Ainda acordando, olhei o relógio e eram 7h12min. Ainda tentava entender por que estava enrolado na toalha de banho do hotel. Sentei-me e peguei o celular. Vi uma mensagem da Cacau que não tive coragem, nem vontade de abrir.
Vi outra mensagem de um colega de trabalho dizendo que eu não me preocupasse, que ele faria as reuniões e que eu me recuperasse logo.
Vi que eu tinha mandado uma mensagem para ele, que não me lembrava de ter enviado, dizendo que não estava me sentindo bem e não poderia participar das reuniões do dia seguinte.
Tomei um banho, desci, tomei um café da manhã, fiz o checkout do hotel e fui para o aeroporto antecipar o voo que estava programado para aquela noite.
Pouco depois do meio dia estava em casa. Entrei e vi a casa vazia. Me sentia entorpecido e com os movimentos lentos e difíceis. Deixei a mala perto da porta de entrada e me sentei no sofá olhando para a televisão desligada. Não sei quanto tempo fiquei ali. Sai deste transe com o celular tocando. Era a Cacau.
— Oi meu amor, bom dia lhe mandei várias mensagens ontem à noite e você não respondeu, você está bem? Que horas você chega hoje à noite?
— Já estou em casa, estou bem.
— Em casa? Você não tinha várias reuniões hoje?
— Tive que cancelar, à noite conversamos!
— Está tudo bem?
— À noite conversamos.
Senti a voz preocupada da Cacau, não senti nem raiva, nem emoção falando com ela. Sensação estranha de entorpecimento. Ouvi o interfone, atendi e o porteiro estava dizendo que tinha um envelope do Sr. Bob, para mim.
Cacau chegou mais cedo em casa, eram cinco e meia da tarde, ela estava claramente preocupada comigo e com o que poderia ter acontecido. Uma preocupação genuína que me deixava mais confuso e incomodado.
Eu tinha trocado de roupa, continuava sentado no sofá, olhando para a TV desligada, com o envelope pardo enviado pelo Bob sobre a mesa de centro.
— O que aconteceu meu amor? Você está bem? Por que voltou mais cedo? O que houve?
Eu seguia sentado no sofá, sem forças ou energias para falar, para brigar, sequer tive forças para me levantar, apenas peguei o envelope, entreguei para ela e disse.
— Sente-se.
Ela pegou o envelope e sentou-se à minha esquerda, em um sofá em L ficando a 45 graus. Abriu e retirou as fotos, e todas as informações sobre a pessoa que ela tinha estado no motel na noite anterior. Olhava as fotos lentamente, passando as folhas, sem olhar para mim, sem levantar o rosto. Eu continuava sentado no sofá, mesmo local que fiquei quase toda a tarde, sem forças ou vontade de discutir.
Ela olhou os documentos, não precisava olhar em detalhes, ela entendeu tudo. Mantinha o rosto abaixado, olhando para o envelope. Colocou todas as fotos e documentos no envelope e ficou sentada, segurando o envelope sem dizer uma palavra.
Ficamos ali, parados, sem nenhum movimento. Respirei fundo, me levantei e disse:
— Eu não entendo, não faz sentido.
Olhei para a Cacau e vi uma lágrima correr de seus olhos e ela disse.
— Eu te amo, nunca traí seu amor, nunca deixei de amar e nunca deixarei.
Eram dezoito horas.
Eu me levantei e fui para o quarto de hóspedes, fechei a porta com chave e me deitei na cama.
Ouvi a Cacau bater na porta, mas não respondi, me virei para a parede e fiquei deitado em posição fetal, com o lado esquerdo na cama.
Silêncio.
Fiquei olhando para a parede por um longo tempo, sem pensar em nada, olhando um detalhe na parede, uma pequena mancha na parede, nunca tinha reparado nela.
Ouvi novamente batidas na porta, olhei no relógio e eram quase oito da noite.
— Gábi, abre a porta, por favor, vamos conversar.
Eu não queria, mas tinha que falar com ela. Fiquei deitado mais um pouco e apoiando a mão direita no colchão me ergui, sentei na cama e respirei fundo.
Levantei-me lentamente e abri a porta do quarto. A Cacau estava ali, encostada na parede em frente ao quarto. Tinha tomado um banho e estava de camiseta verde clara e shorts preto curtinho. Estava linda de cabelos molhados, camiseta sem sutiã, com seios provocantes e isso me entristeceu mais ainda. Fechei os olhos, passei por ela e fui para sala.
— Gábi, podemos conversar?
Me sentei no sofá, no mesmo local que já tinha passado horas e disse:
— Não entendo Cacau.
— Quero que você saiba que eu te amo, que não tenho nenhuma outra pessoa que eu queira estar junto e compartilhar a minha vida, eu escolhi você para ser meu companheiro de toda vida.
E continuou.
— Estes encontros não mudam o que eu sinto por você, não mudam meu amor por você, não mudam o meu respeito e carinho por você, não mudam e não diminuem tudo que eu sinto por você. Mas é verdade que eu gosto de ter experiências novas, gosto da aventura, da adrenalina, da sensação da conquista e de me sentir desejada por outros homens, mas eu amo somente você e só você é a pessoa que eu quero ao meu lado.
— Cacau, eu realmente não entendo. Uns quatro anos atrás eu lhe falei da minha fantasia de você transar com outros homens na minha frente, junto comigo, e você foi claramente contra isso, disse que não queria isso, e que tinha receio de afetar nosso relacionamento, que preferia a nossa vida a dois, sem nenhuma outra pessoa.
Insisti algumas vezes e você sempre foi taxativa de que não tinha nenhum desejo nisso. E agora, descubro isso? Por quê?
— Eu disse que não queria isso, pois tinha receio de você não suportar me ver com outros homens, de me ver empolgada e adorando transar com outros homens, e isso afetar nosso relacionamento. Eu queria evitar qualquer situação de risco em nosso relacionamento, exatamente por que eu te amo demais e quero ficar com você a minha vida toda. Essas aventuras são fugazes e meramente físicas, pelo tesão, pela aventura, sem amor, sem nada além do sexo. Mas você, você é tudo para mim, você é meu companheiro, meu apoio, meu amor, não queria arriscar isso e por isso sempre neguei.
Ficamos os dois em silêncio, ela abriu novamente o envelope e folhando os documentos disse:
— Não sabia de praticamente nada disso que está aqui, não me interessa, foi uma aventura, foi pelo prazer, não tenho interesse nessa pessoa, não me interessa nada do que está aqui.
— Cacau, toda minha proposta, de ver você com outras pessoas, era baseada na confiança, no respeito e cumplicidade. Tudo isso acabou aqui, pois foi exatamente o que você não teve comigo. Não teve respeito, não teve cumplicidade, não teve companheirismo e não sinto confiança em você neste momento.
Esperei alguns segundos para ela entender, e completei:
— Você poderia ter dito que tinha receio do que estas aventuras poderiam causar no nosso relacionamento, poderíamos ter falado sobre isso, mas você achou melhor negar, recusar a proposta como se fosse algo horrível e inaceitável, enquanto saia com outras pessoas, traindo minha confiança.
— Eu errei sim, mas não por desrespeito ou falta de amor, foi por receio e por lhe amar demais, por não querer arriscar nosso relacionamento!
Novamente o silêncio pairou pesado naquela sala. Olhava pela janela vendo os prédios distantes, vendo que tudo parecia igual, mas dentro de mim as sensações haviam mudado, estava ainda entorpecido pelo impacto, como quando se perde alguém próximo, nos primeiros momentos a sensação é de torpor, de não reconhecimento da realidade dos fatos.
Distraído ouvi a Cacau dizer:
— Gábi, eu errei, eu sei, mas eu quero que você entenda que jamais lhe desrespeitei, jamais lhe diminui ou deixei de lhe amar. Eu recusei sua proposta por receio, por zelo, por amor. Eu amo você, eu sinto desejo por você, eu quero passar minha vida com você, mas sinto necessidade de variar, de aventura, de adrenalina, da sedução e isso não afeta em nada meu amor por você.
E completou
— Eu adoro nosso casamento, eu te amo, eu jamais faria algo para afetar o que eu sinto por você, mas eu gosto de experimentar situações e pessoas diferentes. Eu deveria ter lhe contado, mas não fiz, por medo de afetar nosso relacionamento.
Olhando para as folhas nas mãos, disse novamente:
— Eu não me interesso por saber nada disso, não sabia e não me interessa, foi uma aventura, que lamento muito você ter descoberto desta maneira.
Ela largou as folhas sobre a mesa de centro e novamente o silêncio pesou sobre o ambiente, levantou-se e veio em minha direção.
Em um ato reflexo, estendi a mão esquerda, forçando-a parar e voltar para o mesmo lugar no sofá.
Silêncio pesando sobre os ombros dos dois até que pude ouvir um leve choro da Cacau ao meu lado.
Eu não sentia quase nada, estava anestesiado. Me levantei e voltei para o quarto de hóspedes, tranquei a porta e entrei no banheiro. Liguei o chuveiro e fiquei, com as duas mãos na parede, a água batendo na cabeça. Fiquei ali por uns dez minutos. Sai do banho e me deitei novamente na cama, olhando para o teto. Lembrei que não tinha comido nada desde que havia chegado, mas estava sem fome.
Deitado imóvel passei a noite, entre rápidas e leves dormidas, acordava o tempo todo, mas acabei cedendo ao cansaço de duas noites mal dormidas.
Quando acordei, olhei no relógio e eram 5h15min, começando a clarear e me levantei, vesti a calca e camisa que havia deixado ao lado da cama, escovei os dentes e antes das 5h30min, peguei uma mochila que já havia preparado no dia anterior, destranquei a porta do quarto e sai, sem fazer barulho. Abri a porta da sala, chamei o elevador e desci. Peguei um Uber e fui para um hotel, não muito longe dali, que tinha uma modalidade de locação mensal. Antes das 6h estava instalado no hotel. Enviei uma mensagem para meu chefe informando que não estava me sentindo bem e não poderia trabalhar nos próximos dias. Como eu tinha férias atrasadas, pedi quinze dias de férias. Depois, desci para tomar um café, mas antes de sair, desliguei o celular.
Depois do café, fui dar uma caminhada pela região, perdi a noção do tempo caminhando, só percebi que era tarde quando notei o sol forte sobre a cabeça. Voltei ao hotel, tomei um banho, olhei no relógio ao lado da cama e vi que eram quase meio dia. Liguei para minha terapeuta.
— Alô Regina? Preciso falar com você.
— Olá Gábi, sua voz está estranha, que telefone é este? Quase não atendi!
— É o telefone do hotel.
— Hotel? Que hotel? E por que não ligou do seu celular?
— Está desligado.
— Esse papo está bem estranho, vou cancelar um compromisso meu às 15h e conversamos. Até lá.
— Obrigado.
Deitei na cama e relaxei um pouco pensando em tudo que estava acontecendo.
Fiz terapia com a Regina por um bom tempo, mas não falava com ela já fazia aproximadamente três anos. Ela é do Rio de Janeiro, mas às vezes está em São Paulo e atende em Perdizes, alguns poucos clientes.
Desci, almocei no hotel mesmo e chamei um Uber.
No Uber do Brooklin até Perdizes, uns bons quarenta e cinco minutos. Nesta viagem fiquei pensando nas etapas que passei durante o processo terapêutico com ela.
A primeira vez que falei com a Regina, não tinha claro meus sentimentos, tinha mais um desconforto e vergonha de gostar de imaginar minha esposa tendo prazer com outros homens. Fui em busca de uma terapia para entender porque desta fantasia e tentar “corrigir” esta sensação.
Demorei para tocar neste assunto com ela e quando consegui, ela comentou que tem recebido muitos casais e maridos com desejos semelhantes nos últimos anos. Explicou que a pressão social que todos recebemos é muito forte, a cultura do amor romântico, que somos treinados a acreditar desde a mais tenra idade gera conflitos enormes na mente e corações de muitas pessoas, e que eu me incluo neste grupo. Falou que o amor romântico é a maior propaganda do planeta, está nos livros, filmes, musicas, religiões, na publicidade e é parte inseparável da sociedade moderna. O amor romântico impõe a ideia de que duas pessoas se transformam numa só, havendo complementação total e nada lhes faltando. Entre outras regras, prega que o amado é a única fonte de interesse do outro, que um terá todas as suas necessidades atendidas pelo outro e que quem ama não sente desejo sexual por mais ninguém. O condicionamento cultural é tão forte que nos tornamos adultos sem jamais saber separar o que realmente desejamos do que aprendemos ou fomos treinados a acreditar. O termo “lavagem cerebral” se aplica neste caso, e muita gente segue este treinamento de toda vida, adapta-se, acredita e defende o amor romântico, mas alguns não se sentem confortáveis com esta imposição e querem sair desta imposição cultural, desse processo de doutrinação.
Passando pela avenida República do Líbano, ao lado do Parque do Ibirapuera me recordei de dois momentos de conflito que passei e a Regina me ajudou.
Primeiro, foi de entender e assumir, sem me sentir diminuído, que eu tinha prazer em imaginá-la tendo prazeres sexuais com outros homens. O segundo conflito foi de ter a coragem de contar para ela essa fantasia. Demorei para conseguir contar para a Cacau, e só consegui, depois de ter certeza de que tal fantasia não me diminuiria como marido, companheiro, amante, e depois de entender que não havia nada de errado nisso e que o amor que eu sinto pela Cacau não seria destruído e diminuído, assim como eu não deixaria de amá-la e respeitá-la, por ter prazer em vê-la com outros homens. A doutrinação do amor romântico criou uma barreira de preconceito, muito difícil de ser quebrada, mas depois de muitas sessões, a Regina me ajudou a entender isso e assumi, sem medo os meus desejos.
Tomei coragem e contei para a Cacau na praia, durante umas férias, mas, na época, ela não entendeu, não aceitou minha proposta, o que gerou um certo conflito entre nós. Deixei claro que não tinha interesse em abrir a relação, ou seja, cada um sair com quem quiser, deixei claro que zelava muito pelo relacionamento, pelo amor, cumplicidade, respeito e confiança que eu tinha nela, e disso não abria mão, mas tinha claramente o prazer de imaginá-la com outros homens, sem envolvimento emocional, sem jamais compartilhar o amor que sentimos.
Na terapia, entendi que tinha duas fantasias que me excitavam. A principal, de vê-la com outros homens, mas também dela sair com outros homens e depois me contar como foi, ou filmar e fotografar e me enviar as fotos e vídeos. Comentei com a Cacau estas duas fantasias, mas ela foi categórica em não aceitar.
Depois de diversas tentativas sem sucesso, desisti e lamentei não ter conseguido faze-la entender o que sinto. Encerrei as sessões com a Regina logo depois disso.
Mesmo depois de encerradas as sessões com a Regina, lia alguns autores indicados por ela, assim como os livros que ela publicou.
O Uber continuava seguindo pela Av. Brasil, linda avenida de São Paulo, e eu prossegui com minhas reflexões.
O psicanalista Austríaco Wilhelm Reich defendia que nunca se denunciará bastante a influência perniciosa dos preconceitos morais na área sexual. E que todos deveriam saber que o desejo sexual por outras pessoas constitui parte natural do ímpeto sexual. Apesar de os ensinamentos da moral estabelecida pela sociedade, estimularem que se invista toda a energia sexual em uma única pessoa - marido ou esposa -, homens e mulheres são profundamente adúlteros. A Regina sempre questionava se a fidelidade tem mesmo a ver com sexualidade.
Seguindo no trânsito, entrando na Av. Sumaré, ouvia no rádio do carro uma bela música do Tim Maia.
Quando o inverno chegar
Eu quero estar junto a ti
Pode o outono voltar
Que eu quero estar junto a ti
Por que é primavera
Te amo é primavera
Te amo é primavera, meu amor
Trago esta rosa para te dar
Meu amor, hoje o céu está tão lindo
Vai chuva
Hoje o céu está tão lindo, vai chuva
Hoje o céu está tão lindo, vai chuva, é primavera.
Ouvindo “Primavera” pensei em como a letra dessa música é uma ode ao amor que segue constante apesar das mudanças das estações. Estações que significam os momentos difíceis, sendo a primavera a representação do renascimento, do florescer e da renovação, além da referência à rosa, o mais tradicional símbolo do amor. A interpretação mais óbvia desta música, e provavelmente o que o Tim quis dizer, é a exaltação do amor romântico, mas poderia, da mesma forma, ser o amor mais leve, menos possessivo e controlador, com mais individualidade.
Cheguei no consultório, entrei e sentei-me na poltrona da antessala, aguardando meu horário. Já eram quase 15h, vi a porta se abrir e a Regina caminhar em minha direção.
— Olá Gábi, boa tarde. Você está com uma cara péssima, por favor, endireite esses ombros e olhe para frente!
— Olá Regina, obrigado por me atender. Fui atropelado por um caminhão.
— Uma betoneira, me parece! Carregada de cimento! Entre, vou pegar um chá para você e conversamos.
— Prefiro um café, você sabe!
— Hoje vai tomar um chá.
A Regina me entregou uma xícara de chá de erva cidreira e perguntou:
— O que aconteceu Gabriel? O que lhe traz aqui novamente depois de vários anos?
— A Cacau me traiu, não sei o que fazer.
— Ela se envolveu com outra pessoa e o deixou?
— Não, não foi isso, eu saí de casa, descobri que ela está me traindo.
— Conte-me tudo, desde o início, por favor.
Contei todos os fatos ocorridos desde a contratação do Bob, o relatório, as conversas com a Cacau e o período no hotel.
Ela pediu detalhes sobre as explicações da Cacau, o que eu achava dos pontos dela e finalmente, falou:
— Gábi, temos realmente uma situação inesperada aqui, mas vamos lembrar que você veio aqui questionando a imposição social de que os dois, depois de casados se tornam apenas um e o casal se torna autossuficiente. Que todos os desejos são satisfeitos pelo companheiro ou pela companheira. Estou correta?
— Sim, isso é verdade, mas a situação é bem diferente! Eu nunca fui adepto das relações abertas, que cada um faz o que deseja, e não acho que faz sentido sua proposta de que devemos apenas perguntar se me sinto amado por minha esposa e o que ela faz em outros momentos não me diz respeito. Eu acredito que o relacionamento é baseado em confiança, respeito e cumplicidade. Esses ingredientes me permitem sentir prazer na fantasia de sexo a três, mas sem isso, o amor não se sustenta.
— Gábi, o amor e tesão são totalmente distintos. Você pode sentir tesão por alguém e não sentir nenhum amor por essa pessoa, e vice-versa, quando você disse que a Cacau lhe traiu, entendi que ela tinha se envolvido afetivamente com outra pessoa, mas, agora, depois de você me explicar melhor, vejo que ela não se envolveu emocionalmente com ninguém, ela sente tesão em outras pessoas e se permite viver estas emoções, estou errada? Me responda, você acha que ela ama você? Que ela deseja ser sua esposa? Sua companheira?
— Sim, eu sinto isso.
— E você ama sua esposa? Tem estes mesmos sentimentos por ela?
— Sim Regina, por este motivo estou tão mal. Se não tivesse certeza de que ela é a mulher da minha vida, estaria talvez, aliviado, mas não sei o que fazer.
E continuei.
— Se você se lembra, sempre confiei totalmente na Cacau e só tive coragem de confessar a ela minha fantasia, por ter total confiança no seu amor e no que eu sinto por ela. Esta confiança que agora foi quebrada e não sei o que fazer.
Respirei fundo, tomei um gole do chá, já praticamente frio, e fiquei olhando para a xicara alguns instantes antes de voltar a falar:
— E tem mais, Regina! Ela não aceitou minha proposta, não aceitou minha fantasia e disse que não aceitaria jamais estar com outro homem e que gostaria de manter nosso casamento como estava, somente os dois. Eu não insisti, por acreditar que ela realmente não tinha interesse nisso, e agora descubro que ela está saindo com outra pessoa, isso não faz sentido.
— E o que foi que ela disse sobre isso? Repita, por favor.
— Ela comentou que não aceitou a minha proposta por medo, por me amar demais, por não querer arriscar que essa fantasia criasse uma situação ruim no nosso relacionamento. Por ter receio que eu mudasse com ela, que depois de vê-la com outro homem, deixasse de amá-la e respeitá-la
E continuei.
— Ela disse que não aceitou por medo e por amor. Por eu ser o amor da sua vida, e por termos um casamento excelente e colocar outra pessoa no meio poderia desestabilizar nossa relação. Ela me fez acreditar que ela não queria estas aventuras, mas na verdade ela não queria que eu soubesse de suas aventuras. Ela me enganou!
— Eu sei que você está nervoso agora, sei que está de cabeça quente, mas o que ela diz, tem algum sentido. De fato, ela não foi correta com você, talvez não tenha sido justa, mas isso aconteceu por amor e medo. O relacionamento de vocês, agora, depende da sua capacidade de voltar a confiar nela, de conversarem sobre esta situação e tentar se colocar no lugar dela. Deixe-a falar, escute, mas espere alguns dias, até suas emoções estarem melhor controladas, pois sem isso não conseguirá ouvi-la com atenção e respeito.
E completou:
— Avalie se realmente você acha que a Cacau traiu seu amor, traiu o amor que ela sente por você, ou se ela de fato se permitiu viver o tesão que ela sente por outras pessoas, fato que você concorda que existe e faz parte da vida de todos. Avalie também se o receio dela, de que essa fantasia afetasse o relacionamento de vocês, relacionamento que ela presa tanto, analise se não seria um medo real. Acredito haver um equívoco ao se identificar fidelidade com sexualidade. A fidelidade está no sentimento pelo outro e não pela exclusividade sexual. Pense nisso, acredito que vai lhe ajudar a tomar uma decisão do que fazer.
— Ok Regina, vou pensar.
Já estava no final da sessão, terminamos a conversa e a Regina me acompanhou até à porta, me deu um abraço e pediu:
— Gábi, deixe passar uns dias, não faça nada de cabeça quente. Depois de alguns dias, permita que ela fale e coloque seus pontos e reflita bastante antes de qualquer decisão. Se precisar, me ligue e marcamos outro papo.
Abracei a Regina com força, talvez por carência. Sorri e acenei afirmativamente com a cabeça. Saí ouvindo a Regina dizer:
— Gábi, por favor, não faça nada estes próximos dias. Esfrie a cabeça.
Acenei novamente com a cabeça, e sai caminhando, pensando no que falamos, enquanto olhava para o chão. Imaginava que sairia melhor deste papo com a Regina, mas a sensação de estar perdido continuava a mesma.
Continua...
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