Parte 4 - A reação de Thais
Olá a todos, voltei para continuar ajudando meu marido a contar nossa história!
Voltarei àquela madrugada em que nossa vida mudou bruscamente.
Depois de perceber que Sérgio havia virado o rosto, com os olhos abertos e lágrimas escorrendo por sua face, interrompi imediatamente o que estávamos fazendo.
Não consigo, nem com todas as palavras do mundo, descrever a dor e o aperto no peito que senti ao ver o amor da minha vida sofrendo daquela maneira. Foi como se o chão tivesse se aberto sob meus pés.
Lendo os comentários das pessoas neste site, ficou claro o quão cruel e imperdoável foram as coisas que fiz ao meu marido. Eu reconheço a injustiça das minhas ações. Nunca terei a pretensão de buscar perdão ou me justificar.
Naquela noite, permaneci abraçada a ele, orando para que, de alguma forma, ele não tivesse realmente acordado. Mas no fundo, já havia decidido: Sandro não faria mais parte da minha vida.
Quando a manhã chegou e tudo aconteceu – conforme já relatado –, eu soube que não havia saída. A partir daquele momento, restava-me apenas sofrer. Qualquer punição seria pouca diante da monstruosidade que cometi.
Quando Sérgio entrou no banheiro pela segunda vez, enquanto as pessoas começavam a deixar o quarto, eu mal conseguia caminhar. Meu corpo estava fraco, tomado por uma espécie de vertigem. Ainda assim, segui firme no que já havia planejado desde a madrugada.
Ao sairmos para a área externa, avistei Sandro. Ele estava com aquele sorriso irritante no rosto, como se tudo estivesse sob controle. Não demorou para ele abrir a boca:
— Não se preocupe, eu e a Laura vamos falar com ele. Em pouco tempo, ele vai ser exatamente o que queremos: um corninho manso.
Aquilo foi a gota d'água. Num impulso, cerrei o punho da mão direita e desferi um soco certeiro em seu nariz.
Vocês não imaginam a satisfação que senti ao ouvir o som da cartilagem se rompendo com o impacto.
Sandro caiu no chão, atônito, sem entender o que acabara de acontecer.
— Você é um monstro, Sandro. Você destruiu minha mente desde o momento em que começou a me manipular. Amarrou-me, machucou-me, fez-me dopar o Sérgio para realizar suas fantasias na frente dos meus amigos!
Ele tentou se levantar, mas pisei com firmeza em seu punho direito, imobilizando-o.
— Não se mexa! — rosnei. — Se tentar, além do nariz, eu quebro seu pulso.
Olhei para ele com uma mistura de ódio e desprezo e continuei, desta vez em um tom alto o suficiente para que todos ouvissem:
— Eu pesquisei sobre BDSM, sobre dominação. E sabe o que descobri? Que você foi irresponsável e negligente. Nunca se preocupou em perguntar meus limites, nunca se preocupou com segurança ou consentimento real. Você abusou da minha curiosidade, explorou minha vulnerabilidade para me transformar em algo que nunca quis ser.
Bruno, um dos meus amigos, tomou a palavra nesse momento:
— Eu estava naquela viagem. Te alertei, lembra? Estava na cara que você estava sendo pressionada, bombardeada com estímulos para os quais não tinha preparação. Era evidente que era abuso psicológico.
Minhas forças começaram a falhar, e as lágrimas vieram, mesmo que eu lutasse contra elas. Respirei fundo e continuei:
— Eu sei. Eu escolhi viver aquilo. Mas Sérgio... Ele nunca teve escolha. Para satisfazer meus desejos, privei o homem que mais amo do mínimo.
Gabi, com sua habitual clareza, aproximou-se e falou, olhando nos meus olhos:
— Amiga, você teve seu sistema de recompensa hiperestimulado. Foi como um viciado em drogas pesadas. Mesmo sabendo que era prejudicial, você não conseguia escapar.
Ela tocou meu ombro e continuou:
— É o que explicamos no ambulatório. Fetiches são válidos, mas ninguém pode se tornar escravo deles. Você se entregou a alguém que não tinha o menor cuidado com você, que só queria te usar. Todo vício leva à uma degradação e perda da humanidade, mas você transferiu este estado para seu marido, enquanto você ficava apenas com o bônus.
Aquelas palavras ecoaram em minha mente. Apesar de Gabi ter razão, nada aliviava a minha culpa – e, sinceramente, eu nem queria que aliviasse.
Resolvi tirar o pé de cima do punho de Sandro.
— Vai embora! Volte para sua noiva. Mas saiba de uma coisa: eu vou fazer de tudo para que você pague por tudo isso. Estaremos juntos no inferno, e eu não te darei um minuto de paz.
Como o covarde que sempre foi, Sandro levantou, entrou em casa para arrumar suas coisas e, em pouco tempo, saiu sem olhar para trás.
Os outros casais foram para a praia, claramente desconfortáveis com o clima pesado que pairava na casa. Não era uma escolha deles, era necessidade.
Eu me sentei no sofá ao lado de Gabi, ainda tremendo, e começamos a conversar.
— Amiga, preciso te confessar uma coisa — Gabi disse, com a voz baixa. — Eu me senti péssima por ter te dado aquele remedinho. Estou mal com isso até hoje.
— Gabi, eu também preciso confessar algo... Eu dei menos gotas do que você recomendou.
Gabi arregalou os olhos, surpresa, mas não disse nada. Apenas me olhou, esperando uma explicação.
— Foi o terceiro fim de semana seguido que saímos com meus amigos e usamos isso. E aí comecei a perceber que, no início da semana, Sérgio ficava sonolento, meio desconcentrado. Ele chegou a perder uma reunião importante no trabalho. Fiquei com medo de causar algo permanente nele. Mas, no fundo... Acho que eu secretamente queria que ele acordasse. Só que justo naquele dia, aquele desgraçado do Sandro inventou de querer transar na nossa cama, com meu marido ao lado!
Gabi tentou me interromper, mas ergui a mão.
— Por favor, amiga, me ouça. Depois de anos de namoro, eu finalmente decidi me livrar do Sandro. Usei a palavra de segurança – aquela que deveria ser para situações momentâneas, mas que, para mim, significou desistir de tudo. E voltei minha atenção para o Sérgio. Já tínhamos quase quatro anos juntos, e eu estava mais apaixonada do que nunca.
Levantei-me, inquieta, e comecei a andar pela sala enquanto desabafava:
— Nesse meio tempo, noivamos, casamos e começamos a tentar engravidar. Eu queria melhorar as coisas entre nós no sexo, e as coisas começaram a ficar quase... normais.
Voltei ao sofá e olhei diretamente para Gabi, com um brilho de determinação nos olhos.
— Amiga, esse homem é incrível. Ele tem o pau perfeito: grosso, do tamanho ideal. E ele sabe usar como poucos. O que o Sandro tinha era toda aquela parafernália de dor, humilhação, cordas, algemas... Mas o Sérgio? Ele nunca precisou de nada disso para me levar ao paraíso.
— Então qual o problema? Por que voltar para esse caso bizarro com o Sandro? — Gabi me interrompeu, irritada.
— Eu não consigo relaxar completamente com o Sérgio. É como se algo estivesse quebrado dentro de mim. Talvez um bloqueio psicológico... Não sei explicar. Fui condicionada a não dar prazer de forma plena ao meu marido. E, quando desobedecia ao Sandro, as punições vinham: físicas e psicológicas. Ele fazia questão de usar o Sérgio como instrumento para me ferir ainda mais.
Senti minha garganta se fechar, e as lágrimas voltaram. Não consegui continuar. Gabi se levantou e foi até a cozinha, trazendo um copo de água com açúcar para mim.
— Depois que meu filho nasceu, quatro meses depois, o Sandro voltou a me procurar. E foi como... Como um dependente encontrando sua droga de novo. Eu tive uma recaída. Foi horrível.
— Olha, amiga... Eu até entendo. Sou psiquiatra, afinal. Mas desculpa, não tem como ter empatia por você. Ainda estou com raiva. Isso pode arruinar minha carreira!
Ela tinha razão. Não havia como justificar ou amenizar o que fiz. Eu sabia que teria que lidar com as consequências, mas estava decidida a fazer qualquer coisa para obter o perdão de Sérgio.
Fiquei ali, perdida nos meus pensamentos, até ouvir os passos de Sérgio se aproximando da sala. Ele entrou sem dar tempo para conversa, com um olhar frio e decidido. Naquele momento, percebi: aquele era o Sérgio implacável, o homem que enfrentava o mundo no trabalho. De bonzinho, ele não tinha nada.
Depois que ele saiu daquela casa, não perdi tempo. Fui direto para a casa dos meus pais, queria passar um tempo com filho.
Já era fim de tarde quando recebi a ligação de Laura. A notícia de que Sérgio estava no hospital me atingiu como um soco. O impacto foi tão forte que me fez vomitar ali mesmo, no meu antigo quarto.
Peguei o carro do meu pai e dirigi até a casa do noivo de Laurinha. Assim que ela entrou no carro, percebi o quanto estava emburrada. Sem dizer mais que o nome do hospital, cruzou os braços e permaneceu em silêncio.
No caminho, não aguentei. As lágrimas vieram como uma enxurrada. Chorei como nunca havia chorado antes. Minha garganta apertava, o peito parecia se rasgar. Enquanto dirigia, contei tudo o que havia acontecido. Laurinha me ouvia em silêncio, mas seu rosto não escondia o furacão que estava prestes a explodir.
Quando chegamos ao hospital, fui barrada na recepção. Fui informada de que Sérgio havia deixado uma notificação oficial, através de seu advogado, proibindo minha entrada. Minha presença como visitante não era permitida.
Sem ter o que fazer, esperei Laura no hall de entrada. Cada minuto que passava parecia um século. Eu estava mergulhada em ansiedade e medo, imaginando o que poderia ter acontecido com ele. Por um momento, a ideia de invadir o hospital me passou pela cabeça. Tudo o que eu queria era vê-lo, nem que fosse uma última vez.
Quando Laurinha finalmente apareceu no hall, meu coração disparou como se estivesse prestes a sair pela boca. Sua expressão carregada de raiva me deixou ainda mais tensa. Ela parecia pronta para me atacar ali mesmo, na frente de todos.
Chegou ao meu lado e ordenou, com a voz firme e cortante:
— Vamos para o carro.
Sem olhar para trás, continuou caminhando em direção à saída. Engoli seco. Meu estômago parecia se contorcer em nós. Sabia que, ao entrar naquele carro, enfrentaria o momento mais tenso e importante da minha vida.
Assim que entramos no veículo, Laurinha desabou. Chorava intensamente, sem conseguir se conter. Quando tentei dizer algo, ela me encarou com um olhar feroz, puxou meu cabelo com toda a força, me obrigando a me curvar sobre seu colo.
— Eu… eu acreditei em você! — gritou entre soluços. — Desde o começo do namoro de vocês, você disse que faria meu irmão feliz!
Ela soltou meu cabelo abruptamente e começou a bater em sua própria cabeça, num gesto desesperado.
— Burra! Burra! — dizia, entre lágrimas. — Eu sabia, naquela semana que vocês voltaram a namorar e quando peguei você e Sandro no banheiro da piscina, que devia ter feito alguma coisa. Proteger o Sérgio! Proteger meu irmãozinho…
— Laura… eu…
— Você o quê, sua desgraçada? Vai negar que naquela mesma semana você deu para aquele filho da puta todos os dias e não deixou meu irmão nem te tocar? E ainda teve a cara de pau de vendá-lo para obrigá-lo a te chupar?
Ela soluçava tanto que mal conseguia terminar as frases. Eu, por outro lado, estava paralisada, sem saber o que dizer. Qualquer coisa que eu falasse seria inútil. Eu sabia que merecia todo aquele ódio.
— No dia do seu casamento, você me prometeu, em cima do altar, olhando nos meus olhos, que tinha terminado esse…esse…esse negócio com Sandro! Mas vocês continuaram, não é? E só pioraram o nível do sadismo de vocês!
— Laura, eu juro que falei a verdade. Sandro e eu só voltamos a nos relacionar há quatro meses. Foi um erro… uma fraqueza minha. Eu me deixei manipular novamente.
Ela riu, mas foi um riso amargo, carregado de deboche.
— Fraqueza? É assim que você chama? Nestes quatro meses, você, com um filho pequeno, achou que era uma boa ideia dopar o Sérgio, levá-lo para eventos e humilhá-lo na frente de todos?
Pensei em argumentar, mas sabia que seria em vão. Naquele momento, eu só conseguia enxergar uma irmã que tentava proteger o único vínculo familiar que ainda tinha. Permaneci em silêncio, aceitando a tempestade que vinha em minha direção.
Laura finalmente respirou fundo, tentando se acalmar.
— Me leve para casa. — disse, com a voz ainda embargada. — Sérgio está internado numa ala psiquiátrica porque decidiu brincar com ele.
Novamente, me fuzilando com seus olhos, ela finalizou com a voz dura e cortante:
— Ele mandou um recado: você deve cumprir o que ele estipulou. Se voltar para casa antes do fim do feriado, ele não terá nenhuma bondade ao lidar com você.
Resignada, liguei o carro e dirigi até a casa dela. Assim que estacionamos, ela saiu batendo a porta com força, sem olhar para trás ou se despedir.
Fiquei ali por alguns minutos, processando tudo. As palavras dela ecoavam na minha mente, me esmagando como um peso insuportável. Mas uma decisão já começava a tomar forma.
Fui até minha casa apenas para pegar algumas roupas. Na manhã do dia seguinte, faria algo arriscado, mas que seria essencial para buscar o perdão de Sérgio e, talvez, reconstruir a nossa relação, através de uma mudança profunda na dinâmica de nosso relacionamento, e que dura até hoje.
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Continua….