No meu inconsciente, eu sabia que havia desmaiado. Eu não sabia se havia passado dias, ou talvez horas porém eu senti meu corpo completamente estirado em algo que parecia ser uma cama. Na minha mente, no mais profundo dela eu só conseguia ver imagens aleatórias uma Jordana praticamente rindo de mim, ao mesmo tempo em que Daniel fazia o mesmo, assim como também Gustavo, juntamente de Larissa.
Eu nunca me senti tão frágil. O peso nos meus olhos parecia me prender à cama, mas uma voz distante me puxava de volta à realidade. Abri os olhos lentamente, encarando o teto branco acima de mim. Não era meu quarto.
— Daniela, finalmente. Você está acordada — disse uma voz próxima.
Virei minha cabeça, ainda grogue. Porém, mesmo naquele estado, eu conseguia reconhecer aquela voz. A voz de meu amor, Daniel. Por dentro, estava feliz, mas ao mesmo tempo, me sentia magoada por lembrar dos sonhos, e dele junto de Jordana. Daniel estava sentado ao meu lado, visivelmente preocupado. Sua expressão misturava alívio e tensão.
— Onde estou? O que aconteceu? — minha voz saiu fraca, quase inaudível.
— Você desmaiou na mansão. Eu a vi desmaiar, então trouxeram você para um dos quartos aqui. Todos estão preocupados, e eu, cheio de dúvidas.
Ele não terminou a frase. Sua voz carregava algo que eu não conseguia perceber logo de cara, mas sentia um peso. Logo as memórias voltavam, onde lembrei de Larissa, Gustavo. O quarto. Os gritos abafados. O que eu tinha visto com relação a Jordana e Daniel. Meu estômago revirou, e instintivamente levei a mão à boca.
— Você está bem? Quer água? — ele perguntou, inclinando-se para mim.
Fiz que não com a cabeça e, respirando fundo, forcei as palavras que queimavam em minha mente:
— Daniel... o que você estava fazendo aqui? Com a Jordana?
Sua expressão mudou instantaneamente. Ele se endireitou, passando a mão pelos cabelos, claramente desconfortável.
— Jordana... — ele começou, hesitante. — Ela é alguém que conheço há muito tempo. Desde que éramos jovens. Então...
Aquele "então" veio como um golpe para mim. Será esse o motivo dele estar me ignorando nos últimos dias? Algo dentro de mim se apertou. Eu sabia que vinha mais.
— Nós namoramos no passado — ele continuou, com a voz quase um sussurro. — Você sabe, ela é aquela garota que eu comentei com você há muitos anos atrás, quando você me perguntou se eu havia já namorado alguém antes de você. Ela teve uma tragédia familiar, e precisou se ausentar do país junto com a mãe. Parece que ela voltou recentemente, não me disse para que exatamente. Mas se mostrou uma grande amiga, nós nos aproximamos enquanto você nos afastou. Na verdade ela...
Fechei os olhos por um momento, tentando processar aquilo. Quando nos conhecemos, ele havia mencionado uma ex que marcou sua vida, mas nunca imaginei que fosse Jordana. Tudo fazia sentido agora: as conversas que tive com ela, as insinuações...
— Então é ela — murmurei, mais para mim mesma. — A ex que você mencionou.
Ele assentiu, mas antes que pudesse dizer mais, me levantei da cama. Minha fraqueza era evidente, mas a vontade de sair daquele quarto era maior.
— Daniela, você ainda está fraca. Não devia se levantar assim — ele disse, se aproximando.
— Estou bem. Preciso de um pouco de ar — retruquei, minha voz mais firme do que eu me sentia.
— Daniela. O que você estava fazendo nesse lugar?
Suspirei, ainda meio fraca, com aquela pergunta. Não sabia muito bem como explicar tudo aquilo, então eu fui breve.
— Daniel, eu trabalho aqui. Eu sou professora de piano do Henrique, filho de Gustavo, você sabia desse emprego. Porém eu acho que não te... Contei todos os detalhes. Na verdade nem sabia que conhecia essas pessoas.
Daniel parecia querer saber mais sobre o que eu estava fazendo ali, e no meu íntimo eu sabia que era hora de abrir o jogo. Porém eu sabia, que assim que eu contasse para ele tudo o que aconteceu, muito provavelmente eu o perderia para sempre. Mas eu precisava ser sincera com ele, mas ao mesmo tempo estava com medo de perder. Então acabei combinando com Daniel que iria contar mais sobre posteriormente. Primeiro, eu só queria voltar para casa tirar a minha roupa e tomar um belo banho.
Mal saí do quarto e dei de cara com Gustavo no corredor. Quando olhei Gustavo, eu não consegui mais me controlar, mesmo sabendo do acordo que eu havia feito com a polícia de continuar na mansão e assim dar corda para que Gustavo se enforcasse.
Gustavo veio se aproximando de mim, enquanto Larissa estava no fundo, com os cabelos molhados e com uma roupa diferente. Não vi mais Daniel, que havia saído do quarto antes que eu pudesse sair, então era o momento perfeito para confrontar Gustavo. Antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, explodi:
— VOCÊ! — minha voz ecoou pelo corredor.
— Daniela, calma. Você está nervosa...
— Nervosa? Você tem ideia de tudo o que me fez passar? De tudo que está acontecendo por sua causa? Você e aquela Larissa são os responsáveis por essa bagunça toda!
Ele suspirou, claramente tentando manter a paciência.
—Você não está dizendo nada com nada. Eu estou cumprindo nosso acordo, mas isso não quer dizer que eu vá ficar sem me divertir. Escute, Amanhã, conversamos. Você está cansada, e eu também. Vou pedir que meu motorista te leve para casa.
— Eu não preciso de nada vindo de você! — gritei.
Eu acabei por sair da mansão, e logo me dei de cara com o Daniel e Jordana juntos, onde eles pareciam discutir alguma coisa. Daniel ouviu parte dos gritos e veio até mim, tentando intervir e me ajudar. Porém recusei, com uma mistura de mágoa e raiva, enquanto olhava para Jordana, pensando o quanto essa mulher não passava de uma traidora:
— Eu não preciso de você também. Por que não volta para a Jordana? Não é ela sua nova namorada agora?
— Daniela, não seja ridícula! — Jordana rebateu, mas eu já estava andando na direção oposta.
Peguei meu celular e chamei um Uber. Gustavo ficou parado no corredor, me observando com aquele olhar frio, e Daniel parecia prestes a correr atrás de mim, mas algo o impediu. Eu não queria mais saber. Que todos fossem para o inferno!
O caminho para casa foi silencioso, exceto pela tempestade dentro de mim. As luzes da cidade passavam como borrões através da janela do carro, mas, dentro de mim, nada era borrado. Pelo contrário, cada detalhe estava incrivelmente nítido, cada imagem gravada com precisão cruel na minha mente. Aquele quarto, os sons abafados, os olhares, os gestos... Mas o que me incomodava mais era Larissa, estar ali! Ela parecia querer praticamente todo homem que vem pra minha vida.
Meu peito parecia estar comprimido por uma mão invisível, tornando cada respiração mais difícil. Gustavo, Larissa, Jordana, Daniel... todos pareciam peças de um quebra-cabeça que não fazia sentido. Porém eu sabia qual era a responsável por tudo que estava acontecendo. Era eu mesma. E, a garota do interior do Paraná que se vislumbrou com a vida de solteira da amiga e passou a pensar porque não se deixar explorar de todas essas formas?
Eu, a moça do interior que começou a assistir filmes eróticos e que se excitavam completamente com cenas de dominação e submissão, pensando muitas vezes em como seria ver Daniel me dominando completamente.
Jogando na cama e me chupando, sem deixar tocá-lo nenhuma vez, onde somente ele deveria ser servido.
Fiquei me imaginando várias cenas, onde Daniel me dominava de todas as formas, e sinceramente tentei várias vezes replicar isso com ele. Mas ele parecia muito mais reservado, e sentir em todas as vezes que tentei ser mais ousada, que Daniel não parecia gostar muito daquilo.
O pedido de tempo para mim inicialmente deveria servir como uma ferramenta para que Daniel sentisse minha falta, para que ele talvez visse que é importante me tratar como uma mulher, mas também como uma puta. O que eu não esperava era que gostava acabasse me envolvendo de uma forma que eu entrasse no mundo dele.
Mas agora, nesse momento tudo o que eu quero é sumir. Eu não quero mais estar nesse mundo, eu não quero mais nada. Eu daria tudo para ter uma noite de amor normal com Daniel, mas será que eu teria direito nisso agora?
Meu celular vibrou no bolso da minha jaqueta. O som pareceu ecoar pelo carro, rompendo o silêncio desconfortável. Hesitei antes de pegar o aparelho. A tela iluminada mostrava um nome que eu não queria ver naquele momento: Diego.
Eu sabia que ele queria respostas, mas como explicar o que eu mesma não conseguia processar? Como descrever o que eu tinha visto sem me perder nos próprios sentimentos? Ainda assim, atendi.
— Oi, Diego — murmurei, minha voz baixa e hesitante.
— Daniela! — Ele parecia animado, ou talvez preocupado, não consegui distinguir. — Ouvi gritos no grampo, depois silêncio. Depois gritos novamente. O que aconteceu?
Eu abri a boca para responder, mas as palavras ficaram presas na minha garganta. O que exatamente eu poderia dizer? Que tinha visto Gustavo e Larissa em algo que não conseguia descrever sem me sentir nauseada? Que Jordana e Daniel estavam ali, como um golpe final na minha confiança?
— Daniela? Você está aí? — ele insistiu.
— Diego... — Minha voz tremia. — Eu não quero falar sobre isso agora. Por favor, me deixa em paz por hoje.
Houve um momento de silêncio do outro lado da linha, mas eu podia ouvir sua respiração, hesitante. Ele não queria desistir.
— O que aconteceu, Daniela? Te fizeram algum mal, sei lá? Você foi agredida? Descobriu alguma coisa? O que?
— Eu... eu não sei, Diego! — Minha voz saiu mais alta do que eu pretendia, e o motorista do Uber olhou para mim pelo retrovisor. Respirei fundo, tentando me acalmar. — Só... só me dá um tempo, tá? Eu preciso pensar.
Antes que ele pudesse responder, desliguei o telefone e larguei o celular no banco ao meu lado. Meus olhos ardiam, mas eu não queria chorar ali. Não na frente de um estranho.
Encostei a cabeça na janela e fechei os olhos, mas isso só fez as imagens voltarem com mais força. Gustavo, com aquele olhar de quem sempre tem tudo sob controle. Larissa, com sua expressão de prazer perverso. E então, Jordana... Daniel... Por quê?
Minha mente vagava entre os momentos. As conversas com Diego, as vezes em que Gustavo parecia estar jogando comigo, as insinuações de Larissa. Tudo parecia tão errado, tão distorcido.
Fiquei tentando pensar em como Larissa conseguiu chegar até Gustavo, e mais do que isso, o que ela estava pretendendo? Porém o mais importante, o que ela estava fazendo com o Gustavo ali? Será que eles já se conheciam antes e tudo isso que ela fez foi para me atrair até ele? Ou será que ela está sendo vítima?
Percebi que a maioria das minhas dúvidas não fazia sentido nenhum, porém ao mesmo tempo estava querendo tantas respostas, que se quer estava pensando na possibilidade de que talvez Larissa estivesse em perigo. Ou talvez eu estivesse em perigo.
O carro parou em um semáforo, e o motorista pigarreou.
— Tá tudo bem, moça? — ele perguntou, sua voz carregada de preocupação.
— Sim, estou bem. Só cansada — respondi rapidamente, forçando um sorriso.
Ele assentiu, mas seu olhar no retrovisor mostrava que não acreditava em mim. Não importava. Eu não estava bem, e não havia nada que ele pudesse fazer.
Quando finalmente chegamos em casa, saí do carro quase correndo. O motorista me observou enquanto eu entrava em casa, mas não olhei para trás. Subi as escadas com pressa, e quando finalmente fechei a porta do meu quarto, deixei o peso de tudo cair sobre mim.
Eu estava sozinha, mas a tempestade dentro de mim parecia mais forte do que nunca.
Meus dedos tremeram enquanto eu desbloqueava o celular. Vi que Diego havia enviado algumas mensagens depois que desliguei. Não abri nenhuma delas.
Sentei no sofá, deixando o celular de lado, e cobri o rosto com as mãos. Tudo estava desmoronando, e eu não tinha ideia de como reconstruir as peças.
O silêncio do apartamento era quase ensurdecedor. Fiquei ali por um tempo que pareceu infinito, tentando organizar meus pensamentos, mas tudo o que conseguia era sentir. Raiva, confusão, medo, e, acima de tudo, uma profunda sensação de traição.
No fundo, sabia que precisaria fazer alguma coisa em algum momento, reagir. Mas agora, naquele momento, tudo o que eu queria era escapar daquela realidade.
Eu mal tinha forças para me manter em pé. Cambaleei até o sofá e me deixei cair pesadamente. Era como se todo o peso do mundo tivesse se acumulado sobre os meus ombros.
As lágrimas vieram sem aviso, uma torrente incontrolável que parecia nunca ter fim. Eu estava exausta de tentar ser forte, exausta de fingir que estava no controle. Todo o caos dos últimos dias, semanas... tudo desabou sobre mim naquele instante.
Enquanto soluçava, minha mente se enchia de perguntas e arrependimentos. Como tudo tinha chegado a esse ponto? Eu me sentia como um barco à deriva, sendo empurrada por uma corrente que não conseguia entender.
Foi nesse momento que meu celular começou a tocar. O som cortou o silêncio como uma faca.
Olhei para a tela com os olhos borrados de lágrimas e vi o nome de Daniel. Um nó se formou no meu estômago. Eu quis ignorar. Quis jogar o celular no outro lado do sofá e fingir que não estava vendo. Mas algo dentro de mim, talvez um resquício de esperança ou apenas cansaço de fugir, me fez atender.
— Daniel? — perguntei, minha voz embargada, rouca de tanto chorar.
Houve uma pausa do outro lado da linha. Eu podia ouvir sua respiração, hesitante.
— Quero falar com você, Daniela. Por favor, me escuta — ele implorou, sua voz carregada de um tom que misturava preocupação e desespero.
Fechei os olhos e passei a mão pelo rosto, tentando limpar as lágrimas, mas elas continuavam caindo. Eu estava tão cansada.
— Oi, Daniel. Desculpe falar com você daquele jeito mais cedo, eu estava exausta de muitas coisas, e ainda estou.
— Por que não me conta então? — Disse Daniel do outro lado da linha, com a voz ainda demonstrando muita preocupação, e uma certa curiosidade.
Eu resolvi falar. Acabar logo com aquilo, e dizer a verdade para ele, sem segredos. Estava visivelmente cansada, física e mentalmente. Cansada de segredos, de mentiras, de jogos. Talvez fosse hora de acabar com isso. Acabar com tudo.
— Tudo bem, Daniel. — Suspirei, minha voz quase um sussurro. — Você quer saber a verdade? Eu vou te contar. Vou contar tudo. Desde o momento em que nos separamos.
Daniel estava do outro lado da linha, em silêncio, esperando por algo. Era agora ou nunca.
— Daniel... eu preciso te contar tudo. Sobre o que aconteceu desde que nos separamos. Você merece saber.
Houve um momento de hesitação do outro lado antes de ele responder, a voz baixa, quase um sussurro.
— Estou ouvindo, Dani.
Respirei fundo, tentando organizar os pensamentos caóticos.
— Quando eu pedi aquele tempo... — comecei, minha voz tremendo. — Não foi só porque eu estava confusa. Foi porque eu queria que você... me quisesse mais. Eu queria que você percebesse que podia me perder se não... se não mostrasse que eu era importante, se não fosse mais firme comigo.
— Firme? — ele perguntou, a confusão evidente na voz.
— Sim... Eu achava que você era muito passivo, que deixava as coisas acontecerem sem agir, sem me surpreender. Larissa ficava me dizendo que você era acomodado, que não sabia como me manter interessada. E, idiota que eu fui, comecei a acreditar nisso.
Suspirei fundo, ele ficava ali, quieto na chamada. Continuei.
— Eu passei a assistir muitos vídeos de sexo. Queria melhorar minha performance sexual, e me interessei muito sobre práticas bdsm. Me sentia excitada só pelo fato de ser amarrada, de tomar uns belos tapas na bunda, de ser marcada. Queria me sentir como sendo sua propriedade.
Seguia assim quieto ali, enquanto continuei.
— Daniel, você não fazia nada para melhorar. Nem saia comigo para as baladas, eu sempre tinha que ir sozinha com a Larissa, mas sempre te acompanhei com seus amigos, que de certa forma se tornaram meus amigos. Enfim, me separei de você, pedi um tempo, para me conhecer. E ai...
Senti as lágrimas começarem a escorrer, mas continuei.
— Aceitei os convites dela para sair. Para festas. Lugares onde os homens me olhavam como se eu fosse um prêmio. Alguns chegavam até a me xavecar, mas... eu nunca fiz nada. Nunca trai você. Sempre os rejeitei. Porque, no fundo, eu ainda te amava, Daniel.
Do outro lado da linha, ele ficou em silêncio, mas eu sabia que estava ouvindo cada palavra.
— Foi então que, quando comecei a dar aulas de piano, para me distrair, para passar melhor esse tempo que te pedi, que conheci Gustavo. Ele era... diferente. Ele tinha essa... presença. Ele era confiante, direto, e por algum motivo, eu me senti atraída. Talvez porque ele fosse tudo o que eu queria que você fosse, pelo menos na época.
— Daniela... — Daniel começou, mas eu o interrompi.
— Por favor, me deixa terminar.
Ele respirou fundo, mas ficou em silêncio.
— Depois que eu comecei a trabalhar na mansão, ele se aproximou mais. Começou com elogios, depois pequenos toques, até que... um dia, eu cedi. Fui ao quarto dele, Daniel. E nós... nós nos envolvemos.
— Daniela, você...? — Ele perguntou, onde eu o interrompi.
— Sim, Daniel. Transamos. Na verdade, foi até mais que isso.
— Mais? — Ele perguntou.
— Sim. — Respondi, com a voz chorosa. — Ele passou a me fazer sentir sensações, que eu desconhecia. Ele me amarrou, ele passava coisas em mim, ele me possuia de uma forma, que mostrava que ele estava no controle, não eu.
Parei por um momento, tentando encontrar as palavras certas para descrever o que aconteceu.
— Ele tinha esse... jeito de dominar, de controlar, e eu... eu gostei disso. Não vou mentir para você. Naquele momento, eu adorei. Mas agora, olhando para trás, eu percebo que estava errada. Que isso não é o que eu quero. Porque estar nesse mundo também é se humilhar, é se quebrar em mil pedaços, e talvez esse "ônus" não era exatamente o que eu procurava.
Minha voz falhou, e eu engoli em seco antes de continuar.
— Desde então, tudo ficou confuso. Gustavo começou a querer mais, e eu me vi presa numa situação que eu não conseguia controlar. Foi por isso que eu aceitei ajudar Diego. Porque eu queria uma saída.
— Diego? Quem é esse?
— Um Policial que me pediu ajuda, eu conto sobre ele depois. Parece que Gustavo é um criminoso, e tem feito algumas coisas.
O silêncio do outro lado da linha era ensurdecedor. Quando Daniel finalmente falou, sua voz estava pesada, carregada de emoção.
— Eu sei disso, a Jordana me contou. Mas, Daniela, tem algo que eu queria saber.
Engoli a seco o que ele disse, enquanto o mesmo continuou.
— Então, todo esse tempo... você estava jogando comigo? Tentando me manipular para ser alguém que eu não sou?
— Não era isso, Daniel. Eu só... eu só queria que você lutasse por mim. Que mostrasse que se importava.
— E você achou que a melhor forma de fazer isso era se jogando nos braços de outro homem?
— Eu cometi erros, eu sei disso! Mas eu ainda te amo, Daniel. Nunca deixei de te amar.
Ele riu, mas não era uma risada feliz. Era amarga, cheia de dor.
— Amar? Isso é amor para você? Porque, para mim, parece mais como traição.
Meu coração doía com cada palavra que ele dizia, mas eu sabia que ele tinha razão.
— Eu só queria ser honesta com você. Eu não podia continuar escondendo isso.
Houve outro longo silêncio antes de ele responder, a voz fria como gelo.
— Eu preciso de um tempo para processar isso. Não me liga. Não me manda mensagens. Só... me deixa em paz por enquanto.
Antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa, ele desligou. O som da chamada encerrada parecia ecoar na sala, me deixando sozinha com minha culpa e arrependimento.