Havia se passado dois meses desde que Mateus saíra de casa a pedido do próprio Luis nada a respeito dele ou do acontecido era dito naquele apartamento. Luis ainda acreditava na sua volta, e por isso havia decidido dar o tempo que fosse necessário para ele superar aqueles problemas. Enquanto isso os laços de amizade entre Nando e Luis haviam se estreitado, ambos já não se detestavam e principalmente agora que Nando namorava Jacqueline a estagiária do escritório de Fred e Luis.
Nando conheceu a moça em uma reunião de trabalho que aconteceu no apartamento de Luis parecia até amor a primeira vista, no dia seguinte os dois já estavam saindo e com uma semana já haviam oficializado o namoro, e isso incluiu até mesmo troca de alianças. Por mais estranho que lhe parecesse Luis achava a idéia de Nando namorar boa, acreditava que assim tiraria da mente de Mateus e da sua também qualquer chance entre os dois.
Era uma terça-feira de outubro quando Luis chegou do trabalho em casa, estava cansado, Fred o havia acompanhado, pois Talles já dormia no apartamento há uma semana e preocupado como todo irmão mais velho resolveu ir buscá-lo. Luis já havia telefonado para Marco e avisado, para evitar que Fred visse algo que Talles e ele não desejavam.
Por mais amigos que fossem Luis e o próprio Talles temiam a opinião de Fred ao descobrir sua homossexualidade e por essa razão nada disseram.
Assim que Fred e Talles foram embora, Marco também saiu, iria ate a casa de Vic fazer um trabalho escolar, Kaio já estava lá como de costume, então Luis acabou sozinho em casa.
No quarto, tirou apenas o paletó e o sapato de se jogou na cama, a cada dia que passava parecia se acomodar mais e mais naquela rotina escritório-casa, casa-escritório. Estava deitado na cama com os olhos fixos no teto quando o interfone tocou. Dificilmente o porteiro fazia isso, havia uma lista de nomes autorizados a subir sem avisar, e mais difícil ainda era receber a visita de alguém que não estivesse nesta lista.
Meio sonolento e preguiçoso Luis caminhou até a cozinha onde ficava o interfone. Antes de atender ainda bocejou vagarosamente.
Luis: Pois não seu José?
José: Boa tarde seu Luis, tem uma senhora aqui embaixo querendo falar com o senhor, posso deixar subir?
Luis: Pergunte o seu nome, por favor!
José: Ela disse que se chama Eulália!
Luis: Estranho, não conheço ninguém por este nome... Deixe-a subir seu José, fiquei curioso agora.
José: Agora mesmo!
Luis: Boa noite seu José!
Enquanto esperava a visita da mulher misteriosa, Luis procurava na memória alguém por nome de Eulália, não se recordava de ninguém a não ser uma professora de quando cursava a oitava série, mas isso foi há muito tempo atrás, não havia razão para uma professora de química procurá-lo depois de dez anos.
Logo batidas quase surdas saiam da porta, Luis estranhou aquela forma de bater, e pela demora apostava que a mulher subiu pelas escadas, se olhou no espelho do corredor e viu que sua roupa estava muito amassada, mas ficou com preguiça de trocar-se e abriu a porta. Diante dele surgiu uma mulher estranhamente bonita, devia ter por volta dos seus quarenta e cinco anos, era loira tingida, usava um vestido azul super apertado ao corpo e seu rosto lhe parecia familiar principalmente os olhos, olhos verdes esmeralda.
Luis: Pois não?
Eulália: Vamos, me chame pra entrar mocinho!
Luis: Desculpe-me, vamos, entre... Sente-se... A senhora deseja alguma coisa?
Eulália: Água, por favor!
Não era isso que Luis realmente perguntou e mesmo achando tudo aquilo estranho foi à cozinha e trouxe um copo de água gelada para a senhora que tinha um sorriso lindo que havia encantado o rapaz.
Luis voltou e se sentou diante a mulher. Ficou um pouco constrangido ao ser observado tão descaradamente por aquela mulher desconhecida. Eulália após beber lentamente o líquido posto a sua frente resolveu iniciar a conversa.
Eulália: Bom você deve estar se perguntando quem é essa perua que eu nunca vi e que se quer se apresenta a mim e já invade a minha casa...
Luis: De maneira alguma, penso algo do tipo, a senhora é muito elegante, e esta longe de ser uma perua, e também tenho a certeza que há uma boa razão para a vossa visita.
Eulália: Muito bem rapaz, eu vou ser direta, meu nome é Lia, Eulália foi só um nome qualquer que eu inventei para o porteiro... Engraçado, me parece que já lhe conheço há muito tempo meu caro Luis.
Luis: Pois eu não me recordo da senhora, reconheço que há algo familiar na senhora, mas não consigo determinar o que é... E também não compreendo o porquê mentir sobre seu nome!
Lia: Pois bem, eu menti por que aquele porteiro já me conhece, apenas não me reconheceu por causa do meu novo cabelo. Da última vez que aqui estive eu era ruiva, se dissesse meu nome ele se recordaria de quem eu sou e avisaria certas pessoas que não podem jamais saber que aqui estive...
A cada palavra que saia da boca daquela senhora tão elegante assustava um pouco Luis. Porque mentir, porque se passar por outra pessoa, quem eram essas pessoas que não podiam saber de sua visita? Eram tantas perguntas na cabeça de Luis que ele se quer ouviu o que a tal senhora havia acabado de dizer.
Luis: Perdão o que a senhora disse mesmo?
Lia: Rapaz eu não tenho tempo a perder, então, por favor, vê se presta atenção... Eu disse que eu sou sua sogra, sou a mãe do Mateus, do Fernando e da Victoria... E mesmo contrariada estou aqui para pedir a sua ajuda!
Luis: Eu não entendo, o que a senhora quer comigo?
Lia: Olha rapaz eu não estou aqui porque quero, mais sim para salvar o meu casamento...
Luis: Agora que eu entendi bulhufas, como eu poderia ajudar a salvar o seu casamento?
Lia: Simples garoto, você desvirtuou o meu filho, ou melhor, os meus filhos, pois saiba que sei de tudo que acontece com eles, e a isso incluiu o fato de você ter ido pra cama com o meu filho mais velho. Mesmo assim, cá estou para pedir que por tudo que você ama... Pelo amor que um dia você jurou ao meu filho vá buscá-lo de volta pra cá... Desde que vocês brigaram, eu não tenho paz, o Ric vive trancado no quarto, e quando sai é pra discutir com o pai dele, eu não suporto mais isso, é todo dia a mesma coisa, meu marido dizendo que não quer um invertido na casa dele, o Ricardo dizendo que ter um pai como ele é o mesmo que ser condenado à morte, você não imagina a decepção ao ver que eu fracassei como mãe...
Luis: Espera minha senhora, eu até iria deixá-la falar às abobrinhas que quisesse, mais antes que ofenda quem não está aqui, eu vou dizendo que não desvirtuei ninguém, pelo contrário foi o Mateus que me mostrou o quanto eu estava errado acreditando ser hétero. Foi com ele que descobri o que é o amor de verdade, o seu filho é uma excelente pessoa, ele me tirou de uma inércia que se quer sei descrever, seu filho é um herói pra mim, é muito mais que um namorado, é meu companheiro, meu parceiro, meu amigo e meu irmão, então não ouse dizer que fracassou apenas por ter um filho gay, Ric, Ricardo ou Mateus não importa como se refiram a ele, o que eu sei é que pra mim ele é meu amor... Não sei se lhe agradeço por tê-lo criado, ou se agradeço ao Nando já que a participação da senhora na criação dele foi mínima...
Lia: Agora é você que esta me ofendendo rapaz!
Luis: Me desculpe, não tive a intenção, mas venhamos e convenhamos à senhora e o seu esposo nunca foram pais de verdade para o Mateus, vocês só souberam a pouco o que acontecia com ele, e agora vem me acusando e afirmando saber de tudo... Fique sabendo que mesmo não concordando com você eu vou buscar o meu amor sim, não para ajudá-la, mais sim para salvá-lo de vocês, agora eu entendo por que o Nando é um brutamonte que só pensa em si, o Mateus é um viciado melancólico e a Vic uma roqueira maluca, isso tudo foi apenas o jeito que eles encontraram pra escapar da vida medíocre que levavam junto com uma pessoa mais medíocre ainda.
Lia: Olha aqui seu... Seu...
Luis: Bicha? Viado? Gay? Baitola? Enrustido? Afrescalhado? Não importa o adjetivo que a senhora arrume, não vai conseguir me ofender, agora, por favor, se retire da minha casa, por que a sua presença me enoja.
Lia: Eu vou sim, mas escute uma coisa rapaz. Um dia você receberá a punição por brincar com os meus filhos, você acabou com a minha família...
Luis: A senhora mesmo acabou com ela, megera...
Lia saiu do apartamento de Luis bufando, mal se viu longe do genro e um sorriso diabólico se formou em seu rosto, a sua frente estava Fernando a cara de poucos amigos do rapaz não intimidava a megera indomada do interior.
Nando: Então você veio mesmo?!
Lia: Achou que eu iria deixar as coisas como estavam? Seria muito gratificante pra você não é Fernando? Sinceramente, você e o Ricardo merecem o que estão passando depois de se envolver com um ser desprezível como esse que mora aqui!
Nando: Se já fez o que veio fazer, por favor, vá embora eu não tenho nada pra falar com você ou com aquele outro lá embaixo!
Lia: Então viu seu pai... Bom eu vou sim, espere seu irmão. Ainda hoje ele vai voltar aos braços do amado... E você deveria pensar em fazer o mesmo, ou pretende continuar a vida toda sendo vizinho da coisa amada, sofrendo ao ver seu irmão desfrutar do que você mais deseja?
Nando: Você não sabe o que diz... Eu não lhe devo satisfação, mais fique sabendo que eu tenho namorada, sou hétero, não importa o quanto me acuse vou continuar a ser.
Outras afirmações ainda foram trocadas, mais isso não vem ao caso, naquela época era só isso que importava a Luis, e foi só isso que conseguiu ouvir atrás da porta. Por mais que Nando tenha negado, as acusações de Lia mexeram com seu coração, seria verdade que Nando o amava e só estava ali para ficar próximo a ele, não, não podia ser verdade, uma pessoa que ama não mente, engana e trai como ele.
Depois daquela visita, dois dias se passaram até que Mateus retornasse ao apartamento de Luis, o rapaz havia tentado ir até a casa de Lia, mas Nando e Vic o impediram, dizendo que Mateus voltaria por conta própria, ir até lá seria entrar na boca do lobo, seria traumático demais.
Por mais estranho que tenha sido à volta de Mateus, ainda levando em conta os motivos que causaram sua saída de casa, as coisas correram super bem, logo tudo estava resolvido, a paz havia retornado. Luis e Mateus se amavam novamente, como um bom dramalhão mexicano essa paz estava ameaçada.
Uma paz que surge do nada, sem discussões, sem que o passado bata a porta não pode durar, não pode ser simplesmente esquecido, e naquela noite Luis pensava assim, após esperar por Mateus até as quatro horas da manhã, alguma coisa o dizia que o namorado estava aprontando, pensava que uma nova armação do rapaz não poderia passar despercebida, uma nova discussão, uma nova briga e um novo rompimento, seria o fim daquela relação permanentemente.
Já era seis da manhã quando Mateus chegou, Luis estava na sala assistindo ao inicio do jornal na rede globo, em casa não havia mais ninguém. Luis olhou o namorado entrar e nada disse este por fim após se ver surpreendido caminhou até o sofá e deu um beijo na testa do namorado.
Mateus: Amor me desculpa se te deixei preocupado, eu estava com os meninos, o Kaio te confirma quando chegar, não pensa besteiras ta... Agora eu vou dormir e quando acordar, te conto que estava fazendo, tenho certeza que você vai gostar... Você vem?
Mateus estendeu a mão para Luis chamando-o para dormir, este ainda relutante pegou a mão do namorado e o acompanhou até o quarto. O sono veio rápido, e por mais que estivesse com raiva dormiu agarradinho a Mateus, era bom sentir o calor de sua pele e o cheiro de erva doce que tinha seus cabelos encaracolados.
Na manhã seguinte Luis acordou bem cedo, sua noite havia sido péssima, não sabia em que pensar, ou no que acreditar. Mesmo assim resolveu dar o beneficio da dúvida a Mateus e o deixou dormir o quanto quis. Enquanto estava no banho ouviu Kaio chegando em casa e assim que saiu do banheiro ainda pingando água pelo chão apenas com uma tolha na cintura correu até o quarto do irmão, colou a orelha na porta e ouviu gemidos femininos provavelmente de Vic e por isso resolveu não interrogar o irmão, estava louco para tirar a prova dos nove, mas apenas coube a ele esperar.
Ele assistiu os desenhos infantis de sábado, preparou o almoço e nada de Mateus ou Kaio acordarem, tentou ligar para Marco ou Talles, mas ambos estavam com o celular desligado, aquilo até parecia um complô contra ele. Já era quase uma da tarde, ele já havia almoçado sozinho e nada dos dois acordarem, pensou em ir até o apartamento de Nando, mas acabou desistindo da idéia. Deitou então no sofá e tentou ler um livro, mas a curiosidade não o deixava prestar atenção ao que lia. Acabou por fumar um maço de cigarros na sacada e nada dos dois acordarem.
Vencido pela curiosidade andou de um lado pro outro tentando acordar o namorado, mas nada surtiu efeito. Abriu as cortinas, deu descarga no sanitário com a tampa levantada, ligou a televisão e Mateus parecia uma pedra fixa na cama.
Tentou o mesmo com Kaio e nada surtiu efeito, deu uma faxina no apartamento, como se nunca o houvesse limpado, estava tudo no lugar, tudo limpo e seu corpo parecia pesado, cansado, suas juntas doíam. Vencido, finalmente se deitou no sofá e dormiu. Em seus sonhos via Mateus abraçado ora a Kaio, ora beijando Marco, outra vez deitado de conchinha com Talles e até de mãos dadas com uma garota desconhecida. Sua cabeça mesmo inconsciente trabalhava a mil por hora bolando teorias, tecendo idéias, cada uma mais mirabolante do que a outra. Em todas: o cansaço que sentia o impedia de fazer qualquer coisa para separar Mateus de seus amantes, era como se uma pedra o prendesse naquele lugar.
Lentamente o rapaz abriu os olhos e viu a razão de sua imobilidade mesmo no sonho, Mateus estava sentado em cima de sua barriga, ao lado Kaio sentado na poltrona com Vic no braço do móvel sorriam ao vê-lo ali derrotado.
Mateus: Hum que fofo meu namorido mimindo, achei que jamais iria desistir de arrancar de mim uma confissão...
Luis: O que? Você fingia dormir este tempo todo?
Mateus: Claro que não, eu dormia mesmo até o momento que você resolveu dar uma faxina geral no apartamento, sabia que um aspirador de pó pra alguém que esta de ressaca é o mesmo que bater na cabeça com um martelo, quase levantei e te xinguei.
Kaio: Ainda bem que tu aguentou mano, se não teria sido tudo em vão!
Luis: Tá de brincadeira, vocês todos estão envolvidos nesta presepada?
Vic: Claro né cunhado, a gente queria te testar a todo custo, e que bom que você passou, conseguiu dominar o seu ciúme e a curiosidade, mas de uma coisa tenho certeza sua cabecinha deve ter imaginado milhares de idéias horrendas contra a gente, não é?
Luis: Bem... Não contra você pelo menos, jamais te misturo a essa gentinha sem escrúpulos.
Mateus: Então se é assim a gentinha aqui não vai mais te contar o que estava fazendo ontem e com quem estava!
Luis: Ai não amor faz assim não, mais meia hora sem saber o que é eu juro que tenho um ataque de pelanca, e você não vai me querer todo pelancudo, né?
Mateus: Jamais né amor, então preparado pra saber o que era?
Luis: Fala vai, deixa de rodeios...
Mateus: Já que você insiste, ontem estávamos lembrando que o seu aniversario esta perto, então o Marco lembrou aquela história de fazer uma festa surpresa pra você, e sugeriu pra gente realmente fazer, só que eu achei errado fazer uma festa pra ti, sendo que semana passada foi da Vic, mês passado o Talles e o Kaio, e um mês depois do seu é o do Marco, então por isso sugeri fazer uma festa pra vocês cinco o que acha?
Luis: Ai... Era só isso? Poxa to dentro né, faz tempo que a gente não curte uma festinha todo mundo junto né? Pra quando é?
Mateus: Pro mês que vem, sábado dia 10, que tal?
Luis: Dois dias antes do meu niver?
Bom, os preparativos não irei narrar, mais essa festa marca as mudanças que levaram este conto ao fim.
Alguns dias depois, Cello (eu) estava comprando alguns CDs em uma loja do shopping quando viu entrar Marco acompanhado de Talles, fazia tempo que não os via e então foi falar com eles.
Cello: Marcola meu querido, há quanto tempo rapaz?!
Marco: Julinho seu fdp já disse pra não me chamar assim... E aí como vai?
Após os cumprimentos e a apresentação formal de Talles, a conversa entre os três amigos mudou de foco, e logo falavam sobre Mateus e Luis.
Talles: E aí fera você vai à nossa festa?
Cello: Festa... Que festa?
Marco: Uai, o Luis não te convidou pra nossa festa de aniversário?
Cello: Até agora não, e a gente conversa todos os dias praticamente, mais é a festa de aniversário de vocês dois?
Talles: Na verdade é pra comemorar os aniversários do segundo semestre saca, tipo o meu, o do Kaio, da Vic, do Marquinho e o do Luis também. A festa será dia dez próximo.
Marco: Estranho o Luis não ter te convidado, tanto Kaio quanto eu e o próprio Luis colocamos o seu nome na lista.
Cello: Ele deve ter se esquecido de comentar sobre isso comigo, mas a noite eu tiro a prova. Agora deixe ir por que ainda tenho que voltar pra minha cidade, só vim hoje por que tinha que fazer um exame de endoscopia.
Os três se despediram e Cello seguiu pra casa. A noite esperou que Luis entrasse no MSN para saber o motivo de ainda não ter sido convidado pra festa, mas o rapaz não apareceu online, e isso se repetiu por alguns dias seguidos.
Já no apartamento, ainda naquele dia do shopping, Marco havia acabado de contar a Luis sobre a conversa com Cello.
Luis: Porra veio você não devia ter falado pro Cello, que merda cara, como eu vou falar com ele agora, não dá pra contar a verdade...
Marco: Que verdade é essa mano, você deixou de convidar o Cello de propósito?
Kaio: Tá d brincadeira né mano, vocês são tão amigos, e eu acho ele massa de mais, por que não vai convidá-lo?
Luis: Não sou eu que não vai convidá-lo porra, é o Mateus ele exigiu que eu não o convidasse, até hoje ele acredita que fiquei com o Marcello... Só que a gente se quer se beijou alguma vez, ele me respeita muito e eu idem, mas isso não entra na cabeça do Mateus, e agora eu não sei com que cara vou dizer isso pro Cello, merda to fudido agora. Pra não contrariar meu namorado vou perder a amizade de um cara que eu adoro.
A decisão de Luis foi drástica, parou de se comunicar com Cello nos dias que antecederam a festa, não entrava no Msn e nem no Orkut, já Cello cansado de esperar algum sinal de Luis tentou ligar pra ele por diversas vezes e como não conseguiu nada resolveu procurá-lo no trabalho, alguma coisa lhe dizia que isso era culpa do horrendo Mateus.
Quando chegou a Goiânia, Marcello telefonou para Fred e como se não quisesse nada pediu o endereço do escritório onde ele e Luis trabalhavam.
Depois disso pegou um táxi e foi até o endereço dado para o amigo que certamente constava na lista de convidados. Quando chegou ao prédio, viu uma lanchonete logo em frente, ali entrou e ficou até ver Luis sair do escritório já na hora de ir pra casa. Rapidamente jogou algumas notas sobre a mesa e saiu atrás do rapaz, quase o perdeu quando ele já entrava no carro.
Cello: Luis! Mano espera!
Luis: Cello, opa rapaz o que você faz aqui mano?
Cello: Uai tava passando por aqui e te vi, escuta por que tu sumiste da net e o teu celular não da nada quando ligo?
Luis: E fera o meu modem queimou e eu ainda não tive tempo de comprar outro, mas sempre que posso entro escondido na comunidade pra ver o conto, ta demais, tem muitos leitores até mais do que eu imaginava.
Enquanto Luis falava, Cello pegou o celular no bolso e tentou ligar para o telefone de Luis, um bip baixo era ouvido e logo cessava, estava explicado não era preciso mais nada para que Cello entendesse o porquê da ausência do rapaz.
Cello: Precisa mentir não mano, tenho certeza que seu modem não queimou, assim como o seu celular também não, você simplesmente me bloqueou da sua vida não é? E por isso também não me convidou para a festa de aniversário de vocês, não é?
Luis: Não mano, não é assim... Porra, aqueles dois não deveriam contar sobre a festa...
Cello: Cara não se preocupa se você não me quer na festa, ou melhor, se não quer mais minha amizade, to de boa era só ter falado, não precisava ficar me evitando, ou você achava que eu não iria perceber?
Luis: Não faz assim mano, eu não quero perder sua amizade, mas tenta entender meu lado pelo amor de Deus!
Cello: Me explica então, por que a única coisa que eu sei é que você vai dar uma festa e não me convidou, e ainda me evita simplesmente para não ter que se explicar!
Luis: Foi o Mateus... Ele exigiu uma condição sobre esta festa, que eu não te convidasse. Se não te contei foi por que não queria me sentir mal, por me divertir e não convidar meu melhor amigo!
Cello: Pelo amor de Deus Luis, quantas vezes nós deixamos de sair juntos, ou mesmo de nos falar por causa desse ciúme besta do Mateus, se você tivesse batido a real comigo, nós não estaríamos agora aqui nessa situação embaraçosa, eu entenderia numa boa se você tivesse me falado...
Luis: Desculpa cara, eu sei que agi mal...
Cello: Esse é o seu problema Luis, você tira conclusões precipitadas demais, e depois acaba sempre pedindo desculpas...
Luis: Cara se você sabe que eu sou assim por que ainda insisti nessa amizade, se não te faço bem foda-se, amigos eu tenho de montão!
Cello: Meu serio não te entendo, você acaba de pedir desculpas por uma mancada e logo comete outra... Poxa tu é difícil mesmo, eu não estava reclamando da nossa amizade meu, eu estava apenas ponderando sobre um de seus defeitos, como qualquer amigo faz...
Luis: Amigo, que amigo não pondera, aceita as diferenças e as imperfeições sem reclamar?
Cello: Nem todo mundo é tão passivo como você cara, e além do mais agora quem diz foda-se sou eu... Você é um vacilão Luis, um tremendo de um idiota narcisista, prepotente, arrogante... Se fosse ator com certeza trabalharia na Globo, daria um ótimo protagonista de um drama do Maneco, muito meloso, dramático e falso...
Luis: Isso, mostra suas garras, mostra com que tipo de gente eu tava me metendo, o Mateus que tinha razão, você devia ta era interessado em mim, por que um gordo feio e nerd como você não consegue um macho de verdade. Você devia querer mesmo era que eu te arrombasse todo não é, confessa vai!
Cello: (risos) Você é mesmo um idiota, não sei por que eu quis ser seu amigo, mas tudo bem, não vou mais tomar o seu tempo, o gordo feio e nerd aqui vai pra casa entrar no bate papo e procurar outro otário corno conformado e passivinha do namoradinho revoltado e drogado. Quem sabe agora eu consiga fuder gostoso, né?
Luis depois de ouvir tudo aquilo ser jogado em sua cara, pulou contra Cello e o esbofeteou no rosto. Foram vários golpes seguidos, Cello mesmo pacifista como era também conseguiu acertar alguns socos no rapaz. As pessoas ao redor se aglomeravam desde o início da briga, ainda quando trocavam insultos verbais. Alguns aplaudiam e outros comentavam sobre os dois viados se esbofeteando.
Parecia que ninguém iria intervir e separar aquela briga, mas Fred que saia do escritório naquele momento correu até o local e puxou Cello de cima de Luis. O rapaz continuou deitado no chão e de sua boca descia alguns filetes de sangue, assim como do nariz de Cello.
Fred: Que porra é essa meu? O que aconteceu entre vocês, por acaso viraram bicho agora pra brigar assim na rua, feito dois gatos vira lata?
Cello: Pergunta pra esse desgraçado ai se você quiser Fred, por que eu não tenho mais nada pra falar!
Fred: Porra vocês dois eram super amigos, eu não consigo entender o que pode ter acontecido de tão grave pra terminar assim!
Luis: É tudo culpa desse viado!
Cello: Pois esse viado aqui ta indo embora, mas antes só te falo uma coisa senhor Luis Carlos, quando o seu namoradinho te trocar por outro DJ traficante não venha chorar suas pitangas pra mim, ouviu?
Fred: Que porra de papo é esse Cello?
Cello: Ah é! Você também é outro amigo de quem ele esconde algumas verdades...
Luis: Cala a boca Cello, você não tem o direito de falar da minha vida!
Cello: Tá na hora de você virar homem Luis e assumir o que faz... Pois fique sabendo Fred, que o nosso amigo ai é um tremendo de um viadão. Que ele e o tal Mateus dormem juntos, são casados por sinal, ele gosta de morder na fronha, de queimar a rosca, de apertar o parafuso com alicate, essa coca é fanta meu amigo! Isso não passa de uma bichona!
Luis já chorava enquanto Cello jogava mais algumas verdades no ar, além de Fred toda a multidão em volta permanecia calada de boca aberta ouvindo tudo o que Cello falava.
Cello: Você nem imagina o quanto esse cara tem uma vida torta, não falo por ser gay, mais sim por que ele é capaz de dormir com o cunhado, de usar uma garota pra provar sua masculinidade, de aceitar os chifres e ainda ser permissivo em relação ao uso de drogas do Mateus, cuidado hein, isso ainda pode manchar sua reputação, se fosse você o demitia!
Nesse momento Luis se levantou e correu em direção a outro rapaz, mas Fred se colocou entre os dois e com uma expressão de ódio no rosto, gritou.
Fred: Porra bando de urubu não tem mais nada pra vocês verem aqui, some antes que a policia chegue... E você Cello vai embora, já chega né, depois a gente conversa. Quanto a você Luis a gente vai conversar é agora.
Fred enfiou Luis dentro do próprio carro, entrou do lado do motorista e saiu guiando, Cello ficou lá na calçada remoendo tudo que havia dito, era inevitável as lágrimas surgirem, havia acabado de brigar com o melhor amigo por coisas idiotas e além de tudo havia traído sua confiança. Aquilo que havia sido confiado a ele em segredo, agora estava revelado, sentia-se um lixo, uma pessoa baixa, suja.
Fred dirigiu até um prédio no centro, Luis já conhecia aquele lugar, era o apartamento que Fred comprará quando veio morar em Goiânia, já havia estado ali algumas vezes, e a se ver arrastado pelo amigo para aquele lugar o assustou um pouco, não sabia o que Fred faria agora que sabia de tudo.
Já havia dividido as duchas do clube com o amigo, trocado de roupas um diante do outro, e outras inúmeras particularidades que só melhores amigos dividem, temia perder a amizade de Fred. Não lhe vinha na cabeça palavras suficientes para se explicar, dizer que não tinha nenhuma atração sexual por ele.
No apartamento Fred indicou um sofá velho e coberto por um lençol branco para Luis e sentou-se sobre a mesinha de centro, não havia dito nada o caminho todo, apenas olhava fixamente para Luis. Este por sua vez apenas chorava silenciosamente. Depois de alguns minutos naquela situação, vendo que Fred não tomaria partido e iniciaria a conversa Luis resolveu tentar se explicar.
Luis: Fred, por favor, me entenda nunca te contei por medo do que você iria pensar... Eu e o Mateus saíamos antes mesmo de eu te conhecer... Quando fui trabalhar pra você a gente tinha terminado e achava que jamais voltaríamos... O que Cello disse não é verdade, ele não me trai daquela forma... Eu sou gay sim, mas não sou permissivo ou o monstro que o Cello pintou, por favor, acredite em mim... Sobre usar uma menina, o que eu tive com Laila foi um erro, mas não a usei, eu juro, por Deus não acredita nele... Ta, eu confesso que fiquei sim com o Nando, mas na época estava solteiro, ele não era meu cunhado, e você não imagina o quanto eu me odeio por isso... E o Mateus não é um drogado, ele só se meteu com gente errada, mas superou isso... (choro e soluços altos) cara eu jamais seria capaz de fazer algo contra você ou que te prejudicasse. Poucas pessoas sabem de mim, somente os mais próximos...
Fred: Já chega Luis... Eu não estou chateado por você ser gay porra... O que mais me chateia e exatamente o que você acabou de dizer “somente os mais próximos (sinais de aspas com os dedos) eu sou o quê, merda? Achava que éramos melhores amigos, pelo menos era o que eu considerava você...
Luis: E você é Fred, me desculpe, eu devia ter te contado, mas é tão difícil, temi sua reação e...
Fred: Cara deixa eu te falar uma coisa... Eu sei que você é gay há muito, você nem imagina o que eu sei fera. Sei de você e Mateus, de você e Nando na chácara. Sei da vez que aconteceu com você e o Samir no estacionamento daquela festa... Porra, eu sei que você acoberta o namoro do Talles e do Marco. Meu, eu sempre soube, que irmão você acha que eu seria se não percebesse isso, ou melhor, que tipo de amigo eu seria se não soubesse sobre você? Cara, quantas vezes nos momentos mais difíceis da sua vida eu apareci pra te consolar, pra te dar um ombro amigo, mesmo sem você me contar nada. Sabe por que eu nunca disse que sabia? Por que, eu queria que você contasse pra mim quando estivesse preparado, não queria te forçar a nada, esperava que sendo um bom amigo fosse o suficiente, mas vejo que você não me considera tanto, por que esperou ate algo assim acontecer pra me contar...
Luis chorava agora, mais do que antes, os soluços o atrapalhavam e chegavam a bloquear a respiração, mas isso era mais um pretexto pra não dizer nada, não sabia o que dizer. Como se explicar agora, dizer que não confiava em Fred, ou melhor, que não confiava em sua masculinidade estereotipada que sempre transmitiu uma aversão aos gays?
Fred: Sabe como eu sei sobre você, sobre o Samir, Talles, Marco, Nando, Mateus e até do Cello?
Luis: Não.
Fred: Muito simples, eu já desconfiava desde aquele dia na boate, primeiro por que o Leo havia me contado que o irmão era gay, e quando descobri que você era o irmão foi fácil deduzir, e também o Samir nunca me escondeu nada, desde que eu comecei a namorar a Sanmia ele me contou que curtia homens e mulheres, e antes de ficar com o Talles pela primeira vez ele me perguntou se eu permitia, é claro que aquilo foi um choque, por que naquela época eu não pensava nem remotamente que o meu irmãozinho fosse gay, mas mesmo assim permiti, por que se é isso que o faz feliz, eu não serei contra. E ai quando você foi embora daquele jeito da festa, eu pressionei o Samir achando que ele tinha dado em cima de você e ele acabou me contando o que aconteceu. Mas eu só confirmei toda a história, no dia que o Marcello esteve no escritório pedindo ajuda com os documentos, no pen drive dele havia uma pasta escrita Luis, eu sei que foi errado, mas mesmo assim eu a copiei, lá havia o protótipo do conto de vocês, depois foi fácil achá-lo na internet, e desde então eu acompanho o conto diariamente, mesmo assim ainda esperava que você me contasse tudo. Aquele dia no bar, eu achei que você iria me contar, mas acabou desistindo. Cara eu sempre vou querer o seu bem, independente da sua opção sexual. Porra, e o Cello também, ele te adora como irmão, vocês não deviam brigar daquela forma!
Luis: Perdoa-me Fred, eu devia ter te contado mais isso tudo ainda é muito novo pra mim, às vezes nem eu acredito que sou gay, mas eu amo aquele moleque, eu amo o Mateus, ele me completa e me ama como ninguém nunca amou antes...
Fred: Daqui um abraço... E por favor, não me esconda mais nada, quero que me veja como o irmão que eu enxergo em você!
Os dois se abraçaram e Luis chorou mais ainda, a gola da camisa de Fred ficou empapada de lágrimas. Depois de muito tempo daquela forma Luis se desvencilhou dos braços do amigo e ainda chorando disse.
Luis: Você é sim meu irmão cara, e eu te amo por sempre me apoiar, e por ter esperado até eu estar pronto!
Fred: Então, já que eu sou seu mano mais velho, quero te fazer um pedido. Um não, dois...
Luis: Faça!
Fred: Primeiro não conte ao Talles que eu sei sobre ele, assim como deixei você vir a mim, quero fazer o mesmo com ele, não quero afastá-lo de mim.
Luis: Claro, eu entendo, mas acho que quando ele souber que você já sabe de mim e me aceitou numa boa, talvez antecipe a decisão dele.
Fred: Eu espero que sim... A segunda coisa que quero te pedir, é que procure o Cello e faça as pazes com ele, nós três somos amigos há muito tempo e uma amizade tão sincera como a de vocês não pode acabar assim!
Luis: Não sei se posso fazer isso Fred, ele me disse coisas terríveis, ele não tinha o direito de te contar tudo daquela forma, me envergonhar diante do meu local de trabalho...
Fred: Tenho certeza que ele teve suas razões, e também você não foi tão somente vitima não é? Você também disse coisas pesadas pra ele, e disso eu tenho certeza!
Luis: Você esta certo, eu sei que fui errado, que acabei provocando-o, mas isso não o livra dos erros, um dia eu acabo procurando ele, mas não acho que deva fazer isso agora!
Fred: Está certo, olha seu aniversário ta chegando né, sei que tem uma festa pra organizar, então façamos assim, tire o mês de folga, volte ano que vem mais tranqüilo. As pessoas que viram a discussão terão esquecido o fato, e você estará mais calmo pra falar com o Cello e se precisar eu te ajudo!
Luis: Mas e se você precisar de mim?!
Fred: Todo ser humano necessita de férias de vez em quando, eu pretendo tirar as minhas, depois do dia quinze, vou viajar para o Mato Grosso pra prestar um concurso, então não haverá trabalho até janeiro.
Luis: Ta certo vem eu te dou uma carona!
Luis tirou as férias sugeridas por Fred, e esperou chegar à festa do seu aniversário, ele acabou não ajudando em nada, Mateus disse que seria uma surpresa, por mais que fosse uma festa para todos os amigos, pra ele era muito mais, era uma festa especial, uma celebração da paz que reinava entre eles.
O dia da festa finalmente chegou, todos estavam no apartamento, iriam sair bem cedo para terminar os últimos preparativos, ficaria apenas Luis que iria somente à noite e os outros se arrumariam na casa onde seria a festa.
Antes de sair Mateus selou Luis e disse em sua orelha que o amava e à noite comemorariam muito aquele dia especial.
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Pessoal estamos chegando na reta final do conto, acredito que falte uns 5 capitulos ou mais!
Estou tentando fazer 3 postagem por dia, manha / tarde / noite!
Porem as vezes quando chega no fds não consigo postar! Então se eu manter o ritmo, acredito que até a sexta já vamos ter finalizado esse grande dramalhão mexicano!