua percepção com relação ao Mark.

Obs: Por motivo pessoal que não vêm ao caso, sempre defendo o Mark, a 1.000% certo ou não.

Desde de já agradeço pela atenção!

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Compreendo sua indignação ( e a de muitos leitores), com o comportamento de Rick, realmente ele é um sujeito tóxico, acostumado a ter tudo que quer "bateu o pé" quando Nanda não fez suas vontades. Mas, na minha leitura, ele não é a fonte dos problemas do casal.

Nanda é, segundo a descrição de Mark, uma mulher linda, sex e envolvente. Nada mais natural que ela seja constantemente abordada, com e sem a companhia do marido, em ambientes liberais e baunilhas.

Mark é bem resolvido com isso, confia na sua "onça branca", sabe de todo o amor e cumplicidade que existe no relacionamento.

Rick tinha tudo para ser mais uma experiência, algo a ser contado entre beijos e risadas no conforto do quarto depois que as meninas fossem dormir. Mas não foi assim...

Mark não é o tipo de homem que se incomoda com o poder financeiro ou o tamanho da rola de quem come sua esposa, ele é bem resolvido, não vê os eventuais amantes de Nanda como concorrentes, sabe que não existe concorrência.

O que tirou Mark do seu equilíbrio foi perceber que, pela primeira vez, Nanda pensou na possibilidade de algo além do sexo com um de seus amantes. Pela primeira vez ele se viu em uma disputa por sua esposa.

Obviamente ele ficou inseguro, a situação era nova e com o potencial de destruir o que lhe é mais sagrado, sua família.

Como homem liberal bem resolvido ele nunca viu problema em permitir que sua esposa se divertisse com outros, mas ao perceber que Nanda desenvolveu sentimentos por outro ele com razão se sentiu traído.

Tudo bem, ele a perdoou. As conversas com Dr. Galeano ajudaram, mas será que ele entendeu o que fez Nanda virar a chave e olhar para Rick com outros olhos?

Infelizmente acho que não. Nem Nanda nem Mark foram a fundo nessa questão, muito mais fácil (ou menos doloroso), atribuir a "paixão" ao encanto com a beleza, a posição social ou até pela rola gigantesca do playboy...

Volto ao que escrevi no primeiro comentário: a questão é outra, Rick tocou em um ponto não resolvido, a contradição entre a "nova Nanda", uma mulher liberal, aberta para novas experiências, e a "velha Nanda", uma mulher criada para ser de um homem só. Rick entrou para o imaginário afetivo de Nanda ao declarar que se ela fosse sua esposa ele não aceitaria compartilhar, ela teria de ser exclusiva.

O curioso é que ao Nanda tentar "educar" Rick nas regras do mundo liberal, para ser aceito por Mark, ela destrói o que o tornou especial aos seus olhos.

Quando Rick saiu da mesa com Nanda para transar, com as bençãos de Mark, o encanto quebrou. Ele passou a ser "mais um", talvez por conta disso Nanda "broxou", perdeu o interesse. Amantes ela teve muitos, mas só Rick aventou querer que ela fosse exclusivamente sua. Ao aceitar que só a teria ao se sujeitar a aprovação do marido, seu verdadeiro macho, ele deixou de motivar a "velha Nanda" e a nova sabe que pão de queijo mineiro é melhor que o paulista.

Abraços.

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Agradeço muitíssimo pela atenção,consideração e tempo a mim dispensado. Muito obrigado!

Com relação ao nosso "casal 20" concordo que realmente eles não foram a fundo para resolver toda essa situação. Ao meu ver, cada dia eles estão se perdendo e acredito que algo com efeito perturbador desencadeará a QUEBRA do que sempre uniu o casal.

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Olha, tem sentido o que vc está dizendo... Porque segundo a Nanda, o cara nem é essa fera toda na cama, acho até meio chato, a convivência nem foi tão longa pra causar esse estrago todo... Se for isso mesmo, aí que o Mark tem que redobrar a atenção com o "Pela Saco" do Rick.😂 Mas pode ser que o Dr Galeano esteja certo... o proibido falando alto. A partir do momento tô que o Mark não travou, ela perdeu o interesse... Duas boas hipóteses. Bora esperar pra ver. Eu ainda acho que a Nanda deveria dar logo pra esse cara é acabar com essa história de que quer transar com ele "apenas para provar para o Mark que é confiável ". No.meu ponto de vista, não é assim que se prova a confiabilidade, mas... assim ela acha... bora esperar pra ver o "carro andar" ou a "merda entornar".😂

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Salvo os comentários dos leitores que claramente querem impor a visão monogâmica e/ou ofender os autores, as opiniões giram em torno de manter uma pessoa que não tem respeito, que manipula e ofende por perto, caso do Rick.

A criatura já causou diversos transtornos e dissabores ao casal, porém ele segue sendo uma sombra perturbadora fazendo exatamente as mesmas coisas.

É desrespeitoso, ofende o espaço do casal, causa dores ao casal, no caso do Mark o desrespeito dele como homem e marido, e da Nanda que envolvida comete erros e insiste nestes mesmos erros

Aí fica difícil pensar que são percalços da vida liberal, que os comentários são machistas/monogâmicos e afins

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Vc só esqueceu de um ponto himerus, as experiências frustante que a Nanda teve ao entrar nesse meio, com exceção do alemão, todos os demais teve alguma dor de cabeça e fora q nenhum deles ela saiu sozinha, com o Rick teve aquela sedução, aquela conquista e tratamento que ela só teve com o mark até aquele momento,

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Franco

Muito bacana esse seu texto explicando a importância do “planejamento biológico” na delimitação da conduta humana de forma geral e, especificamente, na sexualidade. Não sou da área da psicologia ou sociologia, mas concordo com tudo que foi dito, porém acho importante acrescentar um fator. Leio em alguns comentários que a “monogamia” é apenas fruto de aspectos culturais definidos pelo papel das doutrinas religiosas, principalmente no “Novo Testamento”. Com relação ao “apenas” eu discordo. Saliento que acredito em um “Deus”, não me alinho às diretrizes e condutas sociais estabelecidas pelas religiões. Ou seja, não sou religioso, muito menos cristão. Digo isso para compartilhar meu ponto de vista de que é importante ressaltar que a monogamia não é a única forma de organização sexual e reprodutiva encontrada na história humana. A diversidade de práticas sexuais e relacionamentos ao longo do tempo e entre diferentes culturas demonstra que a sexualidade humana é um fenômeno complexo e adaptável. É verdade que a biologia fornece algumas pistas sobre as bases do comportamento humano, incluindo a sexualidade. Estudos em diversas espécies, primatas, lobos, leões e outras sugerem que a monogamia pode oferecer vantagens evolutivas, como:

Criação dos filhotes: Em algumas espécies, a presença de um macho para auxiliar na criação dos filhotes aumenta as chances de sobrevivência da prole.

Proteção do território: A monogamia pode ser uma estratégia para garantir o acesso a recursos e proteger o território do casal.

Mas até nos grupos de animais essa monogamia é flexível, isso significa que, embora tendam a formar pares para criar a prole, esses pares não são necessariamente permanentes para a vida toda. A duração e a exclusividade desses pares podem variar dependendo de fatores como a disponibilidade de recursos, a dinâmica social da alcateia ou grupos de outras espécies e a sobrevivência dos parceiros. Se um parceiro morrer ou for expulso do grupo, o sobrevivente pode formar um novo par. Mesmo nos aspectos religiosos refletidos na delimitação da conduta moral da sociedade ocidental em geral há discussões na comparação entre o Velho e o Novo Testamentos. Em resumo, enquanto o Velho Testamento permitia a poligamia, a monogamia era vista como o ideal divino. O Novo Testamento, por sua vez, reafirma a monogamia como o padrão para o casamento, apresentando Jesus Cristo como o exemplo supremo de fidelidade e amor. É importante ressaltar que a Bíblia, em ambos os testamentos, valoriza a união, o amor e a fidelidade dentro do casamento.

O que quero dizer é que a flexibilidade ou não da conduta sexual da sociedade é muito complexa, sendo inúmeros fatores responsáveis pelo caminho escolhido por determinado indivíduo.

Longa conversa…

Sem imposições, apenas um ponto de vista.

Abraços

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Eu não sou cristão, portanto o que me leva à ser "monogâmico" não são as diretrizes estabelecidas pelo velho ou novo testamentos. O pouco que conheço de história da humanidade me faz questionar os verdadeiros motivos por trás de uma adoração divina, ou seja, "poder político", exercendo uma dominação de determinado grupo pessoas sobre os demais, sempre "falando em nome de Deus", se tornando assim inquestionáveis tais "ordens". A minha escolha por uma vida monogâmica se dá por puro e simples receio de estragar o que conquistamos juntos, eu e minha mulher. Não tenho estrutura emocional para viver essa montanha russa da vida liberal. Quando digo isso, faço com admiração. Admiro o mundo "liberal". Admiro quem vive isso e consegue conciliar, como é o caso do casal de autores. Não penso como muitos dos leitores, que comentam apenas para ofender e discordar desse meio. Não vejo sentido em ler contos "liberais" não gostando disso. Eu gosto, não perderia meu tempo lendo alguma coisa que não me dê prazer... enfim, é como penso...

Quanto à comparação da conduta humana com a de outras espécies, o que quis dizer é que algumas vezes o instinto "animal" se manifesta no ser humano. Cabe a cada um de nós dominar esse instinto por meio da inteligência e reflexão racional. Um exemplo disso são crimes cometidos com 30 facadas na vítima... Talvez a vítima tenha morrido na terceira facada, mas o agressor continua esfaqueado instintivamente aquele corpo sem vida... os nossos instintos nos protegem algumas vezes, nos fornecendo uma descarga de adrenalina acima da média que nos faz realizar coisas que normalmente não faríamos... Claro que essa interferência "instintiva" é mínima, mas penso que existe...

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Nem li os demais comentários, mas eu gosto muito desses conflitos de sentimentos nos contos. Parabéns. Gosto de comentar bastante quando os personagens não são reais. Neste caso específico, prefiro ser mais cauteloso nas colocações para evitar ofender os autores, afinal o objetivo não é ofender, pelo menos pra mim...

Dito isso, volto a repetir, continuo não gostando do Rick!!!!! Ele eu posso ofender!!!!!😂 Baseado no que está escrito, lendo em consideração que tudo é verdade, penso o seguinte do Rick:

1 O personagem começou me passando uma impressão de ser um homem extremamente sedutor. Mas com o desenrolar dos acontecimentos ficou meio infantil e pegajoso... sempre implorando pela atenção e paixão da Nanda. Acho isso um pouco broxante.

2 Não respeita nenhum pouco a família do casal e muito menos o Mark. Ele fala mal do Mark, taxando-o de fraco e inseguro em diversas vezes. A questão não é se o Mark está ou foi inseguro em algum momento, mas ele dizer isso com um objetivo de rebaixar o oponente.

3 Aquela situação dele ter "mordido os lábios e passar a língua" para demonstrar ao Mark que a Nanda havia feito sexo oral nele,na minha visão, é nojento e ridículo. Coisa de mal caráter, pois viu que a Nanda estava tentando se entender com o marido e mesmo assim continuou a conversa, dado a entender que houve "algo mais" entre ele e a Nanda. Isso é falta de caráter.

4 Não é a primeira vez que ele encara o Mark como se tivesse o "direito" de peitar o marido da Nanda. Em Manaus ele fez isso no Shopping. Na volta de Manaus no aeroporto. E agora na volta do passeio e quando a Nanda deu as costas pra ele. Vejam só, vir cobrar de uma mulher casada educação, por ter dado as costas pra ele, que ele sabe que está tentando se entender com o marido por conta dessa relação conflituosa com ele. Vou te dizer, podem me chamar de grosso e destemperado, na verdade sou muiiito calmo e evito ao máximo qualquer embate físico, mas ele não falaria dessa forma com a minha mulher na minja frente nem a pau. Certeza como dois mais dois são quatro, ao invés de "encará-lo", teria derrubado e enfiado a porrada nele, para aprender a respeitar a mulher dos outros e principalmente o marido. E fada-se as consequências. Tem uma linja que não se pode deixar ultrapassar. E isso não tem nada a ver ser "monogâmico ou liberal.

Mas me admira a Nanda insistir nesse cara vendo tudo isso... Sei lá, talvez o Dr Galeano tenha razão, ela desenvolveu essa "tara" por conta do "proibido". Talvez seja melhor trepar logo com ele... senão vai ficar sempre esse gostinho do "proibido que não ocorreu... não que eu concorde, mas é o que é. Pela descrição da Nanda ele nem é bom de cama...

Quem sabe se o Mark aceitar uma troca de casais no mesmo quarto essas situações se resolvam... Porque vou dizer pra vcs, quem não está acostumado a fazer sexo com plateia pode ficar inibido e broxar... ficar intimidado...

Enfim, penso que a transa entre eles deve ocorrer. Melhor agora que a baiana tá na área para "consolar"o Mark e botar pressão na Nanda.😂 ANanda não gentalha muita pressão... olha o caso da motoqueira e agora dá Iara...😂

Bora esperar a continuação. Postem logo, tô querendo ver no que vai dar tudo isso.

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Concordo com todas as suas colocações, principalmente da quanto a dar umas porradas no Rick, a Nanda todos sabem que tem um parafuso a me os, mas o Marck tem horas que parece que tem sangue de barata e isso irrita.

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Rapaz.....fiquei perdido neste capítulo, pois não entendi nadica de nada.Acho que vou ter que me consultar com dr.Galeano pra ele me explicar tudinho uai.Se o dr.Mark ja sabia do Rick por que fez tanto barulho,e no final fala pra Nanda,toma o filho e teu,resolva.A Nanda broxou uai...pode isso???Parabéns ao casal....quem sabe no próximo capitulo eu entenda....

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Relendo o conto e passada a euforia inicial...

Eu não entendo por que o Mark fica dando chances ao Rick, talvez por ser e não querer ser possessivo com Nanda... mas o cara tá sempre passando por cima.

A Nanda nem se fala né. O cara faz e acontece, demonstra sempre ser um elemento de desequilíbrio pra ela, sempre "dobrando" ela pra fazer o errado e insiste.

Esse banho de água fria da Iara foi muito bem feito, tá demais, tá extrapolando, falta total de respeito.

Vamos ver os próximos capítulos e aguardar o desfecho dessa situação, se é só "amor de pica" como a própria Nanda disse ou vai ser pra quebrar a relação, se é que pode quebrar mais ainda

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acho que ja deu para esse Rick,mesmo enfeitando dessa vez, meio mal caráter, diz que mudou mas se sujeitou a ir, enganar o marido e no conto anterior ainda tento convencer a dar um perdido mo Mark, vamos combinar, sujeitinho, a Iara sim de responsa

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Este capítulo foi mais que fodaaaaa tenho que tirar o chapéu mesmo e principalmente pro Mark que resolveu tomar uma atitude ( antes tarde do que nunca ) e colocar a maluca da Nanda contra a parede kkkk e nada melhor que invocar uma deusa Negra, só que ainda não me deixou a vontade com a Nanda pois tá na cara que ela só não ficou com o playboy por medo da Iara caso contrário se a iara não estivesse lá ela teria ido até o fim pois infelizmente eu lá coloca a caroça na frente dos bois sempre que dá na telha dela ( infelizmente ela é meio egoísta ) uma coisa que eu sempre digo pra minha esposa tá em dúvida? Não faça. De novo .eus parabéns pelo capítulo e doido pra ver o restante pois vi que a banda disse que tem até o dia 8 kkkk então tem tempo de se preparar pra ter um infarte kkkk.

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concordo com vc, Mark reagiu, más acho q a Nanda ainda vai fazer merda.

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Caramba Mark! Já escrevi pelo menos dez comentários e apaguei todos pois percebi que nenhum era digno desse capítulo, então, só me resta elogiar e parabenizar! Excepcional Mark, parabéns!!!

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Fala meu irmão, já estava preocupado com vc, de não ter aparecido ontem!

TD bem por aí?

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Fala irmão! Valeu pela preocupação! Foi só a correria do dia a dia! Mas fiquei coçando de vontade assim que recebi a notificação!

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Bela jogada do Mark, veneno se cura com veneno foi preciso dar um choque para ver Nanda ver o homem que tem, parabéns

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Pensei que o Rick era página virada,mas pelo contrário Mark perde Denize mas ganha Rick como terceiro elemento

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Eii !! Nem pense em deixar a Denize de lado pois se o Mark for o presidiário a Denize é a liberdade sonhada!🧐

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Agora sim !!!!!!! Mark usando sua arma secreta: a Bomba Atômica Iara !!!!! Yes !!!

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Esse casal mata um uma hora viu kkkkkk parabéns nota um trilhão depois dessa kkkkkk

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Mark e Nanda. Sensacional o capítulo, quase uma saga completa. Repleto de emoções, reviravoltas, surpresas, quer dizer, perfeito!

Puxar a Iara da manga então? Surpreendente, até pra vocês que vivem nos surpreendendo. Pela primeira vez de fato a Nanda saiu da zona de conforto. Jogada de gênio. Se fosse num jogo de xadrez, o movimento passaria a ter o seu nome!🤣🤣🤣🤣

Gosto de ler os capítulos (li duas vezes esse), mas mais ainda os comentários. Alguém usou a melhor figura possível, falando em uma "montanha russa de emoções". Perfeito!

Ficarei mais uns dias esperando ansiosamente pela notificação: "Mark publicou um conto na CDC"...rsrs

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Acertou em cheio. finalmente. De volta ao que é bom. todos os conflitos, dúvidas e prazeres do amor liberal. Beleza de capitulo! aguardando o próximo.

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Conto que me fez parar o carro e ler no acostamento . Amo esse casal e as meninas .

Oque vira no próximo capítulo.

Mark , sei q o tempo é curto pra escrever mas não demore tanto . Beijo labascha

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A única coisa que sei é: casa dos contos antes do Mark, Nanda, Ida, Leon e outros grandes autores que tenho um enorme prazer em seguir era uma coisa normal, depois destes grandes autores ela se transformou em uma grande página, onde nós meros mortais ficamos aguardando com ansiedade a público deles. São fantásticos.

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Querido J67, muito grata por me incluir em sua lista.

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Mas, eu tenho que agradecer mesmo as/aos minhas/meus "comparsas" !!!! Elas/eles é que merecem o elogio e o reconhecimento

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O melhor contos de todos da série ficou perfeito ⭐️⭐️⭐️⭐️⭐️

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Mark, você se superou! O melhor capítulo de todas as histórias que você já publicou. Parabéns!! 👏👏

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😱 Nanda sendo Nanda e coitada da Iara, vai sofreeeeerrrrrrr😂

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E mais uma vez vejo alguém do meio liberal traindo,mentindo,omitindo e manipulando seu parceiro, agora sei porque a Nanda não queria que o Mark continuasse a escrever esse conto, e cagada em cima de cagada, como dizem na minha região (o urubu de baixo cagou no de cima),só ver o marido magoado, chateado e muito frustrado não foi o suficiente, preciso tomar umas chacoalhadas e ouvir umas verdades de outra pessoa pra q momentaneamente abrisse mão do comedor roludo, eu ainda gostaria muito de ver a Nanda abdicar de algo q ela desejasse muito pelo Mark,pois nesse caso não valeu, afinal foi ela mesmo quem o procurou e só abriu mão de transar com ele nessa noite porque se sentiu ameaçada com a presença da Iara

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A questão é, quem ficou desiludido?

Qual foi o motivo da desilusão?

🤔🤔🤔🤔🤔🤔

Bora esperar os próximos capítulos!

👏🏼👏🏼👏🏼

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