CAP 1 - PT 3
- Que merda é essa, Henrique? Isso é jeito de falar comigo? Quer sair com um processo?
- O processo - ele pegou o celular e entrou na galeria - viria pra nós dois - mostrou pra ela.
- Puta merda - ela encostou na parede atrás dela - como é que você... porra.
- Pois é. Isso que dá ficar batendo a siririca no trabalho.
- O que tu quer? Vai me chantagear, é isso?
- Eu quero o meu trabalho, porra! Quero que você me explique como atrasar por coisas que eu não controlo é inaceitável e bater uma na empresa não é. Eu aqui me matando para um salário de merda e você, gerente, ganhando cinco vezes mais do que eu pra ficar gozando na cobertura.
- E você acha que pra mim é fácil? Todos os chefes dos chefes de sei lá quem cai matando em cima de mim. Eu passo meu dia inteiro aqui e tenho que saber resposta pra tudo nessa merda! - as vozes deles estavam altas demais, ecoaram pelas escadas. Felizmente as portas dos andares eram grossas e ninguém mais estava na escada na hora.
- E em vez de empatizar com os outros empregados fodidos, você desconta neles e age como uma vagabunda insensível?
- Eu não consigo evitar... é difícil ser legal com os outros depois de só levar ferro. Só consigo desestressar assim - ela indica a foto no telefone dele com a mão - e nem é muito.
Henrique então respirou fundo. Ele entendia. Ninguém é todo certo ou todo errado nesse mundo. E agora ele entendia o lado dela.
- Eu entendo. Mas ainda assim - ele balançou o celular - quero meu trabalho de volta.
- Pode deixar - Ela olhou para o chão. Era constrangedor ver a si mesma na imagem.
Henrique levantou e desceu pelos degraus com as suas coisas.
- Ótimo. Obrigado, Laura.
- Hm - ela se desencostou da parede e segurou o braço dele quando passou por ela - mais uma coisa. Vai apagar essa foto né?
- Relaxa, não vou espalhar, não sou babaca. Mas apagar? - ele deu um tapa na bunda dela com a mão livre - Aí já é demais. Quero bater uma pra minha chefe safada direto.
- Filho da puta - o tapa foi um choque no corpo de Laura. Um choque que não foi completamente ruim, mas o suficiente pra dar um susto. Ela soltou o braço dele no impulso.
- Vou voltar pra minha mesa agora. Divirta-se aí.