O sol começava a se inclinar no céu, projetando sombras suaves pelos cômodos da casa. Gabriel estava sentado na sala, ainda pensando na noite anterior, quando Marilda entrou, silenciosa como sempre, trazendo consigo aquele ar de autoridade que preenchia qualquer espaço que ocupasse. Ela carregava uma xícara de café em uma das mãos e, na outra, um pequeno livro que parecia gasto pelo tempo.— Dormiu bem, querido? — perguntou ela, sentando-se no sofá oposto ao dele. Gabriel a observou, ainda sentindo aquele misto de nervosismo e fascínio que sempre surgia na presença dela. — Sim, senhora. E você?Marilda sorriu de canto, erguendo a xícara para um pequeno gole. — Sempre durmo bem. Mas tenho pensado em você, Gabriel. Em como você tem se mostrado receptivo a aprender mais sobre si mesmo.Ele inclinou-se levemente para frente, intrigado. — Sobre mim mesmo?— Sim. Cada um de nós tem camadas que não exploramos. Desejos, curiosidades... partes de nós que ficam adormecidas até que alguém nos ajude a descobri-las. Você já sentiu isso? — Seus olhos fixaram-se nos dele, a pergunta carregada de algo mais profundo.Gabriel hesitou, mas acabou assentindo. — Acho que sim. É estranho, mas às vezes... parece que tem algo em mim que eu ainda não entendo completamente.Marilda sorriu, satisfeita com a resposta. — É natural. A maioria das pessoas nunca chega a entender plenamente quem são. Mas você... está no caminho certo.Ela se levantou lentamente, colocando a xícara de café sobre a mesa. Quando voltou, sentou-se ao lado de Gabriel, sua proximidade repentina fazendo seu coração disparar.— Quero mostrar algo a você — disse ela, sua voz suave, mas carregada de uma autoridade que não permitia recusa.— Mostrar o quê? — perguntou ele, curioso e nervoso ao mesmo tempo.— Algo que pode parecer estranho no começo, mas que ajuda a entender mais sobre quem somos. — Marilda levantou-se novamente e caminhou até a porta de seu quarto. Quando voltou, carregava uma pequena caixa nas mãos, decorada com um tecido elegante.Ela a colocou sobre a mesa e abriu com cuidado, revelando uma peça de lingerie delicada, feita de seda e renda em tons claros. Gabriel piscou, surpreso, sem saber como reagir.— O que é isso? — perguntou ele, a voz quase um sussurro.— Apenas uma peça de roupa, querido. — Marilda sentou-se novamente, os olhos fixos nele. — Algo que pode ensinar muito sobre como nos sentimos em diferentes situações.Gabriel sentiu o rosto corar. — Você quer que eu... vista isso?— Apenas se você quiser. — Ela inclinou-se levemente, o tom de sua voz quase hipnótico. — Não há nada errado em experimentar. Não é sobre certo ou errado. É sobre sentir.Ele ficou em silêncio por um momento, olhando para a peça delicada e depois para ela. O olhar de Marilda era tão seguro, tão tranquilo, que parecia impossível contestá-la. Finalmente, ele assentiu, sentindo o coração disparar.
— Tudo bem... eu posso tentar.Marilda sorriu, genuinamente satisfeita. — Ótimo. Mas quero que você faça isso aqui, comigo. Não há razão para vergonha, Gabriel. Estou aqui para guiá-lo.Com hesitação, ele pegou a peça e levantou-se. Ela o observava com atenção, mas sem qualquer julgamento em seu olhar. Ele virou-se de costas, mas Marilda falou suavemente:— Não precisa virar. Você está seguro aqui, querido.Aquelas palavras pareceram tranquilizá-lo. Gabriel começou a vestir a peça, sentindo o tecido macio deslizar pela pele. Era uma sensação completamente nova, desconcertante, mas também intrigante. Quando terminou, ele olhou para Marilda, esperando por sua reação.Ela sorriu com aprovação, levantando-se e caminhando até ele. — Viu? Não foi tão difícil. E agora, como você se sente?Gabriel hesitou, tentando encontrar as palavras certas. — É... diferente. Confortável, de um jeito estranho.Marilda passou uma mão leve pelo ombro dele, em um gesto tranquilizador. — Não há nada estranho nisso. Cada experiência que nos tira da zona de conforto nos ajuda a crescer. Você está aprendendo, Gabriel. E isso me deixa muito feliz.Ele a olhou, sentindo novamente aquela admiração crescer dentro dele. Era como se ela pudesse ver algo nele que nem ele mesmo enxergava. E, de alguma forma, ele confiava completamente em suas palavras.— Obrigado, senhora. Por... me ajudar a entender essas coisas.— Sempre, querido. Estou aqui para guiá-lo. — Ela sorriu e voltou a sentar-se, cruzando as pernas com elegância. — Agora, venha. Sente-se comigo. Temos muito mais a explorar, mas tudo ao seu tempo.Eles passaram o restante da manhã conversando, Gabriel sentindo-se cada vez mais confortável na presença de Marilda, mesmo com a peça incomum que usava. Aos poucos, os laços entre eles pareciam se estreitar ainda mais, cada palavra e gesto dela fortalecendo a confiança e admiração que ele sentia.Gabriel sentou-se no sofá ao lado de Marilda, ainda sentindo a calcinha de seda contra sua pele. A sensação era estranha, diferente de qualquer coisa que ele já havia experimentado antes. O tecido macio parecia acentuar cada movimento, criando uma consciência nova de seu próprio corpo. Ele não sabia como colocar isso em palavras, mas sabia que Marilda estava observando, avaliando cada expressão sua, como se pudesse ler seus pensamentos.— Como está se sentindo? — perguntou ela, a voz baixa e suave, quase um sussurro.Gabriel hesitou, tentando encontrar uma forma de expressar o que sentia. — É... desconfortável, mas ao mesmo tempo... curioso. Como se...— Como se você estivesse percebendo algo novo sobre si mesmo? — completou Marilda, sorrindo suavemente.Ele assentiu, corando um pouco. — Acho que sim. É estranho, mas não de um jeito ruim.Marilda inclinou-se ligeiramente, seus olhos fixos nele. — Isso é exatamente o que eu esperava. O desconforto é normal no início, Gabriel. Mas é nesse desconforto que crescemos.Ele a observou, ainda sentindo o calor no rosto. — A senhora faz isso com frequência?Ela riu levemente, mas seu sorriso era sincero. — Não é sobre frequência, querido. É sobre saber quando é o momento certo. Cada experiência tem um propósito. E para você, este é o momento de explorar partes de si que talvez tenha ignorado antes.Gabriel olhou para baixo, os dedos brincando nervosamente com a barra da camisa que usava. Ele ainda podia sentir o tecido macio da calcinha pressionando contra ele, a seda deslizando levemente a cada movimento. — Parece tão... íntimo.— E é. — Marilda pousou uma mão delicada sobre o joelho de Gabriel, um gesto que era tanto tranquilizador quanto assertivo. — Não há nada mais íntimo do que conhecer a si mesmo. E você está começando a entender isso.
Ela olhou para ela novamente, tentando decifrar o que sentia. A presença de Marilda sempre o deixava dividido entre nervosismo e fascínio, mas agora parecia haver algo mais. Algo que ele não conseguia explicar, mas que o atraía irresistivelmente.— Você acha que... isso vai mudar algo em mim? — perguntou ele, a voz hesitante.Marilda sorriu, inclinando-se um pouco mais perto. — Só você pode responder isso, querido. Mas a mudança não é algo a temer. É algo a abraçar.Houve um momento de silêncio entre eles, carregado de tensão, mas não de um tipo desconfortável. Era como se as palavras dela estivessem plantando algo em sua mente, algo que cresceria com o tempo. Finalmente, ela se levantou, estendendo a mão para ele.— Venha comigo, Gabriel. Quero que você veja algo.Ele a seguiu até o grande espelho de corpo inteiro que adornava a parede do corredor. Marilda posicionou-o diante do espelho, colocando-se atrás dele. Suas mãos descansaram suavemente sobre os ombros dele enquanto ambos olhavam para o reflexo.— O que você vê? — perguntou ela, a voz baixa e quase hipnótica.Gabriel ficou em silêncio por um momento antes de responder. — Eu... vejo alguém diferente.— Diferente como?— Não sei... É como se eu não fosse mais apenas eu. Como se houvesse algo mais.Marilda sorriu, satisfeita. — Porque há algo mais, querido. Algo que sempre esteve lá, esperando para ser descoberto. Ela moveu uma mão, traçando levemente a linha dos ombros dele no reflexo. — A calcinha não é apenas uma peça de roupa, Gabriel. É um símbolo. Um convite para você sair do comum, do esperado, e explorar o extraordinário.Ele olhou para ela no espelho, sentindo o peso de suas palavras. Ainda não sabia o que pensar sobre tudo aquilo, mas uma coisa era clara: estava começando a se sentir diferente. Não apenas pela calcinha, mas pelo que ela parecia representar.— Obrigado, senhora. Por... confiar em mim para isso.Marilda inclinou-se para beijar levemente o topo de sua cabeça. — Sempre, querido. Você está indo muito bem. E mal posso esperar para ver até onde você irá.Com isso, ela se afastou, deixando Gabriel ali, olhando para o reflexo no espelho, tentando compreender as emoções que borbulhavam dentro dele.A manhã começou com uma pressa inesperada. Gabriel ainda estava no corredor, olhando para o espelho e tentando processar a estranha mistura de emoções que Marilda havia despertado, quando ouviu o som da porta da frente se abrindo. Felipe estava chegando.Antes que tivesse tempo de tirar a peça que usava, os passos de Felipe já ecoavam pela casa, acompanhados de sua voz animada.— Gabriel? Vó? Estou em casaGabriel respirou fundo, tentando controlar o nervosismo. A sensação da calcinha de seda ainda era estranha e presente, e ele não tinha escolha a não ser fingir normalidade. Desceu as escadas com um sorriso forçado, encontrando Felipe na cozinha.— Ei, Felipe — cumprimentou ele, tentando soar casual.— Bom dia, cara! — respondeu Felipe com o entusiasmo de sempre. Ele olhou para a mesa já posta por Marilda, cheia de frutas, pães e uma jarra de suco. — Nossa, o café está caprichado hoje.Marilda surgiu logo depois, impecável como sempre, com um sorriso tranquilo. — Achei que um bom café da manhã faria bem antes de sairmos.Os três se sentaram, e Gabriel mal conseguia se concentrar no que comia. Ele sentia o tecido contra sua pele a cada movimento, uma lembrança constante do que estava usando. Enquanto Felipe falava sobre assuntos triviais, Marilda ocasionalmente lançava a Gabriel um olhar que era ao mesmo tempo tranquilizador e cheio de propósito.Após o café, decidiram sair para passear. Marilda sugeriu um parque próximo, algo simples para aproveitar o dia. Gabriel hesitou, mas não teve coragem de recusar. Ele vestiu calças por cima da peça, esperando que isso fosse suficiente para esconder qualquer coisa, e seguiu os outros dois para o carro.No parque O parque era movimentado, com famílias passeando e crianças brincando. Marilda, sempre elegante, manteve-se ao lado deles por um tempo, mas eventualmente anunciou que precisava se afastar por alguns minutos para resolver algo.— Fiquem por aqui. Não vou demorar — disse ela, saindo sem esperar resposta.Com Marilda ausente, Felipe e Gabriel ficaram sozinhos, caminhando pelas trilhas tranquilas. O silêncio entre eles era incomum, carregado de algo não dito.— Você tá quieto hoje — comentou Felipe, olhando para Gabriel de soslaio.Gabriel parou, respirando fundo antes de responder. — Estou... pensando em algumas coisas. Sobre mim.Felipe franziu a testa, parando também. — Tipo o quê?Gabriel olhou para o chão, hesitando antes de continuar. — É que... ultimamente, tenho me sentido diferente. Como se estivesse atraído por coisas que eu nunca pensei antes.Felipe ficou em silêncio, esperando que ele continuasse.
— Tipo... aquela noite. Quando a gente... se beijou — disse Gabriel, sua voz quase um sussurro.Os olhos de Felipe se arregalaram levemente, mas ele não parecia desconfortável. — O que tem ela?Gabriel ergueu o olhar, encontrando o de Felipe. — Você gostou?Felipe ficou vermelho, mas assentiu lentamente. — Gostei, sim. Foi... diferente, mas de um jeito bom.O coração de Gabriel disparou ao ouvir aquilo. Ele deu um passo hesitante na direção de Felipe, sentindo a coragem crescer dentro dele. — Eu também gostei. Muito.A distância entre eles diminuiu, e Gabriel sentiu que estava prestes a fazer algo que não conseguia controlar. Os olhos de Felipe estavam fixos nos dele, e por um momento parecia que o tempo havia parado. Gabriel inclinou-se levemente para frente, seus rostos quase se tocando.Mas antes que pudessem se beijar novamente, a voz de Marilda ecoou atrás deles.— Hora de ir, meninos. Vamos.Ambos se afastaram rapidamente, constrangidos, enquanto Marilda os olhava com uma expressão enigmática. Ela não disse nada, mas Gabriel sentiu que ela havia percebido o que quase aconteceu.De volta ao carro Os três entraram no carro, Marilda assumindo o volante com sua postura sempre impecável. O caminho de volta foi silencioso, cada um imerso em seus próprios pensamentos. Gabriel olhava pela janela, tentando processar os últimos momentos com Felipe.Mas então, ele ouviu algo estranho. Um som baixo, abafado, vindo do porta-malas. Algo que parecia se mexer.— O que foi isso? — perguntou Gabriel, virando-se para olhar para trás.Marilda não desviou o olhar da estrada, mas respondeu com a voz calma de sempre. — O que foi o quê, querido?— Eu ouvi... algo. Como se algo estivesse se movendo no porta-malas — insistiu ele.Felipe olhou para Gabriel, franzindo a testa. — Tá ouvindo coisas, cara?Gabriel balançou a cabeça. — Não, eu juro que ouvi.Marilda permaneceu impassível, um leve sorriso surgindo em seus lábios. — Não se preocupe com isso, Gabriel. Às vezes, nossa mente nos prega peças.Apesar da resposta dela, o som se repetiu, desta vez um pouco mais claro. Gabriel sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Algo definitivamente estava ali.O que seria?