No sítio, o sol de meio-dia lambia a terra com uma preguiça lasciva, como se quisesse se deitar sobre ela e nunca mais levantar. A casa, de paredes caiadas e varanda torta, exalava um cheiro de madeira velha e café requentado. Soninha, no centro de tudo, era a própria chama que incendiava o ar. Seu short curto, tão justo que parecia pintado na pele, e o top decotado, que mal continha as curvas generosas, faziam dela o sol daquele universo. Ela ria, e o som era um convite, uma promessa que ninguém ousava confessar que queria aceitar. Roberto, seu namorado, sentado na varanda com um copo de cachaça na mão, olhava-a com um orgulho manso, como quem sabe que possui um tesouro, mas não entende que ele queima. Felipe, o filho, estava ali, quieto, os olhos grudados na mãe, como se ela fosse um quadro que ele tentava decifrar. E Antônio, irmão de Roberto, esparramado numa cadeira, com uma cerveja na mão e um olhar que despia Soninha a cada segundo, completava o círculo.
Soninha falava, e sua voz era mel, era veneno, era tudo o que os homens ali queriam engolir. Contava histórias do bairro, ria das próprias piadas, e até o vento parecia parar para ouvi-la. “Vocês já viram a Dona Cleide tentando dançar forró na festa junina?”, dizia, e o riso explodia, com Antônio rindo mais alto, os olhos fixos no decote dela, como um lobo farejando carne. Roberto, com sua bondade de alma limpa, apenas sorria, alheio ao veneno que corria na mesa. Felipe, com a boca entreaberta, parecia engolir cada gesto da mãe, cada balançar de cabelo, cada curva que o short denunciava.
Foi então que Antônio, com a ousadia de quem não teme o inferno, se inclinou para Soninha, a voz arrastada pela cerveja e pelo desejo: “Soninha, com esse corpinho, tu não precisa de fogueira pra esquentar a gente, não.” O silêncio caiu como uma guilhotina. Roberto deu uma risada curta, como se fosse só uma brincadeira de irmão. Soninha, porém, não se fez de rogada. Seus olhos encontraram os de Antônio, e um sorriso lento, quase cruel, se desenhou em seu rosto. Era um sorriso que prometia tudo e nada, que dizia “eu sei o que você quer, e talvez eu te dê”. Felipe, petrificado, sentiu o sangue pulsar nas têmporas, o rosto ardendo de uma mistura de vergonha e algo que ele não queria nomear.
A noite chegou como um véu, cobrindo o sítio com um silêncio pesado, quebrado apenas pelo cricrilar dos grilos e pelo ronco distante de um motor. Felipe acordou no escuro, o coração disparado, como se soubesse que algo estava fora de lugar. O barulho do carro ecoava na estrada, um som que não pertencia àquela hora. Ele se levantou, os pés descalços no assoalho frio, e caminhou pela casa. O quarto de Antônio estava vazio, a cama intocada. Um frio subiu pela espinha do garoto, mas ele seguiu, como se uma força maior o puxasse.
Chegou ao quarto principal, a porta entreaberta. A luz da lua entrava pela janela, banhando a cena em prata. Lá estava Soninha, na cama, nua, os pulsos amarrados com uma corda fina, uma venda preta cobrindo os olhos, uma mordaça improvisada na boca. Suas lingeries, vermelhas, rendadas, estavam espalhadas pelo chão, como pétalas de uma flor profanada. O corpo dela, tão familiar e tão proibido, parecia brilhar sob a luz, cada curva uma tentação que Felipe conhecia de cor, de tanto espiar, de tanto imaginar. Ele ficou parado, o ar preso nos pulmões, o coração batendo tão alto que parecia denunciá-lo.
Sem pensar, sem querer pensar, ele se abaixou e pegou a calcinha do chão. O tecido ainda quente, impregnado com o cheiro dela, aquele perfume que ele já havia roubado tantas vezes, escondido no banheiro, como um ladrão de si mesmo. Ele a levou ao rosto, inalando profundamente, e o mundo desapareceu. Era o suco da mãe, o segredo que ele guardava no fundo da alma, o pecado que o fazia homem e monstro ao mesmo tempo. Seu corpo reagiu, traiçoeiro, e ele fechou os olhos, perdido naquele instante que era ao mesmo tempo êxtase e danação.
O quarto, banhado pela luz prateada da lua, era um palco onde o tempo parecia suspenso, como se o mundo inteiro prendesse a respiração. Soninha, amarrada, vendada, com a mordaça abafando qualquer som que pudesse escapar, mexeu-se na cama, um movimento leve, quase um espasmo, e Felipe sentiu o coração saltar-lhe à garganta, como se fosse vomitar a própria alma. Ele recuou um passo, a calcinha ainda na mão, quente, úmida, um troféu roubado do altar da mãe. Agradeceu, em silêncio, aos deuses profanos que protegiam os pecadores como ele, pois a venda preta sobre os olhos dela o salvava de ser visto, de ser julgado, de ser devorado pelo próprio desejo.
Mas aquele instante, aquele fragmento de eternidade, tinha algo de mágico, de sagrado e amaldiçoado ao mesmo tempo. Tantas vezes ele havia se escondido no banheiro, cheirando o perfume dela impregnado nas roupas íntimas, ou se esgueirado pela janela, o coração aos pulos, para capturar com os olhos o corpo nu da mãe sob o chuveiro. Eram furtos rápidos, nervosos, sempre com o medo de ser pego. Mas agora, ali, naquele quarto, ele podia contemplá-la sem pressa, como um pintor diante de sua obra-prima. Cada pelinho, cada poro, cada gota de suor que escorria pela pele dela era um detalhe que ele gravava na memória, como se quisesse carregar aquele pecado para o resto da vida.
Os seios dela, ainda firmes, apontavam para o céu, como se desafiassem a gravidade e o tempo. Os bicos e auréolas, rosadas, pareciam implorar por um beijo, por uma carícia que ele nunca ousaria dar. E então, os olhos dele desceram, atraídos por uma força que não explicava, até o montinho coberto por um tufo negro, desenhado com a precisão de um escultor divino. A entrada do prazer, ah, não era algo vulgar, jogado ao acaso como um trapo no chão. Era perfeita, reta, rosada, molhada, guardada por lábios que pareciam um capuz, protegendo um segredo que pulsava. E o botãozinho, ali, exposto, parecia clamar por um toque, por um beijo que Felipe sabia que nunca poderia dar, mas que sua mente, febril, já imaginava.
Ele ficou ali, paralisado, a calcinha na mão, o cheiro dela invadindo-o como uma droga, o corpo dela diante dele como uma visão que era ao mesmo tempo paraíso e inferno. O silêncio do quarto era tão denso que ele podia ouvir o próprio sangue correndo nas veias, o próprio coração gritando um desejo que ele não queria nomear. E, no entanto, algo naquela cena, naquela profanação, parecia incompleto, como se o destino ainda tivesse mais para revelar, mais para destruir.
O silêncio do quarto era uma catedral de sombras, e Felipe, no centro daquele altar profano, sentia o coração bater como se quisesse romper o peito, expandir os ossos, estilhaçar a carne. A calcinha, ainda quente do cheiro dela, escorregou de seus dedos, caindo ao chão como uma oferenda rejeitada. Ele não se moveu para pegá-la. Não podia. Seus olhos, seus sentidos, sua alma inteira estavam presos à visão de Soninha, nua, amarrada, vendada, a pele brilhando sob a luz da lua como se fosse feita de mármore e pecado. Ela era a mulher, a mãe, o interdito, e ele, ali, era o ladrão, o devoto, o condenado.
Ele deu um passo, hipnotizado, os pés descalços roçando o assoalho frio. Ela não sabia que ele estava ali — ou sabia? Uma dúvida cruel atravessou sua mente, mas ele escolheu arriscar, protegido pelo anonimato da venda preta que cobria os olhos dela. Soninha murmurou algo, um som abafado pela mordaça, talvez uma pergunta, talvez um apelo. Quem está aí? Felipe não respondeu. Não precisava. O silêncio era sua armadura, e a escuridão, sua cúmplice.
Com uma coragem que não era coragem, mas desespero, ele estendeu a mão. Tocou os seios dela, primeiro de leve, os dedos trêmulos como se temessem profaná-la. Ela sobressaltou-se, o corpo tenso, mas não havia escapatória. Ele, então, segurou-os com as mãos, com a devoção de um selvagem diante de um ídolo pagão, sentindo a maciez, a firmeza, a promessa que aquelas curvas guardavam. E, num impulso que não explicava, inclinou-se e beijou-os. Primeiro um roçar de lábios, depois uma entrega total: lambeu, chupou, mordiscou, os dentes marcando a pele com uma fome que ele não sabia que tinha. Soninha se contorcia, gemia sob a mordaça, e cada som que ela fazia era um fósforo riscado na alma de Felipe, incendiando-o.
Ele não se conteve. Como um homem perdido no deserto que encontra um oásis, sua mão desceu, trêmula, até o centro mágico, o lugar que ele havia contemplado com reverência minutos antes. Tocou-a de leve, os dedos quase etéreos, como uma pluma roçando a pele. Soninha arqueou o corpo, um gemido mais alto escapando, e Felipe sentiu o calor, a umidade, o segredo que pulsava ali. Ela se enxarcava, e ele, faminto, louco, rendeu-se. Ajoelhou-se como um peregrino e beijou-a ali, no âmago do prazer, sentindo o gosto do suco dela, o toque acetinado de sua carne, o sabor de um fruto que era ao mesmo tempo, vida e danação. Cada lambida, cada toque, era uma confissão que ele nunca ousaria fazer em voz alta.
O quarto girava, ou talvez fosse ele, perdido naquele instante que não tinha começo nem fim. Soninha gemia, o corpo respondendo a cada carícia, e Felipe, cego de desejo, não sabia se era ele quem a possuía ou se era ela, mesmo amarrada, quem o dominava. Algo, porém, pairava no ar, uma tensão que sugeria que aquele momento, tão perfeito quanto amaldiçoado, ainda guardava segredos, ainda tinha mais para revelar.
O quarto, aquele santuário de sombras e pecados, era agora um abismo onde Felipe se lançava sem volta. A inibição, essa frágil couraça que ainda o prendia ao mundo dos homens, desfez-se como cinza ao vento. Ele havia cruzado o Rubicão, cometido o pecado, consumado o crime. O tíquete para o trem rumo ao inferno, já carimbado, queimava em sua alma. Despiu-se com a pressa de quem teme acordar de um sonho, e, ao ver-se, surpreendeu-se. Seu membro, nunca tão ríjo, tão pulsando de veias e cor, parecia uma arma forjada para a danação. Debruçou-se sobre Soninha, oferenda sacrificial, e os corpos, famintos de prazer, colidiram. Ela gemeu, murmurou sob a mordaça, mas Felipe não podia parar — não agora, não diante da recompensa que era também sua ruína.
Com uma devoção febril, ele a penetrou, lento, como se quisesse gravar cada instante no mármore da memória. Sentiu a umidade banhar-lhe a virilha, o calor dela envolvendo-o como um corpo em febre, um solo sagrado que ele, profano, ousava invadir. Suspiros ecoavam, corpos se retorciam, e ele beijava cada pedaço dela que sua boca alcançava — o pescoço, os ombros, as curvas que o enlouqueciam. Não parava, forçava, bombeava, como se pudesse fundir-se a ela, tornar-se um só com aquele outro corpo. As pernas dela, contidas pelas cordas, moviam-se o quanto podiam, e cada espasmo o incendiava. Os gemidos abafados, como um entorpecente, faziam sua cabeça girar, e ele se perdia, animal, deus, demônio.
Então veio o ápice, o momento em que o mundo se partiu. O corpo dela arqueou, suspenso no ar, a respiração parou, e ele sentiu seus tremores dela, o engolir da mordaça, o arfar que anunciava o êxtase. Soninha desabou, e ele, urrando como um condenado, explodiu dentro dela, mordendo-lhe o pescoço com força, abraçando-a como se fossem amantes fugazes, destinados a se consumir numa única noite. O silêncio que se seguiu era pesado, sagrado, amaldiçoado, e Felipe, ainda ofegante, soube que havia tocado o céu e o inferno ao mesmo tempo.
No dia seguinte, o sol invadia a casa do sítio com uma insolência que parecia zombar dos segredos da noite. Felipe desceu as escadas, o corpo saciado como o de um ladrão que escapa impune, mas a alma fustigada por uma dúvida que o corroía. Na mesa do desjejum, Antônio e Roberto conversavam, alheios, entre risadas e goles de café. Soninha, radiante, movia-se pela cozinha com uma leveza que era só dela, uma beleza que parecia desafiar as leis do mundo. “Senta, meu filho”, disse ela, servindo-lhe uma xícara, e ele obedeceu, mudo, o coração ainda preso àquela cama, àquela venda, àquele pecado.
Então, ela se inclinou, o hálito quente roçando sua orelha, e sussurrou: “Eu sei que só você e eu estávamos em casa essa noite.” Felipe congelou, o sangue parado nas veias, o coração um tambor mudo. Ela sorriu, mordendo os lábios com uma lascívia que era ao mesmo tempo promessa e ameaça, e afastou-se, deixando o mistério pairar como uma névoa. Ele ficou ali, petrificado, a xícara tremendo em suas mãos.