04

Um conto erótico de Gui Real
Categoria: Heterossexual
Contém 1909 palavras
Data: 09/11/2024 19:51:18

Eu amo meu marido.

Acordei ao lado de um passarinho de origami e sob ele um bilhete de meu marido. Dizia que eu não quis acordar por nada, haveria O amigo dele lá fora (pedia para eu ficar a vontade, ele era a segunda pessoa que mais amava no mundo), mandava eu comer (eu não havia almoçado), mandava eu ligar pra casa e dizer que dormi a tarde inteira e havia acabado de acordar.

Peguei o celular e me assustei eram quase oito, liguei pra casa e falei com minha mãe, ela disse que meu marido me fez falar enquanto dormia, eu resmunguei que queria dormir e chamei ele de chato, ela riu e disse que a gente gosta de brigar, eu brigo com o coitado até dormindo, rimos um pouco, pedi a benção e desliguei, era minha primeira noite longe de meus pais.

Me vesti e sai para tomar um banho, o cheiro que vinha da cozinha era maravilhoso, um cheiro de pão de queijo e café, inconfundível. Fiquei em choque, foi ver quem era O amigo dele e fiquei sem chão. Eles mal e mal se falavam.

O médico do plantão do sábado, era ele. Ele me sorriu, estava ali de short jeans, descalço, sem camisa, com seus óculos redondos de John Lennon, a barbinha rala, o cabelo de franja comprida e suas incontáveis tatuagens que eu nem desconfiava que ele tivesse, sorriu e perguntou se eu queria comer e tomar banho ou banho e comer. Banho.

Me levou até o banheiro, mostrou o sabonete líquido, xampu, sabonete íntimo, absorventes, cotonetes, toalha limpa pendurada no box esperando por mim. Depois de apontar tudo disse que eu poderia chavear a porta para ficar mais segura se quisesse. Saiu, fechei a porta e passei a chave, mas por instinto, deixei sem chave depois. Demorei no banho e me perguntei em como eles se tornaram amigos.

Passei a mão no meu cuzinho e estava fechadinho novamente, mas respondia com dor à tentativa de invasão, uma dor ruim, uma dor que não queria toque nem argumentos, não queria, não deixava, não podia. Terminei o banho e coloquei um absorvente na calcinha que tinha de usar novamente, fiquei grata

Saí e me espantei com o amigo dele, enfim. Foi ele quem disse que a minha cara de espanto era hilária. Me disse que são amigos há dez anos, disse que estava morando na rua, trabalhava como pedreiro com meu marido, mas foi ajudado, meu marido disse que eram irmãos e acabou que a dona da pensão aceitou mais um, aceitou fazer um preço menor, ele era novinho, havia saído de casa onde os irmãos se drogaram e se prostituíam, não queria o mesmo queria ter uma cozinha com sopa do dia anterior (eu estava tomando naquele momento), café e pão de queijo. Contou sobre a amizade com meu marido.

Nenhum dos dois gostava de falar sobre serem irmãos porque ambos vieram de famílias péssimas, mas eram isso, passei para os pães de queijo, eu gemia com o sabor e isso fez ele abrir um sorriso de orelha a orelha, ele falou que comentou que queria voltar a estudar e seu amigo o obrigou, passou na Federal, a outra opção era passar na Federal, então ficou na primeira opção que era mais fácil que a segunda, eu ri, ele era naturalmente falador e engraçado, descobri das trepadas que deram juntos, fodendo a mesma mulher ou tentando dar conta de cinco de uma vez, eu ria pra caramba, perguntei das namoradas de meu marido, ele disse que herdou três delas, a casada e as lésbicas casadas entre si, com mais dois bolos que esse amigo tinha, tava foda foder sem suporte técnico, eu disse que ele dava conta, mas me senti roubando algo importante do meu homem.

Ele deve ter percebido, disse que meu marido estava na melhor fase de sua vida desde que me viu há quase dois anos, que foi se despedindo disso aos poucos, não foi de uma vez, como se aproximar de mim. Ele comparou a deixar um lugar em direção a outro, a medida que ele se despedia de uma fase de sua vida mais perto de mim ficava, e eu era tudo o que ele sonhou.

Ficou super vermelho e disse que ouviu o finalzinho, mas precisava pegar a carteira que havia esquecido em casa, foi flagrado quando meu marido saia do quarto em direção ao banheiro, se abraçaram e meu marido chorou dizendo que eu era mais do que ele esperava, mais do que sonhara, mais que perfeita. Eu chorei, sei lá, não esperava que tudo o que fosse dito fosse real.

Ainda não conversamos sobre planos para o futuro, filhos ou não, viajar ou juntar para um lugar só nosso. Falei sobre isso, ele falou que a gente tinha planos parecidos, que éramos muito próximos no jeito de pensar e sentir ou meu marido não teria insistido tanto por tanto tempo, eu disse que uma de nossas bases era a amizade, ele concordou. Falamos de mim, dele, de meu marido, da inveja que ele sente pelo carinho que meu marido tem por meus pais, gargalhei de verdade. Ficamos falando, limpado a cozinha, de repente meu marido estava abrindo a porta, junto com ele outro homem, o terceiro morador, não gostei dele, era mais novo, uns vinte talvez, irmão mais novo do médico, agora também meu amigo, tinha uns vinte, estudava computação ou algo assim, pelo que ouvi depois era boa gente, só que em outra frequência.

Jantaram enquanto nosso amigo falava que ia dormir, sábado são vinte e quatro horas de plantão. O rapaz disse antes dele sair que arrumou um emprego, ia assumir em umas semanas, assim que chegassem as férias, em outro estado, eles se abraçaram e depois meu marido se uniu aos dois disse que seria ótimo ele ir embora e ficar limpo, talvez para sempre careta, o rapaz concordou e me olhou com vergonha, baixei os olhos.

Arrumei as poucas coisas na cozinha enquanto meu marido tomava banho, conheci o mapa geral do mundo dele. Ele me buscou e fomos para o quarto, as malas dele no chão, fiquei nua e fui me deitar. Ele estava tão ou mais cansado que eu, me colocou de ladinho e ficou de conchinha, falou que nosso amigo estava com medo de eu não gostar dele e eles se afastarem, eu disse que preferia perder um braço a dar esse custo ao coração do meu amor. O pau dele reagiu na hora e eu me acendi no rabo, de ladinho, gel, o dedo dele entrou fácil, fiquei cismada, eu não consegui e meu marido... ele disse rindo baixinho no meu ouvido que água era um péssimo lubrificante, eu pedi para ele me encher de leite novamente, mas eu queria leite na boca.

Ele cuspiu na mão e passou na cabecinha apontou e retirou apontou para frente eu queria muito, ele também, mas ele recuou, não por medo algum, por estratégia, pegou o gel e lubrificou bem, entrou rápido e fácil, doeu sim, mas eu engoli o choro e matei as lágrimas, ficamos nos movendo como se fossemos serpentes, a cobra dele de tocaia dentro de meu buraco, ele não falava nada, eu também não, não era necessário, poderia ser falso, o momento não era de amor, era de cansaço, de tesão e de cumplicidade, o dedo dele sentia meu cabaço, forçava de leve, ele tirava minha mão de meu grelinho e dava tapinhas na minha boceta, eu engolia os gemidinhos e os gritinhos também, havia outros homens em casa.

Ele se levanta rápido e eu demoro dois segundos para entender, encho minha boca com sua rola e ele começa a grunhir soltando todo o seu néctar em mim, sinto as nuances do sabor, ele espera eu terminar de apreciar antes de me beijar, se estende de braços abertos onde me enovelo e durmo brincando com o peito firme dele.

Acordei com um despertador às cinco e meia, fila para o banheiro, o moreno, o mais novo dos três, o que eu antipatizei de cara e que morri de chorar quando foi embora, o que eu chamei de cunhando antes do outro, o que ouviu dos outros dois que era amado, pois bem, naquela época eu o chamava dentro de minha cabeça de chatinho, ele era, ele é ainda e sempre será, ele disse que a prioridade era para o doutor da casa, o irmão dele manda ele tomar no cu, meu marido revira os olhos, o chatinho diz que devemos voltar pra cama, que o doutor ligou para nossa chefe e informou que nós dois não iríamos nos próximos dois plantões, eram os presentes de casamento deles, os irmãos começam a se ofender mutuamente e eu ainda não conhecia metade dos palavrões que eles se administravam.

Meu marido morria de vergonha, o chatinho bateu na porta, entrou em seguida e disse que o café estava pronto, não ia bater mas ouviu nossa conversa de como planejar essa folga, ele se esticou e disse que podia desaparecer em meia hora e voltar às dez da noite, eu disse que ele não precisava fazer isso, ele diz que eu faço um barulhão enorme na cama e fiquei silenciosa a noite, ele disse que não queria ser intrometido ouvindo nosso sexo: Morri de vergonha, meu marido gargalhou e disse que ele foi invasivo, ele fica vermelho se atrapalha para pedir desculpas e sai com pressa.

O chatinho tinha algum nível de autismo, sofreu um monte de abuso moral em casa antes de pedir arrego ao irmão há uns seis anos atrás. Eu não fazia ideia e minhas impressões capacitistas ficaram dando piruetas na minha cabeça. Tomamos café, meu marido disse que o chatinho queria o carro do doutor e ficou sem jeito de pedir, o cara o olhou e soltou um suspiro pelas narinas, disse para prestar atenção nos que desobedecem as regras de trânsito, pergunta se era ele quem ia levá-lo ao trabalho, meu marido diz que nós o levaríamos, os três, o carro só ia ser usado a tarde, junta as duas mãos e baixa os polegares, passa a língua no vão formado como se fosse sexo oral numa xoxota, peço educação revirando os olhos, baixaria, os três voltam a brigar.

Depois de deixar o doutor, meu marido diz que meus pais são pobres e velhos e doentes, sentem-se abandonados pelos filhos e que me tirar de casa era adiantar suas mortes. Diz que se o chatinho saísse de casa agora corria risco de não terminar a faculdade, de terminar de qualquer forma, nas coxas, o certo era adiar essa saída até a faculdade acabar em um ano e meio.

E disse que o doutor ficou bem acabado em saber que ia ficar sem os seus dois melhores amigos ao mesmo tempo; o chatinho diz pra mim que os três se viam como irmãos, mais odiavam a palavra e isso era a única coisa em que a segunda e única coisa em que concordavam, a primeira era que trepar com mulher era bom demais. Aí eu gargalhei, era um amigo então. Chegamos em casa e meu marido o apresentou aos meus pais, disse que o irmão do meio viria no dia seguinte depois do plantão, cansado e meio que sem opção, sequestrado, odeiam família, os três, os três precisava de uma referência boa de pai e mãe como eu tinha. E chorou.

Porra, eu amo meu marido.

Siga a Casa dos Contos no Instagram!

Este conto recebeu 9 estrelas.
Incentive Gui Real a escrever mais dando estrelas.
Cadastre-se gratuitamente ou faça login para prestigiar e incentivar o autor dando estrelas.

Comentários