O fim de semana passou e não tive mais contato com Pedro. Faltou-me coragem para mandar uma mensagem, simplesmente porque não sabia o que dizer. Embora meus dedos coçassem para enviar ao menos um "oi" e esperar a reação a esse gesto simples, acabei cedendo à incerteza e me senti impotente diante da situação.
Comecei minha semana tirando algumas demandas que estavam em atraso. Conferi alguns e-mails, fiz alguns contados e nisso, a manhã de segunda ia passando aos poucos. Pouco antes das 12h, meu celular vibra. Pela tela do computador, que tem conexão com meu whatsapp pessoal, vejo que quem me mandava mensagem era Pedro.
De imediato abri. Não havia texto na mensagem, apenas algumas fotos que ele havia tirado de mim com meu filho, algumas de Erick sozinho e uma selfie de nós quatro na borda da piscina. Além disso, havia um vídeo, que parecia ter sido gravado durante uma turbulência, todo tremido. No vídeo, eu estava abraçado com Erick, cantando uma música em uma sessão de karaokê improvisado. Era engraçado de assistir. Nós estávamos nos entregando completamente no vocal, com uma intensidade quase cômica. Pedro e Felipe, ao fundo, vibravam e nos apoiavam com entusiasmo, rindo e aplaudindo nosso dueto desajeitado.
O vídeo termina quando a música chega ao fim, e foi aí que o desconforto começou. No último segundo, depois da última nota, Erick e eu trocamos um olhar rápido e, sem muita hesitação, demos um selinho. Algo tão breve que poderia ser facilmente ignorado, mas ali, naquele momento, com a lembrança fresca e as emoções à flor da pele, aquilo parecia carregar um peso maior do que deveria. O que para mim havia sido apenas um gesto espontâneo e leve, agora, ao ver a gravação, parecia ganhar outra dimensão.
Eu encarei o fim do vídeo por mais tempo do que deveria, sentindo uma mistura de vergonha, culpa e confusão. Afinal, o que aquilo poderia significar para Pedro? Será que Pedro também havia percebido e estava tentando me dizer algo com o envio desse vídeo?
Demorei alguns minutos para pensar no que responder. Abri uma nota no PC e ensaiei um texto:
“Fala Pedro!
Que dia foda, viu?
Espero que aconteça novamente, que nem combinamos”
Um texto simples, genérico, e ao mesmo tempo convidativo para uma resposta. Mandei, sem pensar duas vezes. Pedro logo começou digitar e então recebi a mensagem:
“Foi muito bom ter vocês aqui
E você esqueceu sua sunga e a de Erick, ein
Coloquei pra secar
Já fica aí o convite rs”
A resposta de Pedro veio rápida, quase imediata, e o tom leve me trouxe um alívio temporário. Por alguns segundos, pensei que talvez eu estivesse complicando demais a situação. O convite implícito no final da mensagem, com aquele "rs" descontraído, me fez sorrir, mas também acendeu uma nova onda de ansiedade. Será que ele estava sendo apenas cordial, ou havia algo mais por trás?
Respirei fundo e reli a mensagem algumas vezes. O clima era descontraído, e ele parecia realmente à vontade, mas o selinho no final do vídeo continuava ecoando na minha mente. Como Pedro encarava aquilo? Talvez, para ele, fosse insignificante, apenas parte da brincadeira, ou... talvez não.
Resolvi seguir o fluxo leve que ele havia proposto. Respondi com o mesmo tom:
-Hahaha! Valeu por cuidar da nossa bagunça! Pode deixar que a gente volta logo pra buscar as sungas... ou pra esquecer mais alguma coisa rs.
Enviei a mensagem e fiquei olhando para a tela, não acreditei que havia interagido assim, como se esperasse alguma revelação imediata do que viria a seguir. Mas Pedro apenas reagiu com um emoji de risada e um "Combinado!". A interação parecia encerrar ali, sem drama, sem confrontos — exatamente como ele havia conduzido o dia todo, com leveza e diversão.
Mesmo assim, o selinho do vídeo ainda me pairava no ar, e eu não conseguia evitar a sensação de que, para mim, aquilo significava mais do que Pedro estava disposto a admitir.
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Os dias seguintes passaram com a rotina habitual, o trabalho me ocupava e desviava meus pensamentos e preocupações, que talvez fossem apenas problema apenas em minha própria realidade.
Erick, que agora dormia sempre comigo, estava bastante focado com o final do bimestre que se aproximava. Mesmo passando o dia todo na escola, começou a chegar em casa e tirar uma hora de estudo. Ele me dava muito orgulho. Era a cena mais linda o pegar no quarto, estudando em sua mesa, vestindo apenas uma cueca ou no máximo uma bermuda. O contraste entre a pele dourada pelo sol e os pelos mais escuros parecia reforçar o fato de que meu filho não era mais uma criança.
Era incrível ver o quão disciplinado ele estava, mergulhado em seus estudos, focado em manter boas notas. Erick me dava muito orgulho com sua dedicação, algo que, sinceramente, eu não esperava que ele levasse tão a sério. O esforço que ele colocava nos estudos era admirável, e muitas vezes eu passava pelo seu quarto apenas para espiar essa cena: ele concentrado, com o corpo relaxado, mas a mente claramente ativa, absorvendo o conteúdo que precisava para as provas. Às vezes, me sentava na cama enquanto ele estudava, apenas para estar presente, e ele não parecia se incomodar com isso.
Conseguiria ficar horas por ali. Minha mente vagava em pensamentos de admiração e de tesão pelo meu pequeno. Por vezes me pegava excitado, desejando-o, querendo que chegasse a noite novamente para ter desculpa de abraçar e envolver seu corpo ao meu.
Não sabia por quanto tempo eu o teria assim, além de filho, um amante inesperado. Ele poderia arranjar um namorado a qualquer momento ou simplesmente perder o fascínio pelo incesto. A incerteza pairava no ar, como uma névoa que nunca se dissipa completamente. Cada momento juntos era precioso e, ao mesmo tempo, carregado de uma tensão silenciosa. Precisávamos aproveitar ao máximo o que tínhamos, enquanto lidávamos com a complexidade das emoções envolvidas. O que quer que acontecesse no futuro, o presente era um espaço onde ambos buscávamos entender e explorar os limites do nosso vínculo, sem saber o que nos aguardava.
Quebrei o silêncio do quarto de Erick mencionando que estava com fome e que prepararia nossa janta. Me conduzi para cozinha, pegando meu celular que se encontrava na sala. Ainda caminhando, olhando as notificações, me deparo com uma nova mensagem de Pedro:
“E aí, Caio
Topa um café amanhã?”
Fiquei eufórico no mesmo instante, questionando-me se Pedro estaria disposto a falar sobre nosso beijo ou pela interação que tive com Erick, dando um selinho no meu filho, momento este capturado em vídeo.
Coloquei o celular na mesa da cozinha e comecei a preparar o jantar, o fervor das panelas acompanhando o turbilhão em minha mente. O que Pedro queria discutir? A possibilidade de um novo encontro era um convite para uma conversa mais profunda e talvez até para esclarecer o que realmente significava aquele beijo e o impacto que estava causando em nossas vidas.
Enquanto mexia no molho, uma sensação de ansiedade e expectativa misturava-se com o aroma dos temperos. A ideia de encontrar Pedro novamente era ao mesmo tempo reconfortante e inquietante. Precisava de uma resposta clara, algo que nos ajudasse a entender melhor o que estava acontecendo entre nós e como isso estava afetando nossas famílias.
Erick entrou na cozinha, distraído por um jogo no celular. Observou-me por um momento antes de falar:
-O que está preparando para o jantar, pai?
-Um pouco de tudo — respondi, tentando manter a calma.
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Após o jantar, enquanto Erick e Felipe conversavam animadamente sobre algum plano através do whatsapp, eu aproveitei a oportunidade para enviar uma resposta a Pedro, tirando ele do vácuo.:
“Claro, Pedro. Que horas você prefere?”
A resposta de Pedro chegou rapidamente:
“Que tal às 10h? Acho que precisamos conversar.”
A palavra “precisamos” carregava um peso significativo. Na manhã seguinte, me preparei para o encontro com um misto de nervosismo e esperança. O café que estava prestes a tomar com Pedro poderia ser a chave para entendermos melhor nossos sentimentos e o caminho a seguir. Afinal, havia muito em jogo, e uma conversa franca poderia ajudar a esclarecer e, talvez, resolver as tensões que surgiram.
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Entrei no café com a mente agitada. A manhã daquele sábado estava fresca, mas o peso da expectativa fazia meu corpo inteiro parecer mais pesado. Sabia que a conversa com Pedro seria delicada, talvez até desconfortável, mas ao mesmo tempo, havia uma estranha urgência dentro de mim para ouvir o que ele tinha a dizer. A noite anterior havia sido cheia de reflexões internas, principalmente sobre minha preocupação com meu vídeo junto ao meu filho, isso, somado ao beijo entre mim e Pedro na festa, criava uma tensão que precisava ser resolvida.
Pedro já estava lá, sentado em uma mesa mais afastada, de frente para a janela. Ele parecia concentrado, talvez um pouco nervoso também, mexendo no celular, mas levantou a cabeça assim que me viu entrando. Seu olhar encontrou o meu por um breve momento, e um sorriso curto e apertado se formou em seus lábios, como se estivesse se preparando para uma conversa que ele sabia que seria séria.
Caminhei até ele e nos cumprimentamos com um aceno de cabeça. Sentei-me à frente dele, sentindo o peso da expectativa aumentar a cada segundo de silêncio que se prolongava entre nós. Pedi um café rapidamente, mas percebi que Pedro não tinha intenção de esperar muito para entrar no assunto.
-Caio, eu... — Ele começou sem rodeios, sua voz baixa, porém firme. -Eu preciso te perguntar uma coisa. Sobre aquele vídeo. O selinho que você deu no Erick.
Ele me encarava com um olhar sério, mas não de julgamento, como se estivesse realmente buscando entender, ou talvez, como se já soubesse o que eu estava prestes a dizer.
Meu corpo ficou tenso por um momento. Eu já esperava que ele fosse trazer isso à tona, mas ainda assim, ser confrontado diretamente me deixou um pouco desestabilizado.
-Foi só um gesto de carinho, Pedro- disse, tentando manter a calma e a clareza na voz. -Eu e o Erick sempre fomos muito próximos, e esse tipo de afeto, agora, faz parte da nossa relação. Não achei que fosse algo que precisasse de tanta atenção.
Pedro continuou me observando em silêncio por um momento, como se processasse minhas palavras. Ele respirou fundo, e, quando finalmente falou, sua voz era suave, mas carregada de algo mais íntimo.
-Felipe foi quem me mostrou o vídeo- confessou, sem desviar o olhar. -Ele me disse que eu devia falar com você sobre isso. E a verdade é que… eu entendo o que você quis dizer. Porque eu também tenho esses momentos com o Felipe.
Fiquei surpreso com a sinceridade de Pedro. Eu olhei para ele, tentando entender até onde ele confessaria.
-Como assim?- perguntei, tentando manter minha voz neutra, mas claramente curioso.
Pedro mexeu na xícara de café à sua frente, talvez buscando as palavras certas, antes de continuar.
-Felipe e eu também temos uma relação muito próxima. Muito mais do que a maioria das pessoas acharia normal para pai e filho. — Ele fez uma pausa, como se sentisse o peso de cada palavra que estava prestes a dizer. -Às vezes, essa proximidade envolve momentos de carinho que, se vistos por outros, poderiam parecer… incomuns. Mas pra mim, é só uma maneira de demonstrar afeto. Só que o Felipe, ele é mais aberto em relação a isso. Ele me encorajou a te contar, disse que seria importante ser honesto com você, porque ele viu como você e Erick também têm algo assim.
As palavras de Pedro flutuaram entre nós, pesadas e significativas. Não havia julgamento, nem medo em sua voz, apenas uma confissão de algo que ele vinha carregando e que agora, talvez por influência de Felipe, sentia que precisava compartilhar.
Eu respirei fundo, tentando organizar meus próprios pensamentos. O que Pedro descrevia era algo que eu entendia profundamente. Havia uma ligação entre mim e Erick que transcendia o que era visto como "normal" na relação entre pais e filhos. E agora pedro confessara, ele e Felipe também exploravam essa mesma fronteira, de uma maneira que desafiava os limites que a sociedade normalmente impunha.
-Eu acho que nossos filhos são mais livres do que nós- falei, finalmente quebrando o silêncio que se seguiu à revelação de Pedro. -Eles não têm essas barreiras que nós crescemos acreditando que existiam. O que para eles é um gesto de carinho, pra gente pode parecer algo cheio de significados complicados. Mas talvez não seja tão complicado assim, no fim das contas.
Pedro concordou, lentamente.
-Eu pensei muito nisso, Caio. O Felipe é tão… seguro de quem ele é, do que sente. Ele não vê problema em demonstrar afeto, mesmo que seja de uma forma que os outros possam estranhar. E ele me disse que, vendo você e o Erick, ele se sentiu… compreendido. Como se ele e eu não fôssemos os únicos a ter essa relação.
Aquilo me fez refletir por alguns instantes. Nossos filhos estavam nos mostrando que havia uma maneira diferente de ver o amor, o carinho, e a intimidade entre pais e filhos. Uma maneira que, para eles, não precisava de tantas explicações ou limitações.
-Talvez a gente tenha mais a aprender com eles do que imaginamos, Pedro — falei, num tom quase de epifania. -Se Felipe te incentivou a me contar, é porque ele vê isso como algo bom, algo que pode nos aproximar, de certa forma.
Pedro sorriu, um sorriso leve que parecia aliviado. Havia algo reconfortante na ideia de que não estávamos sozinhos nessa experiência. Nossos filhos, em sua própria liberdade, estavam nos guiando para um entendimento maior sobre o que significava ser pai e filho, e o que era aceitável na expressão desse vínculo.