Eu amo meu marido.
Estava no estacionamento com a gang inteira, todos para visitar meu marido e dizer que ele é um idiota. Ricardo estaciona e diz que quer ver o vídeo do começo, pergunta se quando ele fala que ama os garotos, se isso também o incluí, Jonas o abraça e diz que sim e ele sabe que sim, diz que ele é o sobrinho que nunca deu trabalho, o que só dá alegria, a gente ri, Ricardo fica irado do jeito dele, junta os dentes com força, Hugo diz que além de tudo ele tem um pau bonito, é um gostoso e “tio Conrado” é um tarado bem sucedido sexualmente, não ia dispensar um novinho cheio de talento e potencial, foi isso o que disse Jarbas enquanto comia e era comido por Rick, eles fazendo essa putaria sem esperar para depois de jantarmos, na porta da geladeira, uma delícia.
Jarbas estaciona perto de nós e vem ver o que estávamos fazendo, Daniel e Noah estavam com ele, mostro o vídeo, Daniel pede para eu enviar para ele, os dois, o meu porque é bonito, o segundo porque ver Conrado com a crista baixa, sem mandar, ao contrário, pedindo, implorando... É um fato histórico e estava bem documentado. Noah chama Jarbas de meu bem (que bom...) e diz que o vídeo poderia estar num cartão de memória, colado dentro do Buda, pra... ver se Conrado pega a vibe. Concordamos no meio de uma gargalhada, menos Hugo, ele diz que sendo como for era a babaquice de Conrado que deixou a negona lá no inferno que a parta porque eu estava indo devagarinho para os braços dela, diz que o ciúme de Conrado seleciona quem pode e quem não pode chegar perto de nós, e a gente sente as investidas, não pra nos levar pra cama, mas pra nos agarrar e nos separar, ele lista Estela tentando convencer ele e Jonas a continuarem com ela, exclusivamente com ela, a negona ricaça e eu, o pilantra da portaria e “tio” Daniel, Daniel faz cara de paisagem, Hugo diz que Conrado faz umas babaquices, mas estava longe de dizer que ele é um babaca. Nada de Buda para acalmar Conrado.
Ele diz que estamos atrasados, a gente fica esperando na frente da secretaria, ela diz que o Dr. Felipe odeia estudantes, devemos ser muito bons, Ricardo diz que somos péssimos, só Jonas é mais ou menos, deve ser algum tipo de aposta que Dr. Felipe perdeu, ela gargalha, diz que ouviu numa série a frase, “um homem inteligente finge ser burro, uma mulher inteligente finge que acredita”, diz que a frase se encaixa, minutos depois ele chega e nos olha carrancudo, entra e passa um tempo gritando com a secretária, não ofendendo ela, perguntava a ela como ela suporta tantos idiotas, ela ria, a gente fica meio sem saber se os idiotas éramos nós, ela sai e ele nos faz esperar por quase uma hora, Ricardo diz que isso era mais difícil que a prova de cardiologia. Ela gargalha.
Passamos uma ronda pelo setor de cardiologia, ele adverte que se olharmos na cara do paciente X vai nos fazer ser sermos reprovados em cirurgia cardíaca não importa o quanto estudemos, olha pra mim e diz que sabe que quero ser endocrinologista, mas isso pode mudar, ele quer um time de babacas que o obedeça cegamente e que faça do hospital uma residência médica em cardiologia e cirurgia cardiológica, diz que meu ideal é bom, mas o seu é talvez melhor. O paciente X é Conrado, entramos naquele quarto quase uma da tarde, ele estava comendo ainda, fala conosco e a gente ignora, Dr. Felipe diz que está nos torturando, passamos o caso, falta três dias de antibiótico, sugiro um ultrassom para observar a cicatrização e digo que sei que o paciente teve de ser sedado porque não obedece regras e se exaltou, nosso chefe diz que vamos fazer o ultrassom sim, pergunta o que devemos fazer caso o paciente se exalte novamente, Jonas diz que proibir visitas, comunicação com a fonte perturbadora e me empurra de levinho, deixar o paciente isolado.
Conrado respira fundo e vê que é sério, ele diz que provavelmente vai ficar em isolamento, mas precisa de algumas coisas, a primeira era sentar, odeia ficar deitado, embora precisasse. Sentado ele diz que Noah e Daniel estavam desempregados há anos, complicado e estavam em sua primeira semana de trabalho, Mateus está se desdobrando com Jarbas entre trabalho e ficar com ele, mas há quatro escrotos desocupados em casa e tem certeza que colocaram um videogame na única televisão da casa, Conrado pede para um de nós quatro fazer turno e liberar os adultos para trabalhar, Ricardo é lento com piadas e diz que somos todos adultos. Dr. Felipe ri e diz que concorda, Ricardo a noite depois Hugo, eu e Jonas. Nos dá quinze minutos livres com meu marido, eu vou direto em sua boca, a gente se beija e minha mão entra por baixo de sua roupa, toco o curativo de sua cirurgia, depois Hugo me interrompe diz que salvou o babaca, eu acabo rindo e isso interrompe o nosso beijo, ele chama Conrado de imbecil e diz que no verão há de lhe dar um murro no peito, passa a mão no rosto dele e olha pra mim, Conrado diz que queria se desculpar por... Huguinho o beija, um beijo bem depravado, diz que não queremos falar sobre o assunto, mas pede um podcast pra todo mundo entender o que houve (foi o último áudio que ouvimos juntos), depois o beijo em Jonas e por fim Ricardo que sem pudor algum segurou o pau de meu marido enquanto lhe beijava, cheirou a mão e disse que é mais gostoso que o cheiro de Daniel, mas me chamou de sortudo, eu ia falar alguma coisa, ele diz que sempre soube que era gay, contou aos pais antes de saber o que era sexo.
Meu marido pede para deitar, e depois quer ouvir a história de Rick. Ricardo continua, diz que os pais tentaram diversas curas gay, nos processos descobriu o autismo, como ele nunca foi espalhafatoso perdeu a atenção dos pais e seu amor também, havia um casal de filhos normais e saudáveis, deixaram ele de lado, agora tentam se aproximar, mas ele entrou e saiu da adolescência sozinho, se dá bem com eles, mas deixa claro que não quer muita aproximação, os pais acham que é o autismo, não é, é amor próprio. Disse que era virgem, que a primeira vez foi na porta da geladeira com Jarbas, eu falei que ele poderia ter uma primeira vez mais legal, a sós na fazenda, ele riu de mim, foi com um cara que ficou de pau duro quando se beijaram, um cara gostoso, mais velho e bem bonito, fez tudo sendo respeitado, na frente das pessoas que amam, todos faziam piadas e davam opinião sobre o que estava acontecendo, disse que só faltava “tio Conrado”, Noah diz que Rick é bem maluco, não sabia se era mais sem noção que Conrado ou menos.
Jonas pergunta porque ele nunca contou que era gay, Ricardo diz que achou que estava óbvio, olhou para Jonas e para Hugo e soube de cara que eram gays, se aproximou de ambos pra ver com qual dos dois podia namorar, um era mais malhado e descolado, mas tinha namorada e fazia questão de se esconder no armário, o outro era muito tímido, ainda mais que ele, nervosinho e magrinho, e era negro, acabou descobrindo que era bem dotado. A gente não acreditou, perguntou se eu não havia notado de primeira, não.
Conrado teve alta, fui eu que retirei os pontos, aprendemos a fazer cada procedimento na cardiologia, recebemos gritos de fisioterapeutas, queixas de técnicos de enfermagem, acompanhamos cirurgias e fomos para o faturamento entender os custos de cada erro e quanto faturamos com nosso serviço, porra, eu adoro estar fazendo isso. Mateus é meu endocrinologista, meu médico, ele só me consulta no trabalho, sempre me deixa por último e sempre me fode a boceta lá, em casa só me fode no cuzinho, ele me come e pede para eu ir vê-lo no trabalho, coloca as mãos na minha xoxota e diz que quer me comer o bucetão, fico louco, digo que ele pode me comer na hora que quiser, ele diz que a endocrinologia pede isso, usar minha boceta, tem um cardiologista me cortejando para um programa incrível de trabalho, ele quer me encantar com as histórias da sua sala de espera, enfia e retira o pau bem devagar de meu cu, eu gemia com suas mãos apertando meu pescoço e ele dizendo que ama esse veadinho.
Eu e Ricardo, Ricardo e eu, veadinhos, Ricardo até gosta de meter, mas o negócio dele mesmo é dar, às vezes ele chega ao orgasmo com o pau mole, os caras deliram, eu sei bem o que é isso, sou um deles, estava no supermercado, estava escolhendo uma espuma de barbear, não encontrei a que usávamos e aí um cara se aproximou, disse que eu era bonito, pergunta se eu estava a fim, disse que ia ao banheiro, chupei o cara, gostoso, ele avisou que ia espirrar e eu disse que tinha de ser na minha boca, ele se despediu de mim com um tchau, entrei no mercado e beijei Daniel e ele sentiu o gosto de minha língua, mostrei o cara, Daniel se aproximou e dessa vez fomos os três ao banheiro do atacarejo, Daniel foi chupado e depois meteu a seco no cu do cara, disse que tava a boca do cara e meso assim fizeram um barulhão, tomamos um café na lanchonete do lugar, ele disse que era casado, nunca fez esse tipo de coisa, lugar público desconhecidos, mostrei uma foto de Daniel, Conrado e eu, um trisal, jogo aberto, perguntei se ele queria pegar o nosso telefone, ele soltou a mentira que era de outra cidade (sei... atacarejo como firma de turismo... sei...).
Lá por outubro, Dr. Felipe disse que ia levar um vinho que descobriu e dois amigos. Conhecemos Danilo e Israel, caramba, parecia que a nossa forma de vida estava validada, Israel tinha um negócio de jogar o cabelo para trás, mas esses eram os amigos com quem não transamos. Dr. Felipe pede para Danilo comprar a casa dos meus pais e derrubar, fala de montar um posto de gasolina e dar para não sei quem tomar conta, ele revira os olhos, diz que ele gosta de fazer caridade com o dinheiro alheio, Dr. Felipe diz que não queria não, mas agora queria, diz que quer um apartamento maior para a gente, somos nove, eles tem problema de espaço na casa deles, imagina... Israel diz que está decidido, Danilo ia ajudar, só não sabia como, beija o que parecia ser o dono da grana, eu achei que nunca iria conhecer alguém lindo como Jarbas, existe Danilo, eles vão pra saída e perto de o elevador chegar Israel olha para Jonas e diz que só percebeu que ele havia sido mulher por conta das mãos femininas. Ganhei meu dia, ganhei meu semestre. Jonas ficou irritado por uma semana.
Sei que tenho vindo menos à terapia. Mas sinto que não tenho questões dentro de mim. Talvez eu volte, sei que essa coisa de fazer podcast tem funcionado entre nós, Hugo fez um e ouvimos na hora do jantar, ele falava sobre si e a gente tomava sopa, depois foi Mateus lamentando a paternidade, depois ele pedia a Noah e a Jarbas para usarem uma aliança, algo que o marcasse como tendo um compromisso. Noah fez um símbolo, uma imagem de uma árvore cujo trono era o corpo de um homem, todos tatuamos abaixo do braço, chorei, Conrado mandou eu deixar de ser mulherzinha.
Porra, eu amo meu marido.
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