Gabriel foi levado para o quarto de Maria de Lurds, a cadeira de rodas rangendo levemente enquanto ela a empurrava pelo corredor estreito da casa. O caminho parecia interminável, e o coração de Gabriel martelava em seu peito. Cada passo de Maria soava firme, determinado, contrastando com a mente confusa e exausta de Gabriel.Quando finalmente chegaram ao quarto, Gabriel piscou, tentando absorver o ambiente. O espaço era arrumado e meticuloso, com móveis de madeira escura e uma colcha de renda cobrindo a cama grande. Um cheiro de lavanda e algo mais doce, talvez baunilha, impregnava o ar. Havia um espelho de corpo inteiro encostado à parede, refletindo a cena.Maria parou a cadeira ao lado da cama e começou a soltar as amarras com cuidado. Gabriel não resistiu; sabia que era inútil. Seu corpo estava fraco, e cada movimento parecia um esforço monumental.— Vamos lá, meu anjo. — A voz de Maria era baixa, quase um sussurro. — É hora de você finalmente se ver como deveria ser.Gabriel tentou protestar, mas sua garganta parecia apertada demais. Tudo o que conseguiu foi um murmúrio rouco, que Maria ignorou completamente.Com mãos firmes, ela o ajudou a se levantar da cadeira, apoiando-o pela cintura e guiando-o para a cama. O contato do tecido frio da colcha contra sua pele nua fez Gabriel estremecer.
Maria começou o processo de "montagem" com a mesma precisão meticulosa que parecia reger todos os seus movimentos. Do armário ao lado da cama, ela retirou um conjunto completo de roupas femininas: uma calcinha de renda branca, uma meia-calça translúcida bege, um vestido floral com mangas curtas e detalhes delicados.— Vamos começar com isso aqui. — Maria ergueu a calcinha na frente dele, sorrindo.Gabriel tentou desviar o olhar, mas Maria segurou seu rosto com a mão livre.— Não se envergonhe, querida. Isso é quem você é agora.
Com paciência, mas sem hesitação, ela começou a vesti-lo. Primeiro, colocou a calcinha, ajustando-a cuidadosamente por cima do cinto de castidade e do cateter, que ainda estava conectado. A pressão adicional do tecido contra o dispositivo metálico fez Gabriel gemer baixinho de desconforto, mas Maria apenas continuou, como se não tivesse notado.— Está apertado? — perguntou ela com um tom quase irônico. — Você vai se acostumar.Depois, ela pegou a meia-calça, enrolando-a até o pé e subindo lentamente pelas pernas de Gabriel. O tecido fino e macio parecia estranho contra sua pele. Ele sentiu cada toque como uma lembrança de sua situação, de sua impotência.Quando terminou, Maria ajustou a meia-calça com um leve puxão e pegou um pequeno dispositivo de couro com tiras que estava sobre a cômoda.— Isso aqui vai te ajudar a se sentir mais confortável.Gabriel não compreendia, até que Maria se ajoelhou e começou a prender o dispositivo em volta de sua coxa. Era uma cinta fina, que ela ajustou cuidadosamente para segurar o saquinho do cateter no lugar.
L— Assim, ele não vai te incomodar tanto enquanto você caminha ou se move. — A voz dela era quase carinhosa, mas o gesto parecia mais funcional do que compassivo.Depois de prender a cinta, Maria pegou o vestido e começou a vesti-lo. O tecido floral desceu sobre o corpo de Gabriel, ajustando-se ao redor de seus seios e da cintura. Ela ajeitou os ombros do vestido e deu alguns passos para trás, examinando-o com um olhar crítico.— Perfeito. — Ela sorriu, os olhos brilhando.Mas não tinha terminado. Voltou para a cômoda e retirou uma pequena caixa de madeira, da qual pegou brincos dourados simples.— Agora, um pouco de charme. — Ela se aproximou, segurando o lóbulo da orelha de Gabriel enquanto colocava os brincos.O toque era frio, e Gabriel mal podia processar o que estava acontecendo. Sentia-se desconectado de seu próprio corpo, como se fosse apenas um espectador em sua própria pele.Por fim, Maria pegou um pequeno tubo de batom de uma gaveta. Era de cor café, uma tonalidade discreta, mas marcante.— Um toque final.Ela segurou o rosto de Gabriel, forçando-o a encará-la, e começou a passar o batom com movimentos cuidadosos. O cheiro doce do cosmético era forte, quase enjoativo.— Pronto. — Ela recuou, admirando sua obra. — Agora, olhe para si mesma.Maria puxou Gabriel para perto do espelho de corpo inteiro. Ele tentou resistir, mas estava fraco demais. Quando finalmente viu seu reflexo, o ar pareceu fugir de seus pulmões.Lá estava ele, ou melhor, ela. A figura no espelho era uma mulher robusta, com seios cheios, o vestido floral ajustado à sua nova forma, e os lábios pintados de um marrom discreto. Os brincos brilhavam sob a luz suave do quarto, enquanto a meia-calça e a cinta do cateter reforçavam a feminilidade imposta sobre ele.— O que você fez comigo? — A voz de Gabriel quebrou o silêncio, cheia de incredulidade e dor.Maria colocou as mãos em seus ombros, o sorriso ainda firme em seus lábios.— Eu te libertei, minha querida. Este é quem você sempre deveria ter sido.Gabriel fechou os olhos, mas as lágrimas já estavam escapando. Ele sentiu o peso do batom, da roupa, da cinta apertada, e do cinto de castidade. Tudo era real demais, impossível de ignorar.Maria se inclinou, sussurrando em seu ouvido:— Não chore, Gabriela. Você está perfeita. Este é apenas o começo da sua nova vida.Gabriel não respondeu. Apenas ficou ali, encarando o reflexo, sentindo o peso esmagador de tudo o que havia acontecido — e de tudo o que ainda estava por vir. A voz de Maria de Lurds ecoou pelo corredor enquanto Gabriel ainda estava em frente ao espelho, encarando a imagem que mal reconhecia.— Gabriela, venha para a cozinha. Precisamos conversar sobre algumas coisas importantes.Gabriel hesitou. Sentia cada peça de roupa apertando contra seu corpo como uma lembrança constante de sua prisão. Mesmo assim, sabia que não adiantava resistir. Com passos vacilantes, saiu do quarto, o barulho leve da meia-calça roçando contra a cinta do cateter acompanhando-o. Quando chegou à cozinha, encontrou Amanda já sentada à mesa. A jovem usava o mesmo vestido infantil que Maria a havia forçado a vestir mais cedo, mas algo nela parecia profundamente errado. Amanda estava completamente imóvel, exceto por um leve movimento em seu quadril, como se estivesse se balançando inconscientemente na cadeira. Seus olhos estavam desfocados, perdidos em um estado de êxtase estranho, e um sorriso pequeno e vazio pairava em seus lábios.Gabriel engoliu seco, sentindo um arrepio subir pela espinha.— Sente-se, querida — ordenou Maria, apontando para a cadeira ao lado de Amanda.Sem forças para discutir, Gabriel obedeceu. Sentar-se foi desconfortável; o cinto de castidade pressionava ainda mais dolorosamente contra ele, e o peso de seu corpo fazia com que o tubo do cateter puxasse levemente.Maria se moveu pela cozinha com um propósito claro, arrumando a mesa com uma precisão quase cerimonial. Ela colocou pratos, xícaras e talheres com cuidado meticuloso, como se estivessem se preparando para um banquete.— A mesa é um lugar de nobreza — começou Maria, com um tom que era ao mesmo tempo maternal e autoritário. — Uma dama deve se comportar com elegância e graça, mesmo nas coisas mais simples, como tomar uma xícara de café.Gabriel não respondeu, apenas observou enquanto Maria servia café em três xícaras. O aroma forte encheu o ar, causando uma onda de repulsa em Gabriel. Ele odiava café — o sabor amargo, o cheiro enjoativo, tudo nele o incomodava profundamente.Maria colocou uma das xícaras na frente de Gabriel e sorriu, um sorriso que parecia carregar um peso por trás da doçura.— Vamos, tome um gole, minha querida.Gabriel hesitou. Sentiu o olhar dela sobre si, intenso, penetrante, quase desafiador. Ele não queria beber. A ideia o enojava, mas algo na presença de Maria o fez pegar a xícara com mãos trêmulas.— Eu... eu realmente não gosto de café — murmurou ele, a voz hesitante. Maria inclinou-se ligeiramente, os olhos se estreitando.— Gabriela — disse ela, a doçura desaparecendo de sua voz, substituída por uma firmeza gelada —, uma dama não se recusa a algo tão simples. Agora, tome o café.Gabriel engoliu em seco, sentindo o peso da ameaça não dita em suas palavras. Ele levou a xícara aos lábios e tomou um pequeno gole, o amargor invadindo sua boca imediatamente. Fez uma careta involuntária e colocou a xícara de volta na mesa de forma desajeitada.Maria bateu na mesa com a palma da mão, o som ecoando pela cozinha e fazendo Gabriel e Amanda se sobressaltarem. — Isso é inaceitável! — exclamou ela, a voz firme e autoritária. — Você é uma dama agora, Gabriela. E uma dama não toma café como se fosse um animal!Gabriel olhou para ela, os olhos arregalados, o rosto quente de vergonha. Ele abriu a boca para se justificar, mas Maria não lhe deu chance.— Pegue a xícara novamente — ordenou ela, o tom de voz exigindo obediência.Com os dedos trêmulos, Gabriel pegou a xícara.— Segure-a com elegância, como eu ensinei — continuou Maria, demonstrando com sua própria xícara. — Polegar e indicador no topo, o mínimo de pressão possível. A outra mão, sempre no colo.Gabriel tentou imitar o gesto, mas suas mãos ainda tremiam. Ele levou a xícara aos lábios novamente, desta vez com mais cuidado, e tomou um pequeno gole.Maria observou cada movimento como uma professora rigorosa, os olhos atentos a qualquer deslize.— Melhor — disse ela, depois de alguns segundos de silêncio. — Mas ainda há muito a aprender.Gabriel colocou a xícara de volta na mesa, sentindo o coração batendo forte no peito. A sensação de derrota o consumia. Ele odiava aquilo. Odiava estar ali, naquela situação absurda, odiava as roupas, o café, o olhar severo de Maria. Mas, acima de tudo, odiava o fato de que não conseguia fazer nada para mudar sua situação. Enquanto Maria se voltava para Amanda, Gabriel lançou um olhar para a jovem. Ela ainda parecia perdida em seu próprio mundo, o leve movimento do quadril continuando, como se ela estivesse sob algum tipo de feitiço. Maria colocou a mão no ombro de Amanda, acariciando-o gentilmente. — Vejam como Amanda está progredindo bem — disse ela, com orgulho na voz. — Ela entendeu que a obediência é a chave para a perfeição.
Gabriel desviou o olhar, sentindo uma mistura de pena e horror pelo que Amanda havia se tornado. Ele sabia que, se não encontrasse uma forma de resistir, acabaria exatamente como ela.Mas como resistir, quando Maria controlava cada aspecto de sua vida? Quando até um simples gole de café se tornava uma lição humilhante sobre obediência e "elegância"?Enquanto a conversa continuava, Gabriel sentiu a pressão do cinto de castidade aumentar novamente, a dor pulsando como uma lembrança constante de sua situação. Ele respirou fundo, tentando conter as lágrimas que ameaçavam cair.E, no fundo de sua mente, a pergunta persistia: quanto tempo mais ele poderia suportar aquilo?