Depois que descobri quem Rodrigo era — o que escondia, o que já havia vivido, o que dormia por trás do homem de fala calma e mãos organizadas — tudo mudou.
Não nele.
Em mim.
Porque não há mais inocência depois que você olha nos olhos da fome.
E Rodrigo tinha fome.
Eu só precisava alimentá-la no tempo certo.
E foi o que comecei a fazer, como quem executa um plano que exige precisão cirúrgica.
Era sempre nas brechas.
Nas manhãs de sábado, quando Amanda ainda dormia e ele já estava na cozinha.
Eu descia com uma camiseta leve, sem sutiã, descalça, cabelo preso de qualquer jeito, cara de “acordei agora”, mas tudo perfeitamente calculado. Os mamilos desenhavam o tecido. As coxas escapavam por baixo da barra. E o olhar? Suave. Quase distraído.
Ele me olhava por milésimos de segundo a mais do que deveria.
E eu fingia não notar.
Mas notava. Anotava.
Comecei a deixar pistas. Detalhes que, pra ele, seriam sinais impossíveis de ignorar.
Coloquei um livro de bondage discreto na estante do meu quarto. Deixei a aba do navegador aberta com uma foto de shibari no Instagram. Marquei o próprio pescoço com um colar de couro fino, apenas como acessório — mas com fecho de gancho, não de joia.
Ele viu.
Sempre via.
Rodrigo era o tipo de homem que enxerga o não-dito.
E se eu queria que o Dom despertasse, eu precisava chamar do jeito certo.
Foi numa noite de terça-feira.
Todos estavam em casa, mas o clima era morno. Amanda no celular, Linara em vídeo com as amigas, Andrey viajando. Eu estava inquieta. Pronta.
Passei pela sala e deixei cair um lenço de seda, propositalmente, no tapete ao lado do sofá onde Rodrigo lia.
Ele olhou. Abaixou-se, pegou o tecido.
Toque leve. Longo. Devolveu-me com os olhos fixos nos meus.
— Seu.
— É sim... — eu disse. — Bem macio, né?
Ele assentiu.
A ponta dos dedos dele tocou os meus por um segundo a mais que o necessário.
E ali… ali eu soube.
Ele tinha entendido.
Na sexta-feira seguinte, Amanda saiu para um evento. Linara dormiria na casa de uma amiga.
Eu deixei o vestido mais curto separado desde cedo.
Era preto. De alça fina. Costas nuas. Sem calcinha.
Passei o perfume que só usava quando queria deixar marca. Amarrei o cabelo em um rabo baixo, deixando o pescoço exposto, tenso, oferecendo.
Desci para a sala como quem não carrega intenção nenhuma.
Rodrigo estava vendo TV.
Sentei ao lado dele. Cruzei as pernas devagar.
O vestido subiu. Bastou um movimento, e eu sabia: se ele olhasse com atenção, veria tudo.
Ele permaneceu sério.
Mas a respiração dele... mudou.
— Tá muito quieto hoje — falei.
— Só cansado — ele respondeu, com a voz baixa, rouca.
— Quer uma bebida?
— Não, obrigado.
Levantei.
— Eu vou tomar um vinho. Quer mesmo não me fazer companhia?
Ele demorou. Mas respondeu:
— Um copo.
E então eu sabia: ele estava cedendo.
Na cozinha, servi dois copos.
Abaixei lentamente para pegar a garrafa, deixando o vestido subir nas coxas. Quando me virei, ele estava na porta.
Apoiado na lateral, braços cruzados, olhar fixo.
— Você tá jogando sujo — ele disse.
Não me fiz de sonsa.
— Só estou servindo vinho...
Ele se aproximou. Encostou atrás de mim. Não me tocou. Mas estava ali. Grande. Quente. Presente.
— Você sabe exatamente o que está fazendo comigo — murmurou no meu ouvido.
— Sei sim.
Virei-me devagar, com o copo na mão.
Olhei nos olhos dele.
— E você? Vai continuar fingindo que não quer me destruir?
O silêncio dele foi uma resposta.
Mas os olhos... os olhos diziam que ele já tinha começado.
Rodrigo pegou o copo da minha mão.
Bebeu um gole.
Colocou o vinho sobre a pia.
Segurou meu queixo com firmeza.
— Você sabe quem eu fui?
— Sei.
— Você sabe o que isso significa?
— Significa que você não é homem de me beijar e parar por aí.
Ele apertou o maxilar. A respiração ficou mais forte.
E então... ele me virou contra a bancada.
As mãos firmes, quentes, segurando minha cintura.
— Última chance de dizer não — disse, no tom de comando que eu esperava desde sempre.
E eu, sem hesitar:
— Dom... me mostra quem você é.
(continua…)