Relatos de um Escravo - Parte 20 - Quando tudo vira de ponta a cabeça

Um conto erótico de Bruno Silva
Categoria: Homossexual
Contém 3853 palavras
Data: 13/10/2024 19:15:43
Última revisão: 13/10/2024 19:23:17

Boa noite pessoal. Segue mais um capítulo.

Próximo capítulo será postado no próximo domingo.

Cap. 27 - Quando tudo vira de ponta a cabeça

O resultado da reunião foi no mínimo… inesperado. Jonas percebeu no início que o advogado se impunha sobre ele o tempo todo. Era um homem com algo em torno dos quarenta anos, parecia ser um advogado bem experiente. Ele era bem alto, tal como Frederico e tinha uma voz muito grossa e cheia de energia. Era uma pessoa que dava medo, se impunha sobre os outros de maneira natural. Jonas, por mais que lutasse o tempo inteiro para se impor tinha um lado submisso em si e esse tipo de homem o amedrontava. E ficou nítido isso no início quando esse advogado cresceu para cima dele.

Mas ocorreu algo que raramente ocorria nele. Jonas ficou cansado disso, cansado de sempre aceitar a submissão dos outros e, mesmo sendo baixo e sendo bem mais jovem e inexperiente foi a luta e debateu com ele. Houve claros momentos de tensão, dedos apontados e momentos que Frederico precisou intervir. No final, o resultado foi positivo e o acordo foi fechado. Uma vitória! Jonas explodia de alegria.

Jonas não queria assumir, mas ter Frederico ali lhe deu o pouco de segurança que precisava para reagir. Por mais que tivessem se desentendido sentia que ele, do seu jeito, estava ali junto com ele e iria ajudar se as coisas saíssem de controle

Agora eles estavam na praça de alimentação. Jonas devorava tudo que via pela frente. Hambúrguer, batata frita, refrigerante e já pensava em pedir mais. Frederico estava sentando de frente para ele olhando o celular. Havia insistido para eles poderem comer uma vez que Jonas estava com forme por causa dele.

- Está com fome hein? – disse Frederico com os olhos no celular.

- Depois daquela ansiedade toda, to me sentindo leve – disse Jonas.

- Não tão leve assim – disse ironizando o fato de Jonas comendo aquele tanto de coisa. Ele riu. - Que bom que está mais calmo. Ainda está querendo me bater?

- Não – disse Jonas enfiando várias batatas na boca.

- Era só te dar comida então – disse Frederico pensativo.

- Não vamos voltar a discutir de novo – disse Jonas.

Frederico riu.

- Eu gosto, você fica fofo bravo – disse Frederico voltando o olhar para o celular novamente.

- Ficou com consciência pesada que eu sei – disse Jonas rindo.

Frederico sorriu sem olhar para ele.

- Não é mentira, por um momento esqueci que eramos colegas de trabalho e te tratei como submisso – disse Frederico. Jonas foi pego de surpresa. - Me excedi com relação a isso.

- Coitado dos seus submissos – disse Jonas olhando o cardápio.

- Sou muito rígido as vezes, isso é verdade – disse Frederico. - Meu jeito de ser. Mas eu nunca bateria em você. Chace zero de isso acontecer. Confesso que fiquei até chateado de você pensar isso.

- Pois eu pensei exatamente isso – disse Jonas de forma expontânea.

Frederico riu.

- E eu não ronco tanto assim – disse Frederico.

- Parece um trator dormindo – riu Jonas.

Frederico recuou, talvez um pouco sem graça.

- Ativo ronca mesmo – disse ele meio sem graça.

Jonas deu uma risada alta.

- Pois eu nunca tinha ouvido falar nisso – disse Jonas rindo.

- É sério, o ativo da relação sempre ronca. Logo faz sentindo eu roncar – disse ele e talvez, por um breve segundo, um pouco constrangido. - Tem dormido com muitos ativos para saber isso?

- Já dormi bastante – disse Jonas rindo. - Acho que os gordinhos roncam mais, mas não é regra.

- Quer dizer que anda dormindo com outros homens – disse Frederico rindo.

- Você não?– questionou Jonas.

- Não gosto de dormir com qualquer um – disse Frederico.

- Eu gosto de dormir agarrado, de conchinha – disse Jonas. - Não dorme com seus submissos?

- Geralmente eles dormem no chão – disse Frederico. - Mas nunca reclamaram de ronco comigo. Se bem que também raramente tenho algum submisso fixo.

- Entendi – disse Jonas bebendo o resto do refrigerante. - O Adriano as vezes deixava dormir com ele. Confesso que era gostoso, mas ele ronca pra caralho também. Meu sono é leve.

- Submisso meu não tem essa mordomia não – disse Frederico. - Dorme aos pés da minha cama, com roleira ainda.

- Não deve ser fácil – disse Jonas. - E você pensa em namorar?

Frederico franziu a testa olhando para ele, não disse nada por um momento.

- Não, não gosto de compromisso – disse Frederico. - Gosto de ser livre pra fuder sem me preocupar. E você?

- Olha… sinceramente, tenho cogitado – disse Jonas. - Cansado de ficar trepando por ai.

- Que rapaz transudo – disse Frederico rindo.

- Sério, curto uma sauna de vez em quando, tenho uns contatos também – disse Jonas. - Não sou puritano, longe. Sempre estou com alguém, mas ultimamente tenho ficado cansado.

- Sauna? A falta que um cinto de castidade faz. Primeira coisa que coloco nos meus submissos é um cinto de castidade. Só tira para lavar e uma vez na semana. Gozar, quando eu deixo, com meu pau dentro – disse Frederico.

Frederico voltou o olhar para o celular novamente. O tempo todo recebia mensagem. A vida dele, de modo geral, parecia ser bem corrida. Jonas se imaginou com um cinto prendendo seu pau e uma rola enorme dentro do seu cu. Seu pau pulsou levemente na calça.

- O Alexandre quer nos encontrar as dezoito horas para comemorar – disse Frederico olhando. - E eu preciso passar no escritório, tem uma coisa pendente para fazer. Podemos ir la rapidinho? É aqui perto.

- Eu posso ir em casa – disse Jonas. - Tomo um banho e volto.

- Acho que vai demorar, pegar transito – disse Frederico. - E quanto mais rápido irmos, mais rápido voltamos.

- Vamos vestido assim? - perguntou Jonas.

- Não, compramos algo para você no caminho, já eu como moro la perto passo em casa rapidinho. Pode tomar um banho la se quiser.

- Ok...

[…]

Após passar algumas horas andando de um lado para o outro com Frederico chegaram em um bairro de classe media alta. Prédios altos e luxuosos se erguiam para todos os lados. Jonas visitava um bairro como aquele pela primeira vez na vida. As vezes se esquecia de como Frederico era rico. Aquele era um dos metros quadrados mais caros do estado.

- Vamos lá? – chamou Frederico desligando o carro. – Apesar de baixinho acho que tenho umas roupas que sirvam em você. Tinha um submisso que era do seu tamanho.

- Eu prefiro não ir, vou ficar aqui mesmo – disse Jonas respirando fundo, olhando para o alto. O prédio parecia ser de alto padrão e devia ter uns vinte andares, numa coloração verde petróleo e acabamento com granito. – Traga qualquer coisa, se não servir vamos no shopping rapidinho e compramos. Eu ainda acho que essa roupa que estou usando está ótima.

- Passou o dia todo com ela, deve está com cecê no mínimo – disse de forma descontraída – eu estou.

- Não sabia que você ficava com cecê – disse J. – De qualquer forma eu não estou.

Ele achou graça.

- Imagino que não...

- Vou esperar você aqui – insistiu Jonas.

- Vamos lá, eu não vou te comer – insistiu Frederico, depois rindo da piada com duplo sentido que saiu sem querer.

- Graças a Deus! – disse Jonas achando graça.

Frederico arqueou uma sobrancelha olhando para Jonas. Depois respirou fundo ainda no banco do motorista. Entediado ele olhou para o volante.

- Hoje eu queria entrar, tomar um banho e descansar – disse Frederico desanimado. – Alexandre tinha que inventar esse “encontro” hoje.

- Digo o mesmo – disse Jonas.

- Vamos... rapidinho, bom que você conhece meu apê – disse Frederico insistindo novamente.

Jonas olhou para o lado. O homem imenso estava com ares agradáveis, mas era nítido que sua forma natural era impositiva. Grande e alto, musculoso, seu rosto tinha trazia um semblante bem enérgico e autoritário naquele momento. Logo se lembrou da noite anterior e da manhã, aquele comportamento do Frederico lhe assustou.

- Eu prefiro não ir Frederico – disse Jonas pegando o celular para tentar não parecer irritado. – Eu estou cansado, prefiro ficar aqui.

- Que bobeira – disse ele tentando disfarçar a irritação. – Não vejo motivo para não ir - disse ele se virando para Jonas que estava com o celular na mão. – Vamos lá, deve ter algo gostoso para comer – disse ele e nesse momento tocou a coxa de Jonas. Foi um movimento involuntário, sem qualquer maldade. Apenas tocou. Nesse momento Jonas deu salto. Foi como um susto, seu corpo por reflexo saltou para o lado, se a porta estivesse aberta ele tinha caído. Seu olhar de pânico voltou-se para Frederico, ele havia encolhido o joelho na altura do peito em uma posição defensiva.

- Jonas...

Jonas respirou ofegante com o susto, naquele momento percebeu que estava suado.

O olhar de Frederico estava incrédulo.

- Jonas... você está com medo de mim? – perguntou Frederico incrédulo. – Eu jamais...

- Não... eu só me assustei – disse Jonas constrangido, o rosto ardendo de vergonha. – Eu... é que...

- Eu já volto – disse Frederico saindo do carro.

Jonas saiu carro assim que ele entrou no prédio. Que reação foi aquela? Ele respirou fundo, por um momento estava com dificuldade de respirar. Quando Frederico lhe tocou ele ficou pânico. Ele tirou a gravata, desabotoou dois botões e logo percebeu que os olhos estavam cheios de lágrimas. “Meus Deus o que está acontecendo comigo?”. Logo ele passou as costas da mão no rosto e voltou a respirar fundo.

Poucos minutos depois Frederico desceu. Ele usava uma camisa de mangas cumpridas compridas, calça jeans e sapatênis. Quando entrou no carro o cheiro do perfume tomou conta do ambiente. Eles ficaram um bom tempo sem falar nada e um clima chato inundou o carro.

- Vamos na loja ainda? – Perguntou Jonas ainda sem graça.

- Sim – respondeu Frederico de forma seca.

Bem próximo ao bairro de Frederico eles avistaram um centro comercial cheio de lojas. Frederico estacionou o carro quase na porta de uma delas. Ele ainda ficou calado olhando o volante, sem dizer nada. Parecia perdido nos pensamentos.

- Frederico, me desculpe – disse Jonas tentando amenizar o clima chato que se formou. – Eu me assustei, foi involuntário. Eu estou cansado sabe... Não acredito que você faria qualquer coisa, só estava um pouco sem graça de entrar com você na sua casa. Quando voltarmos podemos subir la e tomar uma cerveja se você quiser.

- Não precisa se desculpar – disse ele. – Agora entendo o que aconteceu com o Adriano e o Jorge, com a forma que te tratei ontem e hoje, agora sim eu consegui entender como você se sente...

- Vamos esquecer isso Frederico – disse J cansado.

- Às vezes a gente entra na vida dos submisso e não percebemos o estrago que fazemos – disse Frederico. – A atitude do Adriano foi ridícula, não levou em conta seus sentimentos e ainda não dá o braço a torcer, mesmo sentindo sua falta. Essa história toda extrapolou o BDSM e tornou-se uma prática degradante e traumática para você.

Jonas olhou para fora e não disse nada.

- Sinceramente... eu ainda estou muito chateado com o que aconteceu, mesmo tendo passado mais de dois meses – disse Jonas cedendo a pose de indiferente. – Culpa minha também, aceitei muita coisa que não deveria aceitar, romantizei de mais. Então estou mais chateado comigo por ter me sujeitado a tudo isso. Não sei se vou querer uma relação assim novamente.

- Você vai – disse Frederico. – O tempo vai amenizar tudo e logo estará pronto para mais. Vai por mim. A gente não consegue fugir dessas coisas. É como se estivesse encarnado em nós.

Jonas ficou com vergonha do que disse, não esperava falar aquelas coisas com Frederico, que era amigo de Adriano. Além de expor seus sentimentos imaginou o que Frederico pensaria dele. A falta de amigos resultava nessas coisas.

- Essa é a loja? – disse Jonas apontando os olhos. – Se eu estou vendo bem a camisa no manequim está duzentos e cinquenta reais, a calça uns quatrocentos... é meio caro para mim.

- Compre o que quiser, eu pago – disse Frederico olhando para a loja.

- Eu... prefiro não – disse Jonas. – Eu não me sinto a vontade... – disse Jonas mas por um momento achou que o clima ficaria pior entre eles. Estava percebendo que sempre recusava ou negava tudo relacionado a Frederico. – Mas pensando bem, faz o seguinte, compre algo para mim, o que quiser... eu... acho que você tem bom gosto – disse Jonas e ele ficou levemente corado. Odiava esse tumidez.

Frederico olhou para ele, pensou por um instante.

- E se você não gostar?

- Adriano tem um jeito de vestir bem... diferente. E eu vestia. Imagino que o seu seja melhor.

- Isso é um fato – disse Frederico. – Ele não liga muito com o que veste.

[..]

Eles chegaram a um restaurante muito caro que ficava na área nobre da cidade. Um bar com piso de madeira, telhado colonial e ambientação rústica. Estava em um local bem alto da cidade, donde era possível ver a cidade iluminada até os olhos perderem-se de vista.

Jonas estava usando uma casa jeans branca, sapatênis e uma camisa de mangas compridas de um tecido que ele não conhecia, bege. Era muito bonita e parecia ter sido feita para alguém da sua altura. Frederico tinha muito bom gosto. Talvez estava vestindo ali mais de mil reais, nunca pensou que usaria roupas tão caras.

- Olha lá eles! – disse Alexandre chamando atenção dele. Ele estava sentado mais ao canto tomando alguma bebida de dose. O velho parecia empolgado com algo. - Não duvidei nem por um segundo do sucesso de vocês hoje – disse ele levantando. Logo trocaram apertos de mãos. De forma instintiva voltou o olhar para Jonas e franziu a testa.

- Que olhou inchado e esse? E essa olheiras? - perguntou com ares inquisitórios. Logo voltou para Frederico respirando fundo. - Espero que não tenha se excedido.

Jonas ficou surpreso com a perspicácia do velho. Nem mesmo ele ao olhar no espelho tinha reparado isso. Frederico pareceu um pouco sem graça, logo quando ele foi responder Jonas se adiantou.

- Ficamos até tarde ontem estudando para o caso, quando fomos dormir ele roncou a noite toda e eu não consegui fechar os olhos – disse Jonas com ares descontraída.

- Você ronca, é? - perguntou Alexandre curioso voltando o olhar para Frederico. Antes que ele pudesse responder Alexandre continuou. - Mesma coisa do pai, quando a gente viajava tínhamos que ficar em quartos separados por conta do ronco – disse rindo. - Ainda bem que está tudo bem então. Vamos sentem, quero detalhes!

Eles ficaram cerca de uma hora bebendo e passando detalhes sobre o acordo. Jonas estava muito feliz. Foi a primeira vez que fez algo que de fato se orgulhava, fechou um acordo muito vantajoso para sua cliente e contra-argumentou com maestria. Alexandre agiu como se soubesse que o resultado seria esse. Mas o que mais surpreendeu Jonas foi a bonificação que recebeu. Vinte e cinco mil reais como bônus de transação. Um valor relativamente baixo frente ao que Alexandre e Frederico receberam visto que o patrimônio em questão passava a casa de vários milhões, mas alto quando se pensa na função empenhada por Jonas ali.

Houve mais um momento onde conversaram sobre trivialidades quando, de repente Alexandre soltou:

- E agora me diga, como vocês estão? – disse Alexandre perguntando como se Frederico e Jonas fosse um casal.

- Bem... – respondeu Frederico confuso.

- Ah! Vocês assumiram? Estão juntos? - perguntou Alexandre.

Jonas sentiu o rosto arder. Há poucos dias o chefe lhe disse que sabia que era gay. A situação era constrangedora, pois Alexandre era uma pessoa aparentemente conservadora. Agora estava querendo se passar por cupido para unir Jonas e Frederico.

- Alexandre, por favor! Está deixando rapaz constrangido – disse Frederico sem jeito. – E eu já te disse eu não sou gay.

- Ah por favor me poupe! – disse Alexandre.

- No mínimo eu sou Bi e antes de mesmo que diga qualquer coisa Alexandre, eu não te dou liberdade para falar assim comigo, você é amigo do meu pai e não meu, então por favor me respeite e nunca mais volte a falar a respeito disso – disse Frederico sério.

Jonas sentiu o estômago embrulhar. Pelo pouco que conhecia de Alexandre Jonas sabia que era o tipo de homem explosivo e não aceitava que se quer subam o tom de voz para ele. No tempo trabalhando juntos nunca viu alguém falar assim com ele. Geralmente ele gritava e xingava tudo e todos.

Alexandre franziu a testa.

- Está falando comigo, Frederico? – perguntou Alexandre.

Frederico não disse nada.

- Eu era amigo do seu pai desde antes dele conhecer sua mãe, vi sua mãe gravida de você, troquei suas fraldas e limpei sua bunda branca, te levei pro hospital quando machucava e tomei conta de você mais vezes do que consigo me lembrar. Eu falo o que eu quiser e você apenas escuta calado, deu para entender? – disse com o dedo indicador apontado para Frederico com forma enérgica.

Frederico não disse nada, mas era nítido que estava sem jeito. Na verdade estava muito sem graça e engoliu o que tinha para falar.

- Ótimo, estamos entendidos então – disse Alexandre extremamente animado novamente. – Aproveitem a noite, ela é de vocês – disse levantando e indo embora – e paguem a conta!

- Você acabou de vencer uma causa milionária e quer que a gente pague a conta?! – Frederico disse irritado.

- Por isso tenho de ir aproveitar e deixá-los ai. E vocês ganharam dinheiro hoje, não custa nada pagar a conta para um pobre velho – disse Alexandre. – Aproveitem os dois pombinhos. E pensar que eu já fui homofóbico, meu Deus! – disse ele rindo. - Até logo!

Alexandre saiu deixando-os na mesa. Jonas olhava a taça com cerveja e Frederico parecia transtornado, não sabia o que dizer e ambos ficaram sem graça. Bem, Jonas na verdade havia esquecido como se fala naquela altura. O estômago parecia borbulhar enquanto o coração ardia. Sentia que havia perdido controle do corpo.

- E... Jonas... eu... – Disse Frederico sem jeito. – Me desculpe pelo comportamento do Alexandre... esse velho fica empolgado quando ganha um caso. E ele colocou na cabeça dele que temos algo em comum. Vou fechar a conta e te levar para casa.

Jonas tentou falar algo mas sua garganta parecia fechada. Ele fez que sim com a cabeça. Estava com medo de alguém no bar ter ouvido. Aos poucos ia processando as palavras, porém não conseguiu entender por qual motivo Frederico disse que o levaria em casa. Eram apenas colegas de trabalho. Poderia simplesmente lhe deixar no ponto de ônibus.

Frederico chamou o garçom e pediu para fechar a conta. Logo voltou o olhar para Jonas, que ainda estava constrangido. Jonas queria ir embora apenas.

- Não imaginava que fosse tão tímido – disse Frederico. – Hoje mesmo estava com uma oratória excelente. Até mesmo desentendeu-se com o advogado do nosso cliente, desarmou ele umas duas ou três vezes. Agora parece que esqueceu como falar.

- Vamos embora… - disse Jonas.

- É que... bem... – disse Frederico sem jeito. – Acho que falei sem pensar quando disse que te levaria em casa. Tenho compromisso hoje.

- Eu não aceitaria de qualquer forma – respondeu Jonas depois de um tempo. Ele pegou a cerveja e engoliu de uma vez. Estava suando frio.

- Você está bem? – perguntou Frederico.

- Estou sim... o dia foi cheio – disse Jonas desanimado. Na verdade todo o ocorrido do dia o deixou esgotado. - Quero descansar somente, tomar um banho e dormir.

Ambos saíram do bar em silêncio. Jonas pegou o celular. Frederico pareceu pensar e depois disse.

- Eu te levo... – disse Frederico.

- Precisa se decidir, primeiro você fala que vai levar, depois se desculpa e fala que não e agora fala que vai – disse Jonas. – De qualquer forma não preciso. Tem um ônibus aqui que passa lá perto de casa.

Frederico ficou em silêncio.

- Eu pareci um babaca falando – disse Frederico.

- To acostumado – disse Jonas.

Frederico ficou calado. A pior característica de Frederico era essa: ficar calado e esperar o assunto mudar quando era confrontado ou quando estava errado. Isso irritava Jonas e ele fazia o tempo todo. Eles ficaram em silêncio alguns minutos. Jonas ficou entretido com o celular e por alguns momentos até esqueceu que Frederico estava ao lado dele. Logo ele voltou o olhar para Frederico.

- Por que ainda não foi? – questionou Jonas.

- É que... eu não sei bem como dizer isso...

- Ah! – disse Jonas se lembrando. – A roupa, tinha me esquecido. Olha... eu to meio sem graça de entrar no restaurante e trocar depois do show que Alexandre deu. Posso entregar amanhã?

Frederico olhou para ele e de repente pareceu confuso. Logo ele disse meio desperto.

- Sem problema. Vou indo então – disse Frederico.

- Até mais! - disse Jonas.

Ele parou de costas.

- Não é perigoso você ficar sozinho não? – perguntou Frederico.

- Eu tenho vinte e seis anos – disse Jonas. – E também sei me defender, acredite.

- Há poucos dias foi assaltado – retrucou Frederico.

- É... mas aqui e um bairro de rico, não tem essas coisas – disse Jonas.

Por um momento Frederico respirou fundo, depois disse de forma tranquila.

- Eu vou esperar com você, é bom que a gente conversa sobre BDSM.

Logo eles começaram a conversar e o assunto foi ficando bom. Frederico tinha muita experiência em relações BDSM tal como tinha como advogado. Ele parecia ser bom em tudo que fazia. Logo contou diversas histórias. Jonas não tinha tantas mas pode apresentar algumas. E por incrível que pareça Frederico ficou surpreso. Ele disse que seu sonho era ter um Submisso como Adriano, mas nunca conseguia. Jonas disse que era extremamente difícil um Dominador que quisesse avançar tão fundo em uma relação assim. Tharick era um achado raro e Jonas, pelo visto, também.

- Vamos sentar num bar, o papo está bom – disse Frederico animado.

- Ah... as coisas aqui são meio caras para mim – disse J constrangido. De fato estavam na área nobre da cidade.

- Ah é sério que está preocupado com isso – brincou Frederico. – Acabou de ganhar uma grana!

- Hum… - ponderou Jonas. - Vamos lá. Não vou ficar mais pobre por causa disso.

Eles foram em um bar não muito longe de onde estavam. Por ser segunda feira o bar estava vazio. Logo sentaram-se mais ao canto e começaram a conversar. O papo foi ficando bom. Eles estavam um de frente para o outro. Frederico estava rindo bastante. Seus olhos brilhavam muito e ele parecia feliz, por algum motivo. Seus olhos eram muito bonitos, tinha um tom marrom escuro.

Jonas ficou olhando ele por um tempo, ele era muito bonito. Além de todas as características másculas que atraem Jonas, tanto como homem como dominador, ele tinha um sorriso bonito, e quando ria de verdade ele parecia outra pessoa. Seus olhos brilhantes, seus lábios grossos, suas sobrancelhas expressivas, sua barba feita…

Frederico sorriu de boca fechada.

- Posso saber o que tanto olha? – perguntou Frederico.

Jonas saiu do transe e somente nesse momento percebeu que não estava ouvindo ele.

- Nada muito importante – disse Jonas.

- Pode falar, eu sou lindo não sou? - perguntou Frederico.

- Sim, muito – disse Jonas. - Mas hoje está diferente. É a primeira vez que te vejo tão feliz. Seus olhos… - disse Jonas. - Estão brilhando.

Aquilo pegou Frederico de surpresa. De repentes seus olhos se surpreenderam e ele olhou confuso para Jonas. Talvez ele não esperasse ouvir aquilo. Talvez esperasse ouvir que Jonas fosse falar alguma bobeira ou dizer que estava errado. Jonas se arrependeu do que disse, aquilo foi estranho e de repente tudo ficou silencioso.

- Talvez seja por sua causa – disse Frederico.

Jonas sentiu o estômago gelar, seus olhos se surpreenderam.

Logo Frederico se levantou de onde estava, deu a volta na mesa, sentou-se ao lado de Jonas e o beijou.

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Comentários

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Caralho, que esse conto só melhora... Como pode você ter uma desenvoltura tão espetacular para escrever. Me prendeu do início ao fim. Sério, eu necessito da continuidade 😍

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